“A partir daquele gol, tive um divisor de águas”, comenta Nei sobre a pintura marcada na estreia da Libertadores de 2010

Nei comemora gol contra o Emelec

Noticiário esportivo da Rádio Colorada, o Programa do Inter desta quarta-feira (23/02) entrevistou o ídolo Nei, que há 12 anos marcou o primeiro gol do Clube do Povo na campanha que seria campeã da Libertadores de 2010. Confira a íntegra do papo!

Prestes a disputar o torneio pela sétima vez em sua história, o Inter já era campeão e bifinalista da Libertadores. Mesmo assim, um pequeno tabu persistia incômodo à torcida nas vésperas da primeira rodada da edição de 2010. Até então, afinal, o Colorado jamais estreara com vitória no principal torneio de clubes do continente. Muito por isso, as 40 mil pessoas que lotaram o Beira-Rio na noite do dia 23 de fevereiro reconheceram fantasmas do passado quando Quiroz, no início da etapa final, abriu o placar para o Emelec do técnico Jorge Sampaoli. Felizmente, foi nessa hora que Nei apareceu.

“Era um jogo difícil, contra uma equipe de muita força. O Sampaoli é um excelente treinador, já mostrava isso. E a nossa equipe vinha desacreditada. Ninguém esconde que, naquela época, todo mundo achava que o Inter não faria uma boa Libertadores. No intervalo, teve uma conversa, pois o campo estava molhado, e lembro que o Fossati pediu para chutarmos mais, para arriscar. E eu tive a felicidade de acertar um bom chute para empatar naquele momento e respirar um pouco.”

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Torcida lotou o Gigante na estreia da Libertadores de 2010

O Inter que iniciou 2010 sob o comando de Jorge Fossati jogava de maneira bastante diferente daquele que conquistaria a América no mês de agosto. Com o uruguaio na casamata, o Colorado tinha preferência por atuar com três zagueiros, oferecendo maior liberdade para os alas, mecânica que justifica o porquê de o herói improvável ter investido contra a defesa rival diante da desvantagem no placar.

“Nunca escondi que meu estilo de jogo sempre foi muito aguerrido, de muita força. Eu arrastava, era um atleta que tinha a leitura tática muito boa. Nunca fui um cara habilidoso, que estava dentro da área o tempo todo. Mas, naquela época, a gente jogava com três zagueiros, e o Fossati liberava bastante. E eu vivia o que o treinador pedia.”

Nei

Nei marcou seu gol aos sete minutos do segundo tempo. Aberto na intermediária direita de ataque do Inter, o ala recebeu passe de Sandro e, ao perceber que seu marcador armava o bote, fez o drible. Depois da finta, o pé direito do camisa 15 primeiro beijou a bola, engatilhando o arremate, para na sequência acertar chute que figura entre os mais bonitos da história do Beira-Rio. Menos de um mês depois de estrear como atleta colorado, o lateral-direito oferecia um cartão de visitas perfeito para o povo vermelho.

“Aquele gol foi especial porque foi a abertura da Libertadores, foi a minha estreia na Libertadores, e com uma equipe sensacional, como o Inter. Até então, o Nei era desconhecido e desacreditado. A partir daquele gol, tive um divisor de águas. Os olhares ficaram diferentes. E foi meu primeiro gol pelo Inter.”

Nei

O empate, contudo, não dava fim ao jejum colorado em estreias continentais. Para quebrar o tabu, o Inter contou não apenas com a qualidade de seus jogadores, mas também com o som do Gigante, que mesmo com a chuva de verão oferecida pelo clima de Porto Alegre à orla do Guaíba, esteve incendiado por uma multidão pulsante. Como recompensa ao apoio da torcida, o gol da virada, teimoso, saiu aos 41, instante em que Alecsandro finalizou linda jogada de Andrezinho e Walter. Assim, o Beira-Rio, da mesma forma que Nei, oferecia seu cartão de visitas para a Libertadores 2010.

O fator predominante para nós ganharmos a Libertadores de 2010 foi o Beira-Rio. Não perdemos um jogo em casa, ganhamos todos, e a torcida tem 80% de parcela nisso. Vibravam o tempo todo. Quando eu entrava no estádio, brincava que não ía cansar. E isso porque a torcida corria comigo. A torcida do Inter é diferente. As Ruas de Fogo… isso é muito marcante, e você leva para o campo. É um diferencial absurdo. Não tem como você descrever o quanto te ajuda.”

Nei
Alecsandro garantiu a alegria no Beira-Rio

Hoje treinador, Nei revelou, no papo com a Colorada, que ainda leva consigo muitos dos aprendizados que ganhou nos tempos de Inter. Pilar de um sistema defensivo que marcou época, o ex-lateral não poupa elogios a companheiros como Bolívar e Kleber, junto dos quais revela ter atingido entrosamento sem igual na carreira, fato que comprova o encaixe sobrenatural das peças que levaram o Clube do Povo ao Bi da América.

“A liderança que eu tenho hoje, digo que aprendi 80% com o Bolívar. Me ensinou muito. Por sermos amigos, fizemos uma parceria que dava muita confiança. No chão, a bola era minha. No alto, eu não me preocupava. Em todas, ele chegava. Ele era muito firme, o Índio era muito firme. E o Kleber era muito firme. Sobre ele, digo que tive a oportunidade de jogar com meu ídolo e ainda me tornar amigo. Era sensacional, cruzava com a mão, jogava de terno. O melhor lateral-esquerdo com quem eu joguei.”

Campeão da Libertadores e da Recopa com a camisa do Inter, Nei também conquistou dois Gauchões durante os anos que vestiu vermelho. Profundo conhecedor das particularidades do futebol gaúcho, o lateral não deixou passar batida a primeira Semana Gre-Nal de 2022. Forjado nas dificuldades, o ídolo lembrou com carinho dos clássicos que disputou, comentando detalhes da rotina que antecedia cada partida contra o maior rival colorado.

“O Gre-Nal é muito diferente. Só entende quem viveu e quem vive. É um campeonato à parte. Esquece quem está bem ou mal: você tem que ganhar. A cobrança é muito grande, e existem jogadores que vestem a camisa de uma forma que acabam incorporando o torcedor dentro de campo. É uma semana especial, que eu amava, porque sou um cara que gosta de desafios, que me cobrem. Era muito bom, um jogo que durava a semana inteira. Você ía no mercado e o gremista já não olhava na minha cara. Isso é o que o Gre-Nal faz com as pessoas.”

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Nei lembrou dos tempos de protagonismo na rivalidade Gre-Nal