“Eu amo esse Clube!” D’Ale se despede do futebol com festa e vitória

D’Ale foi Inter até o fim/Foto: Ricardo Duarte

Quando chegou a Porto Alegre para iniciar sua terceira passagem pelo Inter, D’Alessandro deixou claro que desejava se despedir do futebol ao lado do povo colorado, mas nem seus sonhos mais otimistas poderiam imaginar as emoções que estavam guardadas para o último jogo de sua carreira. Diante do Fortaleza, neste domingo de páscoa (17/04), o gringo chorou, sorriu, vibrou, reclamou, cantou e, o mais importante, venceu – como o protagonista de sempre.

Autor de um golaço, o de número 97 que marcou com a camisa do Inter, D’Alessandro desfilou à vontade ao longo dos quase 80 minutos em que permaneceu no gramado que lhe consagrou maestro. Depois, do reservado viveu sua primeira experiência na nova posição que ocupa, a de torcedor, com o gol de Alemão, que garantiu os três pontos para o Clube do Povo quando o relógio já se aproximava dos acréscimos da etapa final. Por fim, após o último apito, o ídolo foi tanto apaixonado quanto apaixonante para reger a festa das mais de 36 mil pessoas que não aceitavam a ideia de arredar o pé do Beira-Rio.

O primeiro ato do pós-carreira de D’Ale foi um emocionado abraço no parceiro Taison. Desfalque na segunda rodada do Brasileirão devido a edema muscular, o irmão e aprendiz do gringo apareceu no gramado tão logo o jogo foi encerrado, e fez questão de carregar, em seus braços, a estrela da noite até o centro do campo, onde Andrés recebeu não apenas o delirante sentimento do público, mas também o carinho de seus companheiros, que aos gritos festejaram a vitoriosa carreira do amigo e capitão.

Ensurdecedor, o rugir do Beira-Rio foi silenciado apenas sob às ordens do próprio estádio, que conclamou o povo a assistir uma linda homenagem veiculada em seus telões para o ídolo. Poético e nostálgico, o vídeo de agradecimento apresentado ao público presente no Gigante foi logo sucedido por mais cantoria, que embalou os últimos passos de D’Alessandro no número 891 da Padre Cacique. Diante de um corredor de aplausos, o gringo, acompanhado de seus familiares, ainda confraternizou com amigos e ex-companheiros antes de, enfim, tomar o rumo do túnel de vestiários.

Das chuteiras para os microfones, D’Ale encontrou tempo para conceder sua última entrevista coletiva como jogador de futebol. Irreverente e bem-humorado, o gringo travou mais um inesquecível encontro com a imprensa, ao longo do qual falou a respeito da história que construiu com a camisa colorada, analisou o legado que deixou no Clube do Povo, projetou os próximos passos de sua vida, desabafou sobre a emocionante despedida e, é claro, se declarou ao Inter, paixão que aprendeu a nutrir desde os primeiros dias que passou em Porto Alegre. Confira as principais aspas do ídolo:

Foto: Ricardo Duarte

“Eu nunca achei que era mais do que eu sou. Eu trabalhei para merecer o que aconteceu hoje. Sou mais um em uma história enorme, enorme, de atletas que ganharam muito mais do que eu, de atletas com uma identificação muito maior do que a minha. Mas isso não tira o que eu fiz.”

D’Alessandro
Foto: Ricardo Duarte

“A partir de amanhã, eu começo a mandar currículo (risos). Brincadeiras à parte, eu tenho uma dívida muito grande com o Inter. Quem me conhece, sabe o que o Inter representa na minha casa. Representa muito. Muito. Não só para mim, mas para a minha família. Do futuro, ninguém sabe, mas eu sinto que minha história com o Clube não fechou.”

D’Alessandro
Foto: Ricardo Duarte

“Legado a gente vai construindo. Tem uma palavra, para mim, que é fundamental: comprometimento. Por mais que tu tenha vontade, se tu não está comprometido com a causa, com a história do clube, com a camisa, não adianta. Tentei fazer tudo pelo lado do exemplo. Nunca cheguei tarde em um treinamento. Comprometido com o horário, com o pessoal que trabalha no Clube. Isso é o mínimo.”

D’Alessandro
Foto: Ricardo Duarte

“Para mim, não foi difícil gostar do Inter. Lá atrás, os presidentes, companheiros, colegas, funcionários, treinadores, me ensinaram a gostar do Clube. Eu amo esse Clube. Estou no lugar que eu quero. Na minha vida, River e Inter, em diferentes fases da minha carreira, me ajudaram muito, mas o tempo que eu fiquei aqui é incrível. Fez com que o Inter vire o Clube em que eu queria me aposentar.”

D’Alessandro
Foto: Ricardo Duarte

Ninguém é maior que o Clube. O tempo e a história dizem isso. Sempre falo do Índio, por exemplo. O maior vencedor da história do Inter, não é? Passou. O Bolívar passou. Hoje, eu estou passando. Passaram muitos. Muitos que ganharam mais do que eu.”

D’Alessandro
Foto: Ricardo Duarte

“O que aconteceu é incrível. Não sei o que falar. Eu sonhava, primeiro, com a vitória. Falei para o grupo, esqueçam da minha despedida. Nós precisávamos ganhar. E, depois, o gol fechou toda uma história que foi perfeita. Sinceramente, a ficha ainda não caiu. Estou meio no ar. Mas tu viu como eu comemorei. Os caras se jogavam em cima de mim, e eu dizia pra ter calma, porque tinha o VAR. Não sabia como comemorar, saí correndo. Graças a Deus foi gol, e a história fechou como eu imaginava.”

D’Alessandro

Inesquecível: assim foi a última La Boba do nosso maestro, que além de despedida, também serviu de recomeço. Nesta segunda-feira (18/04), todos amanheceremos de cabeça erguida, com o ânimo renovado de quem veste uma camisa que não é vermelha por mero acaso. Nossas cores, afinal, são encarnadas. Vibrantes, como D’Alessandro foi até o fim. E como seguirá sendo. Porque D’Ale é Inter. E Inter sempre será D’Ale.