O primeiro voo de Falcão: no dia do aniversário do ídolo, relembre a estreia do craque pelo Inter
As derrotas não são parte da rotina colorada. Por mais raras que sejam, no entanto, elas não só já ocorreram, como, por vezes, eternizaram-se em nossa história. Algumas, por exemplo, foram comemoradas como verdadeiras vitórias, vide a nebulosa jornada de Quilmes, em 2010. Outras, por não significarem um obstáculo nas caminhadas do Clube do Povo rumo a suas conquistas, acabaram ficando marcadas não pelo tropeço que representaram, e sim pelos aspectos positivos que legaram como aprendizado. Este último é o caso de revés que marcou a estreia oficial do aniversariante desta sexta-feira (16/10), Paulo Roberto Falcão, que comemora 67 anos de idade.
O Clube do Povo levou mais de quatro anos para perder a invencibilidade contra times do interior gaúcho no Beira-Rio. O adversário capaz de quebrar a série colorada foi o Esportivo, comandado por Ênio Andrade e vitorioso, em 15 de abril de 1973, por 2 a 1. Afora o resultado negativo, porém, atualmente a partida traz boas lembranças à torcida vermelha. Naquele domingo de outono, o Gigante presenciou a estreia oficial de cabeludo meio-campista de 19 anos tratado como uma promessa do futebol. Seu nome? Paulo Roberto Falcão.
O futuro camisa 5 do Inter já gozava de grande prestígio junto ao povo vermelho, consequência do alto nível apresentado em suas exibições nas categorias de base, sobretudo nas preliminares promovidas no Gigante. Sua proeminência em meio aos mais jovens era tamanha que, mesmo sem ter disputado uma única partida como profissional, fora convocado para os Jogos Olímpicos de 1972, disputados em Munique.
Para o Inter, a derrota em casa não se desdobrou em maiores problemas. O revés, ressalte-se, foi o único sofrido na espetacular campanha dos comandados de Dino Sani no Campeonato Gaúcho de 1973. O Clube do Povo, assim como seu maior rival, disputou apenas a fase final do Estadual, realizada entre doze equipes. Para além da partida contra o Esportivo, o Colorado, praticamente impecável, acumulou 17 vitórias e quatro empates, com 43 gols marcados e 10 sofridos, campanha vencedora dos dois turnos e, portanto, campeã. O título foi o quinto seguido na caminhada rumo ao inédito e jamais igualado Octa!
É provável que o excelente aproveitamento no Campeonato tenha contribuído para o esquecimento dos aspectos negativos que resultaram do confronto do dia 15 de abril. Sobre o jogo, inclusive, quem roubou a cena, apesar do ilustre estreante, foi Décio, autor dos dois gols visitantes. Para o Colorado, quem marcou foi Dejair. A escalação do Clube do Povo para a partida contou com Schneider no gol; Arceu, Figueroa, Bibiano Pontes e Jorge Andrade na defesa; João Ribeiro, Carbone, depois Falcão, e Carpegiani no meio; além de Valdomiro, Claudiomiro e Dejair, depois Escurinho, no ataque.
Consta que, no dia seguinte ao prélio, durante treinamento no Beira-Rio, Sani questionou a Paulo César Carpegiani o que ele achara da breve exibição do outro Paulo, o Roberto. Carpegiani, que poucos anos depois comandaria o Flamengo na vitória sobre o Liverpool, no Japão, comprovou o olhar diferenciado que tinha para o futebol ao pedir para o técnico do Inter que escalasse Falcão ao seu lado, pois, juntos, seriam capazes de dominar qualquer partida, independente do adversário.
A conversa com Carpegiani pareceu convencer o comandante colorado, que, aos poucos, deu mais oportunidades para o jovem. Em breve, a aposta se provaria extremamente acertada. Se é verdade que não foi um dos protagonistas na caminhada do pentacampeonato estadual, o futuro Rei de Roma soube cavar sua vaga entre os titulares do Inter. Tanto que, no ano seguinte, quando o Clube do Povo conquistou o Hexa, Falcão já estava consolidado entre os 11 iniciais da equipe vermelha, posição que seguiria ocupando ao longo de toda a década. E que década!
Maior camisa 5 da história do futebol brasileiro, entre os principais meio-campistas da história do esporte, três vezes dono do país para na sequência ser coroado monarca na Itália. Jogador cerebral e moderno, à frente de seu tempo, que ao longo da carreira esbanjou dribles, assistências e gols magistrais. Este foi – e é – Falcão.
Nem o mais criativo romancista, porém, poderia elaborar a história deste ídolo nacional, e, principalmente, do Inter, iniciada por uma derrota. Um revés que serviu de abertura para uma narrativa Gigante, à altura do palco de sua infeliz alvorada. Obrigado por tudo, Rei Falcão, e um feliz aniversário!