O adeus a Rubens Minelli

Nesta quinta-feira (23), o futebol brasileiro perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas: Rubens Minelli. O ex-jogador e treinador deixou um legado marcante no esporte, especialmente no Internacional, onde comandou a equipe bicampeã brasileira em 1975 e 1976.

Minelli comandando o Colorado na década de 70

Rubens Minelli, nascido em 19 de dezembro de 1928, começou sua trajetória como jogador, mas foi como treinador que alcançou destaque nacional. Sua passagem pelo Internacional foi marcada por conquistas e um estilo de jogo inovador que influenciou gerações subsequentes.

A chegada do profissional ao Beira-Rio aconteceu em 1974. De cara, conquistou o Gauchão, título que tornaria a levantar outras duas vezes. Os mais vistosos troféus de sua galeria, contudo, teriam dimensão ainda maior com o Bicampeonato nacional. Ao final da temporada de 1976, Rubens Minelli deixou o Inter, encerrando uma trajetória de 153 vitórias e 44 empates em 217 partidas.

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Rubens Minelli
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Em entrevista ao Canal do Inter, para um documentário sobre os 40 anos do título nacional de 1975, Minelli ressaltou o comprometimento do seu grupo com suas ideias de jogo: “Os jogadores obedeceram, taticamente, religiosamente aquilo que eu pretendia. Eles passaram a acreditar em mim e então nós modificamos tudo. Começamos a marcar a saída de bola dos adversários, a treinar jogadas ensaiadas…”, disse.

Bandeira a meio-mastro presta condolências à Minelli/Foto: Filipe Maciel

O Internacional emitiu uma declaração oficial lamentando a perda de Minelli, destacando suas contribuições significativas para o Clube. A bandeira, localizada junto ao ginásio Gigantinho, foi colocada a meio-mastro e para o jogo do domingo (26), 18h30, contra o Bragantino será respeitado um minuto de silêncio antes do início da partida.

Luto por Marinho Peres

O Clube do Povo recebeu com profundo pesar a notícia do falecimento de Marinho Peres. Atleta do Inter nos anos de 1976 e 1977, o ex-zagueiro, titular absoluto na conquista do segundo Brasileirão da história colorada, morreu nesta segunda-feira (18/09), aos 76 anos, após mais de um mês internado por complicações nos rins e no coração.

Marinho Peres defendeu o Inter entre 1975 e 1976

Relembre a carreira de Marinho Peres:

Natural de Sorocaba-SP, Mário Peres Ulibarri começou a carreira no São Bento. Destacadas, suas atuações logo chamaram a atenção da Portuguesa dos Desportos, equipe que defendeu entre o final dos anos 1960 e o começo da década de 1970. No Canindé, o defensor ganhou o apelido de Marinho Peres. Com ele, se consolidou entre os melhores zagueiros do futebol brasileiro.

Brasil na Copa do Mundo de 1974 (Marinho é o primeiro em pé a partir da direita)

Nacionalmente reconhecido, Marinho viveu, a partir de 1973, uma ascensão meteórica. Primeiro, o zagueiro acertou com o Santos de Pelé. Lá, conquistou o Paulistão. Depois, em 1974, embarcou rumo ao Velho Continente, onde assinou com o Barcelona de Johan Cruijjf. Nessa temporada, Peres ainda foi titular do Brasil na Copa do Mundo da Alemanha. O ápice de sua carreira, porém, ainda estava por vir.

Marinho em ação na Copa do Mundo de 1974/Foto: Arquivo Pessoal/Marinho Peres

Recém-coroado campeão brasileiro de 1975, o Clube do Povo enxergou em Marinho o par perfeito para Figueroa – e esperou o momento certo para se aproximar do defensor. Caso permanecesse no Barcelona em 1976, Peres, que tinha naturalidade espanhola, precisaria servir ao exército do país durante todo aquele ano. Sua continuidade no Camp Nou, portanto, estava comprometida. E nada melhor do que trocar um gigante europeu pelo atual dono do Brasil.

Marinho Peres nos anos de Barcelona/Foto: Ricardo Duarte

Se engana quem pensa que o vistoso currículo garantiu titularidade imediata a Marinho. Dupla de Figueroa no Brasileirão de 1975, Hermínio continuou titular na abertura do Gauchão de 1976, a ponto de a primeira grande oportunidade para o zagueiro mundialista surgir apenas na derradeira rodada da primeira fase estadual, quando o Clube do Povo disputou o Gre-Nal de número 223 na história.

A primeira ficha de Marinho como jogador do Inter

Surpreendentemente (ou não) pessimista com as chances do Inter, a imprensa gaúcha tentou rotular Marinho como um fracasso antes mesmo de sua estreia. Para a crítica, Peres e Figueroa não podiam jogar juntos. Especulavam que os dois brigariam por holofotes, deixando Alcindo, atacante do rival, à vontade para brilhar no Beira-Rio. Coitados. Apoiado por mais de 73 mil pessoas, o Colorado venceu o clássico por 2 a 0.

“Eu quero estar sempre

entre os melhores”

Marinho Peres

Os gols do Gre-Nal foram marcados por Figueroa e Carpegiani, dois dos melhores jogadores em campo – ao lado de Marinho. Seguro sempre que exigido e dono de refinada técnica para sair jogando, Peres assumiu a titularidade colorada para, a partir de então, formar com Don Elias a dupla de zaga que conquistaria o Gauchão de 1976 e, junto com ele, o jamais igualado Octa do Rio Grande.

“Toda vez que tirava

uma foto do nosso time antes dos jogos,

tinha a certeza de que ele deixaria saudades!”

Marinho Peres
Os campeões de 1976 (Marinho é o segundo em pé a partir da direita)

No segundo semestre, Marinho Peres colocou mais uma faixa no peito. Adaptado à linha de impedimento, estratégia que aprendera a explorar durante os anos de Europa, o zagueiro encaixou como uma luva na equipe de Rubens Minelli e foi um dos pilares da equipe campeã com o melhor aproveitamento da história do Brasileirão: 84%. De 23 jogos, o Inter empatou um, perdeu três e venceu 19, o último deles diante do Corinthians, na finalíssima, por 2 a 0.

Inter em 1977 (Marinho é o terceiro em pé a partir da direita)

Marinho Peres deixou o Inter em 1978. Negociado com o Palmeiras, permaneceu no Parque Antártica até 1980, quando acertou com o América-RJ, último time de sua carreira. Em Porto Alegre, o ex-zagueiro está eternizado como um dos grandes nomes do inesquecível e vencedor Clube do Povo dos anos 1970. Sinônimo de saudade, o ídolo partiu deixando as melhores recordações para o povo colorado. Obrigado por tudo, campeão!

Marinho atende torcedores em frente ao Portão 8 do Beira-Rio/Foto: DVG

Luto: Inter se despede do eterno Lula, ponta-esquerda bicampeão brasileiro e tri do Rio Grande

Lula, ídolo eterno do Internacional

Ídolo, decisivo, craque e campeão. Hoje, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande se despede de um atleta que foi tudo isso – e muito mais. Luís Ribeiro Pinto Neto, o Lula, fez história com a camisa 11 colorada. Ponta-esquerda eternizado na biografia do Clube do Povo, o pernambucano de Arco Verde faleceu nesta sexta-feira (11/02), aos 75 anos, em decorrência de uma parada cardíaca.

Craque atuou no Inter entre 1974 e 1977

A genialidade de Lula, que se diga, não foi privilégio testemunhado exclusivamente por colorados e coloradas. Quando contratado pelo Inter, em 1974, o veloz atacante já ostentava currículo gabaritado, que contava com passagens por ABC-RN, Ferroviário-RN, Palmeiras e Fluminense. Estrela no Rio, o atleta desembarcou na capital gaúcha com a responsabilidade de elevar o patamar do elenco vermelho, expectativa nutrida não somente pela torcida, mas também por Rubens Minelli, comandante que chegara ao Inter poucos dias antes do ponta-esquerda.

“Quando eu fui conversar com o presidente (Eraldo) Herrmann, eu falei ‘olha, eu vou ser sincero, nós precisamos de reforços. Agora, entenda bem: eu não quero novidades, eu quero reforços. Você tira um titular de outro time, na posição que eu quero, e me traga. O reserva dele não serve pra mim. Eu quero um titular.’ Aí foi quando nós trouxemos o Lula, e depois o Flávio.”

Rubens Minelli
Manchete do Jornal dos Sports (RJ) anuncia a contratação de Lula pelo Inter

Os valores envolvidos na transferência de Lula reforçavam a fé depositada pela diretoria colorada no futebol do ponta-esquerda. Ao Fluminense, que detinha seus direitos, o Clube do Povo ofereceu 1 milhão de cruzeiros, enquanto o atleta aceitou salário na casa dos 18 mil mensais. A partir da estreia do camisa 11, contudo, todos perceberam que o preço era até baixo para um jogador com tamanha capacidade de decisão nas quatro linhas. Logo na primeira partida de vermelho, o craque participou ativamente de vitória de 2 a 1 do Inter, até então Penta do Rio Grande, em cima do Grêmio.

Golaço de Lula contra o Vasco, em 1974

O correr das primeiras semanas que sucederam a estreia de Lula deixou claro que, com a chegada do camisa 11, o Inter passava a exibir maior equilíbrio pelos lados do campo. Já nas graças do povo vermelho, Valdomiro era o patrão do corredor direito, mas carecia, até então, de companheiro dono de futebol à altura do seu. Ofensivo pelas pontas, o Inter encerrou o primeiro semestre como quarto colocado no Brasileirão, torneio conquistado pelo Vasco.

Já no fim do ano, o time de Minelli conquistou o sexto Gauchão consecutivo, este erguido com incríveis 100% de aproveitamento. Protagonista, Lula brilhou nas duas campanhas. A nacional, o atleta encerrou com golaço em cima do futuro campeão, enquanto a caminhada estadual contou com participação decisiva do camisa 11 na jogada do gol do título, marcado por Valdomiro em cima do Grêmio.

O gol do título gaúcho de 1974

Chegava 1975 e, com ele, mudanças no calendário do futebol brasileiro. O Campeonato Nacional, a partir de então, seria jogado no segundo semestre, com a disputa dos Estaduais abrindo o ano. A novidade permitiu que o Inter, já famoso por seu futebol envolvente, realizasse um excursão pela Europa, fundamental para reforçar o entrosamento do time. De volta ao Beira-Rio, o Clube do Povo logo se sagrou Hepta do Gauchão, título que passou, é claro, diretamente pelo futebol técnico, irriquieto e impetuoso do sangue quente camisa 11 alvirrubro.

Torcida fez a festa com o Hepta

Por falar em sangue quente, Lula também fez fama pela vida ativa fora dos gramados. Atleta rebelde, o camisa 11 causava dores de cabeça em diretoria e comissão técnica, mas apenas durante a semana. Nos domingos, como confidenciara em icônica frase o presidente Frederico Arnaldo Ballvé, o ponta-esquerda tratava de incomodar os adversários. E isso ele fazia com poucos, graças à imparável velocidade e aos dribles desconcertantes.

Verso final da poética escalação que conquistou o Brasil no dia 14 de dezembro de 1975, Lula foi um dos grandes destaques do desbravador Inter que trouxe a primeira taça nacional para o Sul do país. Na primeira fase do Brasileiro, o camisa 11 brilhou com dois gols na importante vitória de 5 a 0 do Clube do Povo sobre o Vitória, na segunda rodada, e também marcou pela primeira vez em Gre-Nais, anotando o tento alvirrubro em empate de 1 a 1.

Lula estreou como artilheiro em Gre-Nais no ano de 1975/Foto: DVG

Lesionado em parte da segunda fase, Lula foi importante na terceira, compreendida por octogonal que antecedia as semifinais. Classificado para as eliminatórias graças aos critérios, que também foram benéficos ao Santa Cruz, e prejudiciais ao Flamengo, o Inter conquistou vitória fundamental na antepenúltima rodada da chave, quando visitou o Náutico. O triunfo, por 1 a 0, foi conquistado com gol do camisa 11.

Na semifinal, o ponta-esquerda brilhou justamente contra seu ex-clube. Dono da badalada Máquina Tricolor, o Fluminense de Felix, Marco Antônio, Rivellino, Paulo Cezar Caju, Gil e companhia não foi páreo ao Clube do Povo, que silenciou mais de 100 mil pessoas a partir do minuto 33 do primeiro tempo, instante em que Lula recebeu lindo passe de Falcão, invadiu a área rival e, mesmo sem ângulo, finalizou com força e estilo, sem chances para Félix. Golaço, que seria acompanhado, na etapa final, por outro de Carpegiani. Inter 2 a 0 no Maracanã!

Quando acordaram,

já não dava mais.

Quase levaram o terceiro!

Lula

Lula passou a semana de véspera da finalíssima lesionado. Com o joelho inchado, era dúvida para o confronto diante do Cruzeiro, interrogação que persistiu até a entrada dos times em campo, quando, conduzido pelo capitão Figueroa, o Internacional despontou diante de grande festa no gramado do Beira-Rio. Cronometrado, o destino tratou de postergar o mistério até o revelador dissipar da neblina dos foguetes. Neste instante, sorrisos na Padre Cacique: ele estava no gramado. O camisa 11 era titular!

“Não vou ficar fora
desta decisão
de jeito nenhum!”

Lula
Lula, agachado à esquerda, com os campeões de 1975

O Brasileirão de 1975 encerrou um ano mágico para o Inter na mesma medida em que inaugurou outra temporada inesquecível. Pela primeira vez na história, uma equipe gaúcha disputaria a Libertadores, torneio iniciado, de parte do Colorado, no dia sete de março de 1976, data de uma das melhores partidas de futebol no século XX. No Mineirão, Clube do Povo e Cruzeiro travaram embate espetacular, encerrado em 5 a 4 para os locais. Responsável por abrir o escore vermelho, Lula inaugurou, a partir de lindo canhotaço, a lista de goleadores alvirrubros no principal campeonato do continente.

O primeiro gol do Inter em Libertadores

No Gauchão de 1976, Lula viveu uma nova experiência com a camisa vermelha; a de artilheiro de título. Diante de dezenas de milhares de colorados e coloradas, o ponta-esquerda marcou o primeiro gol do Inter na finalíssima estadual, partida disputada, no Beira-Rio, diante do Grêmio. Dario também balançaria as redes tricolores na ocasião, garantindo o inédito e jamais igualado Octa do Rio Grande do Sul.

No Nacional, Lula seguiu algoz do rival, marcando duas vezes na vitória de 3 a 1 conquistada pelo Inter na segunda rodada do torneio. Titular ao longo de toda a campanha, o ponta-esquerda foi, como de costume, uma das estrelas na campanha campeã, caminhada esta que se mantém, até hoje, como a melhor da história do Brasileirão, e que consagrou o Inter vencedor, após triunfo de 2 a 0 sobre o Corinthians, com incríveis 84% de aproveitamento.

Lula fez dois em Gre-Nal do Brasileirão de 1976

O Internacional lamenta a partida de um dos grandes ídolos de sua história, e se solidariza com a dor de amigos e familiares. No Clube do Povo, Lula será sempre lembrado como o eterno proprietário do corredor esquerdo de ataque do Beira-Rio, setor de campo que desbravou com a maestria e agressividade que lhe eram costumeiras. Obrigado por tudo, ídolo!

Batista recorda o Inter que dominou o Brasil nos anos 1970

Lapidado no Celeiro de Ases, o ex-meio-campista Batista foi peça importante das equipes do Internacional que dominaram o futebol brasileiro nos anos 1970. Justamente para abordar isto, sua formação como jogador de futebol e aquele glorioso período da história colorada, Batista concedeu entrevista à rádio Colorada.

Na edição deste sábado (26/12) do programa Velhas Súmulas, Batista relembrou seu início no futebol, a chegada ao Inter, o Celeiro de Ases, a subida ao primeiro time colorado e a consolidação da camisa vermelha no âmbito nacional a partir das conquistas das edições de 1975, 1976 e 1979 do Campeonato Brasileiro.

Sport Club Internacional · Rádio Colorada | Entrevista com ex-meio-campista Batista | 26/12/2020

A entrevista também pode ser acessada no Spotify do Inter.

O programa Velhas Súmulas vai ao ar aos sábados na rádio Colorada geralmente das 14 horas às 15 horas e 30 minutos. Entrevistas com personagens da história do Inter, detalhamento de fatos importantes da trajetória do Clube do Povo, reportagens especiais, além de leituras de trechos de livros, crônicas e textos sobre futebol preenchem as tardes de sábado da emissora oficial do Internacional. Aos domingos também, quando o programa é reproduzido como reprise às 14 horas, geralmente.

Neste final de semana, por conta da transmissão da partida do Inter com o Bahia, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série A, a reprise vai ao ar mais cedo: às 13h30.

Acompanhe ainda a programação da emissora oficial do Inter durante a semana: de segunda a sexta-feira, o Programa do Inter, o noticiário colorado mais completo do rádio, vai ao ar a partir das 18 horas via internet e no FM 95.5 da rádio Sara Brasil.

Além do site do Inter, a emissora oficial do Clube do Povo pode ser escutada via aplicativo.

Rádio Colorada: mais informações sobre a emissora mais vermelha da Web e do FM!

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Ídolo, Príncipe Jajá completa 67 anos

Gaúcho da capital, Jair Gonçalves Prates completa, neste sábado (11/07), 67 anos de idade. Em comemoração, o ídolo concedeu entrevista para o programa Velhas Súmulas, da Rádio Colorada. Emocionado, lembrou dos tempos de Beira-Rio com grande orgulho, destacando o carinho que sente pelo Clube do Povo. Confira a íntegra da conversa abaixo ou nos nossos perfis em Spotify e SoundCloud!

“Quando um jogador veste essa camiseta, ele tem que colocar a alma. Você precisa se doar até a morte e ganhar a partida. O Internacional é alma, é dedicação, superação e, eu considero, é a minha casa. Eu me criei aí dentro. Cada cantinho, cada tijolo, eu vi surgindo no Beira-Rio, na época que a torcida levava um tijolo cada um. É uma honra muito grande fazer parte dessa história.”

Sport Club Internacional · Rádio Colorada | Entrevista com ex-jogador Jair, “príncipe Jajá” | 11/07/2020

A trajetória rumo à realeza colorada

Camisa 8 às costas, avança pela direita do gramado do Gigante em velocidade, tramando com Valdomiro. Do companheiro, recebe bom passe, que domina colocando na frente. Um, dois, três passos depois, diminui o ritmo das passadas e engatilha a perna direita. Ato contínuo, manda uma bomba – como sempre, indefensável. Gol do Inter! Gol de Jajá, o Príncipe, que comemora mais uma de suas 117 pinturas com a camisa colorada.

Nascido em 1953, o ídolo colorado carrega, desde o berço, o futebol em seu DNA. Filho de Laerte III, também jogador, ao longo da infância Jair perambulou por Brasil e América acompanhando a carreira do pai. Crescido no meio da bola, conviveu, ao longo de toda a infância, com grandes nomes do esporte, a exemplo de Garrincha, Quarentinha e Manga, goleiro de quem seria companheiro de equipe no futuro.

De volta a Porto Alegre, Jair realizou, na segunda metade da década de 60, teste para a base do Internacional. Aprovado, passou a integrar geração que contava com craques a exemplo de Falcão, Escurinho e Batista. Com o Celeiro, conquistou a Taça São Paulo de Juniores de 1974, primeiro dos cinco títulos colorados na competição. No mesmo ano, chamou a atenção de Rubens Minelli, que alçou o jovem ao grupo principal.

Time de juniores do Inter com Falcão, o último em pé da direita para a esquerda, e Jair, o segundo agachado

Dedicado e polivalente, o futuro Príncipe conquistou a estima do técnico bicampeão nacional pelo Inter. Dono de grande qualidade, o meia-direita também atuava como volante, ponta e lateral, convertendo-se, assim, em um verdadeiro coringa, que soube aproveitar o período de treinos com os craques colorados para abstrair todos os ensinamentos possíveis. Já adaptado ao ambiente profissional, começou a cavar seu espaço no time em 1975, durante excursão do Clube do Povo pela Europa, realizada entre os meses de fevereiro e março, e encerrada com 13 vitórias e uma igualdade em 14 partidas disputadas

Jair marcou o gol do Clube do Povo na vitória por 1 a 0 sobre o Cesena, da Itália. Realizada no dia 6 de março, a partida, quarta da excursão, foi a primeira disputada contra um time ‘forte’ da Europa, equipe que encerraria o Calcio daquele ano classificada para a Copa da UEFA. Saído do banco, Jajá entrou no lugar de Valdomiro para decidir o jogo e atrair todos os holofotes em sua direção. Melhor em campo, despertou o interesse de equipes do país da bota, mas todas as sondagens foram prontamente rechaçadas pelo Inter, que sabia da importância que o jovem assumiria, em breve, no elenco alvirrubro.

“A excursão ajudou o Internacional a pegar experiência, deu o conjunto necessário para o Inter! Ficamos 45 dias juntos, jogamos contra todas equipes imagináveis. Enfrentamos o time do Didi (Fenerbahçe, atual campeão turco) que, na época, falou que a gente tinha que ter cuidado, pois seríamos goleados. No intervalo, ele foi no nosso vestiário e pediu calma, estava 4 a 0. Esta experiência deu muita base, especialmente para os jovens. Com ela, o grupo se uniu mais ainda.

O mesmo fascínio provocado por Jair nos italianos foi visto no restante da imprensa europeia em relação aos comandados de Minelli, que foram apelidados como ‘o novo Ajax’, time holandês que no início da década 70 conquistara, com o brilho de Cruijff, Neeskens e companhia, três Liga dos Campeões consecutivas. Passados mais de 45 anos da excursão, como o depoimento de Jajá revela, é possível afirmar que a viagem foi fundamental para dar corpo a um elenco que, muito em breve, faria história.

O Inter retornou para Porto Alegre em ritmo alucinante, pronto para conquistar o heptacampeonato gaúcho, que veio em agosto, e o primeiro Brasileirão de sua história, levantado no dia 14 dezembro graças ao Gol Iluminado de Figueroa, contra o Cruzeiro. Na semifinal nacional, diante da ‘Máquina Tricolor’, foi Jajá quem serviu boa assistência para Carpegiani marcar, em lance de pura genialidade, o segundo tento alvirrubro na vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense, no Maracanã.

Amadurecido e com o refino técnico de sempre, em 1976 o ex-meia recebeu uma sequência maior no time. Como consequência, demonstrou ainda mais seu futebol de altíssimo nível, disputando quase todas as 23 partidas da campanha do Bicampeonato brasileiro, onde marcou oito gols. Entre suas vítimas, é claro, esteve o Grêmio, que, no único Gre-Nal válido pelo torneio, realizado no Beira-Rio, sofreu um tento do ídolo.

Igualmente suas assistências fizeram sorrir a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, e valeram-lhe apelido que até hoje acompanha o ídolo. Na decisão do Gauchão, foi de Jair a assistência para o gol do título, marcado por Dario, o “Rei Dadá”, e que garantiu ao Inter o inédito e jamais igualado Octa estadual. Na entrevista pós-jogo, o requisitado artilheiro revelou que, se ele era o monarca, Jajá merecia ser Príncipe, assim formando a realeza colorada.


Ídolo continental

Após um 1977 marcado pela ausência de títulos, Inter e Jair reencontraram o caminho das taças na temporada seguinte, com a conquista do Gauchão. Na decisão, disputada no Olímpico, o Clube do Povo superou os donos da casa por 2 a 1, gols de Valdomiro para o Colorado, o último completando, de cabeça, cruzamento açucarado do Príncipe.

Foi em 1979, porém, mais especificamente no segundo semestre, que Jair viveu seu auge com a camisa colorada. Titular absoluto, formou, com Falcão e Batista, o trio de meio-campistas do Inter no Brasileirão daquele ano, muitas vezes acompanhado, na armação, por Mário Sérgio, que atuava na esquerda do ataque. À frente dos craques, Valdomiro, pela direita, e Bira, centroavante, aterrorizavam qualquer rival, assim como a defesa, intransponível, que contava com João Carlos e Cláudio Mineiro nas laterais, e os Mauros Galvão e Pastor no miolo de zaga.

Comandado por Ênio Andrade, Jajá exalou elegância no Time que Nunca Perdeu. Ainda durante a fase de pontos corridos, por exemplo, marcou o gol da vitória no Gre-Nal 251. Disputado no dia 6 de outubro, no Beira-Rio, o clássico foi definido graças a um foguete do camisa 8, que mandou cobrança de falta direto na bochecha da rede do goleiro Manga, ex-companheiro de Inter e amigo de seu pai.

A estrela de Jair reluziu como nunca nos confrontos eliminatórios do Nacional. Na abertura das semifinais, em São Paulo, o camisa 8 marcou, após venenoso arremate de fora da área, que ainda quicou na frente de Gilmar antes de morrer nas redes alviverdes, o primeiro gol da gigante vitória por 3 a 2 sobre o Palmeiras.

No jogo de volta, disputado diante de um Beira-Rio completamente lotado, o Príncipe abriu o placar para o Clube do Povo, também na etapa final, em lindo chute da entrada do grande retângulo palestrino. O tento foi o único do Colorado no duelo, encerrado em 1 a 1, placar que classificou o Inter para a decisão.

Todos os anos de empenho e dedicação de Jair com a camisa alvirrubra, bem como o Brasileirão de excelência que o meio-campista realizava pelo Clube do Povo, foram recompensados no dia 23 de dezembro de 1979. Apoiado por dezenas de milhares de colorados e coloradas que, empolgados com a vitória por 2 a 0 na ida, no Maracanã, coloriram o Beira-Rio em clima de carnaval que honrou a biografia popular do Internacional, Jajá entrou para a história do futebol brasileiro aos pontuais 41 minutos do primeiro tempo.

Acionado por Bira, exibiu excelente posicionamento para, nas costas da zaga do Vasco, disparar em velocidade e dominar livre, cara a cara com Leão. Já na matada, cortou o goleiro, abrindo para a perna direita e invadindo a área. Com o gol aberto, tocou rasteiro para as redes e partiu em direção ao abraço. O Tri ficava ainda mais próximo, e seria confirmado, no segundo tempo, após triunfo por 2 a 1, que ainda contou com gol de Falcão.

Jair seguiu brilhando pelo Inter na temporada de 1980. Vice-campeão da Libertadores e terceiro colocado no Brasileirão, acumulou cartaz continental suficiente para, no ano seguinte, após breve passagem pelo Cruzeiro, ser negociado com o Peñarol. Na equipe carbonera, vestindo a 10, ganhou Uruguai, América e mundo, assim se eternizando, também, como ídolo aurinegro. Na sequência, em 1984, Jajá retornou, por alguns meses, para o Clube do Povo.

Muito mais breve do que a anterior, a segunda passagem de Jair pelo Inter ficaria marcada pelas conquistas do Torneio Heleno Nunes, competição nacional, e da japonesa Copa Kirin. Também no ano de 1984, Jajá marcaria os últimos de seus 117 gols com a camisa colorada, números que o colocam, atualmente, na nona posição da lista de maiores artilheiros da rica história do Internacional.

“Há pouco eu fiquei sabendo que estou como o nono goleador da história do Clube, entre os 10 goleadores da história do Sport Club Internacional, o que muito me honra! Eu era um meia-direita e estou fazendo parte dos goleadores do Clube! Pra mim, foi muito importante. Massageia o ego da pessoa, lógico, mas pelo trabalho que teve, e foi um trabalho bem árduo – e bem feito.”

Definitivamente, Jajá foi um atleta paradoxal. Meio-campista clássico, da pompa de cabeça erguida e passadas largadas, oferecia às equipes que defendeu um dinamismo muito à frente de seu tempo. Diamante lapidado no Celeiro de Ases, já era vencedor antes de chegar ao profissional colorado, onde, de fato, fez história. Multicampeão, exibe na prateleira pessoal inúmeros troféus alvirrubros – e muitos outros charruas. Feitos relevantes, mas que não se comparam ao tamanho do espaço que conquistou no coração da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Com o camisa 8, o povo se identificava. Por ele, torcida. Graças a ele, vibrava. E como vibrou. Obrigado por tudo, Jair. Feliz aniversário, eterno Príncipe!

Eufórica, a Coreia ovaciona o Príncipe do povo colorado/Foto: Divulgação

Beretta, o homem que parou Maradona, fala ao Programa do Inter

Você conhece João Beretta? Tricampeão nacional pelo Clube do Povo, o antigo lateral-esquerdo, que vestiu alvirrubro por 12 anos seguidos entre as temporadas de 1973 e 1984, conversou, na noite da última terça-feira (07/07), com o Programa do Inter, da Rádio Colorada. Confira abaixo, ou em nossos perfis no Spotify e no SoundCloud, a íntegra da entrevista do defensor, responsável por marcar – e anular – Maradona na estreia do craque com as cores do Barcelona, em confronto válido pela semifinal do Torneio Joan Gamper de 1982, vencido, nos pênaltis, pelo Colorado.

Sport Club Internacional · Rádio Colorada | Entrevista exclusiva com João Beretta, ex-lateral esquerdo | 07/07/2020
Beretta marca Maradona/ Foto: Horacio Seguí – FC Barcelona

De segunda a sexta, a partir das 18h, a Rádio Colorada apresenta o ‘Programa do Inter’, exibição que traz todas as atualizações sobre o dia a dia do Clube do Povo. Feito de torcedor(a) para torcedor(a), o Programa pode ser acompanhado através do APP oficial do Clube do Povo.

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Inter 14 a 0: 44 anos da maior goleada do Beira-Rio e do Gauchão

Em 1976 não eram só Elton John e The Supremes que estavam nas paradas de sucesso. No futebol, o Brasil inteiro se rendia à magnificência da Academia do Povo comandada por Rubens Minelli, campeã nacional na temporada anterior. Intensa como uma boa disco, a geração colorada parecia imbatível aos torcedores, apaixonados pela geração de craques como Valdomiro, Falcão, Manga, Figueroa, e também para os rivais, aterrorizados com a afinada sintonia alvirrubra. Adversário nenhum, entretanto, passou pelo mesmo que os uruguaianenses do Ferro Carril que, há exatos 44 anos, no dia 23 de maio de 1976, sofreram, para o Colorado, o maior revés da história dos Gauchões e do Beira-Rio, por 14 a 0. Confira o especial da Rádio Colorada sobre a jornada:

Sport Club Internacional · Rádio Colorada: Especial 44 anos da maior goleada do Beira-Rio e do Gauchão – 21/05/2020
Figueroa briga pela bola contra atleta do Ferro Carril

O Clube do Povo foi a campo naquela outoniça tarde de domingo escalado com Manga no gol, Cláudio Duarte, Figueroa, Marinho Peres e Vacaria na defesa; Caçapava, Carpegiani e Escurinho no meio; Valdomiro, Flávio e Genau no ataque. Da casamata, Rubens Minelli viu seus comandados abrirem o placar logo aos 35 segundos de partida, quando o relógio sequer indicava 15h e 31 minutos. Pegando a sobra de bola levantada na área, Caçapava mandou na caçapa, como bem narrou Milton Ferreti, e inaugurou o marcador.

À época, o Inter já somava nove vitórias, além de um empate, nas partidas disputadas pelo Gauchão. Uma vitória larga, portanto, não seria exatamente chocante, como não foi a etapa inicial, encerrada com o 4 a 0 no placar, gols de Caçapava, mais uma vez, Carpegiani e Flávio. Após fazer história com o hexa do Rolo Compressor na década de 40, o Clube do Povo tinha a obsessão de chegar ao Octa estadual e, com ele, superar a sequência de sete títulos consecutivos do rival. Encarrilhando taças desde a inauguração do Gigante, o Colorado estava a um troféu de atingir feito inédito para o futebol gaúcho. Também por isso a equipe, já motivada pela promessa do vice-presidente de Futebol, Fernando Arnaldo Ballvê, que estipulara uma gratificação por gol marcado a cada atleta, sequer cogitou tirar o pé no segundo tempo. Entre os mais interessados em retornar com tudo para o segundo tempo, estava Escurinho.

A geração do Octa

Audacioso, Orlando, arqueiro do Ferro, provocou Escurinho, afirmando que até poderia sofrer mais gols, mas nenhum do talismã colorado. Tendo operado milagres a cada chute ou cabeceio do ídolo do Inter, o goleiro parecia ser o grande pesadelo do histórico camisa 14 alvirrubro, e sentia ter autoridade para incomodar o meio-campista vermelho. Reiniciado o confronto, as provocações seguiram por mais cerca de meia-hora, intervalo de tempo recheado pelos tentos de Valdomiro, Ramón, que, assim como Hermínio, entrara no decorrer da partida, Cláudio Duarte, Figueroa, novamente Valdomiro e, uma vez mais, Ramón. Aos 28 minutos, contudo, aproveitando corte ruim da zaga adversária, Escuro fez o seu, o 12º do dia, e deu fim à breve sina.

Ramón, antes, e Valdomiro, na sequência, encerraram a goleadora tarde na beira do Guaíba. Ato contínuo, ainda na beira do campo Rubens Minelli foi entrevistado e declarou, sincero, que estava satisfeito com a atuação respeitosa de seus atletas. “Realmente, a equipe esteve numa tarde muito feliz. Aproveitou demais as oportunidades que o adversário permitiu e transformou a superioridade em gols. Eu acho que uma maneira de respeitar o adversário é exatamente jogando um futebol sério, nunca nos preocupamos em menosprezar o adversário, tentando dar olé, e acredito que, embora nossa equipe tenha feito 14 gols, nós jamais subestimamos ou deixamos que se sentissem menosprezados.”

Na sequência do torneio, o Inter acumularia mais 14 vitórias em campanha avassaladora, que ainda somou três empates e um único revés. Contra o maior rival foram cinco os confrontos, três destes encerrados com alegria para a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, o último válido pela final, vencido por 2 a 0, gols de Lula e Dadá. Consagrado, o Octa segue, ainda hoje, inigualável, assim como o escore aplicado sobre o Ferro, feitos dignos de uma equipe histórica e rara como foi a Academia do Povo na década de 70.

Músicas do especial:

Rock’n Me – Steve Miller Band
Earth, Wind & Fire – Getaway
The Supremes – I’m Gonna Let My Heart Do The Walking
Blue Oyster Cult – (Don’t Fear) The Reaper
The Isley Brothers – Harvest For The World
Elton John (with Kiki Dee) – Don’t Go Breaking My Heart

Fotos:

Reprodução.

Ficha técnica da partida, disponibilizada pelo Arquivo Histórico do Inter