A camisa 10 do Clube do Povo já tem novo dono. De volta ao Clube do Povo, Alan Patrick foi apresentado nesta quinta-feira (21/04) e falou da honra em vestir o manto colorado. Após longo período atuando na Ucrânia, o meio-campista expressou sua motivação em voltar a dar alegrias para a torcida.
Com contrato assinado até abril de 2025, ele também comentou a parceria de longa data com Taison quando atuaram juntos no Shakhtar. Além disso, analisou sua evolução como jogador, seu estilo de jogo e como pode ajudar a equipe comandada por Mano Menezes dentro de campo.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista coletiva do reforço colorado.
Camisa 10 “Essa camisa tem uma história muito linda, vestida por ídolo que eu admiro e tive o prazer de jogar junto. Para mim, é uma honra. Obviamente, o D’Ale tem uma história lindíssima e é um cara insubstituível. Claro que eu, dentro das minhas características, vou procurar apresentar meu futebol, com meu estilo de jogo. Sempre com o objetivo de fazer o Inter mais forte, fazer o Inter vencer e chegar às conquistas. Estou muito motivado para isso.”
História no Inter “É um Alan Patrick diferente daquele de anos atrás. Porém, vem comigo e carrego na memória a lembrança de ter sido feliz aqui, de ter sido campeão. Espero continuar escrevendo essa história de vitórias aqui.”
Relação com Taison “O Taison é um amigo, estivemos jogando juntos muito tempo lá na Ucrânia. Me dou super bem com ele, temos também um entrosamento e entendimento de ter jogado muito tempo juntos. A gente espera poder aplicar também isso aqui no Internacional. Lá, tivemos algumas conquistas. Espero levantar troféus aqui, juntos novamente. É uma parceria muito boa, nos damos super bem.”
Estilo em campo “Acho que depende de como será a tática que o Mano irá montar a equipe. Tive dois ou três treinadores nesse período no Shakhtar onde joguei em posições diferentes, como 8 ou como 10, dependendo da tática. Pode ser também aquele 10 mais centralizado, avançado e próximo ao centroavante. É por onde sempre atuei, as minhas características cabem a esse estilo dentro de campo. Estou disponível pra atuar onde o ‘mister’ achar que eu devo atuar e ele enxergar que seja melhor pra equipe. Vou procurar dar o meu melhor”
Mais de 12 temporadas defendendo a mesma camisa. Um total de 517 jogos, 95 gols e 113 assistências. 13 títulos, entre eles Copa Libertadores e Sul-Americana. O terceiro jogador que mais vestiu a camisa do Inter, mesmo vindo de fora do país. O ídolo Andrés Nicolás D’Alessandro está de volta ao Clube do Povo para escrever seu capítulo derradeiro como jogador de futebol. O último tango do argentino mais brasileiro do mundo já começou!
Esta quinta-feira, dia 13 de janeiro, entra de imediato para a história colorada. Data que marca o retorno oficial do ídolo, apresentado pela diretoria no Beira-Rio. Ao lado do presidente Alessandro Barcellos, do vice-presidente de futebol Emílio Papaléo Zin e do diretor executivo Paulo Bracks, D’Ale recebeu de volta a sua camisa 10, cedida pelo amigo Taison, que voltou a usar a 7.
Em entrevista coletiva emocionante, o ídolo falou sobre diversos assuntos, esclareceu dúvidas e projetou seus últimos quatro meses como jogador de futebol. Confira abaixo os principais trechos.
Palavra da diretoria
Alessandro Barcellos: “É um cara irresignado com derrota, gosta de vitória, gosta de título e tem os valores do Internacional no seu dia a dia. Isso é fundamental, com a entrega que ele tem, para um dos grupos mais jovens do Inter nos últimos anos. A presença do D’Alessandro dentro do vestiário vai nos ajudar muito nesse aspecto.”
Emílio Papaléo Zin: “É muito bom ver o D’Alessandro vestindo novamente a camisa do Internacional. É um craque dentro e fora de campo. Neste começo de ano no Campeonato Gaúcho, que ele participou de sete conquistas, vai nos ajudar muito. Com sua experiência, sua liderança e seu talento, certamente terá uma participação decisiva neste início de temporada onde o Inter está formando seu elenco.”
Paulo Bracks: “Quando penso no D’Alessandro, penso nele com a camisa do Internacional. Vai ser um orgulho muito grande tê-lo como colega de trabalho e nós contamos muito com ele dentro e fora de campo.”
D’Alessandro
Volta para casa “Estou muito orgulhoso e feliz de o Inter ter me aberto as portas novamente. Era um possibilidade que, quando sai no ano passado, pensava, mas não era uma realidade. Em conversa com a diretoria e o presidente a gente conseguiu e hoje estamos aqui. Estou muito feliz de voltar para minha casa.”
Disposição de sobra “Se o treinador precisar de mim dois minutos, estarei à disposição. Se precisar em 20 minutos, estarei à disposição. Se não precisar de mim dentro, mas fora de campo, também estarei à disposição.”
Como se fosse a primeira vez “Eu não voltei ao Inter pelo que eu ganhei. Voltei porque a diretoria, o treinador e o grupo estão convencidos de que eu posso contribuir com eles de alguma maneira, seja fora ou dentro. Para mim, vai ser como o primeiro Gauchão que joguei lá em 2009, que vencemos de forma invicta, junto com o Taison.”
Intensidade do novo treinador “Temos um treinador com ideias novas, com uma característica diferente dos treinador anteriores. Um treinador que gosta de trabalhar, é intenso e não gosta de brincar, já mostrou isso nos primeiros treinos. Não tem outro jeito a não ser trabalhar. Já não se ganha mais no futebol só com a bola no pé, se ganha com intensidade, se doando, tendo comprometimento, esforço e dedicação. É preciso viver para o futebol 24 horas por dia.”
Recado aos críticos “Existe uma minoria que achava que não poderia treinar e não teria forças. Uma minoria que se incomoda com a minha presença novamente em Porto Alegre. Uma minoria que talvez vista outra cor. Estou aqui muito vivo, com muita força e muito feliz. Ninguém conseguiu ganhar tudo, mas quando falam do D’Alessandro mudam o pensamento e a cobrança. Mas eu sempre matei no peito e, dessa vez, não vai ser diferente. Estou mais forte, estou que nem o vinho. Pode continuar batendo que não tem problema.”
Fim da linha “É difícil cravar, mas a minha carreira vai terminar. Vou jogar quatro meses, ajudar no que eu puder até 30 de abril, farei 41 anos no dia 15 de abril. Depois disso, vou para a minha casa, descansar, sair de férias. Continuarei ajudando o Inter, comparecendo nos jogos, porque me tornarei torcedor. Já sou um torcedor, mas um atleta torcedor que continua trabalhando no clube.”
Volta à cidade “Eu tinha muita vontade de voltar a morar em Porto Alegre. Não deixei de morar e voltar aqui como cidadão. Mas queria retornar para ficar e me despedir do futebol. Acho que posso dizer que é justo, eu sinto isso, é o que o torcedor e o clube me passam. É justo eu me despedir com a camisa do Internacional. Não poderia me despedir do futebol e encerrar minha carreira com outra camisa.”
Despedida do torcedor “Eu preciso do torcedor. O clube precisa do torcedor. Agora vou ser um pouquinho egoísta, preciso me despedir do torcedor. Seja em Bagé, Erechim, Ijuí, ou na cidade que a gente for, mesmo se eu não for jogar, pedirei para viajar e acompanhar o grupo. Eu necessito me despedir do torcedor, ter contato com eles.”
Aposentadoria “Preparado a gente nunca está. Eu vou pensando no dia a dia que termina uma coisa que é difícil assimilar. O atleta de futebol tem duas vidas dentro de uma. A vida de atleta e depois tem mais 40 ou 50 anos pra viver. Tenho que me preparar para isso.”
Amizade com Taison “Taison é um amigo. Como atleta, dispensa comentário. Mas, como pessoa, dispensa mais ainda. A gente tem uma amizade muito grande. Ele vai ter que me ajudar, já ajudei muito ele. A gente vai trabalhar junto. Nunca é fácil pra quem sai do Inter e fica longe um tempo. O Inter mexe muito com o sentimento das pessoas, pelo menos a gente que tem um carinho e amor enorme pelo clube. Mexe demais. Quando a gente está longe, quer voltar a ficar aqui.”
Orgulho em vestir o manto “Ser o terceiro jogador com mais jogos no clube é um orgulho. Hoje em dia, é muito difícil encontrar atletas que fiquem tanto tempo em um clube. Não é um objetivo ser o segundo. Se acontecer, ficarei muito feliz. Mas se não acontecer, posso jogar apenas alguns jogos. Depende de como o treinador quiser me utilizar. Tenho bem claro na minha mente, eu voltei para ficar à disposição, cumprir como um atleta profissional o dia a dia e minhas obrigações com o que o treinador precisar. Seja um minuto, sejam dois. De repente, faço uma ou duas partidas em quatro meses. Isso não vai tirar a minha felicidade por ter voltado, por estar com o grupo, voltar a Porto Alegre, por vestir esse manto colorado, que não é pouca coisa.”
Há quem diga que a vida imita a arte, mas nem o mais criativo dos roteiristas seria capaz de elaborar trama tão envolvente quanto a que marca os primeiros meses da segunda passagem de Taison pelo Inter. Multicampeão com o Clube do Povo na década retrasada, o camisa 10 já era amado pela torcida quando deixou o Beira-Rio, mas nada comparável ao sentimento de idolatria hoje nutrido pelo povo por seu craque, artilheiro do Gre-Nal disputado no último sábado (06/11).
Quando partiu para o velho continente, Taison era um jogador muito diferente desse que retornou a Porto Alegre no último mês de abril. Antes camisa 7 e ponta-esquerda, dono de lépidos dribles que o transformavam no passista do Beira-Rio, o pelotense hoje se sobressai como maestro da Academia do Povo. Pensador e cerebral dentro das quatro linhas, fora delas o colorado de coração nada perdeu da humildade que o transforma em um legítimo representante da essência do Internacional.
Ao longo das últimas semanas, o cara que é a cara do Clube que é do povo semeou coincidências donas de significado que transcende em muito o peso que uma simples camisa poderia suportar. Seu primeiro gol na nova trajetória de vermelho, por exemplo, saiu exatamente diante do último rival que flagelara em 2010. Tido por todos como imbatível, o adversário foi superado no mais alvirrubro dos Maracanaços, que virou tela para a pintura feita ao longo de dezenas de metros pelos pés do desbravador colorado.
Já o segundo tento encontrou moldura no número 891 da Padre Cacique. Em destaque na obra de arte, o artista. Ao fundo, seus iguais. No retorno da torcida ao Gigante, Taison balançou as redes no 5 a 2 do Inter sobre a Chapecoense. Depois de partir em disparada às arquibancadas da Avenida Padre Cacique, o camisa 10 comemorou o feito diante da antiga Coréia. Ali, ergueu o punho em um gesto que se confunde à história do Clube do Povo. Diante da êxtase popular, a imponência do regente imperava para o Brasil inteiro aplaudir.
Extremamente vitoriosa, mas longe de satisfazer seu autor, a história de Taison com a camisa do Inter ainda tinha uma lacuna que precisava ser preenchida. Grande nome de alguns dos clássicos que disputou no início do Século (como esquecer da arrancada de Erechim?), o ídolo ansiava por desencantar na rivalidade Gre-Nal. E poderia existir oportunidade melhor para o primeiro encontro com os barbantes azuis do que no recorde de público do Beira-Rio desde a reabertura dos portões de nossa casa?
“Primeiramente, agradecer a torcida,
que veio e lotou o nosso Beira-Rio.
Essa vitória é de todos vocês, dos meus companheiros,
que lutaram muito na semana para conseguir esse resultado positivo.
Estou muito feliz!”
Taison
A supremacia colorada em Gre-Nais, ostentada desde 1945, foi construída através de alguns ícones que assumiram a função de simulacros da postura que se espera do Inter a cada clássico. Quantos não foram os capitães alvirrubros que se tornaram carrascos do maior rival? Para se ater aos últimos anos, impossível não lembrar do Eterno Fernandão, sempre sedento para reafirmar a imponência vermelha no Rio Grande do Sul.
O mesmo podemos falar da camisa 10. Em momentos de angústia, quem nunca fitou os olhos na direção de D’Alessandro, ansioso por requinte de genialidade que catalizasse o Beira-Rio? Com o número certo às costas, e a braçadeira no braço, Taison entrou para a história da rivalidade no último 6 de novembro.
“Desejo esse gol para minha mãe, meu pai.
Minha família, que está sempre comigo, me acompanhando.
Também ao D’Alessandro, que me ligou hoje pela tarde
desejando boa sorte. Vamo, Inter!”
Taison
Melhor em campo desde a abertura do confronto, o Inter custou a abrir o placar no embate de sábado. O encontro da bola com a meta adversária, porém, era inevitável, e saiu aos 39 da etapa inicial. Edenilson teve duas chances para encontrar Taison. Na primeira, a zaga cortou. Na segunda, o selecionável brilhou.
Com açúcar, a bola cobrou exatos dois segundos para atravessar o campo de um lado a outro antes de cair no lado esquerdo da área gremista. O que nem todos perceberam foi que, enquanto o público prendia a respiração no aguardo do fim da jogada, muita coisa acontecia no templo da beira do Guaíba.
Após deixar os pés de Edenilson, a assistência encontrou, ao longo de sua viagem, ares de D’Alessandro, que 86 passes para gol oferecera como mandante nos anos que imperou no Beira-Rio. Frente ao cruzamento do(s) companheiro(s), Taison voltou para 2009, e veloz como nos tempos de passista, desconcertou a marcação. Quando o camisa 10 ficou livre, quem entrou em ação foi a braçadeira. Ao lado do ídolo do presente, quase 26 mil almas juraram perceber Fernandão. Mortal nos cabeceios, o capitão foi torcedor, e indicou como o testaço deveria ser feito. E assim foi:
Qualquer semelhança geográfica não precisa ser mera coincidência
Cada clássico tem sua biografia. A do 434, se confunde à do Inter. De ídolos carrascos, de capitães apaixonados, de craques colorados. Para vencer o rival pela vez 158, o Clube do Povo contou com Taison. Sobre essa história, que se diga, o melhor é que ela está longe de chegar ao fim. Sonhar não custa nada para quem conta com um camisa 10 que representa milhões. E disso ele sabe.
O teu sorriso é a nossa alegria, ídolo!/Foto: Ricardo Duarte
Camisa 10 não renovará seu contrato ao fim do ano (Fotos: Ricardo Duarte)
Apesar de nossos corações insistirem em não aceitar, todos sabíamos que esse dia chegaria em algum momento. Na tarde desta segunda-feira (23/11), D’Alessandro anunciou seu adeus como jogador de futebol do Internacional. Após 12 anos e meio defendendo as cores do Clube do Povo, a história do camisa 10 chegou ao fim no Beira-Rio e ele não renovará seu contrato, que encerra no dia 31 de dezembro.
Na entrevista coletiva concedida no Canal do Inter, além do anúncio de sua saída ao final do ano, o ídolo revelou que está produzindo um livro com a sua biografia e recebeu uma homenagem pelas mãos do presidente Marcelo Medeiros: uma camisa do Inter com todas as suas conquistas gravadas às costas.
“É muito difícil resumir em palavras 12 anos, 13 títulos, centenas de vitórias e momentos importantes no Clube. O que posso afirmar, com certeza, é que o Inter me levou a outro patamar da carreira como atleta. Eu saí muito novo do River, joguei cinco anos na Europa, voltei pra Argentina e apareceu o desafio de atuar em um grande do Brasil. Para mim, o maior de todos. Foi a melhor decisão da minha vida. Aqui atingi a consagração, vivi meus melhores dias no futebol e acho que posso dizer que construí uma relação limpa com o torcedor, transparente e muito bonita. Claro, com alguns momentos de turbulência, mas isso é normal. Este é o meu principal legado: saber que o torcedor se sentiu representado e identificado em campo por mim nesses 12 anos.”
Andrés Nicolás D’Alessandro, meia e ídolo colorado
Ídolo recebeu homenagem do Clube
Hoje é uma data histórica. A história de um dos maiores jogadores e ídolos do nosso clube chegou ao fim. Tivemos uma conversa no final de semana e o D’Alessandro comunicou a sua decisão, que amadureceu para tomar. A gente, que convive há sete anos, sabe a paixão com que ele faz as coisas, a paixão que tem pelo nosso clube. Respeitamos a decisão do D’Alessandro e aceitamos que a história dele chegará ao fim no dia 31 de dezembro. Nos cabe aqui agradecer pelos 12 anos e meio de Inter. Os números dele falam por si.
A carreira de Iarley merece aplausos. Por onde passou, o cearense conquistou títulos e respeito. No Inter, foi notável. Apesar da pouca estatura, o atacante se tornava um verdadeiro gigante quando vestia o manto colorado, que honrou durante toda a passagem pelo Clube, compreendida entre os anos de 2005 e 2008.
Camisa 10 foi um dos grandes nomes da decisão do Mundial de Clubes/Foto: Ricardo Duarte
Sua trajetória atingiu o ápice no Japão, onde o então camisa 10 foi peça fundamental na inesquecível vitória sobre o Barcelona, que deu ao Inter o título do Mundial, o segundo na conta pessoal do atleta. Já aposentado, o herói, que atualmente trabalha com as categorias de base alvirrubras, sabe que viverá eternamente na memória da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. No dia em que comemoramos 15 anos da apresentação do ídolo como reforço do Clube do Povo, relembre sua passagem no Beira-Rio!
Contratação badalada
Pedro Iarley já ostentava um currículo invejável quando desembarcou, no dia 17 de junho de 2005, no Aeroporto Salgado Filho. Seu passaporte somava carimbos que iam do argentino, onde conquistou, com o Boca Juniors, seu primeiro Mundial, ao espanhol, registro da época em que defendeu o Real Madrid B ao lado de jovens como Raúl, Eto’o, Cambiasso e Casillas. Mais do que atuar por grandes clubes, entretanto, o atacante tambem figurava na história de muitos destes.
Em território hermano, por exemplo, após marcar o gol que garantiu a conquista do Torneio Apertura de 2003, Iarley virou ídolo vestindo a mítica camisa 10 xeneize. No mesmo ano, participara da belíssima campanha do Paysandu na Libertadores, inclusive sendo o artilheiro da vitória por 1 a 0 do time brasileiro sobre o Boca Juniors, em plena Bombonera – feito que motivou o clube de Buenos Aires a contratá-lo.
Iarley chegou ao Inter credenciado por currículo vitorioso/Fotos: Divulgação
À época de sua contratação, o Inter estava absolutamente faminto por títulos. Após passar um período na fila, o Clube do Povo se reestruturava e trabalhava duro para retomar o caminho das glórias. Iarley, neste cenário, chegava como a cereja do bolo de uma equipe já encorpada, capaz de empolgar a torcida a ponto de, no momento do desembarque do atacante na capital gaúcha, um grupo de alvirrubros pedir ao novo reforço que ajudasse o Colorado a conquistar uma Libertadores da América, título até então inédito na galeria de troféus do Beira-Rio.
“É um atleta experiente, mas que está
sem jogar há algum tempo.
Precisamos ver como será o rendimento
nos treinos da semana.”
Muricy, após o anúncio de iarley
Sofrendo com o desfalque de Rafael Sobis, convocado para a disputa da Copa do Mundo Sub-20, Muricy Ramalho, técnico colorado, ainda perdeu, na semana seguinte ao desembarque do atacante cearense, o centroavante Gustavo, lesionado. Desta forma, não restou alternativa ao comandante se não escalar o recém-chegado para a partida contra o São Paulo, no Morumbi, válida pela 14ª rodada do Brasileirão.
Como uma luva
É inegável: o início da caminhada de Iarley com a camisa vermelha esteve à altura das expectativas. Formando, com Fernandão, a dupla de ataque colorada, o cearense abriu o placar no Morumbi aos 30 do primeiro tempo, esbanjando qualidade para dominar, com a canhota, rebote de dividida do capitão com a defesa paulista, girar o corpo e, de direita, mandar chute preciso no ângulo de Ceni. Pouco depois, Souza até empatou para os locais, mas Fernandão, de pênalti, e Tinga, nos minutos finais, confirmaram o trunfo alvirrubro por 3 a 1. Envolvido, ainda, nos dois tentos marcados pelo Clube do Povo no segundo tempo, o estreante foi escolhido o melhor jogador da partida em enquete realizada no site do Inter.
O golaço do estreante
“A bola vai entrar a partir de agora.
Eu trabalho para fazer gols!”
Iarley, em entrevista na semana seguinte à estreia
Exuberante, a atuação diante do São Paulo garantiu a Iarley vaga no time titular, mantida para a rodada de número 15 apesar dos retornos de Gustavo e Michel, atacante que também estava entregue aos cuidados do Departamento Médico. À oportunidade, o atacante respondeu mantendo o ritmo elevado, fundamental para o triunfo colorado, por 2 a 1, sobre o São Caetano, no Beira-Rio. Na ocasião, mesmo debaixo de intensa chuva, quase 20 mil pessoas tomaram as arquibancadas do Gigante para apoiar o Inter, que abriu o placar aos 27.
Iarley, Alex, Tinga e povo vermelho: destaques da vitória sobre os paulistas
Fernandão lançou Alex, que surpreendeu a marcação caindo pela direita. O jovem foi até o fundo, em velocidade, e cruzou, com o pé ruim, na medida para curioso cabeceio de Iarley, que mandou para as redes, marcando seu primeiro gol no Beira-Rio, segundo pelo Inter. Menos de cinco minutos depois, Granja serviu Tinga, que de canhota marcou o segundo do Clube do Povo. Dimba, para os visitante, até descontou na etapa final, mas nada que ameaçasse o triunfo alvirrubro, capaz de alçar o Colorado à terceira posição no Nacional.
O primeiro tento no Beira-Rio
Também escolhido o craque em sua partida de estreia no Beira-Rio, Iarley foi mantido entre os 11 iniciais para o duelo contra o Vasco, no Rio de Janeiro. Aparentemente esperada, a titularidade comprovou a grande fase do atacante, que deixou Rafael Sobis, de volta após conquistar a medalha de bronze com o Brasil na Copa do Mudo Sub-20, no banco.
Iarley e Sobis brilharam contra o Papo
Vitorioso em São Januário por 4 a 2, o Clube do Povo se manteve na terceira colocação, a apenas um ponto dos líderes Ponte Preta e Fluminense. A vice-liderança chegou na partida seguinte, encerrada com goleada de 5 a 2 sobre o Juventude, no Gigante. Ao lado de Sobis, Iarley formou dupla de ataque municiada por Fernandão, e abriu o placar, logo aos 10, em um golaço de perna direita.
Pintura para abrir o placar contra o rival gaúcho
Terceiro do atacante em quatro partidas, o tento diante do Juventude foi acompanhado, três dias depois, pelo quarto em sua trajetória no Inter, este marcado sobre o Goiás. De peixinho, contudo, o gol não impediu a derrota, por 3 a 2, no Beira-Rio. Pior ainda, Iarley precisou deixar o duelo mais cedo, consequência de luxação no ombro esquerdo. Incialmente, a injúria afastou o atleta dos gramados por quatro jornadas, mas, após sentir dores nos dois jogos seguintes que disputou, o cearense teve de ser submetido a cirurgia, que estendeu o tempo de afastamento.
Inter lutou muito, mas foi derrotado pelo Goiás
“Os médicos disseram que
a operação foi um sucesso.
Agora, é repouso absoluto e, depois,
volto com tudo para retornar ainda
no Brasileirão.”
Iarley, após a cirúrgia
Contrariando a previsão dos médicos, que estipulavam o tempo de parada do atleta entre três e quatro meses, Iarley voltou aos gramados durante partida da 35ª rodada do Brasileirão, disputada em 31 de outubro, pouco mais de 60 dias após a cirurgia. Fora da lista de inscritos do Clube do Povo na Sul-Americana, não pôde disputar o confronto de volta das quartas continentais, contra o Boca, na Bombonera. No Nacional, seguiu como peça frequente no ataque alvirrubro, e teve o alto nível de suas atuações recompensado, já em 2006, com a renovação de contrato até o final de 2008.
Iarley teve boas atuações na reta final do Brasileirão de 2005
2006 de brilho fora…
Iarley foi titular na campanha vice-campeã gaúcha em 2006
Titular no início da temporada de 2006, autor de quatro gols no Gauchão, Iarley seguiu conquistando, no novo ano, o respeito de todos no Beira-Rio. Naturalmente, o atacante se tornou uma das principais referências do time, chegando a formar, junto de Clemer e Fernandão, o trio de líderes do vestiário colorado. Em entrevista concedida para a Mídia do Inter em 2014, o ídolo, inclusive, comentou o perfil da trinca, destacando as diferentes características de cada um.
Nosso capitão, o cara que liderava mesmo, até pela inteligência que tinha, era o Fernandão. O Clemer era mais explosivo, até na hora de tomar à frente, dar uma dura. Eu, mais tranquilo, apaziguador, ia lá e analisava a situação, dava opinião, contornava.
Simbolizando o protagonismo que exercera nos meses inaugurais de 2006, Iarley teve o privilégio de ser inscrito na Libertadores da América com a mítica camisa de número 10 do Internacional. Capitão nos primeiros cinco jogos do Clube do Povo na competição, demonstrou o porquê de ser uma das lideranças do grupo quando, com os retornos de Rafael Sobis e Jorge Wagner aos gramados, recuperados de lesão, foi para o banco de reservas.
Iarley vestiu a 10 colorada na conquista da primeira Libertadores
Iarley não apenas aceitou a condição, como se tornou um verdadeiro assistente do técnico Abel Braga, ajudando o comandante a gerir o elenco do Inter ao longo da fase eliminatória. Para além do papel fundamental que desempenhou no vestiário, o atacante também foi a campo oito vezes na campanha do título, oferecendo, ainda, duas assistências, umas delas na histórica virada sobre o Pumas, no Beira-Rio.
As assistências contra Pumas (E) e Maracaibo (D)
… e dentro de campo!
Iarley brilhou no Brasileirão de 2006
Após as saídas da dupla Sobis e Jorge Wagner para o futebol espanhol, sacramentadas poucos dias após a conquista da América, Iarley, que já vinha se destacando na formação que construía grande campanha para o Inter no Brasileirão, assumiu com maestria a lacuna deixada no ataque titular do Colorado. Ao lado de Fernandão, alcançou grande entrosamento, e encerrou o Nacional como um dos destaques do Clube do Povo vice-campeão, marcando 10 gols na competição.
Atacante viveu fase artilheira no semestre final de 2006
Atuações maiúsculas como no Gre-Nal do Olímpico, quando marcou o gol da vitória, e no triunfo sobre o Fluminense, por 2 a 0, no Beira-Rio, além de golaços a exemplo da inesquecível bicicleta contra o Vasco, ou da letra diante do São Caetano, ambas no Gigante, valeram ao atacante uma merecida indicação ao prêmio Craque do Brasileirão. Curiosamente, Iarley acabou preterido na premiação, que não foi a única a injustiçá-lo em dezembro de 2006.
Os gols do ídolo contra Vasco (E), São Caetano (C) e Grêmio (D)
Um gigante no caminho do Barcelona
A delegação do Inter chegou ao Japão para a disputa do Mundial no dia 7 de dezembro de 2006. Antes disso, ainda no trajeto, Iarley já havia demonstrado a importância que sua liderança exerceria na caminhada rumo ao maior título de clubes do planeta.
Torcida fez grande festa no embarque do Inter para o Japão
Quando um contratempo em São Paulo atrasou o voo colorado, fazendo com que o grupo perdesse a conexão entre Paris e Tóquio, assim precisando passar uma tarde em hotel da capital francesa, foi o ídolo quem, em atitude extremamente solidária, dispôs-se a permanecer na sala de embarque do aeroporto parisiense junto dos companheiros Vargas e Hidalgo, os quais não tinham visto para entrar no país. Ali ficaram os três, conversando e descansando enquanto esperavam pelo prosseguimento da viagem.
Esse tá bonito, mas vamos colocar outro,
ainda maior, no lugar, escrito
Campeão do Mundo!
Iarley, ao se deparar com painel do time campeão da américa
Uma vez em terras nipônicas, Iarley, como sempre vestindo a 10, teve atuação segura na semifinal, contra os egípcios do Al-Ahly. Foi na decisão do Mundial, porém, que a estrela do ídolo reluziu como nunca.
Iarley em campo contra o Al-Ahly/Fotos: Jefferson Bernardes
No maior dos jogos, a melhor atuação
Os campeões do mundo/Foto: Jefferson Bernardes
A missão era espinhosa. No jogo mais importante da história do Inter, superar o poderoso e badalado Barcelona, de Ronaldinho Gaúcho, Deco, Iniesta, Xavi e companhia. Para isso, é claro, foi preciso traçar uma estratégia especial.
Foto: Ricardo Duarte
A gente sabia que o Barcelona viria com tudo pra cima, e começamos a visualizar o contra-ataque. Mentalizei que poderíamos ganhar o jogo assim, porque era isso ou os pênaltis. Tanto que, quando eu pego a bola na jogada do gol, já estava preparado para aquele momento!
Extremamente disputada, com boas chances para os dois lados, a finalíssima do Mundial de Clubes impôs duro baque à Maior e Melhor Torcida do Rio Grande quando, aos 30 da segunda etapa, Fernandão, extenuado e com cãibras, precisou ser substituído. Com o coração na mão, milhões de colorados e coloradas responderam à alteração depositando boa parte de suas esperanças em Iarley, que assumiu a braçadeira após a saída de nosso capitão, responsabilidade que assumiu com tranquilidade, atestada seis minutos depois.
Foto: Ricardo Duarte
Na hora, só tinha o Luiz Adriano. Esperei pra ver se ele se movimentava, porque estava muito aberto. Dali, só conseguiria um cruzamento ou chute cruzado. Fiquei observando o Puyol. Depois do corte, ele ficou me dando um lado. Segurei e vi um vulto de branco passando. Era o Gabiru. Consegui fazer um passe pressão, milimétrico!
Esbanjando frieza, o ídolo recebeu escorada de Luiz Adriano para, primeiro com o pé direito, dominar a bola. Sagaz, no toque seguinte colocou a redonda entre as pernas de Puyol. O restante da jogada, é claro, todos lembram. Iluminado, Gabiru, substituto de Fernandão, desferiu o mais preciso dos arremates, matando o goleiro Victor Valdez e fazendo o planeta, cada vez mais vermelho, tremer com a festa da torcida colorada.
Olhugol, olhugol, olhugol!
Apesar da empolgação com a vitória parcial, ainda faltavam 10 minutos para o jogo acabar. Mais do que isso, pela frente restava um Barcelona cada vez mais ofensivo em busca do empate. Foi então que Iarley levou seu 1,70 m de altura a atingir a estatura do Beira-Rio quando, junto de Rubens Cardoso, prendeu a bola na ponta esquerda do ataque colorado por praticamente três minutos. Três minutos ao longo dos quais uma história quase centenária passou diante dos olhos do povo alvirrubro, e que serviram para esfriar a pressão dos espanhóis, tranquilizando o time gaúcho.
Foto: Ricardo Duarte
Minha base foi no futsal, eu era pivô. Quando a gente precisava segurar um resultado, eu já fazia isso. Então, naquele momento do jogo, depois do nosso gol, quando o Barcelona veio com tudo pra cima, eu senti que precisava dar uma esfriada, deixar o tempo passar.
Gigantes, Iarley e Rubens Cardoso acumularam faltas, escanteios e laterais
O atacante cearense somente parou de lutar quando o árbitro marcou falta sua, a pouco mais de um minuto do final do jogo. Neste curto intervalo de tempo, todavia, nem mesmo a genialidade de Ronaldinho foi suficiente para segurar o Inter. Exatos 70 segundos após assinalar irregularidade de Iarley, o árbitro Carlos Batres voltou a levar o apito à boca. Desta vez, para encerrar a partida e oficializar que o mundo, finalmente, era vermelho.
Inter, és campeão mundial…/Foto: Jefferson Bernardes
Após o jogo, Iarley recebeu, erroneamente, a Bola de Prata, distinção oferecida ao segundo melhor jogador do Mundial. Premiação, é claro, injusta, pois a colocação não condizia com o nível das atuações do atacante, mas corrigida, dois dias depois, na chegada do time campeão a Porto Alegre.
Foto: Ricardo Duarte
Iarley, com a Bola de Prata e a bandeira do Ceará, comemora a conquista em Yokohama
Mais de 500 mil colorados e coloradas receberam, no dia 19 de dezembro, a delegação campeã mundial. Entre os atletas, Iarley foi, com justiça, um dos mais festejados pela multidão. Em meio ao mar vermelho que coloriu a Região Metropolitana de nossa capital, alguns apaixonados chegavam a bradar que o camisa dez merecia “metade da taça”, como dissera Galvão Bueno na narração do gol do título. Poucos sabiam, contudo, que o título tinha um gosto especial para o ídolo, que, com a taça, cumpria previsão que fizera ao se deparar, ainda em agosto, no vestiário do Inter, com um painel do time vencedor da Libertadores.
Assim, Iarley terminou 2006 atendendo não somente ao pedido do grupo de torcedores que o recebera quando de seu desembarque em Porto Alegre, como também cumprindo promessa feita dentro do sagrado vestiário do Beira-Rio e, é claro, consagrado no seleto rol de ídolos eternos alvirrubros. Uma temporada, definitivamente, irretocável.
Porto Alegre parou com a chegada dos campeões
A coroa americana
Iarley manteve seu posto de titular e líder no ano de 2007
O início da temporada de 2007 não afetou a titularidade de Iarley. No primeiro semestre do ano, o ídolo seguiu formando, com Pato e Fernandão, o trio de ataque colorado, sempre municiado por um Alex cada vez mais regular e participativo na região central do campo. Após insucessos em Libertadores e Gauchão, o Clube do Povo conquistou, no dia 7 de junho, a Recopa Sul-Americana, taça que garantiu a Tríplice Coroa. Capitão na finalíssima, o camisa 10 levantou a taça junto das outras duas lideranças do grupo, Clemer e Fernandão.
Internacional: Libertadores, Recopa e Mundial!
Nos meses de encerramento do ano, atacante foi importante para a conquista de vaga na Sul-Americana de 2008. Marcada por grande reformulação no elenco, a temporada de 2007 chegou ao fim com Iarley, Fernandão e Nilmar, repatriado, formando um novo poderoso trio ofensivo para o Inter.
Ao mesmo tempo, Alex seguia brilhando na região central, agora apoiado pelos recém-chegados Guiñazú e Magrão. Na defesa, nomes como Marcão, Sorondo e Orozco foram contratados, trio que, junto do jovem Sidnei e do experiente Índio, renovava as esperanças do povo vermelho. Exatos 12 meses após chegar ao auge, portanto, o Inter demonstrava estar pronto para retornar ao topo, e contava com seu camisa 10 para isso.
Ídolo participou da reformulação ocorrida no elenco colorado em 2007
Um campeão, até o fim
Liderança na pré-temporada colorada
Titular ao lado de Alex e Fernandão em novo trio de ataque estrelado que formou ao longo de sua passagem pelo Inter, Iarley viveu momento goleador no Gauchão de 2008. Ao todo, balançou as redes em sete ocasiões, ocupando a vice-artilharia colorada na competição, atrás apenas de Alex. A partir das quartas de final, com o retorno de Nilmar, até então lesionado, o camisa 10 passou a revezar a titularidade com o veloz companheiro, assim diminuindo sua frequência dentro de campo.
Ídolo formou ataques memoráveis ao longo dos anos que defendeu o Inter
Na finalíssima do torneio, contra o Juventude, coube a Iarley, junto de Clemer e Fernandão, como ocorrera na Recopa de 2007, erguer o troféu de campeão gaúcho. Primeiro estadual que venceu pelo Inter, 38º da história do Clube do Povo, o título foi, também, o segundo do Colorado no ano, sucedendo, em poucos meses, a conquista da Copa Dubai, ocorrida durante a pré-temporada.
“Achei que eu era forte,
mas mal consigo falar agora.”
IARLEY, em sua entrevista de DESPEDIDA
No dia 5 de junho, após selar transferência para o Goiás, Iarley deixou o Inter. Tomado pela emoção, o atacante praticamente não conseguiu conceder sua coletiva de despedida, admitindo não ter forças para falar. As lágrimas que corriam de seus olhos, obviamente, também tomaram as faces dos colorados e coloradas espalhados pelo mundo, multidão que ainda hoje procura por palavras capazes de agradecer ao gigante camisa 10 por todos os feitos que conquistou vestindo alvirrubro. Viva, I-AR-LEY!