O Clube do Povo recebeu com profundo pesar a notícia do falecimento de Marinho Peres. Atleta do Inter nos anos de 1976 e 1977, o ex-zagueiro, titular absoluto na conquista do segundo Brasileirão da história colorada, morreu nesta segunda-feira (18/09), aos 76 anos, após mais de um mês internado por complicações nos rins e no coração.
Relembre a carreira de Marinho Peres:
Natural de Sorocaba-SP, Mário Peres Ulibarri começou a carreira no São Bento. Destacadas, suas atuações logo chamaram a atenção da Portuguesa dos Desportos, equipe que defendeu entre o final dos anos 1960 e o começo da década de 1970. No Canindé, o defensor ganhou o apelido de Marinho Peres. Com ele, se consolidou entre os melhores zagueiros do futebol brasileiro.
Nacionalmente reconhecido, Marinho viveu, a partir de 1973, uma ascensão meteórica. Primeiro, o zagueiro acertou com o Santos de Pelé. Lá, conquistou o Paulistão. Depois, em 1974, embarcou rumo ao Velho Continente, onde assinou com o Barcelona de Johan Cruijjf. Nessa temporada, Peres ainda foi titular do Brasil na Copa do Mundo da Alemanha. O ápice de sua carreira, porém, ainda estava por vir.
Recém-coroado campeão brasileiro de 1975, o Clube do Povo enxergou em Marinho o par perfeito para Figueroa – e esperou o momento certo para se aproximar do defensor. Caso permanecesse no Barcelona em 1976, Peres, que tinha naturalidade espanhola, precisaria servir ao exército do país durante todo aquele ano. Sua continuidade no Camp Nou, portanto, estava comprometida. E nada melhor do que trocar um gigante europeu pelo atual dono do Brasil.
Se engana quem pensa que o vistoso currículo garantiu titularidade imediata a Marinho. Dupla de Figueroa no Brasileirão de 1975, Hermínio continuou titular na abertura do Gauchão de 1976, a ponto de a primeira grande oportunidade para o zagueiro mundialista surgir apenas na derradeira rodada da primeira fase estadual, quando o Clube do Povo disputou o Gre-Nal de número 223 na história.
Surpreendentemente (ou não) pessimista com as chances do Inter, a imprensa gaúcha tentou rotular Marinho como um fracasso antes mesmo de sua estreia. Para a crítica, Peres e Figueroa não podiam jogar juntos. Especulavam que os dois brigariam por holofotes, deixando Alcindo, atacante do rival, à vontade para brilhar no Beira-Rio. Coitados. Apoiado por mais de 73 mil pessoas, o Colorado venceu o clássico por 2 a 0.
“Eu quero estar sempre
entre os melhores”
Marinho Peres
Os gols do Gre-Nal foram marcados por Figueroa e Carpegiani, dois dos melhores jogadores em campo – ao lado de Marinho. Seguro sempre que exigido e dono de refinada técnica para sair jogando, Peres assumiu a titularidade colorada para, a partir de então, formar com Don Elias a dupla de zaga que conquistaria o Gauchão de 1976 e, junto com ele, o jamais igualado Octa do Rio Grande.
“Toda vez que tirava
uma foto do nosso time antes dos jogos,
tinha a certeza de que ele deixaria saudades!”
Marinho Peres
Os campeões de 1976 (Marinho é o segundo em pé a partir da direita)
No segundo semestre, Marinho Peres colocou mais uma faixa no peito. Adaptado à linha de impedimento, estratégia que aprendera a explorar durante os anos de Europa, o zagueiro encaixou como uma luva na equipe de Rubens Minelli e foi um dos pilares da equipe campeã com o melhor aproveitamento da história do Brasileirão: 84%. De 23 jogos, o Inter empatou um, perdeu três e venceu 19, o último deles diante do Corinthians, na finalíssima, por 2 a 0.
Inter em 1977 (Marinho é o terceiro em pé a partir da direita)
Marinho Peres deixou o Inter em 1978. Negociado com o Palmeiras, permaneceu no Parque Antártica até 1980, quando acertou com o América-RJ, último time de sua carreira. Em Porto Alegre, o ex-zagueiro está eternizado como um dos grandes nomes do inesquecível e vencedor Clube do Povo dos anos 1970. Sinônimo de saudade, o ídolo partiu deixando as melhores recordações para o povo colorado. Obrigado por tudo, campeão!
Marinho atende torcedores em frente ao Portão 8 do Beira-Rio/Foto: DVG
Há três anos, temos o privilégio de assistir à história de uma das nossas maiores/Foto: João Callegari
Contratada como craque, ela precisou de poucos meses para virar ídola. Hoje, mais do que marcada em nossa história, Fabiana pode se gabar de ocupar degrau dos mais altos no panteão colorado. À época com 29 anos, a selecionável soteropolitana deu o pontapé inicial em seu matrimônio com o Inter em um 10 de abril como hoje, mas de 2019, data em que vestiu pela primeira vez o manto do Clube do Povo. Dede aquela partida contra o São José, encerrada com vitória de 2 a 1 das Gurias, outros 63 capítulos foram escritos na biografia compartilhada entre instituição e jogadora, cada um desses fundamental na construção da figura divina que a atual camisa 7 representa para a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.
Uh! Fabiana!/Foto: João Callegari
O time certo para a jogadora certa – 2019
A fama que acompanhava Fabiana, também conhecida como Baiana, quando de sua chegada ao Inter era impactante. Em 2019, o currículo da craque, já consagrada como a melhor lateral-direita da Seleção Feminina em todos os tempos, acumulava participações em três Olimpíadas, incluindo a campanha medalhista de prata de 2008, o ouro no Pan de 2015, realizado em Toronto, e a disputa de duas Copas do Mundo, a primeira na Alemanha, em 2011, e a segunda no Canadá, também em 2015.
Fabi já era uma estrela quando chegou ao Inter/Fotos: Rafael Ribeiro/CBF
O último clube defendido por Fabi antes do Inter foi o Wuhan, da China, equipe para a qual se transferiu após um 2017 de relevância com as cores de Corinthians e Barcelona. Sua contratação, portanto, simbolizava a ambição do Clube do Povo para a temporada de estreia das Gurias na elite do futebol feminino brasileiro. De maneira simultânea ao desembarque da Baiana em Porto Alegre, inclusive, as coloradas tratavam de construir excelente arrancada no Nacional A1, dona de duas vitórias nos dois primeiros jogos do ano.
De cara, em sua partida de estreia, Fabi deixou claro o acréscimo de qualidade que representava. Válido pela quarta rodada do Brasileirão A1 de 2019, o embate entre Inter e São José-SP teve seu placar inaugurado pela colorada Daiane Moretti aos 29 minutos do primeiro tempo. O gol da centroavante saiu de cobrança de falta feita por Baiana, que levantou na área a partir da intermediária direita de ataque. Na segunda trave, outra ídola, a zagueira Sorriso, teve a responsabilidade de agir como assistente da jogada.
Fabi em sua partida de estreia/Foto: Camila Souza
Novamente com a camisa dois às costas, Fabi voltou a ser titular na rodada seguinte, quando as Gurias venceram o Minas-ICESP, fora de casa, por 2 a 0. Já o primeiro gol da lateral-direita como atleta colorada saiu no dia 19 de maio, data do terceiro jogo que disputou pelo Inter. No Pacaembu, a atleta, recém-convocada pelo técnico Vadão para a Copa do Mundo que em breve seria disputada na França, precisou de apenas 11 minutos para, ao perceber a goleira rival adiantada, marcar um dos gols mais bonitos do Brasileirão de 2019. De muito longe, por cobertura, a bola viajou até as redes alvinegras e abriu os caminhos para a vitória de 2 a 1 do Clube do Povo.
O primeiro gol de Fabi pelo Inter/Imagem: Bandeirantes
A crescente de Fabi Simões pelo Inter fazia crer que a lateral chegaria em grande forma ao Mundial, onde teria a responsabilidade de carregar parte do protagonismo da Seleção Brasileira junto de suas outras colegas de geração. No mês de véspera da Copa, porém, uma lesão muscular na coxa direita frustrou todas as expectativas de atleta e torcida, e culminou na colorada sendo cortada da convocação. Para muitos, um baque dessa magnitude significaria o fim da temporada. Para a nossa ídola, ele somente motivou um retorno ainda melhor – e em nova posição.
“Foi um ano, pra mim, muito difícil depois de ser cortada da Seleção Brasileira,
mas dei a volta por cima e consegui ajudar o Internacional.
Meu retorno ao Brasil não poderia ser de melhor forma.
Estou muito feliz e grata por isso.”
Fabi Simões, em dezembro de 2019
Dentro de campo, a retomada do calendário brasileiro não correu dentro do esperado pelas Gurias, que foram superadas, no último final de semana de junho, pelo Flamengo. O grande público registrado nessa partida, ao mesmo tempo, significou um importante capítulo de aproximação entre time e torcida, uma vez que centenas de colorados e coloradas, empolgados pelo sucesso de audiência registrado nos recentes jogos da Seleção, marcaram presença no Estádio da PUCRS e fizeram desse um caldeirão de apoio ao Inter.
Fabi foi titular contra o Flamengo/Foto: Mariana Capra
Inabaláveis, as coloradas reagiram à derrota dentro de casa com imediato triunfo como visitantes. Em Araraquara, Mariana Pires marcou o gol de vitória mínima sobre a Ferroviária, resultado que garantiu, com quatro rodadas de antecedência, a classificação do Inter para as quartas de final do Brasileirão. Atingido o primeiro objetivo de uma temporada que já se mostrava histórica, as Gurias voltaram à PUC para enfrentar o Audax, e fizeram valer o fator local para golear as paulistas por 5 a 1.
Pela primeira vez titular no ataque das Gurias, Fabi respondeu à nova função com autoridade, marcando o gol que abriu o placar do confronto contra as paulistas. Aos 32, poucos minutos após desperdiçar uma penalidade, a agora camisa 11 foi lançada por Mariana Pires e, em velocidade, praticamente da meia-lua da grande área, finalizou de primeira, mesmo atropelada por carrinho da goleira, que deixara o gol em desabalada carreira, para fazer mais um gol com a camisa do Inter.
Gol em cima do Audax foi o primeiro de Fabi diante da torcida colorada/Foto: Mariana Capra
De lateral para atacante, Fabi Simões deu mais um importante passo em direção à eternidade colorada no primeiro clássico que disputou. Nascida com especial predisposição para ser carrasca tricolor, a craque, que acabara de retornar de Data FIFA com a Seleção Brasileira, marcou, em confronto do Gauchão, os três primeiros gols da goleada de 4 a 0 das Gurias em cima das adversárias. De muito longe, em voleio com a perna direita, dentro da área, rasteiro e de canhota, e driblando a goleira, ela tratou de se apresentar à maior rivalidade do país já ocupando o posto de estrela. Surgia, naquele instante, a Mulher Gre-Nal.
A maior Mulher Gre-Nal da história/Foto: Mariana Capra
Golaço olímpico nas Castanheiras, pintura por cobertura contra o Oriente, em jogo que também contou com gol de puro oportunismo, e mais dois diante do João Emílio: Fabi Simões encerrou a fase de grupos do Gauchão com sete bolas enviadas às redes rivais. Cada vez mais adaptada às exigências de desempenhar uma função ofensiva no time de Maurício Salgado, a artilheira apresentaria, com a chegada das semifinais, outra de suas faces idolatradas – a de jogadora decisiva.
Fabi marcou olímpico em Farroupilha/Imagem: RDC TV
Inter e Oriente decidiram em jogo único a vaga na final do Gauchão, e as Gurias Coloradas, donas da melhor campanha da primeira fase, puderam atuar como mandantes na partida eliminatória. Disputado no Sesc, o confronto permaneceu com o placar zerado durante míseros três minutos, tempo cobrado por Fabi para marcar o primeiro e aproximar o Clube do Povo da decisão estadual. Logo depois, aos seis, a baiana ofereceria lindo passe de cabeça para Luana Spindler, mas teve sua assistência interceptada por gol contra da zaga rival. Caminho aberto, pela 11, para a vitória de 7 a 0. Que viesse o Grêmio!
Goleadora comemora o gol marcado em cima do Oriente/Foto: Mariana Capra
Ijuí, dia primeiro de dezembro de 2019. Pelo terceiro ano consecutivo, Inter e Grêmio decidiriam o Gauchão. Surgiria, ao fim dos 90 minutos regulamentares, o primeiro time bicampeão estadual depois da retomada dos respectivos departamentos de Futebol Feminino colorado e tricolor. Engrandecendo ainda mais o espetáculo, o clássico também seria o primeiro disputado com as duas equipes pertencendo à elite nacional. O Clube do Povo, àquela altura, já carimbado por passagem nas quartas de final do país, e o rival, por outro lado, recém-promovido à série A1.
Em resumo, era tarde de jogo grande. Jogo para gente grande. Jogo, é claro, para Fabi Simões. Aos oito minutos, a camisa 11 recebeu passe em profundidade de Naná, tomou a frente da marcação, driblou a goleira e, com requintes de crueldade, finalizou rasteiro e sem força. Mansa, a bola morreu lá dentro. Logo depois do primeiro gol, a Mulher Gre-Nal voltou a ter espaço para correr até a área adversária. Mais uma vez, ela driblou Lorena. Desta vez, chutou de canhota. Uh! Fabiana! Inter 2 a 0.
Se ela engata a primeira, não tem quem segure/Foto: Mariana Capra
O Grêmio até chegou a empatar a decisão, mas seu esforço de nada valeu, a não ser para adiar o inevitável título do Inter. Com gols de Naná e Jheniffer, as Gurias venceram a finalíssima por 4 a 2 e levantaram sua segunda taça estadual, a primeira de Fabi vestindo alvirrubro. Já marcada na história do Clube do Povo, Simões ainda receberia, na semana seguinte, o prêmio de melhor lateral-direita do Brasileirão A1 de 2019, reconhecimento que serviu de chave de ouro para encerrar uma difícil temporada de superação, reinvenção e protagonismo. Para 2020, o país inteiro já sabia: em Porto Alegre, o lado vermelho tinha uma craque.
O beijo na primeira taça/Foto: Mariana Capra
“Podem esperar muito empenho e dedicação.
Espero que no ano de 2020 eu possa jogar melhor
do que fiz nessa temporada de 2019.”
FABI simões, em dezembro de 2019
Com vocês, a melhor lateral-direita do país em 2019/Foto: Mariana Capra
Ninguém atrasa quem nasceu para vencer – 2020
O ano de 2020 reservou novas pedras no caminho de Fabiana Simões. Na partida de estreia das Gurias na temporada, por exemplo, a atacante, lesionada, precisou deixar o campo logo no minuto 14. Do DM, ela acompanhou os quatro jogos disputados pelo Inter antes da paralisação do calendário brasileiro em virtude da pandemia do novo coronavírus. A volta aos gramados, assim, ocorreu apenas no final de agosto, mais de seis meses após a lesão sofrida.
Depois de tanto tempo sem jogar, é claro que Fabi voltou com fome de gols. Já na terceira partida disputada no ano, Simões foi decisiva na vitória de 2 a 1 das Gurias sobre a Ferroviária, conquistada fora de casa e de virada. Servida por Shashá, a atacante desviou bom cruzamento em direção ao poste, e contou com a sorte que acompanha as craques para ver a bola rebotear no corpo da goleira Luciana e tomar o caminho da baliza grená. Na sequência do calendário, três jogos mais tarde, foi o Iranduba-AM quem teve sua meta vazada pela 11 colorada.
Camisa 11 viveu fase goleadora no retorno das competições/Foto: Mariana Capra
À medida que o trio de ataque formado por Shashá, Byanca Brasil e Fabi Simões acumulava maior entrosamento, as Gurias passaram a somar ainda mais pontos na disputa do Brasileirão. Na 11ª rodada, diante do Cruzeiro, a camisa 11 brilhou com dois gols, o primeiro deles digno de uma extrema, lançada para fazer o facão e finalizar com o pé trocado, e o segundo característico da centroavância, que tanto cobra por oportunismo que não permita passar incólume qualquer bola viva dentro da pequena área adversária.
Contra o Cruzeiro, foram mais dois para a conta/Foto: Mariana Capra
É possível que o melhor jogo de Fabi Simões em 2020 tenha sido justamente o último que a atacante disputou na primeira fase do Brasileirão A1 daquele ano. No Allianz Parque, a camisa 11 não marcou gol ou deu assistência, mas destroçou, à base de suas arrancadas, por completo a zaga rival. Volantes palestrinas, as atletas Nicoly, Angelina e Maressa não conseguiram rastrear a craque colorada no sintético gramado paulista, e permitiram que a baiana criasse espaços e cavasse faltas determinantes na vitória de 3 a 1 do Internacional.
Fabi não esteve nas melhores condições físicas durante as quartas de final do Brasileirão A1, nas quais as Gurias, que haviam avançado de fase na terceira colocação, foram eliminadas pelo Avaí/Kindermann. No Gauchão, cuja primeira fase foi disputada em duas partidas, a atacante começou a primeira na reserva, ainda em busca da melhor forma, e foi titular na última. Nessa, contribuiu na goleada colorada sobre o João Emílio, mesmo jogando na lateral, com três gols.
C de Colorado, L de líder – o Bi estava a caminho/Fotos: Mariana Capra
Mulher Gre-Nal, Fabi passou em branco na final do Gauchão de 2020 (acredite se quiser!). Mais uma vez escalada na lateral, desta feita para que Rafa Travalão e Mariana Pires pudessem atuar juntas na construção de jogadas para a dupla de avantes formada por Shashá e Byanca Brasil, a defensora não deixou de ter boa exibição no clássico, encerrado com vitória de 2 a 1 do Inter sobre o Grêmio. Passadas duas temporadas em Porto Alegre, a ídola chegava a dois títulos conquistados pelo Clube do Povo.
A 7 ficou ainda mais pesada – 2021
Fabi e 7, sinônimos da grandeza colorada/Foto: João Callegari
A primeira baixa das Gurias em 2022 chegou cedo. Ainda na pré-temporada, a recém-contratada atacante Millene Fernandes sofreu grave lesão ligamentar no joelho. Sem ela, Mauricio Salgado precisou encontrar uma nova referência ofensiva em seu elenco, então repleto de velocistas, como Shashá, e de jovens promessas, a citar Mileninha, mas carente de uma jogadora já talhada para ser estrela. Na estreia colorada no Brasileirão, Fabi pleiteou candidatura a esse posto, já que marcou, de pênalti, o gol do empate de 1 a 1 do Inter com o Santos.
Craque marcou em cima das Sereias da Vila/Foto: Mariana Capra
Titular nas vitórias do Inter sobre Bahia e Flamengo, conquistadas nas rodadas segunda e terceira do campeonato, Fabi sofreu uma lesão antes da quinta jornada nacional, e a injúria a impediu de disputar os quatro jogos seguintes. Uma vez reintegrada às relacionadas, a atacante pôde atuar cerca de 20 minutos no empate sem gols das Gurias com o Minas Brasília, mas pouco conseguiu criar diante da bem postada zaga adversária. Nessa altura do Nacional, com 15 pontos conquistados, o Clube do Povo começava a buscar uma arrancada de triunfos consecutivos para assegurar sem maiores problemas sua classificação às quartas. Momento ideal para o retorno da craque às 11 iniciais.
“Agradeço também ao Departamento Médico,
que fez tudo do bom e do melhor para eu estar voltando
o mais rápido possível.”
Fabi Simões, após o jogo contra o Botafogo
No masculino, ela pertenceu a Valdomiro, Fabiano, Tinga e Taison, entre outros gigantes. Na história feminina e colorada, foi empunhada por ninguém mais, ninguém menos, do que Bel. Com o passar dos anos, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande aprendeu que, nos momentos de dificuldade, deveria correr os olhos na direção dela. Afinal, desde criança ouvimos e aprendemos que quem a veste precisa ser diferente, capaz de dançar no mesmo ritmo que nossas bandeiras tremulam, de partir para cima de defesas representando a ambição de milhões, e de definir, destroçando goleiras, com a qualidade de poucos. No Internacional, em resumo, a camisa 7 sempre entortou varal.
Algumas imagens dispensam legenda/Foto: Mariana Capra
O hiato que vivemos do gol de pênalti contra o Santos até novo encontro de Fabi com as redes pode ter feito com que algumas coisas passassem desapercebidas ao grande público. Desde a estreia em 2021, por exemplo, Simões já vestia um novo número. No lugar do 11, que tantas vezes usou após suas primeiras partidas com a 2, a atacante estava com a 7. Sim, é isso mesmo. No ano em que precisaria se destacar como nunca, a craque escolheu trajar o número dos que tornam o impossível, realidade, e ainda teve a capacidade de esperar a hora certa para deixar claro que estava preparada para tamanha responsabilidade.
Fabi voltou na hora certa/Foto: Mariana Capra
Precisando vencer, o Inter disputou a 10ª rodada do Brasileirão A1 de 2021 no Engenhão, contra o Botafogo. Titular junto de Mileninha, sua nova parceira de ataque, Fabi Simões armou a primeira de suas arrancadas no minuto 13 da etapa inicial, instante em que serviu a companheira, que finalizou para milagre da goleira Rubi. Espalmada, a bola tomou o caminho da marca do pênalti, onde a camisa sete colorada, embora prensada por duas marcadoras, apareceu para concluir. Placar aberto no Rio.
📝😎 Manual de contra-ataque!
Confere os dois gols que vão garantindo a vitória parcial das Gurias Coloradas diante do Botafogo, no Estádio Nilton Santos. Fabi Simões e Mileninha marcaram para o Clube do Povo! Vamo, Colorado! 🤯🇦🇹 #VamoInter#GuriasColoradaspic.twitter.com/sxIwlgZVOn
— Gurias Coloradas (@ColoradasGurias) May 26, 2021
Passados 10 minutos, Mileninha e Fabi voltaram a reluzir. Do campo de defesa, a cria partiu em velocidade até a intermediária ofensiva, sempre acompanhada por cinco marcadoras. Única parceira de time ao seu lado, Simões foi percebida pela atacante, que esticou jogo pela ponta-direita. Dali, a 7 cruzou, como Valdomiro, em direção à primeira trave. Dentro da área, a aprendiz consagrou a tabela da dupla. Inter dois, Botafogo 0.
Foto: Mariana Capra
“Estou muito feliz de ter voltado e por ter ajudado a equipe a sair com os três pontos. Isso é o mais importante, independente se eu fiz gol ou dei uma assistência.”
Fabi Simões, após o jogo no Engenhão
Foto: Mariana Capra
Titular na vitória de 1 a 0 sobre o Cruzeiro, no Sesc, Fabi voltou a balançar redes na rodada 12, quando fez os dois do Inter na polêmica derrota de 3 a 2 para o Palmeiras. No final de semana seguinte, fora de casa, a colorada marcou, de cabeça, o segundo gol dos 2 a 1 do Clube do Povo em cima do São José-SP, triunfo que confirmou a classificação antecipada das Gurias à fase de mata-matas. Desde a volta de Simões, 9 de 12 pontos haviam sido conquistados pelo time de Maurício Salgado.
Fabi comemora com Mileninha (17) e Leidi (2)/Foto: Mariana Capra
Bicampeã gaúcha e artilheira consagrada em nível estadual e nacional com as cores do Inter, Fabi ainda perseguia, quando da disputa da reta final da primeira fase do Brasileirão de 2021, seu gol de desencanto no Beira-Rio – e não existia circunstância melhor para dar fim ao tabu do que no primeiro Gre-Nal feminino nacional sediado no Gigante. No último dia 20 de junho, as Gurias Coloradas receberam suas maiores rivais pela penúltima rodada do país.
Eram jogados 22 minutos do primeiro tempo quando, após passe espirrado de Djeni Becker, Fabi tirou proveito do pique da bola para invadir a área gremista. Com o corpo, a craque garantiu a posse, e, diante da aproximação de uma segunda rival, transformou o gramado do Beira-Rio em pista de dança. Azarada, a vítima tricolor sequer teve tempo de piscar os olhos antes de ser fintada e se deparar com um vermelho número 7 de frente para o gol azul. Segundos depois, festa no Gigante. Pela sexta vez naquele Brasileirão, e também em clássicos, a Mulher Gre-Nal marcava.
A jogada do primeiro gol de Fabi no Beira-Rio/Foto: Jota Finkler
“A expectativa está muito grande, queremos jogar.
Nos preparamos muito bem para passar pelo São Paulo,
chegar na semifinal e fazer história com o Inter.”
Fabi simões, antes das quartas de final
Encerrada a primeira fase do Brasileirão, o torneio teve sua disputa interrompida por mais de 50 dias, consequência da disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Depois de dois anos seguidos de eliminação nas quartas de final, as Gurias teriam mais uma chance de chegar às semis nacionais, mas, para isso, precisariam eliminar o São Paulo, terceiro colocado no turno de pontos corridos e dono do mando de campo no jogo da volta, vantagem ainda mais celebrada pelas paulistas após conquistarem vitória na ida, no Beira-Rio, por 2 a 1.
Inter, de Fabi, abriu as quartas em desvantagem/Foto: Ricardo Duarte
Verdade seja dita, o jogo da volta começou ainda no Beira-Rio. Se o revés de 2 a 1 era duro para o Inter, ainda pior seria o panorama sem o gol de Djeni, marcado aos 47 da etapa final. Com ele, qualquer vitória no Morumbi levaria a disputa da vaga para os pênaltis, e as Gurias, com esperanças renovadas graças ao tento de desconto, não apenas começaram melhores a partida em São Paulo, como também não se deixaram abalar nem mesmo com o injusto gol de Gislaine, que abriu o placar para as mandantes aos 21.
A altivez apresentada pelo Inter diante da desvantagem foi recompensada nos pés de Fabi. Menos de 15 minutos depois do time da casa aumentar sua vantagem agregada para dois gols, a decisiva artilheira brigou com a marcação após passe parcialmente interceptado de Djeni, levou a melhor sobre a zaga, ajeitou para a perna direita e, de dentro da área, finalizou com curva, de chapa. Golaço, que na etapa final seria acompanhado por outro de Ari, marcado aos 39, e mais um de Shashá, anotado já nos acréscimos. Estávamos entre as quatro melhores equipes do Brasil!
Fabi envolveu a marcação no lance do gol de empate no Morumbi/Foto: Livia Villas Boas/CBF
“A gente joga com o nome da frente
para depois ser reconhecida com o de trás.”
fabi simões, depois das quartas de final
Fabi comemora o primeiro gol das Gurias no Morumbi/Foto: Luiza Moraes/CBF
Agressivamente caçada pela zaga do Palmeiras no duelo de ida das semis, Fabi teve que começar a volta, no Allianz Parque, como reserva. De todo modo, a craque, que entrou durante o intervalo, ajudou o Inter a jogar em alto nível até os 17 minutos da etapa final, instante em que as Gurias ficaram com uma a menos em campo. A partir de então, as palestrinas fizeram valer a superioridade numérica para eliminar o Clube do Povo do Brasileirão.
A despedida do calendário nacional, todavia, não representou o encerramento da temporada colorada. No mesmo mês de setembro que sediou o jogo do Allianz, as Gurias iniciaram a defesa pelo título do Rio Grande do Sul. Titular em quatro das seis partidas disputadas pelo Inter na fase de grupos do Estadual, Fabi marcou gols em todas essas, e avançou para as semifinais somando incríveis três assistências e uma dúzia de tentos no Gauchão.
Fabi sobrou na primeira fase do Gauchão/Fotos: João Callegari
O sétimo gol de Fabi Simões no Gauchão saiu na partida de abertura da fase eliminatória do Estadual. Em Farroupilha, contra o Brasil, a artilheira colocou à prova, pela enésima vez com a camisa do Inter, uma de suas principais valências ofensivas ao se posicionar, durante jogada de contra-ataque, nas costas da lateral rival. No pique, ela recebeu passe de Wendy, conduziu até a grande área e, como sempre, aguardou a tomada de decisão por parte da goleira. Quando viu que esta escolhera a saída por baixo, finalizou de bico, rasteiro, para começar a trilhar o caminho colorado rumo à decisão. Ensina, Fabiana!
Camisa sete marcou em todas as partidas que disputou no Gauchão passado/Foto: João Callegari
No jogo de volta, no Sesc, Simões brilhou com uma assistência, para Rafa Travalão, e um golaço, dos mais bonitos de sua trajetória pelo Inter. Acionada na intermediária de ataque, a poucos passos do círculo central, ela costurou em direção à meia-lua da grande área e, nas cercanias desta, mandou uma folha-seca no ângulo farroupilhense. Na comemoração, a camisa sete mostrou sua sintonia com a essência popular e política do Clube do Povo, celebrando com o punho erguido. Amamos Fabi, amamos o Inter, odiamos o racismo!
Ídola do povo!/Foto: João Callegari
Mais uma final, mais um Gre-Nal. Sétimo da carreira de Fabi Simões, o clássico que decidiu o Gauchão de 2021 foi, também, o mais disputado e parelho dos últimos tempos. Na Arena Cruzeiro, mesmo palco do bicampeonato conquistado pelas Gurias em 2020, as rivais, armadas com a clara intensão de contragolpear, largaram em vantagem logo aos sete, empurrando a pressão para o lado colorado, que sofria para criar boas chances. Somente aos 40, depois de muito insistir na bola aérea, o Inter conseguiu um pênalti.
“Jogadora grande
tem que jogar em jogo grande.
É pra isso que eu estou aqui.”
Fabi Simões, na comemoração do Tri gaúcho
Fabi Simões contra Lorena. Nas arquibancadas, centenas prendiam a respiração. Em casa, milhares. A minutos do intervalo, as Gurias podiam voltar ao jogo. Grande para a maioria, a responsabilidade da cobrança foi encarada com leveza por quem carrega uma camisa tão pesada quanto Baiana. Rasteira, entre o canto esquerdo e o meio do gol, a batida saiu firme e explodiu nas redes. Recado dado: a Mulher Gre-Nal estava on, e ela queria o Tri!
Fabi empatou para o Inter/Fotos: João Callegari
Inalterado durante os pouco mais de 50 minutos que sucederam o gol de Fabi, o placar de 1 a 1 levou a decisão da taça para os pênaltis. De volta à marca da cal, a 7 colorada se saiu ainda melhor do que durante o confronto, e assim converteu, na quarta batida do Inter, o terceiro tento colorado. De tão tranquila, a ídola alvirrubra pareceu, inclusive, pressionar a gremista que a sucedeu, cuja penalidade foi defendida por Vivi. Pouco depois, a goleira salvaria mais uma, e a conquista estaria garantida.
Alguns hábitos jamais saem de moda/Fotos: Mariana Capra e João Callegari
Mais um ano para fazer história – 2022
Passados três anos de sua estreia, Fabi Simões segue brilhando com a camisa do Inter. Na atual campanha terceira colocada no Brasileirão A1, dona de quatro vitórias em cinco jogos, a craque, titular tanto do ataque, nas partidas contra Cresspom-DF e Bragantino, quanto da ala-direita, que ocupou diante de São Paulo e Ferroviária, já ofereceu duas assistências e marcou um gol.
O gol de Fabi contra o Bragantino/Fotos: João Callegari
Assim, ao lado de suas companheiras, a dona da 7 continua batalhando em busca de feitos ainda mais relevantes para o pioneiro e vencedor Futebol Feminino colorado, e para isso conta com o apoio da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Povo e ídola, lado a lado, sabem que existe muito mais por vir, e juntos tratarão de buscar o que é seu por direito. Obrigada por nos escolher, Fabiana Simões. Aqui, você será eterna.
O cara que é a cara do Clube que é do povo!/Foto: Ricardo Duarte
Há quem diga que a vida imita a arte, mas nem o mais criativo dos roteiristas seria capaz de elaborar trama tão envolvente quanto a que marca os primeiros meses da segunda passagem de Taison pelo Inter. Multicampeão com o Clube do Povo na década retrasada, o camisa 10 já era amado pela torcida quando deixou o Beira-Rio, mas nada comparável ao sentimento de idolatria hoje nutrido pelo povo por seu craque, artilheiro do Gre-Nal disputado no último sábado (06/11).
Taison marcou seu primeiro em clássicos no último sábado/Foto: Ricardo Duarte
Quando partiu para o velho continente, Taison era um jogador muito diferente desse que retornou a Porto Alegre no último mês de abril. Antes camisa 7 e ponta-esquerda, dono de lépidos dribles que o transformavam no passista do Beira-Rio, o pelotense hoje se sobressai como maestro da Academia do Povo. Pensador e cerebral dentro das quatro linhas, fora delas o colorado de coração nada perdeu da humildade que o transforma em um legítimo representante da essência do Internacional.
Ao longo das últimas semanas, o cara que é a cara do Clube que é do povo semeou coincidências donas de significado que transcende em muito o peso que uma simples camisa poderia suportar. Seu primeiro gol na nova trajetória de vermelho, por exemplo, saiu exatamente diante do último rival que flagelara em 2010. Tido por todos como imbatível, o adversário foi superado no mais alvirrubro dos Maracanaços, que virou tela para a pintura feita ao longo de dezenas de metros pelos pés do desbravador colorado.
Taison marcou um golaço contra o Flamengo/Foto: Ricardo Duarte
Já o segundo tento encontrou moldura no número 891 da Padre Cacique. Em destaque na obra de arte, o artista. Ao fundo, seus iguais. No retorno da torcida ao Gigante, Taison balançou as redes no 5 a 2 do Inter sobre a Chapecoense. Depois de partir em disparada às arquibancadas da Avenida Padre Cacique, o camisa 10 comemorou o feito diante da antiga Coréia. Ali, ergueu o punho em um gesto que se confunde à história do Clube do Povo. Diante da êxtase popular, a imponência do regente imperava para o Brasil inteiro aplaudir.
Camisa 10 marcou pintura contra a Chape/Foto: Ricardo Duarte
Extremamente vitoriosa, mas longe de satisfazer seu autor, a história de Taison com a camisa do Inter ainda tinha uma lacuna que precisava ser preenchida. Grande nome de alguns dos clássicos que disputou no início do Século (como esquecer da arrancada de Erechim?), o ídolo ansiava por desencantar na rivalidade Gre-Nal. E poderia existir oportunidade melhor para o primeiro encontro com os barbantes azuis do que no recorde de público do Beira-Rio desde a reabertura dos portões de nossa casa?
“Primeiramente, agradecer a torcida,
que veio e lotou o nosso Beira-Rio.
Essa vitória é de todos vocês, dos meus companheiros,
que lutaram muito na semana para conseguir esse resultado positivo.
Estou muito feliz!”
Taison
Gre-Nal 434 foi o clássico de Taison/Foto: Ricardo Duarte
A supremacia colorada em Gre-Nais, ostentada desde 1945, foi construída através de alguns ícones que assumiram a função de simulacros da postura que se espera do Inter a cada clássico. Quantos não foram os capitães alvirrubros que se tornaram carrascos do maior rival? Para se ater aos últimos anos, impossível não lembrar do Eterno Fernandão, sempre sedento para reafirmar a imponência vermelha no Rio Grande do Sul.
O mesmo podemos falar da camisa 10. Em momentos de angústia, quem nunca fitou os olhos na direção de D’Alessandro, ansioso por requinte de genialidade que catalizasse o Beira-Rio? Com o número certo às costas, e a braçadeira no braço, Taison entrou para a história da rivalidade no último 6 de novembro.
10 e faixa para o Homem Gre-Nal/Foto: Ricardo Duarte
“Desejo esse gol para minha mãe, meu pai.
Minha família, que está sempre comigo, me acompanhando.
Também ao D’Alessandro, que me ligou hoje pela tarde
desejando boa sorte. Vamo, Inter!”
Taison
Melhor em campo desde a abertura do confronto, o Inter custou a abrir o placar no embate de sábado. O encontro da bola com a meta adversária, porém, era inevitável, e saiu aos 39 da etapa inicial. Edenilson teve duas chances para encontrar Taison. Na primeira, a zaga cortou. Na segunda, o selecionável brilhou.
Com açúcar, a bola cobrou exatos dois segundos para atravessar o campo de um lado a outro antes de cair no lado esquerdo da área gremista. O que nem todos perceberam foi que, enquanto o público prendia a respiração no aguardo do fim da jogada, muita coisa acontecia no templo da beira do Guaíba.
Foto: Alexandre Lops
Foto: Ricardo Duarte
Um gol com história na assistência
Após deixar os pés de Edenilson, a assistência encontrou, ao longo de sua viagem, ares de D’Alessandro, que 86 passes para gol oferecera como mandante nos anos que imperou no Beira-Rio. Frente ao cruzamento do(s) companheiro(s), Taison voltou para 2009, e veloz como nos tempos de passista, desconcertou a marcação. Quando o camisa 10 ficou livre, quem entrou em ação foi a braçadeira. Ao lado do ídolo do presente, quase 26 mil almas juraram perceber Fernandão. Mortal nos cabeceios, o capitão foi torcedor, e indicou como o testaço deveria ser feito. E assim foi:
Qualquer semelhança geográfica não precisa ser mera coincidência
Cada clássico tem sua biografia. A do 434, se confunde à do Inter. De ídolos carrascos, de capitães apaixonados, de craques colorados. Para vencer o rival pela vez 158, o Clube do Povo contou com Taison. Sobre essa história, que se diga, o melhor é que ela está longe de chegar ao fim. Sonhar não custa nada para quem conta com um camisa 10 que representa milhões. E disso ele sabe.
O teu sorriso é a nossa alegria, ídolo!/Foto: Ricardo Duarte
O PASSISTA DO BEIRA-RIO VOLTOU! Fiel representante da essência do Clube do Povo, Taison está de volta ao Gigante. Anunciado na tarde desta sexta-feira (16/04), o ídolo retorna ao Inter para escrever novos capítulos em história que já conta boas doses de superação, alegria, taças e, é claro, muita irreverência vestindo vermelho.
Oriundo do pelotense Progresso, clube de sua cidade natal, Taison chegou ao Celeiro de Ases no ano de 2005. Jogador de extrema velocidade e dribles desconcertantes, foi descoberto durante confronto contra o próprio Inter. A partir de então, passou a ser cuidadosamente lapidado na base do Clube do Povo, onde viveu pouco mais de dois anos e atuou pelas categorias Sub-17 e Sub-20 até a promoção para os profissionais, oficializada no início de 2008.
À época, o mês de maio, inaugurado com taça estadual, não ofereceu final feliz para o Inter. Oscilante, o Colorado acumulou derrotas, por Brasileirão e Copa do Brasil, que culminaram com troca no comando técnico e despedida de ídolos. Neste cenário instável, Taison debutou entre os profissionais do Clube do Povo. No Estádio do Canindé, o jovem substituiu Magrão quando o relógio indicava 34 minutos da etapa final, e pouco pôde fazer para evitar o tropeço colorado para a Portuguesa, vitoriosa naquele domingo dia oito.
“Olha para trás, Taison. Está todo mundo te observando e, no dia do jogo, vai ter muito mais. Tens que dar o teu melhor, pois tu vai acertar!”
TIte, em seus primeiros treinos À frente do INTER
Taison e Cléber Xavier, auxiliar colorado durante a passagem de Tite
Os dias que sucederam o revés em São Paulo ficaram marcados por novas mudanças. Primeiro, Tite chegou. Pouco depois, Fernandão, nosso eterno capitão, deixou o Inter. O ataque vermelho, assim, sofria grande baixa, lacuna que aumentava a pressão sobre Taison. Felizmente, neste exato momento o jovem encontrou um amigo e fiel escudeiro na casamata do Beira-Rio. O novo comandante, em breve ficaria claro, era um entusiasta do futebol da cria colorada.
“Se o professor precisar de mim, estou pronto para dar o meu melhor.”
TAISON, SOBRE A CHEGADA DE TITE
Não demorou para Tite precisar de Taison. Em sua segunda partida à frente do Inter, o comandante deu novos minutos ao jovem, alçado a campo aos 22 da etapa final de partida contra o Vitória, em Salvador. O desempenho agradou a ponto de o pelotense ser escalado como titular no confronto seguinte. Formando dupla com Nilmar, a cria do Celeiro iniciou o Gre-Nal 370, disputado no Olímpico e válido pelo primeiro turno do Brasileirão. Missão difícil? Não para o futuro craque, escolhido o melhor do Inter no empate em 1 a 1.
Taison não sentiu o peso do primeiro clássico que disputou pelo Inter
Faltava a Taison apenas a estreia no Beira-Rio, que chegou no dia seis de julho. Diante do Coritiba, o insinuante avante ocupou papel de destaque em linha de frente compartilhada com Alex e Nilmar. Protagonista na vitória por 3 a 0, brilhou com dribles, ocupou o papel de garçom e fez os zagueiros adversários, infernizados com seu ritmo de garoto, acumularem cartões amarelos.
“A torcida é quem dá apoio para nós, estou muito emocionado. Temos muito o que mostrar ainda. Sempre sonhei em ter este reconhecimento, em ouvir a torcida gritando o meu nome no Beira-Rio. Que bom que isso aconteceu. O Inter apostou em mim, por isso quero dar o meu melhor.”
Taison, após estrear no Gigante
Se a parceria com nomes marcantes a exemplo de Alex, Tite e Nilmar avançava em velocidade equiparável apenas à das pernas do pelotense, o primeiro gol da joia pelo Inter apresentou uma nova dupla que faria história no Beira-Rio. A chuvosa noite de 20 agosto pareceu embalar D’Alessandro, que criou linda jogada para Adriano finalizar. Marcos defendeu, mas o rebote foi de Taison, que não hesitou em fuzilar. O Clube do Povo chegava a quatro, o Palmeiras seguia com um, e a cria do Celeiro estreava na lista de goleadores alvirrubros. Festa, no Beira-Rio, com El Cabezón!
A festa com o primeiro gol de Taison!
Grande conquista colorada em 2008, a Sul-Americana também presenciou atuações de luxo do jovem colorado. Importante na fase de oitavas, quando o Inter enfrentou a Universidad Católica com equipes mistas, Taison saiu do banco no histórico triunfo de 2 a 1 sobre o Boca, na Bombonera.
Seu momento de maior brilho na campanha – e, provavelmente, na temporada -, veio na sequência, na partida de volta das semifinais. Titular diante da ausência de Alex, convocado para a Seleção Brasileira, a joia serviu Nilmar nos dois gols marcados pelo parceiro na vitória por 4 a 0 sobre o Chivas.
A mágica Academia do Povo de 2008 já contava com Taison (20)
O show particular contra o Chivas, inclusive, ocorreu no embalo do segundo gol de Taison pelo Inter, marcado dias antes, durante goleada sobre o Ipiranga. Anotado em bonito chute de fora da área, o tento foi o último marcado pela cria no seu ano de estreia entre os profissionais.
Para além das bolas na rede, contudo, a participação do jovem pelotense também foi decisiva através de dribles insinuantes. Na finalíssima continental, contra o Estudiantes, foi Taison quem esbanjou coragem para encarar dois marcadores, um deles Desábato, e cavar o escanteio que originaria o inesquecível gol de Nilmar.
Taison, o terceiro agachado da direita para a esquerda
“Tive a felicidade de entrar e marcar. Agora, vou continuar trabalhando para conquistar uma chance do técnico Tite.”
Taison, após partida contra o são josé-poa
Taison abriu 2009 em ritmo fulminante
A titularidade absoluta de Taison chegou em 2009. Avassalador, o jovem saiu do banco na segunda rodada do Gauchão para marcar dois gols na brigada vitória de 3 a 1 do Inter sobre o São José e, a partir de então, se consolidar nos 11 iniciais de Tite. O último gol do jovem na partida, vale lembrar, saiu já nos instantes finais de jogo.
Aos poucos, a camisa 7 conhecia seu mais novo dono
Novo dono da camisa 7 colorada, Taison voltou a marcar na semana seguinte, participando de importante 4 a 0 em cima do Sapucaiense. Logo depois, outro doblete, contra a Ulbra, confirmou o inspirado início de temporada do jovem. No horizonte, um clássico Gre-Nal despontava como momento perfeito para o pelotense referendar o recente protagonismo.
“Todo mundo brinca que eu sou um raio.Então, o Nilmar é o papa-léguas!”
Em Erechim, Taison foi gigante. Uma vez mais, o jovem provou que sua estrela vai muito além dos gols, e protagonizou contra-ataque histórico com Nilmar. Em alta velocidade, a dupla transformou lance de perigo do rival em rabisco eternizado na retina do povo vermelho. O gol, segundo do Inter, garantiu vitória por 2 a 1 no primeiro clássico do ano de nosso centenário.
Taison e Bolívar, futuro e passado, então juntos no presente
O ritmo goleador não apenas foi mantido até o fim do primeiro turno estadual, conquistado em Gre-Nal disputado no Beira-Rio, como também renovado nas semanas seguintes. Campeão da primeira fase, o Inter também venceria o returno do Rio Grande, desta vez com goleada histórica sobre o Caxias. Autor de 15 gols no torneio, muitos deles decisivos, a exemplo do anotado em cima do Grená, Taison encerrou o Gauchão no topo da artilharia.
“Taison ou Messi?“
Depois do Rio Grande, o Brasil inteiro também teve a oportunidade de se curvar à fase estrelada de Taison. Autor de gol nas fases segunda, de oitavas, quartas e semifinal da Copa do Brasil, o craque chegou a suscitar, em partida contra o Coritiba, que abriu a disputa por vaga na decisão, questionamento marcante da imprensa gaúcha. Como esquecer da heresia do saudoso Wianey Carlet, que ousou comparar o menino de Pelotas a Lionel Messi? Na noite de 27 de maio de 2009, os colorados e coloradas perceberam quem era melhor.
Taison, D’Ale e Nilmar: trio de ouro colorado
O Brasileirão, vale lembrar, também serviu de solo fértil para grandes exibições de Taison. Peça importante na excelente arrancada do Clube do Povo na competição, o atacante desenvolveu, ao longo do torneio, simpatia cada vez maior pelo corredor esquerdo do gramado, consequência da cada vez mais evidente defasagem do sistema 4-4-2, revolucionado por Mourinhos e Guardiolas.
Desacompanhado de Nilmar, negociado com o futebol espanhol, o camisa 7 encontrou parceria com outros nomes de destaque no Inter de então. Ao lado de Giuliano, Marquinhos, Alecsandro e companhia – além dos companheiros mais longevos, é claro -, Taison ajudou a classificar o Colorado, vice-campeão nacional, para a Libertadores seguinte.
Titular na última rodada do Brasileirão, Taison deu assistência para Giuliano na partida
“O Taison, com velocidade, caiu em cima da última linha do Emelec.”
fossati, depois da estreia nos grupos da libertadores
Taison abriu a temporada com gols no Gauchão…
A estreia do grupo principal colorado em 2010 ocorreu diante do Juventude. Titular, Taison marcou gol no Beira-Rio, logo acompanhado pelo segundo da temporada, tento anotado na terceira partida que disputou no ano. Com a chegada de Jorge Fossati para a casamata, todavia, o elenco passou a conviver com maior rotatividade na linha de frente.
Desta forma, o camisa 7 abriu a Libertadores na reserva do 3-5-2, mas entrando em campo para mudar esquema e postura do lado vermelho, contribuindo na virada sobre o Emelec. Também partindo do banco, a cria do Celeiro atuaria em outras quatro das cinco partidas que completaram a participação alvirrubra na fase de grupos da América.
… e dedicação na Libertadores!
Habituado a fazer a diferença em momentos decisivos, Taison viveu, na abertura das quartas de final, sua primeira grande noite no principal campeonato de clubes do continente. Contra o Estudiantes, foi o escolhido de Jorge Fossati na busca por espaços na retaguarda argentina, que emperrara o jogo colorado ao longo de todo o primeiro tempo.
Camisa 7 incomodou o Estudiantes
Chamado pelo técnico aos 18 minutos, o camisa 7 cumpriu sua missão com louvor. Garçom para gol de Alecsandro, anulado por centímetros, atordoou o corredor direito da defesa pincha, estonteando Cellay. Não por acaso, neste setor surgiu a falta cobrada por Andrezinho e desviada, em direção ao gol e à vantagem, por Sorondo.
“Venho treinando com dedicação, quero aproveitar esta chance!”
Taison, durante a intertemporada
A Copa do Mundo de 2010 paralisou a disputa dos campeonatos de clubes, oferecendo intertemporada fundamental para Celso Roth, substituto de Fossati, conhecer o elenco do Clube do Povo. Com as atenções completamente voltadas para as semifinais da Libertadores, o Inter ainda pôde tornar preparativos os quatro jogos que tinha por disputar pelo Brasileirão antes de enfrentar o São Paulo na luta por vaga na final da América.
“Fiquei morto após a arrancada, mas valeu o empenho!”
Decidido a conquistar o continente com o Colorado, Taison marcou dois gols nas quatro vitórias alcançadas pelo Inter antes do embate com os paulistas. O primeiro, anotado em jogada de altíssima velocidade, saiu logo na retomada do Brasileirão, contra o Guarani, em Campinas. O outro, uma pintura, saiu na partida anterior à semifinal. No Beira-Rio, o camisa 7 fez o acertou lindo chute de perna direita no ângulo da meta flamenguista.
“Meu gol não me garantiu contra o São Paulo. Tenho certeza de que todos querem jogar.”
Que se registre para a posteridade: Taison viveu uma noite inspirada contra os paulistas. Disputados no Beira-Rio, os primeiros 90 minutos das semifinais da América tiveram no camisa 7 seu grande nome. Dono de crescente entrosamento com Kleber, o proprietário da ponta-esquerda de ataque do Inter participou de duas grandes oportunidades, milagrosamente defendidas por Ceni. Substituído por Sobis a instantes do apito final, deixou o campo justamente ovacionado pelas cerca de 50 mil pessoas presentes no Gigante.
Taison perturbou a zaga do São Paulo
Talhado para encarar momentos de tensão com a típica leveza dos craques, Taison sempre irritou marcadores que não compreendem a hierarquia exercida pelo pelotense dentro de campo. À pressão de 60 mil gargantas paulistas, ele respondeu com a tranquilidade característica de quem carrega o DNA do Celeiro, eternamente cassada pelos rivais. Fracassada para quem enfrenta Andrés D’Alessandro, a perseguição ao 7 valeu para o gringo falta cobrada na medida certa para o finalista resvalo de Alecsandro.
“Foi uma vitória muito importante. Agora, vamos trabalhar forte para o jogo da volta.”
taison, depois do jogo em guadalajara
Iniciada fora de casa, a decisão continental seguiu roteiro parecido ao do jogo de volta das semis. Liso como de costume, Taison seguiu oferecendo aos adversários um único caminho para ser interrompido: as faltas. Diferente do que ocorrera em São Paulo, entretanto, a melhor oportunidade que o jovem cavou em Guadalajara não virou gol – por detalhe. Alecsandro, desta vez, mandou no travessão. Sem problemas, graças ao grande segundo tempo colorado, premiado com vitória por 2 a 1.
Piscou? Perdeu!
Nova final, novo brilho. No gol de Rafael Sobis, do empate no Beira-Rio, foi Taison quem, atento à luta de Guiñazú, recuperou a posse para o Colorado e acionou D’Alessandro. Do Cabezón a bola seguiu até Tinga, que abriu tudo com Kleber, garçom da noite. O camisa 7, como de costume, era decisivo.
Sacado de campo logo após o empate, Taison acompanhou do banco os minutos que antecederam a consagração do Inter como bicampeão da América. Encerrada a partida, ele vivia o sonho de todo colorado. Pela segunda vez na história, seu time do coração conquistava a maior taça do continente. Pela primeira, com participação direta dele.
A emocionada euforia de um campeão da América/Foto: Ricardo Duarte
A reafirmação do futebol de Taison ao longo da campanha, coroada com a taça da Libertadores, não passou despercebida pelo mercado europeu. Assim, na semana seguinte ao Bi da América, o camisa 7 disputou, diante do Avaí, a última de suas 137 partidas com o Inter.
“Estou muito feliz por estar de volta a minha casa. De volta a todos vocês, colorados. Estou muito feliz, vocês não têm noção.”
TAISON, NESTA SEXTA, EM LIVE NO PERFIL DO INTER
Casa adversária, a Ressacada presenciou tanto os últimos movimentos de Taison vestindo vermelho quanto as lágrimas que correram no rosto do craque após o jogo, no vestiário visitante. Quase 11 anos depois, o Clube do Povo agora volta a fazer sua cria chorar. Desta vez, de alegria. Bem-vindo de volta, ídolo!
Há quem diga que o craque é responsável por fazer time jogar e torcida se empolgar. Para outros, é exatamente a massa das arquibancadas quem contagia e dá ritmo aos ataques de seus heróis. Aparentemente condenadas à eterna separação, as figuras de atleta e fã encontraram, no Inter, um argentino denominador comum. Torcedor que joga, jogador que torce, D’Alessandro soube personificar como poucos a essência colorada dentro de campo.
Também pudera; a relação entre Inter e Andrés transcorreu intensa desde seu alvorecer. O primeiro capítulo, como todo bom filme clichê, foi do amor à primeira vista, com direito a encontro na pista de aeroporto. Enérgica, a paixão foi também efêmera, e logo evoluiu para sentimento muito mais intenso, alicerçado na cintilância dos dourados sorrisos que decoram o rosto de um campeão.
O par viveu momentos de instabilidade, é fato, mas nada que uma visita emocionada de um à casa do outro não resolvesse. Houve também espaço para a saudade, igualmente superada com nova reafirmação do casamento, matrimônio que sempre provou sua força quando necessário. Quem de nós nunca correu os olhos na direção do camisa 10 à espera de uma dose de magia como resposta para a frieza da pessimista objetividade de resultados negativos? D’Ale sempre esteve lá. E assim continuará.
Passados 12 anos, ídolo e Colorado já se encontram condenados à perpétua metamorfose de camisa e pele, que impossibilita qualquer separação. Fisicamente a distância pode até existir, mas os laços entre Clube e craque superam qualquer porém. No Clube que pertence ao Povo, D’Alessandro deixa de viver os gramados, mas segue vivo e atuante na história.
A partir de hoje, Andrés não veste vermelho, e isso dói. Mas D’Ale estará sempre situado no número 891 da Padre Cacique. Cada assistência de meia canhoto passará pela anuência da mais argentina de nossas divindades. Toda cobrança de falta contará com o empurrão do pé que inaugurou as redes de nossa reformada casa. Drible nenhum será dado sem evocar a estonteante La Boba, e festa alguma ocorrerá sem a regência do legítimo maestro do Gigante.
Com o tempo, as lágrimas que hoje nos correm tristes servirão de elixir para festejos tão alegres quanto todos que já vivemos com El Cabezón. Depois de mais de uma década dividindo um irmão de sentimento com o campo, o povo colorado enfim poderá afirmar que Andrés é seu. Só seu. E aqui, conosco, ele será eterno. Pois não se vive um D’Alessandro todos os dias. Cabe a nós, portanto, perpetuá-lo em nossa doutrina.
Assim que encerrado o duelo, El Cabezón foi prontamente saudado por seus companheiros de grupo, que após os devidos cumprimentos trataram de alçar o jogador às alturas. O festejo, inicialmente embalado pelo eterno grito de “Dale, D’Alessandro”, logo contou com vídeo especial formado por agradecimentos de ex-companheiros e amigos do argentino, grupo seleto que com suas palavras simbolizou os milhões de obrigados que foram ditos nesta noite por colorados e coloradas.
Milhões tiveram sua vida marcada por @dale10. Por todos esses, após o jogo de hoje homenageamos nosso ídolo com os mais sinceros agradecimentos, feitos por quem simboliza o tamanho do craque. Confira o vídeo exibido nos telões do Beira-Rio – se emocione! 😍#DAleParaSemprepic.twitter.com/kL1PWMHTey
Encerrado o vídeo, D’Alessandro discursou no centro do campo. O ídolo tratou de comemorar a importante vitória conquistada neste sábado, agradecer seus atuais companheiros, destacar o papel ocupado pelas demais lideranças do grupo e elogiar Abel Braga, técnico que, desde 2014, também é amigo pessoal do gringo.
Jogador que torce, torcedor que joga, na saída de campo D’Ale viveu novo momento especial. Abraçado em sua esposa, Erica, e nos filhos Martina, Gonzalo e Santio, o camisa 10 atravessou um corredor formado pelos colegas de elenco, que mais uma vez aplaudiram um dos maiores craques do futebol sul-americano.
"Parece que passa um filme passa pela cabeça. São muitos anos, não tem como não se emocionar. Vou sentir muita saudades." – Andrés Nicolás D'Alessandro
Antes de cruzar pela última vez o túnel dos vestiários do Gigante, D’Alessandro também recebeu uma faixa confeccionada em sua homenagem. O trapo eterniza Andrés em seu melhor estilo: sorridente e eufórico, carregando um bumbo nos braços, regendo a festa do povo que tantas fezes fez tremer as arquibancadas do Beira-Rio,
O relógio indicava 23h53 quando D’Ale desceu do campo, as derradeiras luzes do Beira-Rio foram apagadas e o último tango do gênio, infelizmente, findado. Equivocaram-se, porém, aqueles que julgaram como final o ponto escrito no gramado.
Na sala de coletivas do Beira-Rio, D10s concedeu entrevista para a imprensa e, com suas falas, voltou a trazer lágrimas para nossas faces. Confira as principais aspas de Andrés:
“Fico feliz pela entrega do time, pelo jogo que fez o grupo. Pessoalmente, sentimento de gratidão, agradecimento, por tudo que têm demonstrado os jogadores e funcionários do Clube nos últimos dias. Vai ser difícil quando cair a ficha. É uma situação de tristeza muito grande mas, quando olho para trás, uma felicidade muito grande também.”
D’Ale, sobre a partida
“Para a torcida, a palavra é de gratidão. Pelo apoio, pois me aguentaram em momentos que extrapolei, que cobrei e fui cobrado. É uma relação de empatia. Se poderia falar alguma coisa para o torcedor, é pedir desculpas. Gostaria de ter entregado mais. Sempre tentamos fazer o melhor, mas fica um gostinho porque não me conformo, não sou conformista.”
Humilde como os gigantes
“O Beira-Rio foi a minha casa por 12 anos. Tive o privilégio e a sorte de conhecer o antigo, vivi essa época e a época do novo Beira-Rio. Épocas totalmente diferentes. Gostaria que muitos jovens que estão hoje e que tiveram a chance de aparecer nas suas carreiras no novo, tivessem conhecido o antigo para poder ver como a gente se puxava, para conhecer os valores que a gente tinha lá atrás, quando tinha muito menos do que tem hoje.
A nostalgia dos tempos de chegada
“Sobre o legado, eu volto a repetir, o futebol é um esporte coletivo. O que eu conquistei, foi porque fui parte de grupos vencedores, com companheiros vitoriosos, que me ajudaram muito. Hoje eu saio com 13 títulos e com o carinho do torcedor, que para mim é importantíssimo, mas isso não quero deixar como legado. Isso é uma consequência do trabalho, do profissionalismo, que são o verdadeiro legado.”
O legado deixado por D10s
“Quero que meus companheiros me lembrem como uma pessoa do bem, maluco em alguns momentos, louco, chato, mas esse é o jeito de fazer as coisas andarem. Aprendi assim e irei até o último dia assim.”
Uma vez capitão, sempre capitão
Já vivíamos o infeliz domingo 20 de dezembro, dia um sem Andrés, quando o Clube aqueceu o coração de seu povo. No lugar das lágrimas, veio a ansiedade, pois no próximo 10 de janeiro, a única data possível, o Inter publicará, em seus canais oficiais, documentário especial sobre a trajetória do gigante D’Alessandro no Beira-Rio.
Embora tenha sido D’Alessandro o dono dos holofotes, o gringo não foi o único a falar depois do jogo. Alexandre Chaves Barcellos, segundo vice-presidente de Futebol, Abel Braga, técnico colorado, e Yuri Alberto, autor de pintura na noite deste sábado, também falaram ao público após o triunfo diante do Palmeiras. O assunto, é claro, foi a despedida de Cabezón. Confira as aspas:
“É muito, muito raro um jogador, durante 12 anos, conquistar a torcida, ter o respeito de todos, em um país que não é o dele. Ele foi muito bem recebido aqui no Inter, e soube retribuir todo esse carinho. Ele sabe o quanto admiro o lado profissional dele, o grande jogador que é e, acima de tudo, o grande caráter. Neste momento histórico, me sinto orgulhoso de ter participado mais uma vez.”
Abel Braga
“Essa noite teve uma simbologia muito especial para todos nós colorados. Agradecer por tudo que o D’Alessandro fez ao Internacional, são 12 anos de uma dedicação, de uma entrega, de uma liderança como eu nunca tinha visto de um atleta em relação a um clube. Acho que é algo que vai ser muito difícil que possamos repetir, provavelmente até mesmo na história do futebol brasileiro.”
Colorado algum esperava por este dia, mas ele transcorreu à altura de seu protagonista. Na despedida de D’Alessandro, o Inter marcou seu primeiro gol no minuto 10, o segundo em pintura armada ao gosto de Cabezón, e derrotou o Palmeiras, no Beira-Rio, por 2 a 0. Edenilson e Yuri Alberto marcaram no triunfo integrante da 26ª rodada, que alça o Clube do Povo ao G4. Obrigado por absolutamente cada segundo que vivemos juntos, D10s. Você é único.
O resultado alça o Inter à quarta colocação do Brasileiro, com 44 pontos. No próximo domingo (27/12), às 16h, o Clube do Povo visita o Bahia, em Salvador, para a disputa de partida da 27ª rodada do torneio.
Primeiro tempo impecável
Coeso, cascudo, encaixado e competitivo. Assim o Internacional disputou o primeiro tempo do duelo contra o Palmeiras, marcado por grande exibição do Clube do Povo. Cientes da velocidade que somavam pelas pontas, ocupadas por Caio e Patrick, os comandados de Abel Braga não hesitaram em explorar as diagonais de cada um para incomodar a zaga rival.
Exatamente a partir de um facão de Caio surgiu o escanteio que originou o único gol dos primeiros 45 minutos. Da esquerda, Moisés cruzou, Dourado escorou, Weverton salvou mas, no rebote, Edenilson não perdoou. No dia da despedida de D’Alessandro, um dos maiores camisas 10 da história alvirrubra, o Colorado assumia, aos 10 minutos, a vantagem no escore!
O Palmeiras nada criou após o tento colorado. Tentou, é verdade, mas esbarrou em excelente atuação do meio de campo colorado. Em frente aos quatro defensores, soberano como de costume, esteve Dourado, acompanhado de quarteto formado por Caio, na direita, Edenilson, Praxedes e Patrick, esquerda. Ao Clube do Povo, faltaram, especialmente a partir da segunda metade do tempo, bons contra-ataques, muito pela excelente contribuição defensiva que ofereceu Thiago Galhardo.
Quem não faz…
As duas equipes retornaram com mudanças no segundo tempo, que seguiu bastante truncado em seus movimentos iniciais. A inércia no desenrolar da partida motivou Abel Ferreira a conduzir três trocas na casa dos 15 minutos, novidades que valeram ao Palmeiras seu melhor momento no jogo.
O instante, porém, não foi devidamente aproveitado pelos visitantes que, de tanto se lançarem ao ataque, ofereceram espaços na defesa. Edenilson os percebeu e, emulando D’Alessandro, serviu Yuri, que também em homenagem ao ídolo esbanjou qualidade para, em lindo toque de cobertura, anotar o segundo.
Pouco depois do tento de Yuri, o momento chegou. D’Alessandro, lenda colorada, foi alçado a campo pelo técnico Abel Braga na casa dos 41 minutos. Participativo como sempre, o ídolo alvirrubro disputou até a última das bolas. Encerrado o duelo, Andrés foi devidamente celebrado por seus companheiros, assistiu a um belíssimo vídeo produzido em sua homenagem e, em lágrimas, deixou, pela última vez, o campo do Beira-Rio. O povo vermelho te ama, Cabezón. Gracias por todo!
Milhões tiveram sua vida marcada por @dale10. Por todos esses, após o jogo de hoje homenageamos nosso ídolo com os mais sinceros agradecimentos, feitos por quem simboliza o tamanho do craque. Confira o vídeo exibido nos telões do Beira-Rio – se emocione! 😍#DAleParaSemprepic.twitter.com/kL1PWMHTey
8min – NADA? Caio Vidal invade a área palmeirense e, no momento de engatar o arremate, o jovem é desarmado por Marcos Rocha. Lateral usou da sola para desarmar, mas, por hora, a arbitragem assinala apenas impedimento.
10min – GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL DO INTERNACIONAL! É DO CLUBE DO POVO! DA ACADEMIA DO POVO! DO COLORADO ALEGRIA DOS NOSSOS CORAÇÕES! ED, ED, ED, EDENILSON! Moisés cobra escanteio açucarado pelo lado esquerdo. Na primeira trave, Dourado desvia consciente e exige milagre raro de Weverton. No rebote, porém, não houve chance para defesa: Edenilson completou direto para as redes abertas. Inter na frente. Na despedida de D’Ale, o gol sai aos 10!
La Magia del 10' ⭐️
Companheiro e amigo de D'Ale, Edenilson marcou o gol que vai dando a vitória no último jogo do argentino pelo Inter. Enquanto isso, fogos em homenagem ao ídolo fora do estádio. Tudo justamente quando? No MINUTO 10! 🎯💥 #DAleParaSempre 🇦🇹 pic.twitter.com/XJKBzA9U0L
16min – Defende, Weverton! Patrick costura pela esquerda e cruza na segunda trave. Caio Vidal sobe mais do que Viña e cabeceia no meio do gol, exigindo segura intervenção do goleiro rival.
(INTxPAL) ⏰ 16'/1T: SEGURA O GOLEIRO! Patrick faz bonita jogada pela esquerda e cruza para o cabeceio de Caio Vidal. #VamoInter 🇦🇹 pic.twitter.com/YjaPn6wncB
23min – Uh! Moledão faz fila a partir da linha central e estica com Heitor pela direita. O lateral, da quina da grande área, suspende na segunda trave, açucarada para o testaço de Galhardo. Por pouco, por cima!
(INTxPAL) ⏰ 23'/1T: UHHHH!!! Heitor cruza no segundo poste de Galhardo tenta de cabeça. Ela passa perto! #VamoInter 🇦🇹 pic.twitter.com/LTmfzJDJb9
24min – Caio Vidal é amarelado por falta em Gustavo Gómez.
24min – Willian acerta um cotovelaço em Moledo. Cartão amarelo apresentado.
26min – Abriram a caixa de ferramentas no gramado do Beira-Rio. Gabriel Menino acerta uma tesoura em Praxedes e recebe o amarelo.
27min – UH! Caio Vidal deixa Viña comendo poeira, vai ao fundo e cruza. Gustavo Gómez corta de qualquer maneira. Inter tem escanteio!
33min – Patrick! Lucas Lima invade a área colorada pela direita, engatilha o chute mas, quando estava de frente para Lomba, sofreu o corte por baixo.
45min – Vamos a 48. Mais três minutos!
48min – Fim de papo. Etapa inicial de vitória colorada!
Segundo tempo
0min – Inter retorna com mudança. Entra Yuri Alberto, sai Praxedes. No Palmeiras, a novidade é Breno Lopes, substituto de Raphael Veiga.
7min – SAAAAALVA, WEVERTON! Caio Vidal aciona Galhardo, que invade a área palmeirense pela direita e, com força, solta o canhão. Goleiro palmeirense espalma em escanteio, mas arbitragem paralisa lance por – duvidoso – impedimento de Thiagol na origem do lance.
(INTxPAL) ⏰ 7'/2T: ESPALMA O GOLEIRO! Galhardo recebe em profundidade e bate forte, mas Weverton defende. De qualquer modo, a arbitragem marcou impedimento no lance. #VamoInter 🇦🇹 pic.twitter.com/al2WMZbnpv
12min – Viña recebe na intermediária de ataque e solta a bomba de canhota. Por cima do gol de Lomba, que tem tiro de meta para cobrar.
13min – Tripla troca no Palmeiras. Zé Rafael, Mayke e Gabriel Veron entram, Danilo, Marcos Rocha e Viña saem.
14min – UH! Galhardo leva a melhor em dividida com a zaga adversária. Pela esquerda, o camisa 17 recupera, parte em disparada e cruza rasteiro, de canhota. Weverton deixa o gol e, providencialmente, encaixa assistência que chegaria açucarada até Caio.
17min – ESCANTEEEEEIO! Galhardo tenta uma bicicleta, a zaga corta e Edenilson, ligado, fica com a sobra. O camisa 8 cruza duas vezes, a segunda com endereço, na medida para testaço de Thiagol. Espirrada na defesa, ela sai tirando tinta da meta alviverde. Corner alvirrubro!
(INTxPAL) ⏰ 17'/2T: 😱 ELA TEIMA! Inter tenta de todas maneiras: bicicleta, chute, cabeceio. Mas ela não entra! #VamoInter 🇦🇹 pic.twitter.com/WJdh3rX8JI
21min – Mayke invade a área colorada e, pela direita, cruza rasteiro. Cuesta corta de carrinho, ela explode no travessão e sai em escanteio.
24min – Duas novas trocas no Clube do Povo. Marcos Guilherme entra, Caio Vidal sai. Galhardo deixa o campo (e recebe amarelo), Lindoso vem. Patrick volta para a ponta-esquerda, Lindoso passa a atuar alinhado com Dourado e Marcos assume o corredor direito.
30min – Após confusão na grande área colorada, Willian pega a sobra na ponta-direita e finaliza. Forte demais, ela sai em tiro de meta para o Clube do Povo.
31min – No Palmeiras, Lucas Lima deixa o campo. Entra Gabriel Silva.
36min – Amarelo para Rodrigo Moledo.
37min – GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! É GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! YURI, YURI, YURI! QUE JOGADA, QUE GOLAÇO! Do campo de defesa, Edenilson lança Yuri, que dispara do campo de defesa, toma a frente de Gómez e, cara a cara com Weverton, toca por cobertura. Weverton, batido, apenas assiste à genialidade digna de quem convive com D’Alessandro.
UMA PINTURA! 🎨🖌️
📽️ Assim foi o segundo gol colorado, com assistência açucarada de Edenilson e finalização debochada de Yuri Alberto. Golaço!#VamoInter 🇦🇹 pic.twitter.com/7aXafzFchu
41min – Chegou a hora que colorado algum esperava vivenciar. D’Alessandro, pela última vez em sua carreira, vem a campo com a camisa do Clube do Povo. Sai Patrick.
41min – Também entrou Lucas Ribeiro. O sacado foi Rodrigo Dourado.
45min – Partida vai até os 50.
50min – Este apito jamais deveria chegar, mas ele chegou. Acaba o jogo, o Inter vence e D’Alessandro, único, se despede.
Ficha técnica:
Internacional (2): Marcelo Lomba; Heitor, Rodrigo Moledo, Victor Cuesta e Moisés; Rodrigo Dourado (Lucas Ribeiro), Edenilson, Caio Vidal (Marcos Guilherme), Bruno Praxedes (Yuri Alberto) e Patrick (Andrés D’Alessandro); Thiago Galhardo (Rodrigo Lindoso). Técnico: Abel Braga.
Palmeiras (0): Weverton; Marcos Rocha (Mayke), Luan, Gustavo Gómez e Matías Viña (Gabriel Veron); Danilo (Zé Rafael), Gabriel Menino, Lucas Limas (Gabriel Silva), Raphael Veiga (Breno Lopes) e Gustavo Scarpa; Willian. Técnico: Abel Ferreira.
Gols: Edenilson, aos 10 minutos do primeiro tempo, e Yuri Alberto, aos 37 miutos do segundo tempo (I).
Cartões amarelos: Caio Vidal, Rodrigo Moledo e Thiago Galhardo (I). Willian e Gabriel Menino (P).
Arbitragem: Sávio Pereira Sampaio (DF), auxiliado por Daniel Henrique da Silva Andrade (DF) e José Reinaldo Nascimento Júnior (DF). Quarto árbitro: Daniel Nobre Bins (RS). Árbitro de Vídeo (VAR): Wágner Reway. Auxiliares do VAR: Mariélson Alves da Silva (BA) e Ciro Chaban Junqueira (DF).
O título desta matéria não contém exagero algum. Icônica, a frase, proferida por um gênio, retrata com grande precisão a magnificência de outro. De Veríssimo, Luís Fernando, para Falcão, Paulo Roberto. O Inter tricampeão do Brasil jamais foi repetido. Protagonismo igual ao de nosso camisa cinco? Nunca mais visto. Marcada por superações coletivas e pessoais, a história do craque do ‘Time que Nunca Perdeu’ é única, e merece, no dia do aniversário do Rei, ter seu principal capítulo rememorado. Conheça detalhes da mágica temporada vivida por Falcão em 1979!
Falcão exibe o cobiçado troféu para o povo colorado/Foto: Divulgação
Idolatria afirmada
No futebol, a história da camisa cinco tem um antes e depois. Falcão a divide. Gênio da bola, o revolucionário meio-campista revelado pelo Celeiro de Ases construiu carreira meteórica no Clube do Povo. Lançado aos profissionais em 1973, por Dino Sani, no ano seguinte já seria pilar da máquina de Minelli.
Bicampeão nacional sob o comando Rubens, ainda atingiria, treinado por Cláudio Duarte, o seu quinto título estadual. Idolatrado e figurando no principal degrau do panteão colorado o craque chegou ao fim da década de 70. Ninguém poderia imaginar, portanto, que Paulo conseguiria abrir os anos 80 ainda mais amado.
Ficha de inscrição de 1968 do atleta Paulo Roberto Falcão/Foto: Arquivo histórico do S.C. Internacional
Falcão precisou de pouco mais de dois anos como profissional para ser escolhido o melhor meia do Brasil. Brilhante na conquista do Brasileirão de 1975, o jovem integrou a seleção do campeonato. Aos 22 anos (recém-completados), foi fundamental, por exemplo, diante do Fluminense, na semifinal do torneio, quando em um Maracanã lotado serviu linda assistência para a pintura de Lula, primeira da jornada em solo carioca.
No ano seguinte, o Inter bicampeão do Brasil voltou a contar com a magia de seu camisa cinco, uma vez mais decisivo para a classificação alvirrubra à decisão nacional. Contra o Atlético-MG, desta vez no Beira-Rio, o craque marcou, no último minuto do tempo regulamentar, um dos gols mais bonitos da história do futebol, segundo da virada alvirrubra por 2 a 1. Construído em belíssima tabelinha de cabeça com Escurinho, o tento classificou o Clube do Povo para o duelo diante do Corinthians, encerrado com vitória vermelha, no Gigante, por 2 a 0.
Após insucessos estaduais e nacionais em 1977, o Inter voltou a ser protagonista na temporada de 1978. Terceiro do Brasil, o Clube do Povo conquistou o título gaúcho no Olímpico, antiga casa gremista, após vitória por 2 a 1. Falcão, ao lado de Jair e Valdomiro, foi um dos destaques do feito, inclusive marcando gol em Gre-Nal do primeiro turno.
No Brasileirão, o Colorado sucumbiu, nas semifinais, para o forte time do Palmeiras. A ausência na decisão, todavia, não impediu a escolha do catarinense de Abelardo Luz para o prêmio de melhor do Campeonato. Bola de ouro, o camisa cinco chegava a 1979 sonhando com repetir o brilho individual e elevar o desempenho coletivo.
Os campeões do Rio Grande em 1978. Falcão, em pé, ao centro/Foto: Divulgação
Novos problemas, novas companhias
Primeiro campeonato do ano, o Gauchão de 1979 acendeu importante alerta no Beira-Rio. Os primeiros sinais de oscilação chegaram ainda nos turnos de abertura do torneio, encerrados com tropeços diante de adversários inferiores ao Colorado. Na sequência, Cláudio Duarte, comandante alvirrubro desde 1978, precisou deixar a casamata – embora tenha continuado a ocupar cargo na comissão técnica.
Com a missão de reverter o quadro negativo e construir campanha campeã no octogonal final, desembarcou, então, Zé Duarte, treinador de boas passagens pelo interior paulista, em especial a campineira dupla Guarani e Ponte Preta. Zé, contudo, não apenas falhou em injetar novo ânimo no Inter, como também viu intensificar o clima conturbado nos arredores da Padre Cacique.
“A maior motivação
foram as críticas e a
humilhação que sofremos
durante o Estadual”
Mário Sérgio
Para além de resultados inesperados, caso dos reveses consecutivos para São Paulo de Rio Grande e Novo Hamburgo, o condicionamento dos atletas também se tornou um problema. Pilares da equipe, os ídolos Falcão e Valdomiro sofreram lesões graves, assim como o excelente zagueiro Larry. Reforços, ficava evidente, eram necessários, e eles foram encontrados tanto no mercado, à época inflacionado, quanto no Clube, tradicional formador de estrelas.
Mauro Galvão e Falcão no Beira-Rio em 1979/Foto: Divulgação
A demora para encontrar uma nova formação, porém, custou o Estadual, encerrado no simplório terceiro lugar, posição que cobrou nova mudança na comissão técnica. No lugar de Duarte, chegou Ênio Andrade, então comandante do Coritiba. Com ele, veio também Gilberto Tim, mestre da preparação física e bicampeão nacional pelo Inter ao lado de Rubens. O Brasileirão batia à porta, e o Colorado seguia desencontrado.
Dentro de campo, o Inter acumulou, ao longo dos meses de disputa do Gauchão, novidades em todos os setores. Contratado em 1977, o goleiro Benítez, emprestado para o Palmeiras em 1978, retornou ao Beira-Rio e logo conquistou a titularidade. Na defesa, Mauro Pastor se consolidava como zagueiro, enquanto o lado esquerdo começava a ser desbravado por Cláudio Mineiro. Completando o miolo estava o jovem Mauro Galvão, que, aos 17 anos, já encantava o Brasil.
João Carlos, cria da casa, fazia o corredor direito, faixa de campo ocupada, no meio de campo, por Jair. O Príncipe tinha as magníficas companhias de Batista, mais recuado, e Falcão, trio responsável por ditar o ritmo do Alvirrubro. Mais tarde, para o ataque, chegou Bira, contratado junto ao Remo e com o aval de Dario Maravilha, camisa 9 do título de 1976. Os dois centroavantes travavam, em Belém do Pará, intenso duelo pela artilharia paraense, com Dadá vestindo a camisa do Paysandu.
Montagem do ‘Time que Nunca Perdeu’ não foi simples
Falcão e Jair, estrelas benquistas pela torcida, também desejavam um ponta-esquerda, e tinham em mente o nome ideal: Mário Sérgio Pontes de Paiva. Pesava contra o ‘Vesgo’ seu temperamento intempestivo, que gerava desconfiança na diretoria colorada. As estrelas do meio de campo alvirrubro, entretanto, bateram pé, e prometeram se responsabilizar pelo futuro companheiro. Com ele, argumentaram, conquistariam taças. Mário, então, foi contratado – e logo caiu como uma luva no corredor canhoto.
Disciplinado taticamente, o camisa 11 atuava como um legítimo construtor, armando constantes aproximações ao trio de meias, assim criando quadrado mágico no time de Ênio Andrade. Menos agudo do que Lula, seu predecessor na ponta, o carioca permitia a Falcão presença ainda maior no terço final do campo. Uma geração inesquecível, enfim, tomava forma. Restava azeitar as engrenagens.
Segurança nas fases iniciais
Integrante do Grupo G, o Inter abriu o Brasileirão como visitante. No Couto Pereira, o Clube do Povo enfrentou o Athletico Paranaense, partida disputada em 23 de setembro e encerrada com o placar inalterado. Coube a Bira, três dias depois, marcar o primeiro gol colorado no Brasileirão. Acompanhado por Adilson na súmula de artilheiros alvirrubros, o centroavante foi fundamental na vitória por 2 a 1 sobre o Santa Cruz, em Recife.
“O Inter torna-se grande
quando ninguém acredita nele.
É um time que cresce quando
tudo fica difícil!”
Paulo Roberto Falcão
Na mesma partida, entretanto, o camisa 9 fraturou o braço e, ao lado de Batista, com uma distensão, tornou-se desfalque para as rodadas seguintes. Desconfianças retornavam, embora Jair as tenha parcialmente dissipado na terceira rodada, quando marcou, no Beira-Rio, o tento da vitória sobre o Figueirense.
A quarta rodada reservou ao Inter o primeiro clássico daquela edição do Brasileiro. Em um Beira-Rio lotado, Jair e Falcão apostaram na bola parada e, através de jogada ensaiada que contou com toque do futuro Rei e arremate do Príncipe, venceram o ex-companheiro Manga, então goleiro gremista. Colorado 1 a 0, e a campanha nacional tomava corpo, bem como o psicológico alvirrubro, renovado após o primeiro triunfo em Gre-Nais no ano. Nas jornadas seguintes, dois por 3 a 0, sobre Sport e Coritiba, encaminharam a classificação.
Na reta final da primeira fase, o Inter ainda empatou com América-RJ, por 1 a 1, antes de superar, na oitava rodada, o Rio Branco-ES, por 5 a 1. Diante dos capixabas, Falcão anotou uma pintura para abrir o placar. O camisa cinco emendou de primeira, da entrada da área, cobrança aberta de escanteio feita por Mário Sérgio, pela esquerda. O gol, marcado na goleira do Gigantinho, foi o primeiro do craque no Campeonato, sucedido, na mesma partida, pelo de número dois, quinto da jornada, que saiu em lindo testaço. Depois da goleada, o Clube do Povo encerraria o grupo empatando, no Gigante, com o Operário-MS, placar de 2 a 2.
Se na fase inicial oito equipes avançaram de um grupo com 10, o segundo momento do Brasileirão de 1979 começou a afunilar os participantes do torneio. Disputado por 94 times, o Campeonato daquele ano contou, na fase de número dois, com sete chaves formadas por oito instituições. Destas, apenas duas avançariam. Líder no formato anterior, o Inter sabia que os tropeços precisariam se tornar cada vez mais escassos.
Assim, o Colorado venceu, na primeira rodada, o Goytacaz, do Rio de Janeiro, por 1 a 0, gol de Mauro Pastor. Na semana seguinte, o Gigante sediou novo duelo da Academia do Povo, este perante os gaúchos do São Paulo de Rio Grande. Jair, cobrando pênalti sofrido por Falcão, abriu o escore. Bira, precisamente servido pelo Rei, aumentou, e Mário Sérgio, já na etapa final, fez o terceiro do triunfo por 3 a 1.
Três empates consecutivos, contra Caldense-MG, Anapolina-GO e Atlético-PR, representaram o momento mais delicado do Inter no torneio. Seguro defensivamente, o Colorado custava para deslanchar na linha de frente, muito pela ausência de Valdomiro, com volta aos gramados prevista apenas para o ano seguinte. Até mesmo Falcão chegou a atuar como centroavante em uma das tentativas de Ênio para bagunçar zagas rivais. Foi então que Valdo, como sempre sedento por quebrar paradigmas e recordes, retornou ainda no final do mês de novembro. Mais precisamente, no dia 25.
A reestreia do ídolo ocorreu diante da Desportiva, do Espírito Santo, e foi coroada, logo cedo, com assistência para Bira. Depois, no segundo tempo, o Rei também quis ser garçom, e ofereceu passe maravilhoso para Batista marcar o segundo. O centroavante alvirrubro, que de burro não tinha nada, faria mais dois, o último após lançamento genial de um Falcão cada vez mais à vontade dentro de campo, visivelmente decidido a conquistar o país como protagonista. O duelo, encerrado com o triunfo por 4 a 0, até hoje é lembrado pela infeliz lesão de Zé Rios, lateral do time visitante.
Valdomiro fechou com gol a segunda fase do Brasileirão. O tento, inclusive, foi o único na vitória por 1 a 0 sobre a Inter de Limeira, em São Paulo. Líder de seu grupo, o Colorado gaúcho avançava para o quadrangular antecessor dos mata-matas. Enfrentaria, na Chave C, Atlético-MG, Goiás e Cruzeiro. Do quarteto, apenas um avançaria às semis.
Reforçada na linha de frente, a Academia do Povo finalmente encontrava o equilíbrio que lhe serviria de principal característica. Entre a intransponível retaguarda e o avassalador setor ofensivo, um meio de campo minuciosamente afinado orquestrava o time. Harmônico, o setor contava com os graves de Jair e o apoio de Batista, maximizadores da sinfonia de Falcão, craque já reluzente nas semanas anteriores, mas prestes a se tornar herói nos dias que estavam por vir.
Falcão, o Bola de Ouro do Brasileirão 79/Foto: Revista Placar, Divulgação
Mococa ou Falcão?
Três jogos para chegar às semis. O primeiro, contra o Goiás, ocorreria no Beira. Vencer era imperativo. Dezenas de milhares nas arquibancadas, unidas no mesmo pensamento, apoiaram o time de Ênio Andrade. O jovem Gigante, que acabara de completar 10 anos de vida, queria subordinar o país inteiro de novo. Para isso, jogou junto.
Com Bira, no encerramento da primeira etapa, o Estádio lançou. Ao lado de Cláudio Mineiro, no fundo, pela esquerda, cruzou. Dissimulado, com Falcão fintou a zaga e abriu vazio na área alviverde. Lacuna criada pelo Rei, foi aproveitada pela grande aposta do Monarca: Mário Sérgio, que para as redes arrematou. Gol, da importante vitória por 1 a 0!
Completando a rodada de abertura, o empate entre Atlético e Cruzeiro tornava decisivo o confronto de Inter e Raposa. No Mineirão, os donos da casa precisariam vencer para seguir sonhando com o Brasil. De sua parte, o Clube do Povo sabia que, em caso de triunfo, praticamente garantiria classificação às semifinais. Determinado a vencer o clássico, que envolveu duas das maiores equipes da década de 70, Ênio Andrade escalou uma equipe que estava no limite. Lesionados, Falcão e Valdomiro iniciaram o jogo, mesmo caso de Batista.
“A gente aceitou que
alguns jogassem no sacrifício
porque estamos numa guerra.
E na guerra, meu velho,
cada um usa o que tem de melhor”
Gilberto Tim
Quem estivesse inteiro precisaria, indubitavelmente, jogar por dois. Como jogaram Jair e João Carlos, donos da direita, flanco pelo qual o Príncipe progrediu antes de, aos 25 da etapa inicial, cruzar rasteiro. Na entrada da área, o rei dos voleios não perdoou. Inter, dos pés de seu camisa cinco, na frente. Pouco depois, Joãozinho até igualou, mas a majestade catarinense, que atuava gemendo de dores na clavícula, estava incontrolável. Tamanho sacrífico, bradava, não aconteceria em vão.
Lançado por Valdomiro, Falcão dominou com a canhota, investiu contra Marquinhos, superou o marcador e, da meia-lua do retângulo maior, mandou rasteiro, com a direita. Luis Antonio salvou, mas o rebote foi de Bira, que se atirou em violento carrinho na direção da bola. Chorado, brigado, o tento era colorado. Nos instantes antecessores do intervalo, o corredor direito valeu ao Inter novo gol.
Após corte parcial da zaga, Valdo pegou a sobra, ajeito para a canhota e, a centímetros da risca da grande área, mandou com a canhota, de trivela. Na bochecha da rede rival a esférica morreu. Inter 3 a 1, triunfo até diminuído, no escore, por Alexandre, mas não impedido. Vitória da Academia do Povo, resultado que, somado ao W.O. do Atlético-MG, que entrou em discordância com a CBD, valeu a classificação para as semis.
O Cruzeiro foi uma das muitas vítimas de Falcão no Inter
O adversário colorado nas semifinais seria o Palmeiras, algoz na temporada passada, quando ficou com o vice-campeonato brasileiro. Na final, os palestrinos sucumbiram para o Guarani de Zé Carlos, Careca, Zenon e Capitão. Indigesto, o gosto da prata, esperavam os alviverdes, seria superado em 1979. Terceiro no Nacional anterior, no entanto, o Inter também queria a taça, e entraria em campo sedento por vingança.
Foto: Jornal da Tarde, 13 de dezembro de 1979
Falcão, é claro!
Badalado, o duelo de 180 minutos entre o escrete de Telê e os eleitos de Ênio foi inaugurado no dia 13 de dezembro, no Morumbi. Empolgada com a boa fase alviverde, que superara com 100% de aproveitamento o quadrangular anterior, disputado perante a Flamengo, São Bento-SP e Comercial-Sp, a crônica paulista não hesitou em amplificar o choque que estava por vir.
O periódico Jornal da Tarde, porém, exagerou. Deleitado com as recentes exibições do jovem Mococa, valente marcador que anulara Zico, o noticiário criou um embate particular para o confronto eliminatório, e se permitiu questionar, em manchete garrafal, quem levaria a melhor: o valente meia bandeirante ou o deífico Falcão. Delírio!
As escalações que entraram em campo no Morumbi
A heresia da imprensa sudestina encontrou coro nos 45 minutos que serviram de abertura ao prélio. Superior nas ações do campo, o Palmeiras retornou para os vestiários em vantagem, mínima, no placar. Encurralado pelos locais na maior parte do tempo, o Clube do Povo sofreu muito com as arrancadas de Jorge Mendonça e Rosemiro, donos da direita do ataque palestrino. Apesar do triunfo parcial, todavia, a torcida da casa não encarou com grande euforia o intervalo da peleja. Também pudera, pois Falcão, a instantes do apito paralisador, quase marcou de bicicleta após estonteante tabela com Mário Sérgio. O Inter, afirmavam os alviverdes, entrara no jogo – e não havia Mococa capaz de contê-lo.
Reiniciado o confronto, o Clube do Povo precisou de apenas cinco minutos para empatar. Polivalente, Mário Sérgio foi mais ponta do que meia para arrastar a marcação até a linha lateral do campo. Espaçada, a zaga rival ofereceu espaço para Jair, que não titubeou. Livre, o camisa oito foi percebido pelo companheiro, que serviu rasteira. Fulminante como sempre, Jajá dominou engatilhando e, da intermediária, testou Gilmar, que foi reprovado pelo montinho artilheiro. O roteiro da semifinal, contudo, não seria tão simples ao Clube do Povo, que voltou a ficar no prejuízo aos 10, quando Jorge Mendonça marcou uma pintura.
Falcão e Pedrinho, antes do jogo/Foto: Divulgação
A desvantagem não abalou o Inter, que seguiu martelando. Inteligente, o time colorado percebeu que o chão não seria amigo naquela noite, e tratou de pressionar por cima. Quem mais levou o caminho a sério foi Falcão, que seguiria, até o fim do torneio, convivendo com intensas dores no ombro. Aos 19, o craque atingiu as alturas para completar, em fulminante cabeceio, cruzamento vindo da direita. Por pouco tempo, novo empate era denunciado pelo marcador. Desgostoso com a igualdade, o Rei, que já acumulava felizes súditos no sul, decidiu impor sua nobreza a azarados paulistas virentes.
“Não perdemos
para um time.
Perdemos para o
maior jogador do mundo.“
Diretor palmeirense
O relógio indicava 25 minutos quando Mário Sérgio recebeu na esquerda. Com espaço para progredir, o camisa 11 fez o facão e acionou Cláudio Mineiro, que corria rente à linha esquerda da grande área palestrina. Embora travado, o cruzamento do lateral teve direção, e encontrou a cabeça de Bira. Também espirrado, o centroavante escorou para trás, onde estava Valdomiro, mais um que lutava por espaço. Espanada, a bola esbarrou no pé de Mendonça e tomou altura. Desequilibrado, o 10 do Palmeiras tentou afastar. Antes dele, a bola foi chicoteada. Por quem? Falcão, é claro.
Foto: Jornal da Tarde, 14 de dezembro de 1979
De bate-pronto, o arremate do camisa cinco esgaçou os barbantes da cidadela bandeirante. Mágico, o tento só não foi visto pelo artilheiro da noite, que, de modo a não acertar o rival, precisou recolher a perna com violência equiparável à da finalização, assim permanecendo de costas para a meta durante valiosos segundos. Último do jogo, o golaço valeu ao Inter vantagem especial para as pretensões coloradas. Sublime, o feito carrega, até hoje, assinatura das mais fidedignas de Falcão por misturar talento à classe, genialidade e simplicidade, precisão com protagonismo. Obra rara, digna de seu autor.
Disputado diante de um Beira-Rio completamente lotado, o confronto de volta consagrou, de uma vez por todas, a zona nevrálgica do time colorado. Incansáveis, Rei e Príncipe se sacrificaram pelo time, apoiando na mesma medida que fecharam espaços na defesa. Para Jair, a recompensa de tanto empenho chegou na abertura da etapa final. Após cruzamento de Cláudio Mineiro, Bira ajeitou para Adilson, que fez pivô perfeito. Jajá, é claro, não perdoou, e tirou o zero do placar. Irônico, o destino permitiu a Mococa o tento de empate. Placar final, 1 a 1. A luta de todos, enfim, justificada: Inter na decisão. Ao ritmo, óbvio, de Falcão.
Invicto, inédito e jamais igualado
Não bastasse a reviravolta que transformou um ano iniciado de maneira claudicante em finalista do Brasil, o roteiro de 1979 reservava mais emboscadas para a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Classificado depois de eliminar o Coritiba, o Vasco seria o adversário colorado na decisão. Os primeiros 90 minutos reservavam o Maracanã, como palco, e Roberto Dinamite, como possível algoz.
Missão difícil, largar em vantagem pareceu se tornar impossível quando a escalação alvirrubra foi revelada sem Falcão e Valdomiro. Combalida, a dupla, que há muito vinha no sacrifício, precisou dar lugar a Valdir Lima, contratado junto ao São Paulo de Rio Grande, e Chico Spina, ponta muito contestado nas fases de abertura do Brasileirão. O empate, para os mais pessimistas, virava obsessão. Tolos eles.
“Poucos esperavam que o Inter derrotasse
o Vasco quando o empate bastava.
Acontece que nosso time
não sabe jogar na retranca.”
Ênio Andrade
O primeiro apito da final soou às 21h15 do chuvoso 20 de dezembro. Instável, o clima afastou parcela do público, mas não evitou que mais de 60 mil pessoas tomassem as arquibancadas do eterno Maior do Mundo. Confiante, o Colorado não se abalou no mítico estádio para fazer, do limão, uma limonada. Substituto de Valdomiro, Chico Spina marcou dois. Reserva de Falcão, Valdir deu assistência para o primeiro. Impecável como estivera desde setembro, a defesa não vazou. De 2 a 0, a vantagem permitia, de uma vez por todas, maior respiro ao povo vermelho. Restavam míseros 90 minutos.
Os campeões invictos
Benítez, a muralha. João Carlos, incansável, Mauro Pastor, xerife, Mauro Galvão, fenômeno, e Cláudio Mineiro, guerreiro. Batista, gênio, Jair, artilheiro, e Falcão, divindade. Valdomiro, ídolo, Bira, matador e Mário Sérgio, craque. Escalado, o Inter entrou, como de costume, correndo no gramado do Beira-Rio. O Gigante, que fervilhava naquela antevéspera de Natal, respondeu com estremecedor tremular de bandeiras. A confiança do povo atingia escala comparável ao palco do duelo. A exibição colorada também, apesar de Leão, que muito retardou a abertura do placar. Inevitável, porém, o gol primeiro saiu, e teve a cara do time de Ênio Andrade.
Jamais derrotado, o goleiro Benítez repôs com Mário Sérgio, que recuara até a intermediária defensiva para receber. Pela esquerda, o Vesgo percebeu que Bira tomava a frente de seu marcador. Preciso, lançou o nove, que escorou, poucos metros depois do centro do campo, de casquinha. Perspicaz, Jair apareceu nas costas da adiantada defesa rival para, no primeiro toque, fintar Leão. No segundo, finalizou na direção da desprotegida goleira. Aos 41 minutos, o Beira-Rio aumentava os já ensurdecedores decibéis de festejo.
Quatro voltas do ponteiro depois, Falcão quase ampliou. Completo, o Rei lançou Bira, que driblou o arqueiro mas perdeu ângulo. Pela direita da área, o centroavante cruzou rasteiro. Ágil, ali já estava seu garçom, que tentou de letra. Por sorte dos cariocas, o goleiro impediu gol que faria justiça à magnífica campanha construída pelo camisa cinco vermelho. Decisivo em todas as fases, o ídolo dispensou estrelismos em nome dos objetivos. Na decisão, em momento algum foi individualista. Pelo contrário, seguiu ditando o ritmo de seus 10 companheiros, ora desfilando passes açucarados para os avantes, ora retendo a posse e esfriando o time visitante.
Fiel ao estilo de jogo que lhe fizera atingir a melhor forma de sua carreira, o camisa cinco não perdoaria, por óbvio, espaços na retaguarda rival. Espaços como os oferecidos a 13 minutos da segunda etapa, quando Mário Sérgio, de novo ele, lançou da defesa, desta vez para Cláudio Mineiro, que cruzou rasteiro, na direção de Bira. O centroavante finalizou, mas abafado por Falcão, que operou milagre. Abandonado por seus companheiros, o goleiro mal levantara do chão quando surgiu Falcão.
“Nós oferecemos este título
para aqueles que não
acreditavam no time”
Rei Falcão
Um, dois, três passos. Pé de apoio, perna direita no ar, chuteira na bola. Por um instante, corpo completamente fora do chão. O herói era elevado, ficava acima de seus rivais. Superior, como seu futebol. O Rei finalizou, com a seriedade dos grandes, a caminhada da maior equipe da história do principal desporto brasileiro.
Wilsinho até descontaria, é verdade, mas o gol de honra em nada ameaçou o Tri. Título único, posse exclusiva do Time que Nunca Perdeu, escalação inesquecível capitaneada pelo melhor meio-campista que nosso país já viu. O Rei de Roma. O Deus do Beira-Rio. O aniversariante desta sexta-feira (16/10). Parabéns, Falcão!
Brabo, artilheiro, gringo ou matador, não faltam adjetivos para descrever Paolo Guerrero. Independente do apelido que você escolha para o peruano, unânime é o reconhecimento à grande fase que o centroavante vive com o manto vermelho. Um dia após completar dois anos de Inter, o camisa 9 colorado deu show nesta quinta-feira (13/08) de vitória do Clube do Povo sobre o Santos. De cabeça, abriu o placar no início da etapa final. Depois, já no encerramento da partida, serviu linda assistência de calcanhar para o gol de Edenilson.
Anunciado pelo Inter em pleno Dia dos Pais, 12 de agosto de 2018, o peruano foi oficialmente apresentado três dias depois, data de seu desembarque em Porto Alegre. Recepcionado com festa ainda no Aeroporto Salgado Filho, o centroavante foi igualmente ovacionado nas arquibancadas do Beira-Rio, que receberam milhares de colorados e coloradas dispostos a dar boas-vindas ao artilheiro.
A estreia de Guerrero com a camisa colorada ocorreu no ano seguinte, em nova data especial. Dia em que o Beira-Rio completou 50 anos de história, o 6 de abril de 2019 também ficou marcado pela primeira partida do peruano no Inter. Disposto a recompensar as mais de 30 mil pessoas que ignoraram a chuva para lotar o Gigante, o craque teve grande atuação no tapete verde da Padre Cacique, e inclusive marcou, logo na etapa inicial, bonito gol de cabeça, tento de número um dos 20 que anotaria na temporada passada.
O artilheiro segue vivendo boa fase em 2020. Após encerrar seu primeiro ano de Inter com média aproximada de meio gol por jogo, na atual temporada Guerrero já mandou nove bolas para as redes em apenas 14 exibições.
Responsável por marcar, sobre o Tolima, gol que classificou o Inter à fase de grupos da Libertadores, o craque soma mais outros dois tentos na principal competição das Américas, ambos anotados contra a Universidade Católica-CHI. As estatísticas também foram positivas no Gauchão, campeonato no qual Guerrero balançou as redes em quatro ocasiões. No Brasileiro, por fim, o peruano já fez a torcida colorada sorrir em duas oportunidades, assim figurando entre os artilheiros do torneio.
“Felicidade de ter dois anos em um Clube tão grande como é o Inter. Tomara que venham muitos anos, estou muito feliz aqui, fazendo o meu trabalho, fazendo gols, que é o mais importante. Tomara que esse ano seja abençoado, estamos trabalhando muito, bem concentrados, para que tudo dê certo e a gente possa comemorar um título!”
Guerrero sobre atingir o feito
Dono de 29 gols marcados em 55 partidas disputadas pelo Inter, Guerrero está em casa no Beira-Rio. Prova irrefutável é a simpatia do craque por balançar as redes do Gigante, palco que já presenciou 21 tentos do artilheiro. Na lista dos principais goleadores do Estádio pós-reforma, o peruano ocupa a terceira colocação, a três gols de distância de Nico López, segundo, e cinco do ídolo D’Alessandro, líder da nominata.
A frieza dos números, porém, não retrata com precisão a excelência da trajetória que Guerrero vem construindo com o manto vermelho. Jogador diferenciado, o artilheiro reúne todas as características fundamentais para um centroavante matador. Fatal no jogo aéreo e carrasco com a perna direita, raramente desperdiça uma oportunidade de superar o arqueiro rival. Dono de técnica refinada, encanta a torcida a cada domínio no peito ou pivô que executa em cima da zaga adversária. Perito em finalizações de qualquer distância, já se mostrou, também, um ás nas cobranças de falta.
Para além dos tentos, o inteligente atleta sabe, igualmente, ser garçom, como comprovam as duas assistências que já ofereceu no ano. Consciente da responsabilidade de carregar a camisa 9 do Inter, é, ainda, um líder do grupo, a ponto de já ter empunhado a faixa de capitão em algumas oportunidades. Sem exagero nenhum, Guerrero faz por merecer o rótulo de centroavante completo. Exatamente desta forma é tratado pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, a quem tanto já fez sorrir. Dale, Paolo!
Com festa, o recebemos. Diferenciado, provou-se capaz de transformar centímetro em hectare, segundo em eternidade. Assim, evoluiu: de gênio para amor, depois ídolo e, enfim, divindade. Há 12 anos, D’Alessandro, um dos maiores de nossa história, era oficialmente apresentado pelo Inter. Marcada, desde o desembarque, por grandes emoções, a trajetória do craque esteve repleta de estreias em sua primeira temporada. Relembre-as agora!
O primeiro contato
As primeiras linhas da história entre Andrés Nicolás D’Alessandro e Sport Club Internacional foram escritas no dia 30 de julho de 2008. Gélida quarta-feira invernal, a data conviveu, desde cedo, com grande movimentação de colorados e coloradas no Aeroporto Salgado Filho. De todos os cantos, centenas desejavam receber o mais novo reforço alvirrubro, que desembarcou às 18h35 do horário de Brasília. Poucos minutos depois, o argentino ouviu, no lugar do intenso zunido das turbinas de aeronaves, som ainda mais estrondoso. Este, proferido pela torcida colorada que, a plenos pulmões, alternava do ‘Vamo, Inter!’ ao Dale, D’Alessandro!
As expectativas, vale lembrar, eram grandes em ambos os lados. Para o Clube do Povo, D’Ale simbolizava a ambição de um time que queria mais e seguia sedento por títulos mesmo depois de conquistar América e Mundial. Carregando status de jogador diferenciado, o gringo era a grande aposta para superar quaisquer desconfianças com a reformulação do elenco, que recentemente perdera Iarley, seu camisa 10, e Fernandão, capitão, além do comandante Abel Braga. Nem o mais otimista apaixonado poderia imaginar, contudo, que o buenairense que desembarcava na capital gaúcha assumiria, com o tempo, os dois papéis: de referência técnica, vestindo o número dos gênios, e também anímica, empunhando faixa costurada nos braços de gigantes.
De sua parte, D’Alessandro sonhava em atingir, no Inter, o patamar que sempre provou ser capaz. Revelado pelo River Plate, precisou de poucos anos para virar o grande craque do time hermano. Referência técnica também da Seleção Argentina Sub-20, campeã mundial em 2001, foi negociado, dois anos depois, com o Wolfsburg, da Alemanha. No velho continente, atuaria ainda por Portsmouth, da Inglaterra, e Zaragoza-ESP. Já em 2008 regressou, por empréstimo, ao seu país natal, onde disputou, com o San Lorenzo-ARG, boa Libertadores. O Clube do Povo, portanto, representava o sonho de afirmação do atleta. Também ele não sabi, mas, em breve, começaria a trilhar, a passos largos, roteiro rumo à eternidade alvirrubra.
A estreia
D’Alessandro teve seu nome registrado no Boletim Informativo Diário (CBF) da CBF em 11 de agosto, seis dias depois de começar a trabalhar com seus companheiros. Já devidamente integrado ao grupo, o craque estava, assim, pronto para estrear com a camisa colorada. A partida mais próxima no horizonte, por ironia do destino, era um Gre-Nal. Duelo sempre único, o clássico da ocasião, que teria como palco o Beira-Rio, era ainda mais especial, uma vez que valia pela abertura da primeira fase da Sul-Americana. Após breves contatos com o povo vermelho, tanto no desembarque quanto em seu primeiro treino, acompanhado por 300 pessoas, El Cabezón conheceria, enfim, a força do Gigante lotado.
Cerca de 30 mil pessoas tomaram as arquibancadas do Beira-Rio na noite de 13 de agosto de 2008, data do Gre-Nal 371. Comandado pelo técnico Tite, o Inter, desfalcado de Alex e Nilmar, foi a campo no esquema 3-5-2. Protegido em sua meta por Clemer, o time colorado contava, na defesa, com a segurança do trio Índio, Sorondo e Bolívar. Wellington Monteiro fez a ala-direita, e Nery a esquerda. Na volância, Edinho e Guiñazú conferiam sustentação ao Clube do Povo, que apostava na dupla de ataque formada por Daniel Carvalho e Adriano. Completando a formação estava, é claro, D’Alessandro. Camisa 15 às costas, o argentino era o responsável por armar as tramas ofensivas alvirrubras.
A partida começou a se provar histórica ainda antes do apito inicial. Tradicional rito da torcida colorada na abertura de confrontos disputados no Beira-Rio, os nomes dos atletas titulares foram, um a um, enunciados pelo público. Após saudar Guiñazú, hermano que, àquela altura, já conquistara o coração do povo vermelho, o Gigante celebrou, pela primeira vez em seus 38 anos, Andrés Nicolás D’Alessandro. Perfeito, o canto dedicado ao gringo fez tremer a estrutura do templo alvirrubro, endereço que não costuma se curvar facilmente a jogadores estreantes. De certa forma, nossa casa parecia saber que o canhoto meio-campista faria história em seu gramado, e deixava esta profecia clara à multidão presente nas arquibancadas, que eufórica bradava D’Ale.
Naturalmente à procura do melhor entrosamento com seus companheiros, D’Alessandro compensou qualquer falta de ritmo com enorme movimentação. Insinuante, o gringo não economizou suor na luta por espaços, aparecendo ora pelos lados, ora centralizado. O tradicional refino na cobrança de bolas paradas também foi percebido em escanteios e faltas que aterrorizaram a defesa tricolor. Titular durante os 90 minutos, somente deixou de cobrar o pênalti colorado na partida, convertido por Daniel Carvalho. Minutos depois, Léo empataria para os visitantes, dando números finais ao confronto, primeiro dos atuais 486 que D’Ale, terceiro jogador que mais vezes vestiu o manto alvirrubro, disputou pelo Inter.
Surge o garçom
O dia 20 de agosto de 2008 pode ser entendido como um divisor de águas na história recente do Internacional. Na data, Alex, D’Alessandro e Nilmar atuaram juntos pela primeira vez. Trio de ouro, responsável por completar a nominata de geração que marcou época com a camisa colorada, estreou em jogo da segunda rodada do returno nacional, diante do Palmeiras. No Beira-Rio, debaixo de chuva fraca, mas constante, o Clube do Povo foi a campo em busca da reabilitação no Campeonato Brasileiro.
O azar, presente em recentes frustrações do Clube do Povo no certame, ameaçou a quinta-feira colorada logo cedo. Aos três minutos, Alex Mineiro cavou e cobrou pênalti para os visitantes. Pouco depois, Diego Souza ainda desperdiçaria clara oportunidade de gol. O bom momento, entretanto, subiu à cabeça dos palestrinos, que, ansiosos por marcar o segundo, esqueceram do poderio ofensivo colorado. A consequência? A virada, construída em um minuto. Primeiro, aos 18, Alex cobrou falta na cabeça de Índio, que empatou. Depois, aos 19, o canhoto camisa 10 soltou uma bomba de fora da área para colocar o Inter na frente.
A magra vantagem do Inter resultou em um começo de segundo tempo bastante agitado. Principal nome da etapa inicial, Alex, que retornava de lesão, precisou ser sacado cedo, aos 11. Sem o camisa 10, D’Alessandro ocupou protagonismo ainda maior na criação de jogadas. De modo praticamente simultâneo à saída do companheiro, que deixou o campo para a entrada de Taison, El Cabezón brigou contra dois marcadores, levou a melhor e cruzou rasteiro para Nilmar, que finalizou de primeira levando perigo à meta de Marcos. Pouco depois, aos 16, o craque argentino bateu falta pela esquerda da área paulista. Açucarada, a bola viajou até a segunda trave para, dentro do retângulo pequeno, encontrar Índio. Goleador, o zagueiro não perdoou. No placar, 3 a 1, e o camisa 15, logo em sua terceira exibição com o manto alvirrubro, já servia a primeira das 113 assistências que hoje soma pelo Clube do Povo.
Momento histórico: a primeira assistência de D’Alessandro pelo Inter
Já nos acréscimos, enquanto a torcida celebrava a vitória, D’Ale deu lindo corte na marcação e deixou com Adriano, dentro da área rival. O atacante dominou com a esquerda, limpou para a direita e soltou um foguete, espalmado por Marcos. O rebote, dentro da área, foi de Taison, que fuzilou para anotar o quarto. Goleada alvirrubra, celebrada com dança por seu autor e o garçom argentino, que aos poucos começavam a nutrir belíssima amizade.
O gol de número 1
O alto nível das primeiras atuações de D’Ale no Inter foi reconhecido, ainda no mês de agosto, com convocação do craque para a Seleção Argentina. Desfalque na 24ª rodada do Brasileirão, o gringo retornou a tempo de atuar contra o Botafogo, na jornada seguinte. Realizado no Engenhão, o confronto diante dos cariocas foi o primeiro disputado pelo inesquecível losango de Tite. Armador, El Cabezón correspondia ao vértice superior do meio de campo colorado, enquanto Edinho fazia a base. Pela direita, quem atuava era Magrão, ao lado do canhoto Guiñazú. O quarteto, ilustre, antecedia a dupla Nilmar e Alex.
O duelo contra os cariocas também contou com brilho do trio ofensivo alvirrubro. No primeiro tempo, aos 30, D’Alessandro, demonstrando grande entendimento das características de seu companheiro, lançou Nilmar em velocidade. Na corrida, o atacante venceu até mesmo o goleiro carioca para cruzar na direção do gol, onde Alex, livre, apenas completou. Inter na frente!
A grande pintura da noite ainda estava por vir. No início do segundo tempo, Guiñazú e Taison escaparam em grande tabela pela esquerda que chegou às cercanias da meta carioca, onde o argentino acionou seu compatriota D’Alessandro. El Cabezón dominou com a direita, já colocando na frente e invadindo a área. Com ângulo para arrematar de canhota, enquadrou o corpo e enganou o zagueiro Renato, que decidiu dar o bote. Genial, o camisa 15 colorado cortou para dentro, deixou o marcador no chão, reconduziu para fora e, com o pé bom, arrematou rasteiro. Golaço, o segundo do Clube do Povo no jogo, primeiro dos 94 marcados por D’Ale com o Inter.
Na comemoração, o futuro ídolo, eufórico com o marco que alcançava, e também com a jogada que produzira, convocou todos seus companheiros para o abraço. Destaque, é claro, para a celebração com Taison, reafirmando a crescente amizade da dupla.
O Botaofogo até conseguiu descontar, marcando o seu com André Luiz. A proximidade no placar, contudo, não resultou em grande pressão do time da casa. Maquiavélico, D’Ale assumiu o controle da partida e passou a ditar o ritmo de cada movimento realizado dentro de campo, escolhendo, a bel-prazer, quando o jogo deveria ser acelerado ou ter seu ritmo diminuído.
Com espaço no centro do campo, o gringo desfilou, sempre de cabeça erguida, inversões milimétricas, passes teleguiados, dribles desconcertantes e uma boa dose de experiência hermana. O show de Andrés apenas foi finalizado quando o camisa 15 deixou o campo para a entrada de Rosinei, que ajudou o Inter a garantir os três pontos.
Homem Gre-Nal
Do alto de seus 51 anos de vida, o Beira-Rio ostenta história rara entre os estádios do mundo. Ao longo das últimas cinco décadas, o Gigante já serviu de palco para diversas gerações vitoriosas e craques renomados. Foi ele, por exemplo, quem revelou Falcão, muito vibrou com Valdomiro, reverenciou Jair, aplaudiu Lula, amou Rubén Paz, eternizou Fernandão e consagrou Sobis, entre muitos outros geniais criadores. Sozinha, nossa casa sabe ocupar o papel de protagonista para superar batalhas difíceis. Humilde, também consegue servir de moldura perfeita aos espetáculos de artistas colorados. Poucas exibições foram tão belas quanto a oferecida por D’Alessandro no dia 28 de setembro de 2008.
D’Ale chegou ao Inter talhado para encarar o significado do Gre-Nal. Duas semanas depois de estrear com a camisa colorada no maior clássico do país, o argentino seria um dos destaques do jogo de volta da primeira fase da Sul-Americana, encerrado com empate de 2 a 2 e classificação do Clube do Povo em pleno Estádio Olímpico. Nada do que produzira contra o Grêmio ao longo do mês de agosto, todavia, pode ser comparado à magnificência do que ofereceu aos 42.590 colorados e coloradas que lotaram o Beira-Rio para acompanhar o confronto de número 373 na história entre Alvirrubro e Tricolor.
O Gre-Nal do segundo turno do Brasileirão de 2008 foi diferente. Antes da partida, o presidente gremista vociferara às rádios gaúchas que, no Beira-Rio, o time visitante “passaria a máquina” sobre o Inter. Ingênuo, injetou ainda mais ânimo no esquadrão colorado. Não que adrenalina fizesse falta, pois o Clube do Povo, vivendo grande fase, ansiava por coroar o bom momento superando o rival e, assim, dando fim a jejum de quase dois anos sem triunfos em clássicos. O infeliz comentário do dirigente, contudo, certamente alimentou a sede dos comandados de Tite, que entraram em campo sedentos, emulando o saudoso Rolo Compressor.
Maestro, El Cabezón transformou o Beira-Rio em teatro – nada silencioso, por óbvio. Como se conduzisse uma orquestra de tango, desfilou no tapete de nossa casa alternando entre o drama de passes estonteantes e a agressividade de arrancadas e finalizações incontroláveis. Sutil como são os gestos de um regente, aos quatro minutos progrediu até a área gremista mirando rebote que se oferecia à feição. Diante da bola, enquadrou o pé direito e chicoteou com a canhota, desabafando. Golaço do Inter, o primeiro de D’Ale no templo que, aos poucos, começava a chamar de casa.
Pouco depois, Tcheco empataria para os visitantes. O gol, verdade seja dita, não passou de ousada provocação a um time que apenas respirava, preparando-se para o segundo ato, que nada custou para chegar ao clímax. Muitos dos presentes, inclusive, sequer prestigiaram o reinício do espetáculo, culpa do maestro, que decidiu aprontar com a desatenção do público. O que você consegue fazer em oito segundo? D’Ale precisou deste punhado de centésimos para ter um lampejo e cobrar rápido falta pela direita. No pé de Alex, a bola foi fuzilada pelo camisa 10, que mandou rasteiro. Era o segundo.
A Maior e Melhor Torcida do Rio Grande jamais se comportou como plateia teatral. Se D’Ale regia uma orquestra, a reverência que recebia como resposta nada tinha de silenciosa, e sim apoteótica. Porque o Inter, naquele momento o gringo descobriu, não é o Clube do Povo por acaso. Instituição nascida em berço popular e embalada por blocos e marchas carnavalescos, carrega a efervescência como sobrenome. Todo colorado é um pouco Rao ou Charuto. Toda colorada sabe ser coreana. Em meio a esta bela mistura, perfeitamente heterogênea e bagunçada, seguiu o espetáculo. Primeiro, catapultado por Índio, que mandou, de cabeça, cruzamento de Andrés para as redes. Depois finalizado, também em um testaço, por Nilmar, completando lançamento açucarado do argentino. Massacre alvirrubro por 4 a 1, que ficou barato (assim como o ingresso, se comparado à excelência oferecida pela sinfonia dalessandrina), confirmado.
“Quando cheguei aqui, só se falava do Gre-Nal. É um clássico, e é preciso ganhar. O time necessitava da vitória. Hoje, tive sorte de ter uma atuação tão boa, meu gol foi importante para mim e para a torcida, mas amanhã pode ser com outro jogador. Para mim, o importante mesmo foi a vitória.”
D’ALESSANDRO, APÓS O CLÁSSICO
Debut continental
Lutando para atingir as primeiras posições no Campeonato Brasileiro, e ainda reticente quanto ao desenho da Sul-Americana, Tite preservou diversos atletas nos 180 minutos que compuseram a fase de oitavas de final do torneio, disputada contra a Universidad Católica. D’Alessandro, envolvido também em convocações para a Seleção Argentina, foi um deles, e sequer entrou em campo nas partidas diante dos chilenos.
O cenário de cautela para com o certame continental foi transformado a partir da classificação para as quartas de final e consequente proximidade do título. Na luta para garantir vaga entre os quatro melhores da América, o Clube do Povo enfrentou o Boca Juniors, recente algoz que eliminara o Colorado da competição nos anos de 2004 e 2005 e campeão da Libertadores na temporada anterior. Escalado com força máxima, o Clube do Povo venceu a primeira partida contra o time xeneize, antigo rival de D’Ale nos tempos de River, por 2 a 0. Disputado no Beira-Rio, o confronto, primeiro da trajetória de Andrés no Inter contra equipes do exterior, contou com dois gols de Alex, grande protagonista da noite.
Duas semanas depois, o Clube do Povo foi a campo, na Bombonera, para garantir a classificação às semis do continente. Disputado no dia 6 de novembro, o confronto foi o primeiro disputado pelo time de Tite com uma linha de quatro zagueiros na defesa. À frente de Lauro, um dos grandes destaques da partida, Bolívar, na direita, Marcão, na esquerda, e a dupla Índio e Álvaro, no miolo, formaram a defesa. A escalação era continuada, no meio, pelo já tradicional quarteto de Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro, argentino que se somava a Alex e Nilmar para formar mágico trio ofensivo.
Extremamente vaiado a cada toque na bola, D’Alessandro, carrasco do Boca no início do século, ajudou a construir uma etapa inicial cadenciada, sem grandes sustos para o Inter. Imperante antes do intervalo, a morosidade foi completamente abandonada no segundo tempo, que contou com gol colorado logo no minuto inaugural. Nilmar, lançado por Magrão, foi ao fundo pela direita e cruzou na medida para o camisa 11, que mandou no travessão. A bola até picou dentro, mas, por via das dúvidas, o meio-campista completou, de cabeça, estufando as redes. O time da casa respondeu com as entradas de Riquelme e Dátolo, duas das estrelas xeneizes, que reacenderam a Bombonera. o mítico palco hermano foi ao delírio pouco depois, aos 12, quando Juan Román empatou.
Insuficiente para classificar o time da casa, a igualdade apenas impulsionou ainda mais o Boca Juniors, que tentava, a todo custo, encurralar o escrete colorado. Atuar de maneira desesperada contra o Inter de Alex, Nilmar e D’Alessandro, contudo, jamais foi uma ideia inteligente. Entregue a fortuitos cruzamentos na área alvirrubra, os quais raramente eram finalizados na direção do inspirado goleiro Lauro, o time xeneize aprendeu a lição a duras penas.
Aos 27, D’Alessandro foi lançado pela esquerda. Pouco depois da quina da grande área, mas ainda fora do retângulo, o argentino, esbanjando visão de jogo rara para os seres humanos, mas comum na rica carreira que ostenta, serviu, de canhota, assistência precisa para Alex. Em velocidade, o camisa 10 sequer precisou dominar e, de frente para o goleiro, apenas desviou buscando o canto. Golaço, à altura da épica atuação colorada, consagrador de vitória incontestável e maiúscula de um elenco que desejava ser campeão.
Ganhar do Boca,
na Bombonera,
é especial para mim!
D’ALESSANDRO, COMEMORANDO A EPOPEIA COLORADA
Aproximadamente quatro minutos após o gol da vitória, D’Ale, sacado para a entrada de Taison, fez questão de não deixar o campo sem antes agradecer a festa dos milhares de colorados e coloradas que lotaram o setor visitante da Bombonera. O craque, que aos poucos conquistava o coração do povo vermelho, não somente ganhou preciosos segundos durante o aplauso, como também despertou a ira da torcida local, reforçando sua fama de protagonista em clássicos. Gigante, Cabezón!
A primeira taça
Depois de eliminar o poderoso Boca Juniors com o maiúsculo placar agregado de 4 a 1, o Clube do Povo encarou, nas semifinais da Sul-Americana, o forte time do Chivas de Guadalajara. Com problemas intestinais, D’Alessandro desfalcou o Inter no confronto de ida, disputado no México, mas a ausência do gringo, felizmente, não foi sentida. Atuando com Andrezinho, que, como de costume, entregou grande exibição, o Colorado contou com noite inspirada da dupla Nilmar e Alex para vencer por 2 a 0, um gol de cada, e trazer a vantagem para o Beira-Rio.
Para a partida de volta, o desfalque foi outro – assim como o protagonista. Desfalcado de Alex, convocado pela Seleção Brasileira, o Inter encontrou em D’Alessandro o substituto ideal para o camisa 10. Reposição, esta, ocorrida não na criação de jogadas, já que o gringo, desde sua estreia, evoluía continuamente enquanto meia dos sonhos do povo vermelho, mas sim para o faro artilheiro em bolas paradas.
Cada vez mais adaptado ao corredor esquerdo, Marcão construiu excelente jogada individual aos 18 da primeira etapa, invadindo a área mexicana perseguido por três marcadores. O camisa 6 apenas perdeu a posse quando tentou fintar para dentro, mas o corte da zaga, parcial, encontrou o pé canhoto de D’Alessandro. Pisando na meia-lua, o gringo fingiu chutar e, esperto, ajeitou para a direita, adiantando na área e escapando do primeiro zagueiro. Pressionado por um segundo, tentou fazer o giro, mas foi derrubado por violento carrinho. Assinalado o pênalti, o próprio Cabezón abraçou a bola e, um minuto depois, bateu com exímia perfeição. Era o primeiro.
Os três gols de vantagem no agregado deixaram o Clube do Povo ainda mais tranquilo na partida. Armado com Taison e Nilmar na linha de frente, o Colorado, decidido a explorar a velocidade da dupla, soube oferecer parte do campo para os mexicanos, que passaram a cruzar a região central com relativa facilidade para, logo depois, esbarrar na defesa vermelha. Perfeita para contra-ataques, a receita ofereceu boas escapadas ao Inter.
Em uma destas, aos 35, o jovem atacante que substituía Alex chamou D’Alessandro para tabelar, mas, derrubado por trás, não conseguiu receber a devolução do argentino. Oscar Ruiz flagrou a irregularidade e indicou a falta. Coube ao grande nome do jogo, é claro, fazer a cobrança. Inteligente, El Cabezón percebeu pulo do goleiro na direção da barreira e cobrou no canto do arqueiro, pegando-o no contrapé. Indefensável, ela morreu na rede.
Marcão, de novo ele, investiu contra dois adversários pela esquerda e, experiente, cavou escanteio aos 43 do primeiro tempo. A cobrança, desta vez, coube ao destro Taison, que bateu fechado, buscando olímpico. No reflexo, o goleiro Hernandez até espalmou, mas manteve a bola na pequena área, entregue ao cabeceio de Nilmar, que ampliou. A dupla de ataque também aprontou na segunda etapa, com nova assistência do jovem camisa 20 para o artilheiro dono da 9. Mais do que garantir a classificação para a final, a vitória de 4 a 0 também serviu como homenagem perfeita a Arthur Dallegrave, ex-dirigente que figura entre os mais importantes políticos da história colorada, falecido dois dias antes da partida.
O adversário colorado na decisão foi o Estudiantes-ARG. Tradicional equipe do futebol sul-americano, o Pincha abriu a final, em seus domínios, apostando na magia de La Brujita Verón para largar em vantagem. Disputados no dia 26 de novembro, os primeiros 90 minutos do embate de alvirrubros envolveram tudo o que um duelo de gigantes continentais cobra. Drama, raiva, euforia, injustiça, heroísmo e uma boa dose de sorte flertaram com a maiúscula e histórica exibição do Clube do Povo, que teve em D’Alessandro um de seus referenciais. Genial como de costume, o gringo soube se adaptar às circunstâncias da partida, construindo atuação multifacetada.
No primeiro tempo, D’Alessandro foi letal no ataque. Mesmo deslocado de função a partir dos 24 minutos, quando Guiñazú recebeu injusto cartão vermelho, o gringo orquestrou todos os escapes colorados. Atuando pela direita da linha de quatro meio-campistas, formou, no flanco, triângulo perfeito com Bolívar, lateral, e Magrão, volante. Combinado, o trio misturava força e leveza, imposição física e alto quilate técnico.
Empolgado com a superioridade numérica, o Estudiantes se mandou para o ataque, deixando espaços letais na defesa. Aos 32, D’Alessandro percebeu um desses e, após receber passe de Nilmar, devolveu para o camisa 9 lançando, de direita, em profundidade, nas costas de Desábato. Incomodado, o beque atropelou o jogador colorado. Pênalti, que Alex bateu duas vezes para valer uma e abrir o placar!
Aos 37, D’Ale quase ampliou. Afiado nas cobranças de falta, o gringo mandou, da intermediária, chute forte no canto de Andújar. Venenosa, a bola triscou na ponta dos dedos do arqueiro, explodiu no poste esquerdo e retornou para os braços do camisa 1 pincharrata. Por detalhe o Clube do Povo não marcava o segundo, mas D’Alessandro demonstrava ser ele, e não Verón, o grande regulador do duelo. Como joga, Andrés!
Mais do que continuar dando exemplo de aplicação defensiva para fechar os espaços na retaguarda, na segunda etapa D’Alessandro, apoiado pela vantagem colorada no placar, passou a cozinhar o confronto. Sempre chamando a bola de “tu”, tratando a redonda com carinho, o gringo irritou seus compatriotas que, incrédulos, assistiam ao matrimônio de D’Ale com a esférica sem conseguir interferir no relacionamento. O camisa 15 ainda ofereceu assistência espetacular para Magrão, acionando o volante com um ganchinho surpreendente. Forte, o arremate do número 11 foi defendido por Andújar. Desta forma, findada a partida, o Inter garantia vantagem para a volta em Porto Alegre: 1 a 0!
Em campo, Lauro; Bolívar, Danny Morais, Álvaro e Marcão; Edinho, Andrezinho, Magrão e D’Alessandro; Alex e Nilmar. No Gigante, 51.803 apaixonados, decididos a conquistar o último título de elite que faltava na galeria de troféus alvirrubra. A terceira noite do mês de dezembro reuniu todos os ingredientes para ficar na história.
O clima de mobilização visto no Beira-Rio catalisou grande atuação colorada na etapa inicial. A exibição, é claro, passou longe de um massacre, como costumeiramente são disputadas as finalíssimas, mas era evidente a superioridade do Inter na partida. Incendiado por um Gigante que praticamente pegou fogo, o time do técnico Tite criou sua primeira oportunidade aos 4, com D’Alessandro, que pegou a sobra de boa jogada de Alex e finalizou, forte, com a canhota. A bola saiu por cima, levando muito perigo. Já às vésperas do intervalo, El Cabezón deu lindo passe para Andrezinho chutar colocado e exigir milagre de Andújar.
O Estudiantes cresceu no segundo tempo, especialmente depois dos 10 minutos. Time matreiro, conhecedor dos mata-matas, aproveitou o momento positivo para balançar as redes do Inter. A vitória pelo placar mínimo igualou o placar agregado, levando a decisão para a prorrogação. Uma vez mais, o Beira-Rio precisou exercer papel de protagonista para compensar o desgaste de seus heróis e amedrontar os visitantes mal-intencionados. Incendiário, o Gigante começou a jogar, e serviu de parceiro perfeito para a canhota de Andrés.
O time que começou a disputa do tempo extra exibia diferenças em relação ao escalado para a partida. No lugar de Alex, Taison compunha veloz linha de frente com Nilmar, enquanto Gustavo Nery, que substituira Andrezinho, acrescentava maior vigor físico na esquerda do meio. No início da etapa final, Sandro ainda foi alçado a campo na vaga do extenuado Magrão. Uma escalação pautada na imposição e na força, portanto, buscava a taça continental. Controlando o ímpeto e adicionando pitadas de brilhantismo à robustez, D’Alessandro capitaneava cada avanço vermelho, sempre acompanhado por seus companheiros, que ofereciam respostas perfeitas aos movimentos do camisa 15. O gringo, consciente de sua responsabilidade, criou as melhores oportunidade do Clube do Povo na prorrogação.
Ainda nos primeiros 15 minutos, D’Alessandro progrediu, a seguidos cortes, pela esquerda da área rival. Com espaço, alçou bola milimétrica para Bolívar, que cabeceou na zaga, deu início a verdadeiro caos e, ainda, encerrou a jogada soltando um petardo milagrosamente defendido pelo goleiro. No segundo tempo, aproveitando o recente entrosamento com Bolívar e tirando vantagem do fôlego renovado de Taison, o argentino ocupou, com grande frequência, o lado direito do campo. Por ali, aos 6, driblou dois marcadores para invadir a área, aplicou o La Boba em um terceiro e cruzou de direita por cima de Andújar. Posicionado sob as traves, Nilmar teria o gol aberto para marcar, mas fora cortado, segundos antes do arremate, por Angeleri. Apesar de desperdiçada, a oportunidade deixava claro qual era o caminho do gol.
O relógio indicava oito minutos e quatro segundos da etapa final da prorrogação quando D’Ale, empurrado pela curva sul do Beira-Rio, partiu para levantar escanteio na área argentina. Cavado por Taison, o córner, pela direita, permitia ao canhoto a possibilidade de cobrança fechada. Exatamente assim o camisa 15 alçou, procurando a entrada da pequena área. Ali, quem subiu foi Danny Morais, testando para o solo.
Na subida, a bola resvalou nos dedos de Andújar e explodiu no travessão, oferecendo-se para Nery. De esquerda, o meio-campista soltou o pé, mas também foi bloqueado pelo goleiro. O rebote, contudo, sobrou para o artilheiro. Encarando um gol aberto, Nilmar não teve problemas para honrar o faro goleador de sempre e empatar para o Clube do Povo. Gol de título, de um campeão de tudo. E o Beira-Rio? Ficou catártico!
O título da Sul-Americana foi o primeiro dos 13 que D’Ale conquistou, até o presente dia, com o Colorado. Já amado pela torcida após míseros quatro meses de Beira-Rio, o argentino não titubeou ao escolher a comemoração perfeita para o triunfo. Com a taça em mãos, disparou até a saudosa goleira do placar e, de frente ao público ensandecido, subiu no antigo fosso do Gigante. Encarando cada torcedor nos olhos, provou ser um capitão nato para erguer o cobiçado troféu, levando dezenas de milhares ao delírio. Clube do Povo, campeão continental! Vamo, Inter; e Dale, D’Alessandro.