Cria do Celeiro de Ases, o ex-zagueiro Danny Morais se aposentou dos gramados no início deste mês de abril. Bicampeão gaúcho com o Clube do Povo, o atleta, vencedor das copas Sul-Americana, Suruga e Dubai, lembrou dos tempos de Inter em entrevista concedida para Rádio Colorada na última quarta-feira (14/04), durante o pré-jogo da emissora para a partida diante do Aimoré.
“A gente estava fazendo uma recuperação no treinamento que antecedeu a final, eu estava correndo em volta do campo e o Tite me olhou e falou que ia jogar. Eu falei ‘meu Deus! Que isso, cara, mas vamos lá’. Estava pronto, mas aquela coisa ficou na cabeça. Tinha que ir bem, representava muito pra mim, e lembro que os momento que antecederam foram sensacionais, marcantes, mas, ao mesmo tempo, com um frio na barriga, uma pressão.”
Danny sobre a decisão da Sul-Americana
Dono de longa trajetória no Beira-Rio, o defensor lembrou dos anos de base, abrilhantados pela conquista do Mundial Sub-15 em 2000, e do protagonismo exercido nas finais de Estadual e Sul-Americana em 2008. Companheiro de concentração do eterno Fernandão, também comentou bastidores de uma das maiores gerações da história colorada, além de rememorar a vitoriosa carreira que construiu. Confira a íntegra do papo:
Há dois anos ele estreava com a camisa colorada. Há 365 dias, avançava para as quartas do mais tradicional torneio de base do Brasil. Hoje, é titular do Inter vice-líder do Brasileirão. Catapultado por precisa perna canhota, Praxedes ascendeu rapidamente com as cores do Clube do Povo. Conheça a trajetória do jovem até o primeiro gol como profissional.
Início nos juvenis
Contratado no início de 2019 após passagem pelo Fluminense, Bruno Conceição Praxedes chegou ao Inter com 16 anos. Reforço para a categoria Sub-17, o carioca de Itaboraí encantou logo nos primeiros treinos, rapidamente justificando o porquê de sua chegada ao Clube do Povo e garantindo vaga entre os titulares que disputaram a Copa Santiago no mês de janeiro.
“Alguns jogadores, um pouco diferenciados, você tem que antecipar.”
Erasmo Damiani, em entrevista para a Rádio Colorada no mês de dezembro
Encerrada a participação no torneio, os juvenis receberam férias até o mês de março, quando as atividades foram retomadas. Mantido na titularidade, Praxedes marcou diante do Caxias, no segundo amistoso preparativo para o Brasileirão Sub-17, seu primeiro gol com a camisa colorada. Na sequência, o jovem voltou a balançar as redes na jornada 13 que disputou como atleta alvirrubro. Tento de número dois anotado por Bruno, um em jogos oficiais, saiu na quinta rodada do Nacional, contra o América-MG.
Na estreia do Gauchão Sub-17, Praxedes voltou a marcar. O meia fez o primeiro na vitória colorada por 2 a 0 sobre o São José, no CT de Alvorada. Novos encontros com as redes ocorreram na jornada seguinte, diante do Oriente, e nas rodadas de número sete e oito. Por fim, Bruno ainda marcaria em cima do Sergipe, adversário alvirrubro na primeira fase da Copa do Brasil juvenil.
Brilho nos juniores
Não foram apenas os números de Praxedes que evoluíram com o correr dos meses. Dentro de campo, as grandes atuações, catapultadas por alta qualidade na perna canhota e rara visão de jogo, despertaram a curiosidade de Fábio Matias, técnico da categoria Sub-20. Chancelado pelos diretores da base alvirrubra, entre eles o gerente geral Erasmo Damiani, o comandante então convocou Bruno para o Sub-20.
“No meio do meu primeiro ano aqui, antecipamos os atletas em potencial para eles já começarem a vivenciar uma nova categoria e terem um desafio maior. Foi o que nós fizemos com o Praxedes, que, se fosse pela idade, estaria agora começando a jogar no Sub-20. Quanto potencial estaríamos jogando fora? Por isso, antecipamos. Mas ele não pulou. Primeiro, passou meio ano na 17, e aí foi para a 20.”
Praxedes estreou no Sub-20 em partida diante do Fluminense, disputada no dia 8 de agosto de 2019. Vindo do banco, o meio-campista substituiu Lucas Ramos e teve boa atuação, recompensada com a titularidade na rodada seguinte, quando o Celeiro empatou em 2 a 2 com o Grêmio, no Passo D’Areia.
Consolidado na categoria Sub-20, Bruno chegou a reforçar o time juvenil na partida de volta das quartas da Copa do Brasil. Diante do seu ex-clube, abriu o placar para o Inter com gol de cabeça, chegando a sete na trajetória construída com as cores do Clube do Povo. Apesar do tento, o Colorado acabou eliminado do torneio, desclassificação que encerrou, definitivamente, a trajetória de Praxedes no Sub-17.
Com as atenções completamente voltadas aos juniores, Praxedes logo desencantou na categoria. Em partida da 15ª rodada do Brasileirão, o jovem marcou, em Belo Horizonte, o primeiro gol colorado diante do Cruzeiro. Dono de oito tentos com a camisa vermelha, Bruno garantia grande prestígio junto à comissão, reconhecimento atestado na sua manutenção entre os 11 iniciais independente de esquema, fosse com três ou quatro meio-campistas.
Finalizado o Brasileiro, a equipe Sub-20 passou a focar nas Copas de encerramento da temporada da base. A Ipiranga, primeira, foi antecedida por amistoso preparatório disputado contra o Lajeadense no CT de Alvorada. Vitorioso por 13 a 0, o Clube do Povo contou com gol de Praxedes, que continuaria o bom momento durante o torneio, no qual atuou como titular em todas as partidas.
“Todo meio-campista de alto nível tem algumas coisas que fazem a diferença. Praxedes consegue antever o jogo, enxerga de uma forma diferente. Domina uma função onde a velocidade do jogo, principalmente agora, no profissional, é alta. Ele tem que evoluir coisas naturais de um jovem, mas é um jogador que apresenta coisas diferentes em relação aos da mesma posição.”
Inscrito na Copa São Paulo com a icônica camisa 8 do Clube do Povo, Praxedes marcou dois gols na competição, ambos belíssimos, anotados na partida de estreia e nas quartas de final. Apesar dos poucos 17 anos, o meia demonstrou, ao longo do torneio, mentalidade digna dos mais experientes praticantes do esporte bretão, sempre consciente quanto ao momento de acelerar ou esfriar o jogo.
Chegada aos profissionais
Figura unânime na lista de craques da Copinha, Bruno despertou elogios e expectativa não apenas na torcida colorada, mas também junto à comissão técnica principal, como comprova a data de estreia do jovem com o grupo adulto. Campeão na base no dia 25 de janeiro, em primeiro de fevereiro Praxedes já defendia o Clube do Povo para sua primeira partida como profissional. Diante do Ypiranga, em Erechim, saiu do banco aos 30 minutos da etapa final.
“Comecei 2020 muito bem. Espero dar alegrias à torcida, e agradeço a eles e também os companheiros pelo carinho. Estou muito feliz em poder fazer minha estreia pelo profissional.”
Bruno Praxedes
Para além do refino técnico, Praxedes também se sobressaiu pela polivalência dentro de campo. Capaz de atuar nas três funções mais adiantadas da meia-cancha do Clube do Povo de Eduardo Coudet – treinador colorado de então, que escalava o Inter no 4-1-3-2 – o jovem participaria de outras seis partidas do Gauchão de 2020, incluindo duelo eliminatório disputado no Beira-Rio contra o Esportivo.
“Todo atleta sonha em jogar uma Libertadores, mas a gente tem que trabalhar e, pouco a pouco, ir ganhando espaço. Na hora certa, nós, garotos, vamos entrar e dar o nosso melhor.”
Bruno Praxedes
Ao mesmo tempo em que era aprovado com êxito nos testes estaduais, Bruno foi inscrito para os grupos da Libertadores. No principal torneio de clubes do continente, estreou na primeira rodada da chave E. Substituto de Cuesta, entrou aos 33 do segundo tempo e, diante de grande público, ofereceu duas assistências açucaradas que Gustavo por pouco não transformou no quarto gol em cima da Universidad Católica-CHI. O alto nível valeria ao jovem atuações em mais duas partidas da fase, contra América de Cali, quando foi titular, e Católica.
Por falar em titularidade, a estreia de Praxedes entre os 11 iniciais colorados ocorreu no dia 8 de agosto, data da abertura do Brasileirão. Diante do Coritiba, no Couto Pereira, a cria do Clube do Povo teve boa exibição até deixar o campo, aos 23 da etapa final.
Também como titular, registre-se, Bruno figurou nos três confrontos seguintes que disputou no Nacional. Depois, no encerramento do primeiro turno, Praxedes somou duas vindas do banco, contra São Paulo e Vasco, e outra partida atuando desde a abertura, esta contra o Athletico-PR, também marcada por grande atuação do jovem.
“Eu jogo aonde me botar. Estou preparado para dar meu melhor.”
Bruno Praxedes
A estreia do Inter na Copa do Brasil também contou com titularidade de Praxedes. Desta vez na esquerda da trinca central, o meio-campista permaneceu em campo até os 13 da etapa final de duelo contra o Atlético-GO. Enquanto atuou, o jovem protagonizou oportunidades importantes com Moisés, lateral autor de gol na partida. Na volta diante dos goianos, Bruno substituiu Galhardo aos 38 do segundo tempo.
Patrick e Praxedes têm atingido entrosamento cada vez maior/Foto: Ricardo Duarte
Titularidade com Abel
Passados mais de nove meses de sua promoção aos profissionais, Praxedes estava devidamente entrosado ao grupo principal quando Abel Braga chegou ao Inter. Com o novo treinador, reconhecido entusiasta do trabalho junto às categorias de base, Bruno percebeu a oportunidade perfeita para se firmar entre os titulares. Assim, em sua terceira partida sob o comando do campeão mundial, o jovem se mostrou pronto para ganhar mais minutos.
“A cada jogo que passa, o Praxedes está se soltando. Ele deu um equilíbrio legal para o meio.”
Abel Braga
Reserva no primeiro mês de Abel no comando alvirrubro, Bruno atuara alguns minutos diante de Santos e América-MG antes de ser chamado a campo no segundo tempo de confronto contra o Atlético, no Mineirão. Alçado aos 14 minutos, deu novo fôlego para o Clube do Povo, renovando a disposição tanto para pressionar a saída de bola rival quanto para criar oportunidades em ritmo mais rápido e irrastreável para os encaixes da defesa rival. Seguindo esta cartilha, inclusive, o empate foi conquistado pelo Colorado, gol de Peglow.
Os ‘guri’ do Celeiro: Praxedes e Peglow/Foto: Ricardo Duarte
A consequência do brilho em território mineiro foi a surpreendente titularidade no jogo de volta das oitavas da Libertadores, disputado no dia 9 de dezembro contra o Boca Juniors. Encarregado de conectar seus pares de meio de campo, o jovem encarou a temida Bombonera com naturalidade comum aos que atuam no quintal de casa. Leve, combinou com Edenilson e Patrick, formando trio protagonista da excelente atuação vermelha, que encerrou o primeiro tempo dona de 65% da posse de bola.
A soberania de Praxedes contra os xeneizes/Foto: Ricardo Duarte
“O Abel vem fazendo um excelente trabalho. No começo, não deu pra ele mostrar muito, mas agora temos essa sequência. Ele gosta de garoto da base, utiliza bastante, é o que ele tem feito comigo e o Caio Vidal, e isso é muito bom pro nosso crescimento.”
Bruno Praxedes
Convocado para a Seleção Sub-20, Praxedes não pôde disputar a jornada seguinte do time colorado. Enquanto os comandados de Abel derrotaram por 2 a 1 o Botafogo, no Beira-Rio, o jovem venceu, junto dos companheiros Pedro Henrique e Mauricio, o amistoso Torneio Internacional Sub-20, realizado na Granja Comary ao lado das seleções de Chile, Bolívia e Peru. Bruno se tornou titular do Brasil ao longo da competição, certame no qual marcou um gol.
Mauricio (E), observador técnico Ricardo Sobrinho, Praxedes e Pedro Henrique: Inter representado na Granja Comary
Presente nos 90 minutos do embate contra o Chile, último do certame Internacional, Praxedes retornou aos titulares colorados menos de 24 horas depois de deixar a Granja Comary. No dia 19 de dezembro, o jovem teve o privilégio de ocupar a função de armador diante do Palmeiras, na partida de despedida do ídolo D’Alessandro. Exaurido pela maratona particular que encarava, Bruno atuou apenas no primeiro tempo, mas ocupou papel importante no irretocável triunfo de 2 a 0.
À disposição para os treinos, Bruno passou a somar crescente entrosamento com seus companheiros de setor. Atualmente, o dono da camisa 45 atua caindo do centro para a faixa esquerda do meio de campo colorado, exercendo tanto a função de armador central quanto de interno nas ocasiões em que fica alinhado a Edenilson.
Dentro desta mecânica, o dia 27 de dezembro ofereceu nova boa atuação de Praxedes com as cores do Internacional. Diante do Bahia, ele ficou em campo até os 37 do segundo tempo, e contribuiu para novo triunfo maiúsculo dos comandados de Abel Braga.
O ano de 2021 foi inaugurado com a manutenção de Praxedes entre os titulares, fato comprovado na escalação colorada que derrotou o Ceará, no Castelão, na quinta-feira sete de janeiro. A constância nos minutos dentro de campo, porém, contrastou com a grande novidade na carreira do jovem, vivenciada, já no Beira-Rio, três dias depois.
“Estamos numa sequência muito boa, mas temos que manter o pé no chão. Ainda tem muito pela frente.”
Bruno Praxedes após o jogo contra o Goiás
Sem Edenilson, Abel escalou o meio de campo colorado com Nonato e Bruno, mudança que exigiu protagonismo ainda maior do 45 dentro de campo. A principal resposta do carioca, que esteve diretamente envolvido em todas as construções do ataque do Inter, veio a minutos do intervalo, após escanteio açucarado de Rodinei, pela direita.
“Um momento que vai ficar marcado pra sempre na minha vida.”
Bruno Praxedes depois de marcar seu primeiro gol profissional
Na primeira trave, Praxedes subiu soberano e, do alto de seu 1,86m, cabeceou forte. Goleiro alviverde, Tadeu apenas tentou golpear com a vista, mas sequer acompanhou a velocidade que a bola tomou em direção às redes véu de noiva. Pela primeira vez como profissional, Bruno marcava um gol, e o fazia em palco que figura entre os maiores do futebol mundial.
O gol contra o Goiás pode ser definido como justo, por coroar toda a dedicação do atleta ao longo da temporada. Foi, também, merecido, à altura das qualidades que catapultaram o carioca até o estrelato colorado. Simbólica bola na rede, serviu de ponto alto à grande atuação de Bruno. Exatamente por isso, a comemoração foi efusiva, digna quem sabe o caminho a ser seguido para acumular sorrisos e alegrias em vermelho e branco. Pra cima, Praxedes!
De jovem promessa descoberta pelo Centro de Prospecção a titular do grupo profissional alvirrubro, Caio Vidal constrói início de carreira marcado por extrema dedicação com as cores do Clube do Povo. Obstinado a realizar sonhos seus e de sua família, o cearense da capital vive, desde que chegou ao Inter, em constante ascensão. Do Sub-20 aos Aspirantes, e consequente protagonismo no 2020 do Celeiro, o atacante fez por merecer a alegria do primeiro gol com a camisa vermelha. Conheça mais da jovem promessa colorada.
“Na minha infância eu vinha pro Estádio comemorar. Passei por dificuldade para chegar aqui e realizar o sonho da minha mãe.”
Caio Vidal
A decisão do Campeonato Pernambucano Sub-20 de 2018 reservou uma surpresa para o público. Gigante recifense, o Santa Cruz era o favorito da maior parte da crônica, que pouco considerava as chances do Porto de Caruaru. Apelidada de Gavião, a equipe, localizada no Agreste nordestino, buscava o Tetra na competição, sonho que virou realidade muito graças a Caio Vidal da Rocha. Decisivo, o cearense atacante, que construira caminhada destacada ao longo do torneio, marcou dois gols na vitória de 3 a 2 que garantiu o troféu para o interior do estado.
Foto: Willians Aguiar/Sport
Caio Vidal nos tempos de Porto-PE
Embalado o Gavião chegou à Copa São Paulo de 2019. Integrante do grupo 18, sediado em Jundiaí, o Porto duelou com Red Bull, Paulista e Vila Nova-GO por uma vaga na segunda fase. Novamente, Caio brilhou. Autor de três gols e uma assistência nas três rodadas do chaveamento, o camisa 9 ocupou papel fundamental na classificação da equipe pernambucana, que acabaria eliminada na estreia dos mata-matas pelo tradicional Corinthians.
Caio marcou dois gols na rodada de estreia da Copinha
Apesar da eliminação, o atacante já estava consolidado. Observador técnico do Centro de Análise e Prospecção de Atletas (CAPA), responsável por cobrir in loco as partidas de Jundiaí dentro da força-tarefa de olheiros do Inter na Copa São Paulo de 2019, Rodrigo Weber revela que o desempenho de Caio na fase de grupos foi suficiente para despertar o interesse colorado.
“No primeiro jogo ele arrebenta e a gente decide voltar pro segundo já com intenção de aprofundar. Ele repete boa atuação, e aí entra, de forma definitiva, na nossa lista de interesse. O relatório completo é bem amplo, mas, basicamente, três características chamaram nossa atenção no futebol do Caio. Primeiro, a personalidade, a coragem de ser o protagonista. Depois, a capacidade de vitória pessoal nas disputas de um contra um, saindo pros dois lados. Por fim, a agilidade para trocar de direção e girar com velocidade com a bola.”
Rodrigo Weber
Caio em ação na final do Gauchão Sub-20 de 2019/Foto: Mariana Capra, Internacional
Cobiçado por grandes do futebol brasileiro, Caio acertou, ainda no primeiro trimestre do ano, transferência para o Inter. No Clube do Povo, estreou em 6 de abril de 2019. Vindo do banco, participou de vitória por 3 a 1 sobre o Juventude em partida da terceira rodada do Gauchão Sub-20.
Titular a partir da semana seguinte, o jovem atacante marcaria seis gols na campanha campeã do Rio Grande. Dono de atuações consistentes também no Brasileirão da categoria, onde brilhou, por exemplo, em clássico Gre-Nal disputado no Estádio Passo D’Areia, Caio logo passou a ser relacionado para jogos do Inter B.
Caio e Praxedes durante Gre-Nal da categoria júnior/Foto: Mariana Capra, Internacional
“Eu acho que o papel do técnico de base é detectar os pontos fortes e fracos do indivíduo. Coincidentemente, o Caio chegou ao Inter na mesma época que eu retornei ao Clube. Então, é um atleta que a gente teve a oportunidade de trabalhar durante todo esse período. Por praticamente um ano, ele ficou em situação de indefinição em relação à comissão, jogando como atacante e jogador de lado.”
Fábio Matias, em entrevista para a Rádio Colorada em dezembro de 2020
Com o Sub-23, Caio foi importante para a conquista do Brasileirão de Aspirantes. Presente em seis confrontos do Nacional, brilhou na partida de ida das semis, quando marcou, aos 48 do segundo tempo, belíssimo gol de voleio que garantiu triunfo por 2 a 1 sobre o Bahia, fora de casa. Na decisão, contra o Grêmio, foi a campo, alçado do banco, nos dois clássicos.
Imagem: MyCujoo
“O trabalho do CAPA é de aportar ao diretor executivo e ao vice-presidente de Futebol o maior número de informações, para minimizar a margem de erro na contratação. Utilizamos muitos dados. O Inter, inclusive, tem uma ferramenta de análise de dados que nenhum outro clube do Brasil possui. Então, a captação é uma área importante, mas ainda mais é a humildade do próprio jogador em treinar e aprender, bem como o trabalho feito pela comissão da base. O Caio comprova.”
Rodrigo Weber
O sempre vibrante e dedicado Caio Vidal/Foto: Mariana Capra, Internacional
Como de costume no calendário das categorias de base do Brasil, a temporada de 2019 só chegou ao fim após a disputa da Copa São Paulo em janeiro de 2020. Dono da camisa 9 do Clube do Povo, Caio disputou todas as partidas do Penta colorado. Titular no comando de ataque, marcou dois gols na caminhada do título, e chamou a atenção por sua intensa movimentação na linha de frente. Distante da figura de um centroavante fixo, sabia escolher a hora de servir como pivô ou buscar as costas da marcação.
“O Caio evoluiu muito de um ano para o outro, mesmo com a pandemia. Pós-Copa São Paulo, analisamos que teríamos que, pela característica dele de um para um, de velocidade de ações, oportunizar ele pelo corredor lateral. É um cara muito corajoso naquele espaço do campo. Por ali, ele foi, no ataque, o principal jogador nosso dentro Brasileiro Sub-20”
Fábio Matias, em entrevista para a Rádio Colorada em dezembro de 2020
Caio no clássico que definiu a Copa SP de 2020/Foto: Ricardo Duarte, Internacional
Nova temporada, nova função. De centroavante, Caio virou, após a Copinha, ponta. Posição que define como sua preferida, por permitir que explore ao máximo os imparáveis arranques de um contra um, ofereceu ao jovem momento de inquestionável protagonismo no Celeiro de Ases. Na beirada do campo, disputou 14 partidas entre Brasileirão e Copa do Brasil juniores, e marcou cinco gols. Proeminente entre os mais jovens, foi chamado por Abel Braga aos profissionais.
Gol de Caio contra o Galvez-AC, Copa do Brasil Sub-20/Imagens: MyCujoo
“Eu lembro que estava na base e o Léozão, preparador de goleiros, me chamou dizendo que eu ia treinar no profissional. Peguei a van e fui. No primeiro treino, o Abel já me passou bastante confiança, chegou pra mim e disse ‘muleque, pega a bola e vai pra cima. Personalidade e coragem!’ Ele me chamou e disse que era a minha hora de brilhar. Só tenho a agradecer. O Abelão é sensacional”
Caio Vidal
Embora mágico, o dia 18 de novembro de 2020, data da estreia de Caio com a camisa colorada, não foi simples para a cria do Celeiro. Alçado a campo no minuto 23 da segunda etapa de partida contra o América-MG, válida pelas quartas de final da Copa do Brasil, o atacante tinha como missão dar maior verticalidade à equipe de Abel Braga.
Atuando pelo corredor direito, Caio sofreu incríveis cinco faltas nos breves minutos que disputou, ajudando na blitz ofensiva que resultou em gol de Yuri Alberto nos instantes finais. Igualado o 1 a 0 do confronto de ida, a decisão da vaga foi para os pênaltis, encerrados com triunfo do Coelho. Dolorido, o revés ofereceu como alento a boa atuação do mais novo atleta do grupo principal do Clube do Povo, à época com 20 anos recém-completados.
A titularidade chegou na partida seguinte, disputada quatro dias após o confronto em Belo Horizonte. Caio estreou no Brasileirão contra o Fluminense, e construiu nova atuação segura. Logo depois, porém, a sequência precisou ser interrompida, primeiro devido a indisposição estomacal, depois por covid-19, problemas que o tornaram desfalque em quatro partidas. O retorno aos gramados, como reserva, ocorreu em 12 de dezembro. Aos 13 minutos do segundo tempo, ele substituiu Marcos Guilherme e foi para cima do Botafogo.
“Pra mim, é um momento gratificante. A oportunidade que o Abelão está me dando, o grupo me abraçou bem… agradeço muito. Acho que estou vivendo um dos melhores momentos da minha vida. Na base eu estava me destacando muito bem, acredito que o Abel viu e chegou minha oportunidade, que agarrei com unhas e dentes. Não quero sair daqui. É daqui pra frente, quero manter titular e honrar muito essa camisa.”
Caio Vidal
De volta aos 11 iniciais, Caio incomodou a defesa do Palmeiras. Partida da 26ª rodada do Brasileirão, o duelo contra o Alviverde foi o primeiro disputado pelo Inter com Praxedes e Vidal entre os titulares. Jovens que conquistaram a confiança de Abel Braga, ajudaram a surpreender o adversário, que vivia grande fase. O primeiro gol colorado na partida, encerrada com vitória de 2 a 0, saiu, inclusive, de escanteio cavado pelo ponta-direita após belíssima diagonal feita na direção da meta paulista
“Achei que as características de Praxedes e Caio iriam dar um poder maior para o time jogar como eu vejo o futebol, como eu gosto. E, a cada jogo que passa, eles estão se soltando. O Caio é do drible, da força, da velocidade. Mas, vamos com o pé no chão. Sabemos que ele vai crescer com naturalidade.”
Abel Braga
Caio quase marcou contra o Bahia, na Fonte Nova
Na rodada seguinte, Caio foi um dos melhores atletas colorados na vitória de 2 a 1 sobre o Bahia, na Fonte Nova. Cada vez mais à vontade, por pouco não marcou, em belíssima jogada da direita para o centro, seu primeiro gol como profissional. Douglas, arqueiro rival, impediu o tento do jovem atacante, certamente com ajuda do destino, que preparava a melhor das surpresas para o número 47 do Clube do Povo.
“Há três, quatro anos, eu estava aqui no Castelão assistindo a um Ceará e Fortaleza com meu pai, que hoje está no Céu. Ele era Fortaleza doente, queria dedicar esse gol a ele também. Acho que lá de cima ele está bastante feliz. E dedicar a minha mãe, uma mulher guerreira que criou eu e meu irmão com bastante carinho e amor. Batalho todos os dias para dar o melhor pra ela. Não consegui ainda, mas vou.”
Caio Vidal
O primeiro tempo do duelo entre Inter e Ceará, disputado no Castelão e integrante da 28ª rodada nacional, exigiu muito da defesa colorada. Pressionado pelo time da casa, o Clube do Povo sabia que qualquer escape rápido seria fatal para conquistar os três pontos. Cirúrgico como de costume, Abel Braga sugeriu a Caio, no intervalo, que o jovem passasse a circular do corredor direito para dentro da defesa rival. O garoto atendeu ao conselho.
Aos sete minutos, Edenilson disparou em velocidade e percebeu Caio entre Samuel Xavier e Bruno Pacheco, laterais adversários. Com açúcar, o camisa oito serviu Vidal. Exibindo DNA entrosado ao Castelão, o camisa 47 esperou o momento certo para se projetar na área, antecipar à zaga, dominar para a canhota e arrematar. Com desvio, ela superou Richard e morreu nas redes do Vozão. Inter na frente!
O gol de Caio, contra o Ceará, na narração da Colorada
“Não tenho palavras. Marcar um gol com essa camisa colorada, na minha terra, na Arena Castelão, é sensacional. Queria agradecer a todos pelo apoio. Agradecer também a comissão do professor Abel e o grupo, que estão me abraçando. É um gol para o grupo, uma vitória para a nação colorada.”
Caio Vidal
A festa de Caio não terminou no palco de seu primeiro gol como profissional. Após brilhar dentro de campo e emocionar a todos fora dele, o atacante recebeu, na porta do hotel em que o Inter estava hospedado, o especial abraço de sua mãe, Dona Marinete. Recepcionado pela família, o atleta não conteve as lágrimas ao lado daqueles que lhe servem de principal motor na luta rumo ao estrelato do futebol brasileiro. Inesquecível, o sétimo dia de 2021 permitiu a Vidal realizar um de seus grandes sonhos.
Não é só futebol! Família de Caio Vidal recebe o garoto do Celeiro no hotel em Fortaleza e emociona a todos. #VamoInterpic.twitter.com/hVMisMeZRZ
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) January 8, 2021
“Pra mim foi muito gratificante encontrar minha família depois de uma noite maravilhosa. Não tem coisa melhor. Jogar na minha terra! Minha mãe estava muito feliz, emocionada. Estou realizando um sonho dela, mas tenho que conseguir realizar mais outros ainda, falta muito.”
Caio Vidal
Sexto atleta colorado que mais sofreu faltas no Brasileirão, com uma média de quatro por jogo, a maior do grupo, Caio sabe o caminho para seguir realizando sonhos e somando alegrias para a família Vidal. Decidido a comprar uma nova casa para sua mãe, determinado a fazer história com o Inter e consciente do árduo caminho que já trilhou até virar profissional, o atacante finalizou a mágica noite com dois recados. À Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, prometeu muito trabalho. Para Dona Marinete, reforçou o amor.
“Mãe, a gente vai vencer. Vamos conseguir juntos, como estivemos desde o começo.”
Cria do Celeiro de Ases, o meio-campista colorado Johnny, que estreou oficialmente com as cores da Seleção dos Estados Unidos na última quinta-feira (12/11), concedeu, nesta tarde (15/11), entrevista coletiva, direto da Áustria. Direto da concentração estadunidense, o atleta de 19 anos, nascido em Nova Jersey-EUA, comentou, em português, a alegria por vestir as cores do selecionado principal de seu país.
“Está sendo muito especial pra mim. Estou muito feliz, sempre sonhei com isso, não esperava que fosse tão rápido, mas sempre trabalhei para alcançar meus objetivos. É uma oportunidade única.”
Johnny
A íntegra da coletiva de Johhny. Créditos: U.S. Soccer/Veritone
Dono da camisa 30 do Clube do Povo, Johnny estreou oficialmente pelos profissionais do Inter no dia 15 de setembro do ano passado, em partida contra o Atlético-MG, válida pela 19ª rodada do Brasileirão. Figura que se tornou cada vez mais frequente entre os titulares colorados a partir da atual temporada, o meia chega à primeira convocação para o grupo principal dos EUA credenciado, também, pela consistente trajetória que construiu nas categorias de base do selecionado estadunidense. Até por isso, e apesar de ter crescido no Brasil, revelou se sentir muito à vontade vestindo as cores de seu país natal.
“Tudo começou com a vinda dos meus pais para os Estados Unidos. Nasci, mas nasci na época do atentado do 11 de Setembro. Então, pouco tempo depois eu retornei para o Brasil, com a minha família, que é aonde fui criado, mas sempre tive aquele gostinho americano. Sempre tive curiosidade de voltar, e ter essa oportunidade, pra mim, é incrível. Fico muito feliz, é a Seleção que está me dando visibilidade, então minha ideia é continuar aqui.”
Johnny, sobre sua caminhada até a Seleção dos EUA
Johnny já disputou 14 partidas pelo Clube do Povo
Paixão crescente nos Estados Unidos, o futebol tem revelado grandes craques no país. Atualmente, a Seleção conta com diversos jovens nomes que atuam no futebol europeu, estrelas de um grupo que tem a responsabilidade de estender a fama conquistada por ídolos nacionais como Landon Donovan, Clint Dempsey, Michael Bradley e Tim Howard. No que depender da admiração de Johnny, os companheiros estão no caminho certo para alçar grandes voos.
Foto: Site Seleção EUA
“Fui muito bem recebido por todos, tive bastante contato com todo mundo. Claro que tirei bastante ideia, até pra levar de aprendizado comigo. Dividir campo com pessoas como o Weston (McKennie), que joga na Juventus, o Dest, no Barcelona, o Reina, no Borussia… fico muito feliz. A maioria dos jogadores vivenciam, hoje, o futebol na Europa, então qualquer ideia trocada com eles vai ser um grande aprendizado pra mim, não só pessoal como técnico, tático. Fico muito feliz com esse retorno e, com certeza, eu vou voltar melhor.”
Johnny
O grande sonho de Johnny, comum a todos os selecionáveis, é disputar uma Copa do Mundo. Sede do Mundial de 1994, os Estados Unidos marcaram presença nas quatro edições que sucederam o torneio marcado pelo Tetra do Brasil. Ausentes na Rússia, em 2018, os estadunidenses sonham com um retorno de grande estilo para 2022, quando o Catar sediará o maior evento esportivo do planeta.
“Eu sempre sonho, (a Copa do Mundo de 2022) é uma oportunidade que eu posso ter na minha vida, com toda a certeza vou trabalhar muito pra isso, mas, pra acontecer, eu tenho que desenvolver o meu bom futebol dentro do meu clube, que é o Inter. Vou treinar pra isso e pra ter essa oportunidade. A Seleção vem montando uma base muito nova, com uma média de idade de 22 anos, então acredito que, daqui um tempo, a gente vai brigar pelo título.”
Johnny comenta o que espera do futuro da Seleção dos EUA
Atuação de Johnny contra o Palmeiras, no Brasileirão deste ano, rendeu muitos elogios ao jovem
Exibindo felicidade superior, inclusive, à vergonha de um estreante que precisou passar pelo tradicional trote na concentração, Johnny debutou em amistoso disputado pelos Estados Unidos contra o País de Gales. Realizado no Liberty Stadium, casa do Swansea City, o confronto foi encerrado sem gols. Vestindo o número 16, o atleta colorado entrou em campo aos 26 minutos do segundo tempo, quando substituiu Tyler Adams, jogador do alemão RB Leipzig. A empreitada internacional, contudo, não impede que o meia siga acompanhando, à distância, o dia a dia do Clube do Povo.
“Estou acompanhando o Inter. A gente vem brigando por três campeonatos, que são difíceis, e o Abel vem com uma responsabilidade grande, mas, maior do que a responsabilidade, é ele, um técnico muito vitorioso e experiente, que vem para agregar junto com a gente. Eu vou continuar com o meu trabalho, forte, vou procurar dar o meu melhor e, quando voltar, voltar com a cabeça focada no Inter para ajudar a equipe da melhor forma.”
Johnny
Na próxima segunda-feira (16/11), Johnny terá nova oportunidade para defender as cores de seu país natal. Em território austríaco, os Estados Unidos disputam novo amistoso, agora contra o Panamá. A partida acontece a partir das 16h45 de Brasília. Boa sorte, guri!
Nilmar Honorato da Silva é um gigante na história alvirrubra. Nascido em 1984 no paranaense município de Bandeirantes, chegou ao Inter ainda garoto, acreditando, como muitos em nosso país, no sonho da profissionalização no futebol. Hoje (14/07), data em que celebra 36 anos de vida, o craque certamente pode se orgulhar da carreira que construiu por gramados Brasil afora. No Clube do Povo, foi soberbo, e marcou gerações de colorados e coloradas. Confira especial da Rádio Colorada sobre o ídolo e relembre, abaixo, sua trajetória no Beira-Rio:
Honrar posto já ocupado por gigantes como Flávio Minuano, Claudiomiro e Escurinho não é tarefa simples. Nilmar fez parecer. De cria do Celeiro à figura incontestável na lista de maiores atletas da história colorada, o atacante construiu linda biografia com a camisa vermelha. Revelado em 2003 por um Inter que se transformava, tinha a responsabilidade de, junto a seus companheiros, não somente fazer a torcida esquecer do panorama negativo deixado pela temporada predecessora, como também reconduzir o Clube do Povo ao caminho das grandes conquistas.
Após flertar com o descenso até as últimas rodadas do Brasileirão de 2002, o Inter, sob o comando de Muricy Ramalho, abriu o novo ano apostando no sempre fértil Celeiro de Ases como espinha de uma nova geração. Os gêmeos Diego e Diogo representavam a maior esperança do Clube do Povo, mas não eram as únicas promessas alvirrubras. Na linha de frente, o jovem Nilmar, de 18 anos, também alimentava o sonho de novos dias vencedores no horizonte do colorado, bem como Daniel Carvalho, já frequente entre os titulares desde a temporada anterior.
A história de Nilmar com a camisa vermelha foi oficialmente inaugurada no dia 15 de março. Nesta data, o Inter recebeu o Juventude em partida que encerrou a primeira fase do Gauchão. Titular, o jovem atacante sofreu um pênalti e criou jogada que originou outro, assim desempenhando papel fundamental no triunfo parcial do Clube do Povo, por 3 a 0, conquistado antes mesmo do intervalo. Na segunda etapa, os visitantes até buscaram a igualdade, resultado que, embora lamentado, em nada afetou a classificação alvirrubra para a fase final, feito que garantiu três meses de descanso no Estadual.
A boa exibição diante do Papo ajudou o atleta a ganhar importantes pontos com Muricy Ramalho. Após atuar em confrontos da Copa do Brasil, o atacante fez sua estreia no Brasileirão em duelo contra o Bahia, válido pela terceira rodada do Nacional. O Inter já vencia por 1 a 0 quando, aos 31 minutos da etapa final, Diego arrancou pela ponta direita e cruzou rasteiro para Nilmar, que acabara de entrar, marcar, em sua quarta partida com a camisa colorada, o primeiro gol como profissional. A jovem promessa precisou de apenas mais três jornadas para voltar a balançar as redes, desta vez contra o Vitória, em Salvador. Alçado a campo na segunda etapa, foi o grande nome do jogo, anotando dois dos três tentos alvirrubros no triunfo por 3 a 0 sobre os baianos.
Imagens: Rede Globo
Muito graças ao Celeiro de Ases, o Clube do Povo encerrou o mês de abril vivendo o seu melhor momento nos últimos anos. Entre as promessas que brilhavam, obviamente, estava Nilmar. Habituado a ouvir seu nome gritado pela torcida em todos os jogos do Colorado no Beira-Rio, no dia 18 de maio, contra o Athletico-PR, o jovem fez sua segunda partida como titular alvirrubro. Destaque do confronto, marcou gol no injusto empate de 1 a 1, resultado que em nada transpareceu a supremacia vermelha nas ações do jogo.
Nimar galgou posições na hierarquia do grupo alvirrubro em ritmo comparável apenas ao de suas meteóricas arrancadas. Em junho, já era titular absoluto do time de Muricy, a ponto de disputar – com notoriedade – seu primeiro Gre-Nal, válido pelo Brasileirão e encerrado sem gols. Exatos três dias após o clássico, o atacante produziu, contra o São Gabriel, em duelo de volta das semifinais estaduais, verdadeira obra de arte. O placar de 2 a 0 para o Colorado não parecia satisfazer o inquieto paranaense, que, logo no reinício da partida, invadiu a área adversária pela esquerda, driblou dois marcadores e tocou por cima do goleiro, de cobertura, fazendo delirar a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Vitorioso por 4 a 1, o Clube do Povo avançou para a decisão gaúcha, realizada diante do XV de Novembro e iniciada, em Campo Bom, com novo triunfo vermelho, agora por 2 a 0, também marcado por pintura da cria do Celeiro, agora de letra.
A grande fase individual de Nilmar foi recompensada com convocação para a Seleção Brasileira Sub-23 que disputaria, entre os dias 12 e 27 de julho, a Copa Ouro, no México. Antes de se apresentar à esquadra nacional, o jovem conquistou, no terceiro dia do sétimo mês do ano, o Gauchão, segundo consecutivo do Inter, sua primeira taça como profissional e a última comemorada pela saudosa Coreia do Beira-Rio. Com a Canarinho, foi vice-campeão do torneio realizado em território norte-americano, e desfalcou o Clube do Povo ao longo de seis rodadas. No retorno, marcou, contra o São Paulo, no Morumbi, mais um golaço, o seu sétimo na temporada, logo sucedido, na jornada seguinte, por tento marcado sobre o Coritiba.
O elenco campeão gaúcho de 2003. Nilmar é o terceiro da esquerda para a direita
Cada vez mais entrosado com Daniel Carvalho e Diego, Nilmar marcaria, ainda em agosto, seu nono gol pelo Inter. A vítima? O Bahia, exatamente o time que sofrera, no primeiro turno, o tento de número um da carreira do paranaense. Em setembro, como reflexo das artilheiras atuações que vinha construindo ao lado dos companheiros de juventude, a promessa colorada ocupava a sétima colocação na corrida pela Bola de Ouro, tradicional ranking da Revista Placar. Entre os atacantes, o paranaense era o quarto melhor do Brasileirão, e Daniel, seu companheiro, o oitavo.
Imagens: Rede Globo
Não foram só notícias positivas, todavia, que formaram o nono mês do ano para Nilmar, que sofreu delicada injúria no joelho. Inicialmente, o atleta foi preservado de três partidas, voltando aos gramados no dia 4 de outubro, data de empate do Clube do Povo com o Paysandu. Cinco dias depois, contra o Criciúma, o atacante esbanjou oportunismo para, pegando rebote de cabeceio de Jéfferson Feijão na trave, emendar rápido carrinho em direção às redes. O que poderia significar um regresso avassalador, contudo, precisou ser interrompido, uma vez mais, por conta da lesão. O retorno definitivo ocorreu apenas no mês de novembro, em duelo diante do Atlético-MG, fora de casa.
Enfrentando adversário direto na luta por vaga na Libertadores, o Clube do Povo sabia da importância da vitória, e chegou a ela através de Nimar. Como se os 28 dias em que ficara afastado dos gramados fossem revertidos em fome de gols, o atacante deu show no Estádio Independência, abrindo o placar aos cinco minutos de jogo. Aos 14, o artilheiro acertou linda cabeçada para voltar a balançar as redes. Protagonista no triunfo alvirrubro por 2 a 1, foi convocado para a disputa do Mundial Sub-20, que seria realizado, entre os dias 27 de novembro e 19 de dezembro, nos Emirados Árabes. A situação muito desagradou ao Inter, que perderia o atleta, junto de Daniel Carvalho, também chamado, nas três rodadas finais do Brasileirão.
Imagens: Rede Globo
O Clube do Povo bem que tentou, recorrendo à CBF, mas não teve seus anseios atendidos. Sem Nilmar e Daniel, somou quatro pontos nos últimos nove, e terminou o Brasileiro na sexta colocação, a um ponto do Coritiba, quinto, primeiro classificado para a Libertadores. O sonho de retornar à elite continental e finalizar hiato iniciado no ano de 1993, portanto, era adiado. Ao mesmo tempo, a vaga na Sul-Americana servia de grande consolação, capaz de alimentar os sonhos colorados de brilho em terriório latino.
‘Triturante’ homem Gre-Nal
Marcados por intensa dedicação ao Brasil, os meses último de 2003 e primeiro de 2004 não permitiram descanso para Nilmar. O atacante, primeiro, conquistou o Mundial de juniores, competição na qual anotou três gols e foi um dos destaques. Logo depois, integrou a delegação Sub-23 que disputou o Pré-Olímpico. Em compensação à exaustante maratona de jogos, o jovem recebeu, junto de Daniel Carvalho, seu companheiro nas empreitadas selecionáveis, tempo especial de folga concedido por Lori Sandri, novo comandante alvirrubro.
Já desacompanhado de Daniel, vendido para o futebol russo, Nilmar se reapresentou em 4 de fevereiro. Cinco dias depois, estreou, como titular, na temporada colorada – e o fez em grande estilo. No Beira-Rio, o atacante marcou os dois gols do Inter no empate com o Santa Cruz, chegando a 14 com a camisa do Clube do Povo. Passada menos de uma semana, voltou a campo para participar, ativamente, de empate por 1 a 1 com o Grêmio, no Gigante. O clássico serviu de estreia para Oséas, centroavante que, ao longo do primeiro semestre de 2004, consolidaria-se como dupla ofensiva da jovem promessa alvirrubra.
Houve quem acreditasse que o Inter seria triturado no Gre-Nal 358, disputado em 7 de março de 2004. Integrante do segundo turno do Gauchão, o clássico esteve marcado, ao longo de toda a semana que lhe serviu de véspera, por relativa arrogância de parte do lado azul, que cantou vitória, por dias, aos quatro cantos. Dentro de campo, porém, o roteiro foi bastante diferente daquele esperado pelos mandantes.
Após Elder Granja abrir o placar na etapa inicial, aos oito do segundo tempo Wellington escapou em grande arrancada pelo meio e lançou Nilmar, nas costas do marcação. Endiabrado como de costume, recebendo bola na medida para aprontar das suas, o jovem velocista, de frente para o gol, dominou de esquerda e, com a direita, tocou na saída do arqueiro. O Inter marcava o segundo, garantindo vitória até diminuída no escore por Christian, mas nem por isso menos comemorada pelos cerca de oito mil colorados e coloradas presentes no campo da Azenha. Com os três pontos, o Clube do Povo praticamente garantia a liderança da Chave B.
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Nilmar também brilhou na segunda fase da Copa do Brasil, marcando os dois gols colorados na vitória por 2 a 0 sobre o Prudentópolis, triunfo suficiente para classificar o Clube do Povo sem a necessidade do jogo de volta. Protagonista, voltou a fazer o Grêmio de vítima no dia 4 de abril, data em que o Inter completou 95 anos de história.
Válido pela decisão da primeira fase do Gauchão, o Gre-Nal 359 foi disputado em Bento Gonçalves, no Estádio Montanha dos Vinhedos, e teve seu placar inaugurado aos 18 do primeiro tempo por Luciano Ratinho, atleta gremista. Persistente, o Inter não se deixou abalar, empatando, 11 minutos depois, com Edinho, em bonito cabeceio. Inalterado ao longo de toda a etapa final, o escore igualado exigiu a disputa da prorrogação.
Com Sobis na vaga de Oséas, o Inter mostrou o porquê de Paulo Paixão, seu preparador físico, ser um dos melhores que já desempenharam a função na história do futebol brasileiro. Voando em campo, ao ritmo da jovem dupla de ataque, o Clube do Povo amassou o rival, que nada pôde fazer quando, aos 22 do tempo extra, Nilmar, em cabeceio milimétrico, venceu Tavarelli. A taça era nossa, assim como a vaga na fase final do Estadual!
Nilmaravilha
Ainda sofrendo para digerir injusto revés sofrido diante do Figueirense, fora de casa, na abertura do Brasileirão, o Inter recebeu, no dia 25 de abril, o Palmeiras, em partida da segunda rodada do Nacional. Na raça, Nilmar marcou, aos 37 da etapa inicial, o único gol da ensolarada tarde gaúcha. Para tanto, o insistente atacante precisou interceptar a saída de jogo do goleiro Marcos e dividir com o arqueiro do Penta antes de mandar às redes. Os três pontos eram alvirrubros!
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Nilmar seguiu voando nas rodadas seguintes, cavando pênalti na terceira, contra o Coritiba, e servindo assistência milimétrica para Granja, na quarta, diante do Paysandu. Com os arranques do atacante, o Inter chegou a sete pontos somados em 12 disputados, confirmando o bom início de Brasileirão. No confronto com os paraenses, entretanto, o avante sofreu grave lesão muscular, injúria responsável por retirar a promessa dos gramados por um mês. Em seu retorno, no dia 2 de junho, o Clube do Povo garantiu vaga na decisão estadual após superar, nos pênaltis, o Glória, em duelo realizado no Beira-Rio.
Os patrões do Rio Grande em 2004. Cabeludo, Nilmar está agachado no centro
Junho, dia 6. Sediado em Canoas, o Complexo Esportivo da Ulbra recebeu a finalíssima do Gauchão. Contra os donos da casa, o Inter sofreu para impor seu estilo de jogo, especialmente nos primeiros movimentos. Ao mesmo tempo, a equipe da região metropolitana levava bastante perigo, especialmente em bolas aéreas. Exatamente de um cruzamento, Alex Martins, aos 20, marcou o primeiro gol do jogo, suscitando dúvidas na torcida alvirrubra, mas que pouco duraram.
Recém-chegado ao Clube do Povo, Alex deu uma das primeiras mostras do poderio de sua perna canhota aos 30, quando cobrou falta na cabeça de Oséas. Soberano, o centroavante escorou para a confusão, onde Edinho, avassalador, surgiu fuzilando para as redes. O empate permaneceu até o segundo tempo, marcado por expulsão precoce de Alexandre Lopes, que deixou o Inter com um a menos. Felizmente, Nilmar, um craque já afirmando, mostrou-se capaz de jogar por dois.
Aos 15 minutos, Bolívar costurou da direita para o centro e lançou o atacante em profundidade. Genial, o camisa 11 deixou a bola passar entre suas pernas para então fazer o giro e correr em direção à redonda, que atingiu, antes de goleiro ou zagueiro, já na altura da pequena área. Preciso, com a canhota deu toque sutil para encobrir o arqueiro Rafael e virar o jogo. Inter 2 a 1. Inter, tricampeão estadual, dono do Rio Grande pela 36ª vez em sua história. Nilmar? Escolhido o melhor atacante do campeonato!
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Embalado pela coroa gaúcha, Inter esteve sublime na rodada seguinte do Brasileirão. Azar do Galo, que não teve chance diante da exuberante atuação alvirrubra no Beira-Rio. Depois de descer para os vestiários com o placar igualado em 1 a 1, o Colorado desempatou, logo aos 4, com Nilmar, que ganhou na velocidade de Luiz Alberto, driblou o goleiro Eduardo e mandou rasteiro para a cidadela mineira.
Golaço, foi respondido pela torcida com os gritos de “Uh! Terror! O Nilmar é matador!”. O segundo do atacante no jogo, terceiro do Clube do Povo, veio aos 31. Também belíssimo, o tento serviu de antítese perfeita ao anterior, posto que, no lugar do jeito, a promessa usou da força para, da entrada da área, mandar arremate indefensável e garantir a vitória, que ainda foi encerrada, nos acréscimos, por Gavilán.
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A breve parceria com o Capitão
Nilmar voltou a sofrer grave lesão após o show diante do Atlético-MG, desfalcando o Inter em sete rodadas do Brasileirão. Voltou à ativa somente no dia 20 de julho, em duelo contra o Corinthians, no Pacaembu. Encerrado com o placar em branco, o confronto teve como grande destaque a composição do ataque colorado, também formado por Fernandão, recém-chegado e já credenciado pelo Gol Mil, e Sobis, cada vez mais afirmado.
O técnico alvirrubro, diga-se, também era outro: no lugar de Lori, Joel Santana. Na volta de Nilmar ao Beira-Rio, a assistência do atacante para Danilo acabou ofuscada por infeliz revés diante do Juventude, vencedor por 2 a 1. O reencontro com as redes, em compensação, foi muito festejado. Aos 42 da etapa final, o atacante completou, de cabeça, cruzamento de Gavilán, virando para o Inter sobre o Paraná e encerrando um jejum de seis partidas sem vitória.
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O gol marcou, em definitivo, o início de nova fase iluminada na carreira do artilheiro. Primeiro, no dia 13 de agosto de 2004, Nilmar foi convocado para a Seleção Brasileira que disputaria, em Porto Príncipe, amistoso contra o Haiti, naquele que ficou conhecido como o ‘Jogo da Paz’, responsável por catapultar forte campanha desarmamentista em país que se encontrava mergulhado em grave crise política.
Já com a camisa colorada, o bom momento foi comprovado em partida contra o Figueirense, realizada no Beira-Rio. Imparável, Nilmar participou do tento de Fernandão, segundo da jornada, e ainda marcou dois na vitória por 4 a 0 sobre os catarinenses – o último de letra. Verdadeira obra de arte, a pintura correspondeu à 25ª bola na rede do artilheiro pelo Inter, e serviu de carimbo perfeito no passaporte do atacante que, do Gigante, partiu direto para a concentração da Seleção. Com o Brasil, inclusive, o craque também anotaria gol, o sexto no festivo triunfo sobre os caribenhos.
Desfalque na jornada de meio de semana válida pelo Brasileirão, Nilmar retornou para Porto Alegre em tempo de defender o Inter, contra o Coritiba, em confronto da terceira rodada do returno nacional. Na ocasião, formou dupla de ataque com Fernandão, e assistiu, de posição privilegiada, à bicicleta inesquecível do camisa 9, que abriu o placar no empate de 1 a 1. Breves 72 horas depois, o craque voltou a campo para, com o Clube do Povo, estrear na Sul-Americana.
Modorrenta, a igualdade sem gols com o Figueirense, em Florianópolis, serviu de injusto ponto final à empolgante e avassaladora primeira passagem de Nilmar pelo Inter, oficialmente terminada no dia 28 de agosto, quando o Clube do Povo oficializou a venda do atacante para o Lyon-FRA. De coração partido, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande se despediu do craque entristecida, é claro, mas também convicta de que aquele não era um adeus, e sim até logo. Em breve, todos sabiam, o gramado do Beira-Rio reencontraria um de seus mais letais avantes. Nosso tapete, era fato, não aguentaria muito tempo longe de um dos maiores nomes nele escrito.
O retorno
Poucos atletas simbolizam o crescimento vivenciado pelo Inter na primeira década do século XXI com precisão comparável a Nilmar. Personificação ideal do gigantismo colorado, o atacante possui trajetória com a camisa alvirrubra que se confunde à história que trilhamos rumo ao topo. Curiosamente, exibe este posto mesmo sem ter participado das principais conquistas do Clube do Povo nos anos passados. Pelo menos, dentro de campo. Afinal, torcedor que é, jamais esteve completamente afastado do Beira-Rio.
“Comecei com 18 anos aqui.
Agora estou de volta, mais maduro
e consciente de que é preciso
dar ao máximo cada dia.
Me sinto em casa.”
NILMAR, NO RETORNO AO INTER
Na exata temporada em que Nilmar foi negociado, o Inter voltou a frequentar a elite do futebol latino, brilhando na Sul-Americana. Simultaneamente, o atacante dava seus primeiros passos por campos europeus, sempre na luta por vaga na Seleção Brasileira. Três anos depois, o craque retornou para sua casa, sediada no mesmo número 891 da Padre Cacique, mas completamente revolucionada em sua estrutura interna, agora campeã de América e Mundial. Boa parte das mudanças, inclusive, consequência do valor arrecadado pelo Clube com a negociação do atacante. Também ele, diga-se, era outro. Antes revelado como parte de geração promissora, agora desembarcava em Porto Alegre com o status de estrela, responsável por formar, junto de Fernandão e Iarley, uma nova linha de frente multicampeã com o Alvirrubro.
Nilmar foi oficialmente apresentado como reforço colorado no dia 17 de setembro de 2007. Encarando o estágio final de recuperação de cirurgia no joelho, o atacante sabia que, embora a velocidade fosse sua principal característica, desta vez era a cautela sua melhor aliada. Com ela, em menos de 30 dias realizou seu primeiro treino com bola e, na abertura de novembro, mês seguinte, estava relacionado para uma partida. Diante do Vasco faria, no dia 4, sua reestreia.
E que atuação! Todos acreditavam que a reestreia aconteceria apenas no segundo tempo, menos Abel. O comandante colorado, que escalou o Inter no 3-5-2, com Nilmar e Iarley formando dupla ofensiva municiada por Fernandão, teve sua ousadia recompensada cedo. Logo aos 7, o novo reforço alvirrubro superou a marcação com linda finta de corpo e, cara a cara com o goleiro, tentou por cobertura, por cima. Aos 14, o atacante desarmou o zagueiro adversário na entrada da área e driblou o arqueiro, mas, por detalhe, chegou atrasado para a finalização. Um minuto depois, decidiu ser garçom, e serviu assistência açucarada para Fernandão abrir o placar.
“O talento do Nilmar é incrível.
Ele é fora de série.
Com o que joga, merece Seleção”
FERNANDÃO, APÓS PARTIDA CONTRA O VASCO
Nilmar seguiu jogando em alto nível, apesar da forte chuva que caía em São Januário, até os 15 minutos da etapa final, quando foi sacado para a entrada de Roger. Do banco, viu seu substituto cavar pênalti convertido pelo Eterno Capitão, gol que garantiu importante triunfo. Empolgante, a atuação do craque foi escolhida pela torcida como a melhor da vitória colorada. Animadas, quase 30 mil pessoas encheram as arquibancadas do Beira-Rio para prestigiar o retorno oficial da cria ao Gigante, ocorrido em duelo contra o Cruzeiro.
“Está passando um filme na minha cabeça. Toda vez que vou treinar, olho para a concentração onde morei aqui no Beira-Rio. Aprendi a valorizar muito este clube. Vai ser um jogo especial para mim!”
Nilmar sobre a reestreia no Gigante
Dentro de campo, Nilmar atuou durante toda a primeira etapa, causando estresse à defesa mineira. Sacado no intervalo, comemorou, do banco de reservas, o gol de Alex, único da partida, marcado nos acréscimos do confronto. A aparição contra o Cruzeiro, inclusive, foi a última do atacante na temporada, uma vez que, com incômodo no ombro, o camisa 7 não participou das duas últimas partidas do Clube do Povo no ano, de modo a garantir que, no retorno aos trabalhos, previsto ainda para o mês de dezembro, consequência da disputa da Dubai Cup, estivesse em suas melhores condições.
Os atletas colorados se reapresentaram para a pré-temporada em 26 de dezembro. Uma semana depois, no dia 2 de janeiro, ocorreu o desembarque nos Emirados Árabes. A estreia na Dubai Cup, por sua vez, aconteceu no dia 5, diante dos alemães do Stuttgart. Válido pela semifinal, o confronto de alvirrubros foi encerrado com triunfo do Clube do Povo, placar de 1 a 0, gol de Alex. Titular, Nilmar formou, com Fernandão, a dupla de ataque do Inter, sustentada por um losango no meio de campo, de Maycon no vértice mais baixo, Magrão, na direita, Guiñazú, pela esquerda, e Alex, no topo.
Depois de enfrentar um irmão de cores na semifinal, o Clube do Povo lutou pela taça, no dia 7 de janeiro, contra seu xará italiano. Para o duelo, Abel Braga repetiu quase todo o time que superara o Stuttgart, à exceção de Índio. Lesionado, o xerife goleador deu lugar a Sidnei, que formou a defesa com Wellington Monteiro, na direita, Orozco, zagueiro, e Marcão, lateral-esquerdo, além do goleiro Renan.
Matador como sempre, Fernandão inaugurou o placar logo a um minuto, acertando lindo voleio de fora da área. Aos 40, os italianos da Internazionale empataram com Jimenez, após assistência de Ibrahimovic. Fazia-se necessário, portanto, vazar novamente o catenaccio milanês, lacrado por nomes como Júlio César, Maicon, Materazzi, Iván Córdoba, Burdisso e Javier Zanetti. Felizmente, o Inter também contava com grandes estrelas.
Nilmar, uma das principais, fez questão de deixar isso claro aos 19 minutos da etapa final, quando Marcão escorou de cabeça para a área, na medida para o camisa 7 emendar bicicleta cinematográfica direto para as redes rivais. Pintura, 26ª marcada pelo atacante com a camisa alvirrubra, foi a primeira depois de seu retorno e garantiu o título colorado, por isso sendo comemorada com lágrimas.
De volta ao Rio Grande do Sul, o Inter disputou a primeira rodada do Gauchão no dia 20 de janeiro. Após conquistar o Tetra entre os anos de 2002 e 2005, o Clube do Povo desejava encerrar o jejum de dois anos sem levantar a taça estadual. Para tanto, visitou o Inter-SM com o que tinha de melhor, formação que garantiu importante igualdade de dois gols para cada lado. Já o retorno para Beira-Rio, ocorreu no dia 24.
Contra o Veranópolis, vitória por 2 a 0, e Nilmar, garçom de Iarley no primeiro gol, escolhido o melhor em campo. Três dias depois, no Passo d’Areia, a goleada de 4 a 1 confirmou o grande início de temporada colorado. Infelizmente, no entanto, o confronto contra o São José-POA esteve marcado, também, por lesão muscular do jovem atacante, que se tornou desfalque para os meses de fevereiro e março.
Recuperação compressora
Nilmar voltou aos gramados em 5 de abril, dia seguinte ao aniversário de 99 anos do Clube do Povo. Contra a Ulbra, entrou no segundo tempo do confronto de volta das quartas estaduais e precisou de somente quatro minutos para, em uma de suas muitas arrancadas, ser derrubado dentro da área. Pênalti assinalado e, por detalhe, desperdiçado por Fernandão. A oportunidade não fez falta para o Colorado, que avançou com vitória por 3 a 2, agregado de 7 a 3.
Empolgante, o retorno deu para Abel a confiança necessária para escalar o atacante como titular. Assim ocorreu nos dois confrontos semifinais contra o Caxias, finalizados com classificação alvirrubra, e também nos duelos das oitavas da Copa do Brasil, diante do Paraná. Encarando o Tricolor da Vila, o camisa 7 cavou novo pênalti, este convertido por Fernandão, que garantiu o 5 a 1 para o Clube do Povo.
Na decisão gaúcha, frente ao Juventude, o atleta formou dupla de ataque com Fernandão, municiada, no confronto de volta, disputado no Beira-Rio, por Alex, que vivia grande fase. Com o trio atuando junto, o Clube do Povo superou o Papo por 8 a 1, e Nilmar, além de servir assistência para o Eterno Capitão anotar o segundo, marcou o sexto. A taça foi a terceira do camisa 7 com o Clube do Povo, que também passava a somar 27 bolas na rede com a camisa colorada.
Segundo semestre goleador
A empolgação colorada com o título estadual durou pouco. Na contramão da arrasadora goleada sobre os caxienses, as partidas seguintes foram frustrantes para a torcida alvirrubra. Na Copa do Brasil, o Inter foi eliminado para o Sport, enquanto, no Brasileirão, três rodadas sem vitória custaram a permanência de Abel Braga. Apesar do cenário conturbado, porém, Nilmar seguiu como uma das melhores notícias dos meses de maio e junho do Clube do Povo, marcando dois gols, contra Flamengo e Portuguesa, e servindo uma assistência nas cinco primeiras jornadas do Nacional.
Se a fase individual de Nilmar já era boa, a partir da chegada de Tite o coletivo também cresceu. Com problemas musculares, o atacante não foi a campo na estreia do novo comandante, ocorrida, com vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo, no dia 14 de junho de 2008, marcante data em que Fernandão se despediu do Inter. Na rodada seguinte, consciente da cobrança ainda maior por ocupar papel de protagonista no elenco colorado, o artilheiro, novo dono da camisa 9, retornou aos gramados marcando o gol alvirrubro em injusto revés para o Vitória, na Bahia. Uma semana depois, no Olímpico, teve participação direta no tento de Índio, o único do Clube do Povo no empate contra o maior rival.
Coroando o momento garçom, Nilmar também brilhou nas duas primeiras partidas do mês de julho. Contra o Coritiba, sofreu pênalti que Alex converteu – o camisa 10 fez os três gols do Clube do Povo no jogo. Já diante do Goiás, também no Gigante, o camisa 9 serviu Adriano, autor do único tento da invernal noite gaúcha. O reencontro com as redes aconteceu na 12ª rodada, quando o Inter superou o Atlético-MG, por 1 a 0, no Beira-Rio, que esteve tomado por 27 mil pessoas. O gol, de cabeça, saiu logo aos 6 da etapa inicial, após excelente cruzamento de Marcão. Na jornada seguinte, frente ao Náutico, o atacante liderou um Inter desfalcado, repleto de jovens, incluindo Walter e Taison, futuros campeões da América, e marcou o de empate no Recife.
A iluminada sequência de Nilmar atingiu ponto alto na noite do dia 23 de julho. Diante de um Beira-Rio lotado por mais de 40 mil pessoas, o centroavante balançou as redes do São Paulo em duas ocasiões na vitória colorada por 2 a 0. Com os gols, isolou-se ainda mais na artilharia alvirrubra na competição, chegando a sete no torneio. Pelo Clube do Povo, já eram 34.
O início de agosto também foi especial para o ídolo colorado. Logo no segundo dia do mês, o atacante encerrou sequência de duas derrotas consecutivas ao marcar dois contra o Fluminense, no Maracanã, e garantir a primeira vitória do Inter como visitante no Brasileirão. Duas rodadas depois, o camisa 9 reencontrou as redes para anotar o de empate contra o Figueirense, no Beira-Rio. Singular, o confronto diante dos catarinenses marcou a reestreia de Daniel Carvalho e Bolívar com o manto alvirrubro. Ex-companheiros de Nilmar, retornavam para garantir um segundo semestre de resultados ainda melhores ao Clube do Povo. A grande cereja do bolo, contudo, veio do exterior. Após desembarcar em Porto Alegre no dia 30 de julho, Andrés Nicolás D’Alessandro estrearia na rodada inaugural da Sul-Americana, marcada por clássico Gre-Nal no Gigante. Uma geração inesquecível, aos poucos, começava a ser montada.
É bem verdade que, com desconforto na panturrilha, Nilmar não foi a campo na estreia de D’Ale pelo Inter. A primeira partida dos dois juntos, inclusive, ficou marcada por dolorida derrota para o Vasco, no Rio de Janeiro. Até por isso, a expectativa da torcida era grande para o duelo entre Inter e Palmeiras, que ocorreria, no Beira-Rio, no dia 20 de agosto. Dentro de campo, o camisa 9 entraria em campo pela 100ª vez com o manto colorado. Somando 37 gols em duas passagens, o ídolo lutava, com seus 10 tentos, pela artilharia do Brasileirão, estando a quatro de Kléber Pereira, o goleador de então.
“Vem um filme na cabeça, lembrar que a carreira começou aqui, onde fiz meus primeiros jogos como profissional. Apesar de jovem, hoje já tenho um certo nome no futebol, sou reconhecido graças, ao Internacional. Devo muito a esse Clube. Não poderia ser outro melhor para ter a oportunidade de comemorar 100 jogos. Espero que eu possa jogar muitos mais pelo Inter!
Índio, Bolívar e Marcão na zaga. Magrão, Guiñazú e D’Alessandro no meio. Alex e Nilmar na frente. Debaixo de fina chuva, uma formação de altíssimo quilate foi a campo no Beira-Rio e patrolou o adversário paulista. A vitória colorada por 4 a 1 contou com participação do camisa 9, que tabelou com Alex antes deste marcar, em um foguete, o segundo vermelho, e sofreu falta que originou o terceiro alvirrubro, de autoria de Índio. O 11º gol do ídolo no Brasileirão saiu quatro dias depois, também no Gigante. Prejudicado pela arbitragem, o Clube do Povo jogou melhor, mas não saiu do 1 a 1 com o Flamengo.
De volta à Sul-Americana, no dia 28 de agosto o Olímpico virou Beira-Rio, com o Inter avançando às oitavas após empate de 2 a 2. Nilmar, depois de driblar diversos marcadores, abriu o placar no antigo estádio gremista. Em justo reconhecimento ao grande ano do atacante, 24 horas mais tarde ele seria convocado para a Seleção Brasileira do técnico Dunga.
Imagens: Rede Globo
Sem seus camisas 9 e 15, entregues às respectivas seleções de Brasil e Argentina, o Inter superou, no Beira-Rio, a Portuguesa, placar de 1 a 0. Quando Nilmar e D’Ale retornaram, o técnico Tite já havia promovido alteração importante no esquema colorado. No lugar do 3-5-2, o Clube do Povo vinha atuando com duas linhas de 4, estruturado em um losango, exata formação que enfrentou, no Rio de Janeiro, o Botafogo.
Como ocorrera ainda em janeiro sob o comando de Abel, Magrão e Guiñazú fizeram os lados direto e esquerdo do meio de campo. Na base esteve Edinho, verdadeiro cão de guarda, enquanto o armador foi D’Ale, que esbanjou grande entrosamento junto à dupla Alex e Nilmar. Dos pés do trio, inclusive, saiu o primeiro do Inter. D’Alessandro lançou o camisa 9 na linha de fundo, dentro da área carioca. Antes do goleiro, ele chegou na bola e colocou, com toque sutil, para o retângulo pequeno, na medida para o gol do 10. No segundo tempo, o argentino ainda faria o segundo do Clube do Povo, seu primeiro com o manto alvirrubro, último da vitória por 2 a 1 no Engenhão.
O Inter alcançou, na 26ª rodada, seu terceiro triunfo consecutivo no Brasileirão. Contra o Vitória, no Beira-Rio, Nilmar sofreu pênalti que Alex cobrou para marcar o único do Colorado na partida. Uma semana depois, após empatar, no dia 25, com a Universidad Católica, na abertura das oitavas da Sul-Americana, em 1 a 1, o Clube do Povo recebeu, em 28 de setembro, o Grêmio, atual líder do Brasileirão. A boa fase do rival motivou o presidente Paulo Odone a afirmar, antes do clássico 373, que os visitantes passariam a máquina sobre o Alvirrubro. Para sua infelicidade, o coitado mandatário acabou conhecendo a força do Rolo Compressor.
Uma seleção abraçada por seu povo, com Nilmar agachado, o segundo da direita para a esquerda
Logo aos 4, D’Alessandro, grande nome da partida, abriu o placar após voleio de fora da área. Aos 18, Tcheco até empatou, mas a igualdade durou míseros 10 minutos, tempo necessário para Alex, servido por El Cabezón, recolocar o Inter à frente no marcador. Nova assistência do argentino, aos 40, encontrou a cabeça de Índio, que fez o terceiro. Antes do intervalo, Nilmar, também completando cruzamento do camisa 15, marcou o seu 12º no Brasileirão e fechou o caixão gremista.
Inaugurado com classificação às quartas da Sul-Americana, outubro contou com dois gols de Nilmar para o Inter. O primeiro saiu no dia 4, quando o Clube do Povo foi derrotado, fora de casa, para o Coritiba, por 4 a 2. Já no dia 18, contra o Atlético Paranaense, o camisa 9 abriu o placar na vitória colorada por 2 a 1 no Beira-Rio. A partida mais emocionante do décimo mês do ano, todavia, foi disputada pelo torneio continental.
Mais de 36 mil colorados e coloradas lotaram o Beira-Rio na noite de 22 de outubro para empurrar o Inter em busca da vitória na partida de ida das quartas de final da Sul-Americana. Em campo, Clube do Povo, campeão da América em 2006, e Boca Juniors, vencedor da Libertadores de 2007, prometiam um duelo do mais alto nível. Recentemente, as duas equipes já haviam se enfrentado em confrontos eliminatórios válidos pelo mesmo torneio, integrantes das edições de 2004 e 2005 e encerrados, os dois, com o agregado de 4 a 2 para os hermanos. Demonstrando ter tirado importantes aprendizados dos encontros passados, o Colorado encurralou os visitantes desde o primeiro momento e, contando com show de Alex, venceu por 2 a 0, os dois gols marcados pelo camisa 10.
La Bombonera. Palco dos mais temidos do mundo, foi determinante para as classificações xeneizes sobre o Inter nos anos anteriores. Credenciado pela grande vitória do Beira-Rio, o Clube do Povo até tinha a vantagem para o jogo de volta, mas, calejado pelas frustrações passadas, sabia que regulamento algum poderia transformá-lo em favorito no palco hermano. Para sair com a vaga nas semifinais, a atuação precisaria ser irretocável, épica. E assim foi.
O Inter deu exemplo de raça, talento e organização na inesquecível noite de 6 de novembro. Inábalavel, ignorou o pulsar do caldeirão hermano, muito graças à genialidade do técnico Tite, que escalou o time com formação inédita. Na defesa, Álvaro integrou o miolo com Índio, enquanto Marcão e Bolívar fizeram as laterais. No gol, esteve Lauro. Do meio para a frente, foi repetida a poética nominata de sempre, com Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro; Alex e Nilmar. Depois de uma etapa inicial sem gols, o Clube do Povo abriu o placar ainda no primeiro minuto do tempo final. Responsável por, com sua velocidade e disposição, causar pesadelos à zaga argentina desde a semana retrasada, o camisa 9 colorado foi lançado pela direita e cruzou açucarada para Magrão. Com a canhota, o meio-campista mandou no travessão. A bola picou dentro, mas, por via das dúvidas, o próprio concluiu, de cabeça, para as redes, garantindo o tento. Riquelme ainda empatou para os locais aos 12, mas Alex, completando grande tabelinha com D’Alessandro, marcou, aos 27, o último do jogo. Que viesse o Chivas!
Campeão do continente
Uma vez garantido entre os quatro melhores da Sul-Americana, o Inter passou a encarar o torneio como obsessão. A tangibilidade do título, distante apenas quatro partidas, motivou o Clube do Povo a tratar a competição como principal objetivo para o final do ano. O ineditismo da taça, também. Nunca conquistada por uma equipe brasileira, a competição era a única, entre as de elite, que faltava no museu colorado.
Como a partir do duelo de ida das semifinais os confrontos eliminatórios seriam jogados semanalmente, sem tempo para respiro, uma equipe alternativa, repleta de grandes valores como Andrezinho, Sandro e Taison, assumiu a responsabilidade de disputar o Brasileirão. Ao mesmo tempo, a escalação estreada por Tite contra o Boca, formada por quatro zagueiros na linha defensiva, virou a titular, logo se provando capaz de brindar o povo vermelho com atuações sempre melhores a cada nova jornada.
Embora desfalcado por D’Alessandro, o Inter abriu em grande estilo o duelo por vaga na decisão continental. Em Guadalajara, o Clube do Povo anulou completamente as ações ofensivas do Chivas. Ao mesmo tempo, contando com o apuro de Andrezinho na armação, os comandados de Tite apresentaram contra-ataques tão afinados quanto o sistema defensivo, e perturbaram a defesa mexicana com as escapadas conduzidas pelo ritmo da dupla Alex e Nilmar, sempre acompanhada dos incansáveis Guiñazú e Magrão. Desta forma, aos 24 da etapa final, o camisa 9 colorado abriu o placar.
Após troca de passes rápidos na intermediária ofensiva, Andrezinho criou espaço percebido por Magrão. O camisa 11 se lançou pelo centro e, na hora certa, abriu o jogo com Nilmar, que dominou, no mano a mano, pela esquerda da área adversária. Lépido, chamou o zagueiro Reynoso para dançar, cortou para a direita e mandou rasteiro, no contrapé do goleiro. Inter na frente!
Menos de 10 minutos depois, Índio lançou o artilheiro nas costas da marcação, que só conseguiu conter o paranaense com falta. De muito longe, Alex assumiu a responsabilidade e mandou direto, surpreendendo o goleiro Hernández. No placar, 2 a 0, e a vantagem garantida para a volta.
O decênio inaugural do século XXI brindou a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande com diversos esquadrões inesquecíveis. Na memória dos adultos, estas formações, campeãs de Libertadores e Mundial, somaram-se à Academia do Povo da década de 70 para ocupar lugar privilegiado na nostalgia colorada. De sua parte, os mais antigos, frequentadores do Estádio dos Eucaliptos, também não pouparam comparações entre os escretes dos anos 2000 e Rolo Compressor ou Rolinho. Fértil, portanto, a mitologia alvirrubra não carece de gerações mágicas, o que evidencia o futebol encantador praticado pela de 2008. Afinal de contas, para muitos torcedores e torcedoras trata-se, graças ao seu toque de bola hipnótico, da melhor formação de nossa história – pelo menos recente. Certamente, as quase 40 mil pessoas que encheram o Beira-Rio no dia 19 de novembro compartilham desta certeza.
Diante do Chivas, o Inter foi a campo decidido a confirmar sua vaga na final com autoridade. Mais do que ratificar o grande momento da equipe, uma vitória correspondia à única homenagem possível para Arthur Dallegrave, histórico dirigente alvirrubro falecido dois dias antes do duelo. Contando com o retorno de D’Alessandro, o Clube do Povo teve como único desfalque Alex, convocado para a Seleção Brasileira. Na vaga do camisa 10 entrou Taison, oferecendo ao público um prelúdio do que ele e Nilmar seriam capazes de produzir no ano do Centenário vermelho. Embalado pela dupla de ataque, que atuou na mesma intensidade do Beira-Rio, frenético, o Colorado abriu o placar aos 19 minutos com D’Ale, cobrando pênalti que ele mesmo sofrera. Aos 35, o argentino voltou a balançar as redes, desta vez em batida de falta.
Ainda antes do intervalo, a dobradinha alucinante converteu seu primeiro tento na partida, terceiro do Inter. Aos 43, Taison cobrou escanteio fechado, buscando olímpico. Atento, Hernandez impediu o golaço com tapa de grande reflexo, mas, para sua infelicidade, a sobra ficou na medida para Nilmar. De cabeça, o camisa 9 se atirou em direção à bola e, com ela, estufou as redes mexicanas.
A proximidade da final, que teria sua disputa aberta em apenas sete dias, motivou o time colorado a reduzir a intensidade para o segundo tempo. No lugar dos arranques, brilharam os passes, delirantes para uma torcida que respondeu à ilusão das triangulações com uma outra tão bela quanto: a ola. Vivo, o Beira-Rio assistiu à assistência milimétrica de Taison, aos 25, acionando Nilmar. Imaginando ter encontrado o antídoto perfeito para conter o camisa 9 alvirrubro, o goleiro adversário deixou o gol em alta velocidade, como que tentando superar o pique de nosso ídolo. Ao desespero rival, o craque respondeu com sua tradicional genialidade e, por cobertura, marcou o quarto e último do Inter, seu quarto na Sul-Americana e 45º com o manto vermelho.
Os pincharratas tomaram o Estádio Ciudad de La Plata, na noite de 26 de novembro, convictos de que o Halloween argentino seria comemorado com um mês de atraso. Certos de que la brujita Verón causaria pesadelos à zaga colorada, apostavam na enfeitiçada perna canhota do craque para largar em vantagem na luta pela taça latino-americana. Não contavam nossos vizinhos, contudo, com a força do folclore brasileiro. Às maldições que tentaram pregar, o Inter respondeu honrando o Saci que tem como mascote. No lugar da perna, apenas, o que nos faltou foi um jogador, pois Guiñazú, injustamente, foi expulso aos 24 da primeira etapa. Cenário dramático? Ao Clube do Povo, nada mais do que motivação para aprontar em terras castelhanas.
Ludibriado Estudiantes, acreditou que a superioridade numérica cobraria menor dedicação defensiva, e se lançou ao ataque sem qualquer pudor. Fechado em duas linhas de quatro, a segunda formada por D’Alessandro, Magrão, Guiñazú e Alex, o Inter se retraiu sorridente, tranquilo. Por quê? Bom, acontece que, para quem tem Nilmar, qualquer centímetro de espaço vira latifúndio.
O relógio indicava 32 minutos quando D’Alessandro recuperou a posse para o Inter, ainda no campo de defesa, e tentou armar contra-ataque. O gringo, ainda vestindo a 15, entortou dois marcadores e cavou arremesso lateral, que o pressionado Bolívar cobrou em direção ao ataque. Após corte parcial da zaga, Nilmar deixou com El Cabezón. De primeira, com a canhota, o argentino devolveu para o avante, lançando em profundidade. O camisa 9 chegou nela antes de Desábato, que não aceitou comer poeira e desferiu um pontapé no jovem colorado. Pênalti, que Alex cobrou duas vezes para valer.
Gigante travessura era forçar o adversário a furar uma retaguarda de Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão. Pelo chão, o espaço inexistia. No alto, conseguir vantagem sobre os xerifes não passava de delírio. De longa distância, os arremates normalmente explodiam na muralha. Pior ainda, quando superavam o quarteto era preciso vazar um iluminado Lauro. Ao mesmo tempo, o trio de ouro formado por Alex, D’Alessandro e Nilmar produzia tudo que o rival sonhava em criar. Assim, a derrota por 1 a 0 acabou ficando barata para os mandantes, que escaparam de perder o título ainda nos 90 minutos iniciais.
Nada passou pela defesa colorada
Não existia assunto mais comentado entre os latinos ao longo do dia 3 de dezembro de 2008 que a final da Sul-Americana. No Brasil, a crônica esportiva celebrava a iminente conquista do Clube do Povo, afirmando que, ao erguer o troféu, o Inter se tornaria o único brasileiro Campeão de Tudo, dono de todas as taças possíveis para um time da elite de nosso continente. Com a mesma confiança, 51.803 colorados e coloradas lotaram o Beira-Rio e transformaram nossa casa em um verdadeiro caldeirão, decidido a cozinhar o Estudiantes.
Terceiro em pé da esquerda para a direita, Nilmar disputou sua primeira final continental pelo Inter
A euforia dos de fora, é bom registrar, somente era convertida em motivação pelos colorados, tanto torcedores quanto atletas. O clima de ‘já ganhou’ passava longe da Padre Cacique, onde a decisão foi disputada no limite até o último apito. Melhor em campo na primeira etapa, o Inter não conseguiu ampliar sua vantagem nos 45 minutos iniciais. Por outro lado, o Estudiantes aproveitou seu principal momento no jogo para, aos 20 do segundo tempo, balançar as redes alvirrubras, igualar o escore da partida de ida e obrigar a disputa da prorrogação.
Só o Inter jogou no tempo extra. Praticamente reduzido ao retângulo de sua área, o Estudiantes sofria para respirar, tamanha a pressão colorada. Orquestrado por D’Alessandro, que tinha a companhia dos recém-entrados Sandro e Gustavo Nery, o Clube do Povo encurtou o campo de jogo pela metade, com Danny Morais e Álvaro, os zagueiros titulares da decisão, atuando postados na altura do grande círculo. Bolívar e Marcão alternavam no apoio, atendendo aos movimentos de El Cabezón, enquanto Taison, que substituira Alex, e Nilmar tratavam de abrir espaços no ferrolho argentino. Mesmo assim, apesar do bombardeio alvirrubro e devido a milagre do goleiro Andújar, os primeiros 15 minutos não alteraram o placar.
Os comandados de Tite seguiram martelando na etapa final. Qualquer cruzamento ou passe vertical, contudo, parecia carregar, mais do que o cansaço de quase duas horas de partida, a pressão das penalidades. Tão grande quanto a vontade de vencer era o receio de permitir uma escapa rival. Diante de tamanha tensão, somente a leveza e a alegria típicas da juventude poderiam fazer diferença. Taison aceitou sua responsabilidade e, representando o Celeiro de Ases, partiu para cima de dois marcadores, cavando escanteio.
O relógio apontava 8 minutos e 5 segundos quando D’Alessandro fez a cobrança. Na entrada da pequena área, a bola encontrou a cabeça de Danny, que testou para baixo. Andújar, milagroso, voou para espalmar, mandando a redonda em direção ao travessão. Na frente de Gustavo Nery ela picou, ao que o atleta respondeu emendando de voleio. Uma vez mais, o goleiro salvou, mas dando rebote. Na frente do gol aberto. Na frente da abençoada goleira do placar. Na frente do pé esquerdo de Nilmar.
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Pouco mais de cinco anos após ser revelado por um Inter que lutava para voltar ao topo, Nilmar tinha, diante de sua canhota, a oportunidade perfeita para colocar o Clube do Povo no mais alto posto do continente. No Estádio que lhe servira de casa, podia virar herói e fazer explodir como nunca as arquibancadas sob as quais no passado dormira. Demonstrando o faro artilheiro tão bem conhecido pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, não perdoou. Gol! Gol chorado, suado, brigado, lutado e, sem sombra de dúvidas, colorado. Gol de título, que valeu por todos os outras. Incontestavelmente, virávamos campeões de tudo! E o Beira-Rio? Ficou catártico!
Nilmar encerrou o ano amplamente requisitado pelo futebol estrangeiro. Artilheiro, ao lado de Alex, na conquista da Sul-Americana, o atacante ainda foi eleito o melhor em campo da finalíssima continental. Mais do que isso, diante do Estudiantes fechou a temporada da mesma maneira que abrira, ainda em janeiro: com gol de título. Ao todo, ao longo de doze meses mandou 21 bolas às redes rivais, totalizando 46 tentos com o manto colorado. O risco de perder o craque, consequentemente, era alto. Mas o ídolo decidiu ficar para o Centenário do Clube do Povo.
Ídolo renascentista
O Inter abriu 2009 com uma grande novidade para o ataque. Após se destacar como alternativa de velocidade para a linha de frente na temporada anterior, Taison iniciou com tudo o ano do Centenário colorado. Na quarta rodada do Gauchão, assumiu a titularidade da equipe, transformando o antigo trio de ouro em um poderoso quarteto ofensivo. Neste mesmo confronto, jogado contra a Sapucaiense, no Beira-Rio, Nilmar marcou seus primeiros tentos depois das férias, o segundo recebendo assistência da jovem promessa, demonstrando o entrosamento crescente da dupla, que na semana seguinte encararia seu maior teste.
A cidade de Erechim recebeu, no dia 8 de fevereiro, o Gre-Nal 374. Primeiro clássico da temporada, lotou as arquibancadas do Colosso da Lagoa, que estiveram divididas pela metade. Dentro de campo, o Inter contou com Lauro; Danilo, Índio, Álvaro e Marcão; Magrão, Guiñazú, D’Alessandro e Alex; Taison e Nilmar. Cedo na partida, El Cabezón cobrou falta da intermediária ofensiva, pela esquerda, com veneno. Viva, a bola triscou a cabeça de Wiliam Magrão e morreu nas redes tricolores. A vantagem colorada perdurou até os 16 da etapa final, quando Jonas empatou para os azuis, deixando o duelo completamente em aberto. Nos espaços criados, quem brilhou foi a dupla de ataque do Clube do Povo.
Aos 37 minutos, depois de cobrança de falta que explodiu na defesa alvirrubra, Taison ficou com a sobra e disparou em altíssima velocidade. Apenas um atleta, dentre os 22 que estavam em campo, conseguiu acompanhar seu ritmo: Nilmar. Como um raio, o camisa 9 abriu pela direita e foi percebido pelo 7, que ofereceu assistência primorosa. Sem nem dominar, o autor do gol do título da Sul-Americana soltou a bomba da entrada da área e mandou no ângulo de Victor. Vitória colorada!
Que não tratem Nilmar como grosseiro. Duas rodadas após a vitória no Gre-Nal, o camisa 9 retribuiu a generosidade de Taison servindo um par de assistências para o camisa 7, que brilhou na goleada por 5 a 1 sobre o Caxias. Escalado entre os 11 iniciais na ocasião, o lateral-esquerdo Kleber, recém-chegado, fez uma de suas primeiras partidas com a equipe titular, e soube explorar o ritmo alucinante da veloz e furiosa dupla de ataque do Clube do Povo. A sinfonia alvirrubra ficava cada vez mais afinada, e nem mesmo a saída de Alex, negociado com os russos do Spartak de Moscou, abalou a dinâmica da equipe. No lugar do canhoto, entrou Sandro, encorpando o meio de campo nas quartas e semis do turno estadual. Para chegar à decisão, inclusive, o Colorado voltou a contar com seu centroavante, que marcou bonito gol sobre o Novo Hamburgo, abrindo a vitória por 2 a 0.
A finalíssima foi de novo clássico. Homem Gre-Nal que era, Nilmar, por incrível que pareça, passou em branco, embora tenha causado problemas para a defesa gremista. Por sorte, a ausência de seus gols foi compensada pelo faro artilheiro da dupla Índio e Magrão. Com um gol cada, garantiram a vitória por 2 a 1 e a Taça Fernando Carvalho. O goleador voltou a marcar na segunda rodada do returno, contra o Brasil-Pel. No Bento Freitas, deu uma assistência e anotou um tento, seu quinto no Gauchão. Os números só não seguiram crescendo nas jornadas seguintes pois o paranaense recebeu folga, no início da segunda metade de março, para celebrar seu casamento.
Parecia impossível, mas o matrimônio conseguiu melhorar ainda mais a fase de Nilmar. Na primeira partida que disputou levando a aliança no dedo, o camisa 9 marcou três gols no passeio colorado em Bento Gonçalves, finalizado com vitória de 6 a 2 sobre o Esportivo. Taison, contando com duas assistências de sua dupla ofensiva, marcou outra trinca, comprovando que, dentro de campo, o casamento de atacantes alvirrubros também vivia grande momento.
Quatro dias depois de atropelar o Esportivo, o Inter voltou a brindar os fãs do bom futebol com novo confronto emocionante. O empate de 3 a 3 com o Juventude, em Caxias, garantiu a primeira colocação do grupo e a certeza de que o Beira-Rio sediaria todas as partidas eliminatórias da Taça Fábio Koff. Tudo isso, entretanto, ficou em segundo plano. O grande destaque no Alfredo Jaconi foi, como de costume, Nilmar, que marcou dois gols para o Colorado, o primeiro inspirado na genialidade de Pelé. Como fizera o Rei na decisão da Copa de 1958, nosso camisa 9 aplicou lindo chapéu no marcador, após receber passe de Taison, e, sem deixar a bola picar, emendou de primeira, com a direita. Uma pintura, tão bela quanto as de Michelangelo ou Da Vinci, mas longe de ser a mais bonita que o craque produziria na temporada.
Nas quartas de final do segundo turno, outro clássico Gre-Nal foi disputado no Beira-Rio. Desta vez, ainda mais especial do que o confronto era a data em que a partida ocorreria. Apenas 24h após completar 100 anos de história, o grupo alvirrubro foi a campo, no dia 5 de abril, consciente de que a vitória correspondia ao melhor parabéns possível para a biografia do Clube do Povo. Apoiado por cerca de 45 mil colorados e coloradas, o Inter não se abalou com o gol de Tcheco, abrindo o placar para os visitantes aos 18, e, ainda no primeiro tempo, viu Nilmar enozar a coluna de Thiego. Irritado, o zagueiro respondeu com um carrinho. Pênalti e gol de Andrezinho. Na etapa final, D’Alessandro deixou Índio na frente de Victor, e o defensor artilheiro não titubeou, mandando de cobertura para as redes.
Contra a Ulbra, nas semifinais, o camisa 9 voltou a marcar. De cabeça, fez o primeiro dos quatro gols colorados no Beira-Rio. Com a goleada, o Inter garantia vaga na decisão do segundo turno. Vencedor do primeiro, caso levantasse nova taça seria, também, campeão gaúcho. Rodeada de expectativas, a finalíssima foi disputada, em 19 de abril, no Gigante, que, apesar do frio e da chuva, recebeu um público de quase 40 mil pessoas. Repetindo o escore do ano anterior, o Clube do Povo teve atuação perfeita para despachar o Caxias por 8 a 1. Nilmar, que marcara nas finais de 2003, 2004 e 2008, fez dois, chegando a 13 no Gauchão, e ainda deu assistência para Guiñazú. Magrão, duas vezes, Álvaro, Taison e D’Alessandro fecharam o espetáculo.
Encerrado o Gauchão, Nilmar decidiu que era hora de balançar redes em outras competições. Na abertura das oitavas da Copa do Brasil, anotou o primeiro da vitória colorada por 3 a 0 sobre o Náutico, no Recife. Além dele, Taison e Marcelo Cordeiro garantiram importante vantagem, aumentada, na volta, após triunfo por 2 a 0 no Beira-Rio, gols de D’Alessandro e Taison. Superado o Timbú, era hora de encarar o Flamengo.
Antes do confronto de quartas de final diante dos cariocas, aconteceria a abertura do Brasileirão. Em São Paulo, Inter e Corinthians realizaram duelo de campeões estaduais, que teve o 1 a 0 para os visitantes como placar final. Não é a frieza dos números, contudo, quem melhor narra o que ocorreu naquela tarde de Pacaembu. Tudo começou com um bom lançamento de D’Alessandro para Nilmar, aos 9 minutos do primeiro tempo. O atacante recebeu pela ponta direita e, distante de seus companheiros, apostou na velocidade para encarar a defesa corintiana. Liso, passou por um, dois, três, quatro, cinco marcadores até pisar na área. Dentro do retângulo alvinegro, teve tranquilidade para brecar o embalo com que percorrera o campo e dar um corte no sexto defensor. Com ângulo para o pé direito, chutou rasteiro, colocado, direto no canto do goleiro Felipe. Uma peça de antologia, um gol de gênio, construído com toques mais belos do que qualquer afresco, quadro ou tela jamais foi capaz de conhecer.
Após boa atuação no empate que abriu a disputa por vaga nas semifinais nacionais, e participar do gol de D’Alessandro, segundo na vitória do Inter por 2 a 0 sobre o Palmeiras, em partida da segunda rodada do Brasileirão, Nilmar jogou o fino da bola no épico triunfo do Clube do Povo sobre o Flamengo, conquistado nos últimos minutos diante de um Beira-Rio lotado. Inteligentíssimo, o camisa 9 percebeu erro de passe do lateral Juan e, antecipando-se à marcação, disparou em velocidade com campo livre, pela esquerda. Já dentro da área, rolou para Taison, que marcou o primeiro de jogo que teria em Andrezinho o grande protagonista. No dia seguinte à classificação, o craque colorado foi convocado, junto do companheiro Kleber, para duas jornadas das eliminatórias da Copa do Mundo e, também, para a Copa das Confederações de 2009.
Antes de se apresentar à Seleção, Nilmar voltou a ser garçom de Taison, acionando o camisa 7 para que este marcasse o primeiro gol do Inter contra o Coritiba. Válido pelas semifinais da Copa do Brasil, o confronto foi encerrado com vitória de 3 a 1 do Colorado. Já com a Amarelinha, o camisa 9 do Clube do Povo marcou gol no duelo frente ao Paraguai, integrante das Eliminatórias. Na campanha vencedora da Copa das Confederações, foi a campo em uma ocasião, contra a Itália.
De volta ao Beira-Rio, Nilmar marcou dois gols na primeira partida que disputou pelo Brasileirão. Em Recife, foi o artilheiro solitário da vitória colorada sobre o Náutico, anotando o primeiro como centroavante, na pequena área, e o segundo em lindo chute no ângulo da meta adversária. Uma semana depois, contra o Athletico-PR, em Curitiba, o atacante descontou no revés de 3 a 2 para os locais. Também foi dele a bola na rede gremista no clássico 377, realizado no Olímpico.
Aos 25 anos, somando 64 gols em 150 partidas disputadas com a camisa colorada, Nilmar foi vendido para o Villareal no dia 24 de julho. Na primeira passagem, após surgir como promessa, foi vendido com status de craque. Assim retornou, para então ser negociado já enquanto ídolo. Nas graças da torcida, fez questão de se despedir através de comunicado endereçado ao povo vermelho. Feliz com a oportunidade de brilhar em uma das principais ligas do futebol mundial, não escondeu a dor por deixar amigos em Porto Alegre, nem a vontade de, no futuro, retornar para o Beira-Rio. Atitude gigante, como sempre foram suas atuações.
“Vou sempre estar torcendo pelo Inter, que foi muito especial na minha vida. Quero agradecer por tudo que a torcida fez por mim. Não sou gaúcho, mas vou morar em Porto Alegre no futuro. Sou colorado graças ao carinho que sempre tive aqui. Quero deixar um agradecimento, que o Inter continue crescendo cada vez mais. Nós, jogadores, estamos de passagem, mas o Clube continua com seus 100 anos de história. Espero que brilhe cada vez mais”
De volta para casa
Diferente do que os desavisados possam ter imaginado, a sexta-feira 19 de setembro de 2014 não foi um dia de jogo do Inter em Porto Alegre. Mesmo assim, o Beira-Rio recebeu grande público na data, que entoou, ao longo de toda a tarde, canto dos mais clássicos destinado a um atleta colorado. Uníssonas, mais de quatro mil pessoas bradavam que ali estavam para ver os gols de Nilmar. O motivo? A volta do craque ao seu clube de coração.
Anunciando como reforço no dia 16 de setembro, Nilmar retornou ao Inter com um currículo ainda mais encorpado. Jogador de Copa do Mundo, convocado para a edição da África do Sul, desembarcou, aos 30 anos, em um estádio de nível internacional, que recentemente sediara a disputa de cinco jogos do Mundial do Brasil. Também o Clube do Povo, então bicampeão de Libertadores e Recopa, demonstrava, ao atacante, estar em contínuo crescimento. Além disso, não era só a torcida que estava empolgada com o retorno do ídolo, como comprova o vídeo abaixo.
Vindo do banco, Nilmar reestreou pelo Inter no dia 9 de outubro, fora de casa, diante da Chapecoense. Comandando por Abel Braga, na rodada seguinte pôde, contra o Fluminense, reencontrar o gramado do Beira-Rio. Uma semana depois, foi titular contra o Corinthians, e balançou as redes ao marcar o gol colorado na derrota por 2 a 1. Entre os 11 inicias seguiu na jornada posterior, disputada contra o Flamengo, no Maracanã.
O segundo gol marcado por Nilmar em sua terceira passagem pelo Inter saiu contra o Bahia, no Beira-Rio. Aos 38 da primeira etapa, o camisa 7 tabelou com Jorge Henrique, recebeu na altura da marca do pênalti, dominou com a canhota, fez o giro e soltou a bomba de pé direito. O tento foi último da partida, vencida por 2 a 0, escore que recolocou o Clube do Povo no G-4. O atacante também foi titular em duelo frente ao Santos, na Vila, quando o Colorado encerrou jejum de 25 anos sem vitórias no Alçapão praiano, bem como no Gre-Nal 403, disputado na Arena, e no clássico nacional frente ao São Paulo, no Morumbi. Neste, sofreu lesão muscular na coxa direita, que o tornou desfalque para as últimas rodadas do Brasileirão.
Classificado para a fase de grupos da Libertadores após encerrar o Brasileirão na terceira posição, o Clube do Povo abriu o ano de 2015 realizando amistoso com o Juventude, em Caxias. Acostumado a aprontar no Jaconi, Nilmar marcou o primeira na vitória por 3 a 1 sobre o Papo. Um possível início de ano artilheiro, contudo, foi abreviado por problemas físicos, que tornaram o atacante desfalque para muitas das rodadas iniciais do Gauchão. Mesmo assim, retornou em grande estilo para os confrontos decisivos, e brilhou, como de costume, na decisão, disputada contra uma de suas principais vítimas, o Grêmio. Na finalíssima, sediada no Beira-Rio, o camisa 7 marcou o primeiro e deu assistência para Valdívia anotar no segundo e garantir a 44ª taça estadual do Clube do Povo, quinta consecutiva.
A Copa Libertadores de 2015 foi a primeira que Nilmar disputou com a camisa colorada. Campeão continental em 2008, quando marcou o gol do título da Sul-Americana, o camisa 7 jamais havia entrado em campo, vestindo o manto vermelho, para uma partida do principal campeonato das Américas. Na campanha que deu ao Inter a terceira colocação no torneio, o atacante encontrou grande destaque principalmente na fase de grupos, onde marcou três gols, dois deles na goleada por 4 a 1 sobre a Universidad de Chile, em Santiago, e outro no Gigante, diante do Emelec, após assistência mágica de D’Alessandro. Na partida de ida das semifinais, o craque ainda teve participação fundamental nos gos de El Cabezón e Valdívia.
O craque também marcou seus gols no Brasileirão. Logo na terceira rodada, fez o do Inter no empate por 1 a 1 com o Vasco, em São Januário. Na comemoração, reverenciou a estátua de Romário, localizada atrás de uma das metas do campo alvinegro. Na sexta jornada do Nacional, o Camisa 7 voltou a balançar as redes, desta vez contra o Coritiba, em partida disputada exatamente um ano após o falecimento de Fernandão, Eterno Capitão colorado e ex-companheiro de Nilmar. Seu terceiro e último tento na competição saiu no duelo posterior ao realizado contra os paranaenses. No Itaqueirão, abriu o placar, diante do Corinthians, depois de linda tabela com Rafael Moura, aos 40 da etapa inicial.
Nilmar provavelmente não sabia, mas disputou sua última partida com a camisa colorada em 26 de julho de 2015, quando Inter e Ponte Preta empataram sem gols no Moisés Lucarelli. Poucos dias depois, foi selada a venda do atleta para o Al Nasr, equipe de Dubai. Menos artilheira do que suas predecessoras, a terceira passagem do ídolo pelo Beira-Rio contou com 10 gols marcados em 35 jogos disputados, números que em nada deixaram de ser positivos, comprovando a facilidade para balançar redes que sempre acompanhou a cria do Celeiro de Ases.
Ao todo, foram 185 aparições com o manto do Clube do Povo e 64 as bolas na rede. Mais do que isso, inúmeras as lágrimas que em sua face deixou correr, e em nossos olhos fez surgir. Jogador decisivo, identificado com nossas cores e história, protagonista nos grandes momentos e companheiro de paixão e arquibancada. Referência, ocupa posto de luxo em nossa biografia, e é um dos maiores que tivemos o privilégio de assistir ao longo de ricos 111 anos de vida. Ídolo na acepção da palavra. Colorado, também. Eterno, por óbvio. Obrigado por tudo, Nilmar!