Uma noite que demorou 97 anos para chegar e, desde então, jamais acabou. Data em que libertamos o grito continental que há tanto teimava em engasgar nossas gargantas. Feliz a América, que encontrou em nosso camisa 9 o melhor capitão de sua história. Feliz, também, o povo vermelho, que a partir do Gigante coloriu todo o continente em alvirrubro. Há 14 anos, vivíamos o Dia Sem Fim. Relembre a campanha colorada na Libertadores de 2006!
Para pegar ritmo
Era grande a expectativa da torcida alvirrubra em relação ao retorno do Inter à Libertadores. Afastado do principal torneio de clubes do continente desde 1993, o Colorado precisaria superar, além da aparente inexperiência na competição, o pessimismo deixado pelo frustrante desempenho de sua última participação, quando foi eliminado nos grupos. Na busca por grandes resultados, todavia, também sobravam motivos para o otimismo.
Dentro de campo, o Inter fizera por merecer o título do Brasileirão de 2005. Além disso, o elenco somava duas participações de destaque nas últimas edições da Sul-Americana. Em 2004, o Colorado chegou a eliminar o Júnior de Barranquilla, nas quartas, e somente foi eliminado, nas semis, para o campeão Boca.
Um ano depois, o Clube do Povo sucumbiria, uma vez mais, para o time xeneize, desta vez lutando por vaga entre as quatro melhores equipes do continente. Cascudos em nível continental, portanto, e embalados por grande fase nacional, os comandados de Abel Braga chegaram ao grupo 6 da Libertadores da América.
Inter e Boca travaram grandes duelos na primeira década do século passado/Foto: Marcelo Campos
O Colorado estreou na Libertadores de 2006 no dia 16 de fevereiro. Diante de 35 mil pessoas, o Clube do Povo enfrentou o Maracaibo, da Venezuela, fora de casa. Ceará, aos três minutos do segundo tempo, abriu o placar em bonito chute da entrada da área. O gol do lateral-direito, inclusive, criaria, em breve, superstição ímpar entre a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. O tento, contudo, não foi o único da noite: já nos últimos instantes, Maldonado empatou para os locais e impediu o triunfo alvirrubro.
A vitória que escapou na estreia chegou na semana seguinte. Apoiado por um Beira-Rio lotado, o Inter deu show para atropelar o Nacional-URU, tricampeão da Libertadores, por 3 a 0. Michel e Fernandão, ainda no primeiro tempo, garantiram boa vantagem para o intervalo, resultado que foi ampliado, já nos últimos minutos da etapa final, por Rubens Cardoso.
Abrindo o mês de março, no dia 8 o Inter viajou até a Cidade do México para encarar o Pumas. Como de costume naquele início de campanha continental, as redes balançaram minutos antes dos 45 – desta vez, da primeira etapa. López, de cabeça, garantiu vitória parcial do time da casa antes do intervalo. Na volta dos vestiários, porém, Rentería mudou radicalmente o cenário da partida e, com um gol e uma assistência, para Fernandão, garantiu o posto de protagonista do confronto. Por 2 a 1, o Clube do Povo vencia e mantinha a liderança do grupo.
Invencibilidade nos grupos
A partida mais emocionante do Inter na fase de grupos ocorreu na noite do dia 22 de março. Tomado por mais de 42 mil pessoas, o Beira-Rio, como de costume, fez a diferença, e brilhou na histórica virada sobre o Pumas. A importância da torcida no triunfo fica clara na súmula da partida, afinal de contas, aos 34 do primeiro tempo o Clube do Povo perdia por 2 a 0.
Fernandão comemora o segundo gol colorado na noite/Foto: Jefferson Bernardes
“Foi fantástico. Ninguém arredou o pé, ninguém parou de incentivar. Os jogadores se sentiram orgulhosos de fazer parte deste clube. O torcedor sentiu que o resultado era injusto e incentivou o tempo todo. Sofremos, mas tivemos a competência necessária para virar o resultado”
Foto: Jefferson Bernardes
Time e torcida, juntos, festejaram a inesquecível noite 22 de março
Contínuo ao segundo gol dos mexicanos, a torcida respondeu com cantoria ainda mais intensa para o time colorado. Sob tamanho apoio, o Inter descontou, logo aos 36, com Michel, em gol brigado, batalhado e com a cara da Libertadores. Na etapa final, Tinga descolou, aos 7, desarme magnífico, e lançou, na direita, o autor do primeiro tento vermelho. Rasteiro, ele cruzou para Fernandão, que tirou proveito da falha do goleiro para empatar. A virada, merecida, chegou aos 30. Gabiru, recebendo assistência de cabeça do Eterno Capitão, fez explodir, também com a nuca, mas de peixinho, as estruturas do Gigante.
Data em que comemorou 97 anos de vida, no dia 4 de abril de 2006 o Clube do Povo visitou o Nacional, em Montevidéu. Desfalcado de alguns nomes, incluindo Fernandão, o Colorado segurou positivo empate sem gols no Parque Central, resultado que garantiu a manutenção da liderança, agora com 11 pontos, e praticamente assegurou vaga na fase de oitavas de final da América.
Finalizando a fase de grupos, o Inter recebeu, no 18º dia de abril, o Maracaibo. Escalado com novidades, a exemplo de Jorge Wagner, que retomou a titularidade na lateral-esquerda, e Rafael Sobis, devidamente recuperado de lesão, o time de Abel Braga não deu chance aos visitantes. Após Adriano Gabiru marcar o único gol da etapa inicial, Bolívar, Michel e Rentería transformaram a vitória em goleada. Em grande estilo, portanto, o Clube do Povo, dono da segunda melhor campanha da Libertadores, avançou, invicto e com 14 pontos, às oitavas.
Velho conhecido, novo final
Atualmente, os confrontos de oitavas de final da Libertadores são decididos através de sorteio. Em 2006, a lógica era outra. À época, a fase era disputada entre os melhores líderes contra os segundo colocados de pior campanha.
Segundo melhor time da fase de grupos, o Inter, que avançou como líder da chave 6, enfrentou nas oitavas, atendendo ao regulamento, o penúltimo segundo colocado. Curiosamente, o adversário foi o Nacional-URU, time mais do que conhecido. Apesar do positivo retrospecto recente para o Alvirrubro, todavia, o rival despertava grande receio na torcida vermelha
Desbravador gaúcho na Libertadores, o Clube do Povo disputara, exatamente contra o ‘Bolso’, a decisão do torneio em 1980. Derrotado na ocasião, o Colorado encarava, 26 anos depois, excelente oportunidade de vingar o revés passado e superar o fantasma charrua que pairava sobre as caminhadas continentais do escrete oriundo da Padre Cacique.
Iniciada em território uruguaio, a fase de oitavas de final viu brilhar Rentería. Mais colombiano dos sacis, o atacante, que já construíra excelente trajetória na fase de grupos do torneio, foi o grande nome do duelo disputado no Parque Central. Após um primeiro tempo de boas chances para os dois lados, encerrado com o 1 a 1 no placar, empate alcançado pelo Inter já nos instantes finais graças a precisa falta de Jorge Wagner, o dançarino Wason foi alçado a campo, logo no retorno dos vestiários, na vaga de Rafael Sobis. Talismã, precisou de apenas 18 minutos para virar, e o fez com estilo: acionado por Fernandão, aplicou, com a direita, um balãozinho no marcador e, sem deixar a bola cair, soltou um canhotaço, que encobriu o arqueiro Bava. Festejada, a vitória por 2 a 1, somada a empate sem gols na volta, no Beira-Rio, classificou o Inter para as quartas de final!
Uma fase, dois meses
O Clube do Povo teve uma semana de folga entre a classificação para as quartas e a abertura do duelo contra a LDU. Em Quito, capital equatoriana, os comandados de Abel Braga saíram na frente com gol de Jorge Wagner. Na etapa final, porém, a altitude de quase 3.000 metros fez a diferença. Benéfica ao time da casa, desgastou o Colorado e garantiu a virada dos locais. No Beira-Rio seria preciso, no mínimo, vencer por 1 a 0. Difícil, o desafio ficou ainda maior somado à ansiedade que precisaria ser superada, consequência dos mais de dois meses que separavam o revés na ida do embate de volta.
A América estava prestes a ser liberta/Fotos: Jefferson Bernardes
Dia 19 de julho de 2006. Após meses de fé, mobilização e treinos intensos, o Gigante, lotado, sediou a disputa dos últimos 90 minutos por vaga nas semifinais continentais. Obrigado a vencer, o Inter até criou boas oportunidades, mas foi incapaz de vazar as redes rivais no primeiro tempo. De volta do intervalo, porém, o ritmo colorado foi amplificado. Prova da intensidade? O primeiro gol, de Sobis, aos 6. Rentería, já aos 41, ampliou. Clemer, nos acréscimos, brilhou. Estávamos entre os quatro melhores das Américas!
Depois de 26 anos, a final
No Clube do Povo, os anos 1980 não ficaram conhecidos como ‘década de prata’ por acaso. Acostumado ao gosto do ouro, recorrente no início da era Beira-Rio, o Inter sofreu com frequentes batidas na trave, ocorridas também em âmbito continental.
Avassaladora, a campanha alvirrubra na Libertadores de 2006 ofereceu ao Colorado, nas oitavas, a primeira oportunidade de superar um trauma passado. Nas semifinais, surgiu a segunda. Desta vez, contra um adversário distinto, mas dentro de roteiro idêntico.
Em 1989, o Colorado perdera a vaga na decisão continental para os alvinegros paraguaios do Olímpia. Traumático, o episódio retornou à memória da torcida vermelha 17 anos depois. Para chegar à final de 2006 o Inter teria de superar, nas semis, o Libertad. Rival também do Paraguai, também preto e branco e também mandante, na partida de ida, no Defensores del Chaco.
Fora de casa, o Clube do Povo empatou sem gols. No Gigante, 50 mil pessoas empurraram escalação decidida a entrar para a história. Os protagonistas do time, naquela noite, foram Alex e Fernandão, que brilharam em nova etapa final decisiva. Pela segunda vez na história, o gigante da Padre Cacique era finalista da Libertadores.
Foto: Jefferson Bernardes
Foto: Jefferson Bernardes
Uma semana sem fim
Morumbi lotado. Inter, de grande campanha no Brasileirão passado, contra São Paulo, vencedor do último Mundial de Clubes. Duelo gigante, entre os dois atuais líderes do Campeonato Nacional. A final de 2006 foi, sem sombra de dúvidas, uma das maiores da história do principal torneio de clubes da América.
Ídolo: Rafael Augusto Sobis, um gigante na rica história do Internacional
Morumbi lotado. Cerca de 70 mil pessoas apoiando o time da casa, atual campeão do mundo, e que sonhava com o bicampeonato consecutivo da América. Duelo de duas das melhores campanhas da Libertadores. Confronto dos atuais líderes do Brasileirão. Os ingredientes, não se pode questionar, estavam postos para uma noite memorável. Tolos? Somente os que esperavam cozinhar o Inter no caldeirão paulista. Há 14 anos, vivíamos uma das maiores noites de nossa história.
Pula que é gol do Sobis, só pode ser o Sobis/Foto: Jefferson Bernardes
Duelo grandioso
De fato, o adversário exigia respeito. Tricampeão da Libertadores, em 2006 o São Paulo fechou a primeira fase com a quarta melhor campanha do torneio. Nas oitavas, superou o Palmeiras com o agregado de 3 a 2. Logo em seguida, eliminou, no Morumbi, os argentinos do Estudiantes. A classificação para as semis veio nas cobranças de pênaltis, após vitória por 1 a 0 no tempo normal.
Para chegar à finalíssima, o Tricolor, que contava com a estrelada geração de Rogério Ceni, Lugano, Josué, Mineiro, Aloísio e Ricardo Oliveira, ainda bateu o Chivas de Guadalajara. Na casamata, a equipe paulista tinha o comando de Muricy Ramalho, técnico colorado na temporada anterior e, portanto, grande conhecedor do elenco alvirrubro.
Em dezembro, São Paulo conquistaria o Brasil/Foto: Site São Paulo
“Com todo o respeito ao São Paulo, o Inter também é uma grande equipe!”
Bolívar, classificado para a final
O reconhecimento ao bom momento rival, todavia, não significava pessimismo. Muito menos covardia. Dono da segunda melhor campanha da fase de grupos da Libertadores, o Clube do Povo construiu caminhada maiúscula no torneio continental, à altura do que cobra o manto vermelho. Diante do Nacional-URU, equipe que derrotara o Inter na decisão do campeonato em 1980, o Colorado exorcizou seu primeiro fantasma na escalada rumo ao título.
Após eliminar os uruguaios do Parque Central em confronto marcado por pintura inesquecível de Rentería, o Inter encarou, nas quartas de final, duplo desafio. Dentro de campo, a LDU, base da Seleção do Equador, buscava fazer história a nível continental. Fora das quatro linhas, a ansiedade tirava o sono do povo colorado. Entre a partida de ida, vencida pelos locais, em Quito, e o duelo de volta, disputado no Beira-Rio, mais de dois meses, e uma Copa do Mundo, foram vividos. Obstáculos grandiosos, mas inferiores ao Gigante, que garantiu a classificação para as semis. O último rival no caminho até a decisão foi o Libertad, derrotado, depois de empate sem gols no Paraguai, por 2 a 0no templo da Padre Cacique.
“A história não está feita ainda. Temos que buscar o título”
Fernandão após vitória sobre o Libertad
Pré-jogo de mistério
O Colorado embarcou para São Paulo no sábado 5 de agosto, véspera de confronto contra o Santos, válido pela 15ª rodada do Brasileirão. Disputada apenas quatro dias após o Inter garantir vaga na final da Libertadores, a jornada em terras paulistas contou com uma escalação alternativa do Clube do Povo, que abriu o placar com Iarley, mas sofreu a virada, apesar de boa atuação, nos instantes finais do segundo tempo. O grande ponto positivo do embate foi o retorno de Tinga, recuperado de lesão sofrida no dia 19 de julho, data do duelo de volta contra a LDU. O meio-campista, inclusive, criou a jogada do tento vermelho.
“A gente foi minado com muitas faltas na frente da área, mas não quero me apegar nisso, porque temos uma situação muito importante na quarta-feira. Fico triste pela derrota, mas feliz porque consegui me movimentar bem e posso jogar na quarta-feira.”
Tinga após o duelo contra o Santos
A Baixada Santista seguiu como casa do Colorado nos dias seguintes ao duelo. No CT do Santos, Abel Braga comandou duas atividades fechadas para a imprensa, rodeada de mistérios. Se o retorno de Tinga era provável, por outro lado Alex, com dores no púbis, era dúvida. Autor do primeiro gol marcado pelo Inter na partida decisiva contra o Libertad, o camisa 24 desempenhava papel fundamental no time alvirrubro, alternando com Jorge Wagner entre a ala-esquerda e a armação. Élder Granja, com lesão muscular, também integrava a delegação, mas sua presença dentro de campo era tida como ainda mais complicada.
Eram muitas, assim, as dúvidas que rodeavam a nominata alvirrubra. Na direita, Ceará, que já vinha atuando no lugar de Granja, correspondia à maior certeza. Alex, ao mesmo tempo, passava longe de ter substituto definido. Caso Abel optasse por formação mais conservadora, poderia escolher Índio para o lugar do meio-campista, armando a equipe com três zagueiros e oferecendo maior liberdade a Tinga.
Inter, de Sobis, ajeitou os últimos detalhes no CT do Santos/Foto: Jefferson Bernardes
Outra alternativa residia em Iarley, camisa 10 que vinha somando grandes exibições no Brasileirão. A vocação ofensiva do comandante vermelho também suscitava expectativas acerca da escalação de Michel ou Rentería, avantes que poderiam formar o ataque com Sobis, passando Fernandão para o meio. Com a cabeça repleta de pequenas interrogações, ínfimas se comparadas à enorme motivação que carregavam, cerca de 3,5 mil colorados e coloradas encararam os 1109 quilômetros que separam as capitais de Rio Grande e São Paulo.
Era hora de fazer história. Era hora de soltar o libertador grito que estava preso há 97 anos em nossas gargantas.
Uh, Fernandão!/Foto: Jefferson Bernardes
Nenhum gol, duas expulsões
Entender as escalações que representaram Inter e São Paulo no Morumbi exige voltar mais quatro anos no tempo. Pentacampeão mundial em 2002, o Brasil do técnico Felipão surpreendeu a crítica esportiva, que muito desacreditava a Seleção Brasileira, na Copa do Mundo disputada em Japão e Coréia do Sul.
Armada no esquema 3-5-2, a Canarinho contava com os recuos dos alas Cafu e Roberto Carlos para ter segurança defensiva e máximo apoio pelos flancos. A formação marcou época e, como de costume em Copas do Mundo, ditou novas regras para o futebol. A decisão da Libertadores, é claro, comprova.
A seleção do Penta/Foto: Wilson Carvalho, CBF
Muricy escalou Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Souza, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Leandro e Ricardo Oliveira. O desenho, é claro, reproduzia o 3-5-2. Contra o escrete paulista, Abel apostou no 4-4-2. Clemer, há quatro jogos sem sofrer gols na Libertadores, defendia a meta alvirrubra. Na defesa estiveram, Ceará, na direita, Bolívar e Fabiano Eller, na zaga, e Jorge Wagner, na esquerda. À frente, Tinga e Alex armavam. Fabinho e Edinho, também – mas ainda somavam obrigações defensivas. Completando a nominata, Sobis e Fernandão reeditavam, uma vez mais, poética dupla que marcou época no ataque colorado.
O clima no luxuoso bairro paulista era de festa. Com foguetes, sinalizadores e bandeiras, a torcida da casa empurrou o São Paulo nos instantes iniciais, apostando que um precoce gol poderia bagunçar a estratégia de Abel. Logo no primeiro minuto, Leandro foi lançado na área colorada e chutou cruzado. Mascada pela zaga, a bola morreu segura nas mãos de Clemer. O Inter respondeu pouco depois com Ceará. Aos 3, o lateral escapou em velocidade pela direita e cruzou fechado buscando Sobis. Antes dele, Ceni cortou em escanteio. O camisa 11 colorado teve boa chance na continuidade do lance, partindo, sobre a linha da grande área, da esquerda para o centro. Cruzado, o arremate explodiu na rede, por fora.
Sobis era, de fato, o mais insinuante colorado em campo. Estonteante nas cercanias da grande área, não hesitava em buscar jogo no campo defensivo, irritando a selecionável dupla de volantes paulistas. Josué, estressado, descontou sua indignação muito cedo, e acertou cotovelaço no jovem atacante alvirrubro. Com 9 minutos de partida, o São Paulo já tinha um a menos.
Numérica, a superioridade colorada também foi vista nas ações do campo. Entregue a escassos contra-ataques, o São Paulo apostava o pouco que tinha em Souza, ala-direita. Esperto, Abel respondeu dando liberdade para Jorge Wagner, que muito se somou a Alex na construção de jogadas pelo flanco canhoto. Livre, o lateral-esquerdo colorado recebeu passe milimétrico de Edinho, que tabelara com Sobis, e, de cara com Rogério, finalizou rasteiro. O relógio marcava 17 minutos, e o Inter tinha a primeira grande chance da noite!
Cedo na partida, Jorge Wagner assustou os paulistas/Foto: Divulgação
A resposta tricolor chegou aos 23. Ricardo Oliveira interceptou troca de passes do Inter na intermediária ofensiva colorada e escapou em velocidade. Pela esquerda, colocou na frente e, antes do bote de Bolívar, cruzou com curva. Pouco depois da marca do pênalti, Leandro dominou, deixou correr e, quando Clemer já caía no chão, finalizou. Fabinho, salvador, travou em carrinho milimétrico. Que início de final!
Dono da posse de bola, o Inter voltou a assustar aos 34. Da mesma posição que partira para marcar o primeiro contra o Libertad, Alex recebeu passe de Bolívar. Com espaço, colocou na frente e dispensou a necessidade de um segundo toque na bola. Viva, com efeito, a finalização de canhota levou muito perigo. Três minutos depois, Fabinho acertou Souza por cima e também recebeu o vermelho.
Dono dos holofotes, o camisa 21 do Tricolor teve boa chance após cavar a expulsão do volante alvirrubro, mas esbarrou em Clemer. Por fim, Jorge Wagner encerrou os melhores momentos de uma agitada etapa inicial aos 44, quando cobrou falta por cima do gol de Ceni. O branco do placar, embora não refletisse o ritmo intenso do primeiro tempo, era bem recebido pelo time de Abel Braga, confiante na possibilidade de, no jogo de volta, exercer a tradicional força colorada no Beira-Rio.
Para a história
Até 2006, a maioria dos colorados e coloradas lembrava do Morumbi como palco da maior exibição da história do Inter como visitante. Abrindo a disputa da semifinal do Brasileirão de 1979, o Clube do Povo esteve perfeito para atropelar o Palmeiras e, através de vitória por 3 a 2, trazer a vantagem para o Beira-Rio. Na ocasião, Falcão, cabeludo craque revelado pelo Celeiro de Ases, brilhou balançando as redes paulistas em duas ocasiões. Passados 27 anos, o povo vermelho seria brindado com nova exibição impecável no gigante templo do São Paulo Futebol Clube.
A tranquilidade exibida pela equipe colorada na noite de 9 de agosto de 2006 contrastava com o turbilhão de emoções encarado pelos presentes no Morumbi. Seguro, o time de Abel jogava empurrado por rica biografia, e já construía, durante o zero a zero, atuação que despertava orgulho no povo vermelho. Seguindo à rica este roteiro, o Clube do Povo saiu de trás com tranquilidade aos 8 minutos da etapa final, quando Bolívar acionou Edinho.
Cabeça erguida, o volante progrediu firme para invadir a intermediária rival. Com passadas largas, venceu os dois primeiros marcadores na velocidade. Livre, lançou Sobis quando sentiu a aproximação de Lugano, descontrolado. Ingênuo, o uruguaio deixou espaço na retaguarda tricolor, já esvaziada graças à genialidade de Fernandão. Aberto na direita, o camisa 9 prendeu Edcarlos e criou espaço para a infiltração de seu parceiro de ataque. Como uma orquestra afinada, tudo corria bem na escapada colorada.
Cabeludo craque revelado pelo Celeiro de Ases (um salve às coincidências), Sobis partiu para o mano a mano contra Fabão. Em velocidade, dominou com a direita e, usando da mesma perna, conduziu em linha reta. Para a esquerda, gingou o corpo, levando junto o zagueiro. Ganhava, então, ainda mais espaço para sua melhor perna.
O drible custou o equilíbrio do atacante, que por pouco não caiu. Genial, todavia, ele, que acabara de costurar no gramado as veias do continente que estava prestes a libertar, manteve-se de pé para invadir a área. Dentro dela, finalizou cruzado. Rasteiro. Para a eternidade. Inter na frente, e o setor visitante do Morumbi conhecia o DNA carnavalesco do povo colorado.
Gaúcho e colorado, colorado e gaúcho/Imagens: Rede Globo
Logo depois do gol, Abel mandou Wellington Monteiro a campo, sacando Ceará. Mantido o desenho, a troca deu ainda mais liberdade para a infernal dupla Alex e Jorge Wagner, uma vez que o substituto pela direita, habituado a atuar também como volante, tinha no comportamento defensivo um de seus melhores valores. Em dívida no marcador, o São Paulo precisaria se jogar ainda mais para o campo ofensivo, e estava claro qual corredor ofereceria ao Inter seus melhores contra-ataques.
Infiltrando pela esquerda, Tinga recebeu ótimo passe de Alex que, posicionado pela direita, cobria o avanço do companheiro. Livre, o camisa 7 dominou no momento do pique, mas Rogério, inteligente, deixou o gol para ficar com ela antes do cabeceio do meia colorado. Chance perdida para alguns, caminho indicado para outros. Três minutos depois, Eller desarmou Ricardo Oliveira e deixou ela com Jorge Wagner, que escapou em velocidade.
O camisa 23 cruzou a linha do centro do campo e acionou Fernandão. Posicionado como um volante após ter empreendido intensa perseguição a Ricardo Oliveira, o Eterno Capitão colorado esperou o aproximação de Mineiro e devolveu em Jorge. Fazendo as vezes de meio-campista, ele deixou, em profundidade, para Alex, então exercendo a função de ala.
Alex cruzou linda bola na segunda trave, com efeito, direcionada à nuca de Fernandão, que infiltrou em velocidade. Nas costas da marcação, o camisa 9 colorado testou para a frente, onde estava Tinga, pisando na pequena área. O meio-campista mandou, também de cabeça, arremate certeiro e forte, que explodiu no travessão. Exatamente em cima da marca do pênalti, Rafael Sobis impediu o picar da bola no rebote e finalizou colocado em direção às redes abertas. Pobre Ceni, bem que tentou, mas a noite não era dele. Era de Sobis, que marcava o segundo do Inter.
O segundo do menino de Erechim/Imagens: Rede Globo
Os dois gols de vantagem conquistados em 16 minutos de etapa final criaram um portal na cidade de São Paulo. A partida, antes disputada no Morumbi, passou a ocorrer no gramado do Beira-Rio. O som ambiente não deixava dúvidas.
Tomado pelo povo vermelho, o estádio via ecoar estridente “Vamo, Vamo Inter”. Dona dos mais altos decibéis, a torcida colorada construiu festa poucas vezes vista no sudeste brasileiro. A noite, indubitavelmente, entrava para a história.
Festa da torcida colorada/Foto: Divulgação
Os elogios tecidos ao São Paulo no alvorecer desta matéria não se fizeram presentes por acaso. Treinado por um gênio, o time da casa respondeu ao segundo gol colorado com a entrada de Lenílson, ofensivo meio-campista que substituiu Danilo. Logo depois, Júnior, primeiro dentro e depois fora da área, desperdiçou boas oportunidades. O que antes era uma goleada, consequentemente, voltou a tomar contornos de igualdade, afinal de contas, entusiasmada pela postura de seus atletas, a torcida do São Paulo passou a disputar o posto de local com a colorada.
Dentro de campo, a vantagem do Clube do Povo também conviveu com ameaços. Aos 21, por exemplo, Clemer operou grande milagre. Sedento por novo contra-ataque, o Inter deu o troco com Sobis. Após servir Alex, o camisa 11 viu Fernandão ser lançado na esquerda da grande área. Parcialmente cortado, o cruzamento rasteiro do camisa 9 voltou para o artilheiro da noite. De frente pra o gol, ele exagerou na força.
É preciso reconhecer a excelente atuação de Souza, o mais perigoso atleta do São Paulo. Aos 28, ele quase consagrou Júnior, mas o excelente cruzamento foi cortado por Wellington Monteiro. Cobrado o escanteio, o lance prosseguiu até Leandro receber bola na direita da intermediária e cruzar para Edcarlos, postado como um centroavante. Certeiro, o cabeceio morreu nas redes de Clemer. Jogo em aberto, mais uma vez.
No lugar do zagueiro artilheiro, que vinha jogando como atacante, entrou Aloísio, centroavante de origem. Ao mesmo tempo, o Inter contava com Índio, que substituíra, minutos antes do gol, Alex. Fechado com cinco atletas na primeira linha, o Clube do Povo ainda somava mais quatro no meio de campo, consequência da aplicação tática de Fernandão e Sobis, que revezavam no momento de recompor.
A consequência de toda a dedicação dos avantes colorados chegou aos 34, quando o até então incansável Rafael Sobis precisou sair. Exaurido após atuação do mais alto nível, deu lugar para Michel. Renovado, o talismã de Abel Braga dispensou os recuos de Fernandão, e exerceu, absoluto, a função de coringa entre meio e ataque.
“As dificuldades serão iguais ou maiores no próximo jogo. Conseguimos apenas uma pequena vantagem e vamos aproveitá-la da melhor maneira possível”
Abel após o jogo no Morumbi
Descansado na linha de frente, Fernandão criou, aos 36 minutos, oportunidade mágica para o Inter. Acionado por Tinga, prendeu dois marcadores, fez a parede e recomeçou com Jorge Wagner, que deixou de lado com Edinho. O volante disparou do círculo central e, mais uma vez imparável, só foi derrubado por carrinho violento de Fabão, já na meia-lua da grande área. Para o agressor, amarelo. Para o Clube do Povo, falta. Para Jorge, o lamento. A bola saiu alta demais.
Ricardo Oliveira, Lenílson, Richarlyson – alçado a campo na vaga de Leandro -, Souza e, inclusive, Bolívar, cortando cruzamento perigoso vindo da direita. Todos estes atentaram contra a meta colorada ao longo dos instantes que antecederam o apito final. Nenhum balançou as redes de Clemer. Aos 48, Jorge Larrionda encerrou jornada que até hoje segue interminável na nostálgica memória do povo do Inter. Em uma semana, conquistaríamos a América.
Heróis colorados comemoram muito a vantagem conquistada na partida de ida/Foto: Divulgação
Semifinal de Libertadores. O adversário? Forte equipe paraguaia, alvinegra e atual campeã nacional. Último obstáculo na luta por vaga na decisão continental, teria de ser superado no Beira-Rio, sede da batalha final de guerra iniciada no mítico Defensores del Chacho. O roteiro, sabíamos, era conhecido. Tornava-se necessário, portanto, revolucionar seu último capítulo. Há 14 anos, exorcizávamos o último fantasma na caminhada rumo ao topo da América.
Em breve retornaríamos, depois de 26 anos, à final da América/Foto: Jefferson Bernardes
Time embalado
A Libertadores de 2006 foi a primeira disputada pelo Inter em 13 anos. Afastado do torneio desde 1993, o Clube do Povo, gaúcho que desbravou o certame na década de 70, retornou à elite continental após anos de rápida e concreta reestruturação interna. Inicialmente, na abertura do século XXI, o Colorado lutou contra grandes equipes latinas na Sul-Americana, assim ganhando cancha em competições do exterior.
Colorado ascendeu rapidamente no cenário sul-americano/Foto: Marcelo Campos
Logo depois, o Inter fez por merecer o título do Brasileirão de 2005, conquista que consagraria forte elenco abrilhantado por nomes como Clemer, Ceará, Índio, Bolívar, Edinho, Tinga, Jorge Wagner, Alex, Rafael Sobis, Fernandão e muitos outros. Os escândalos extracampo, contudo, embora tenham retirado o troféu nacional das mãos alvirrubas, também serviram de motivação para o time, que ficou ainda mais sedento por taças, como provou na invicta campanha da fase de grupos da Libertadores.
Praticando um futebol extremamente ofensivo, o time de Abel Braga somou 14 pontos e avançou para as oitavas de final na liderança de seu grupo. Ao mesmo tempo, duro revés na finalíssima estadual suscitou mudanças na equipe, que passou a atuar de maneira mais equilibrada, mas igualmente propositiva. Foi assim que eliminamos o Nacional, antigo carrasco, nas oitavas, e também a LDU, em dramático duelo por classificação às semis. Para chegar a decisão, seria necessário superar mais um fantasma – este paraguaio.
Rival também fora de campo
A década de 80 não foi fácil para a torcida colorada. Habituado a dominar Rio Grande e Brasil, o povo vermelho precisou se acostumar ao insosso gosto da prata. Batemos, inúmeras vezes, na trave, alimentando grande sentimento de frustração nos arredores do Gigante. Dentre as derrotas mais doloridas, o revés diante do Olímpia, na semifinal da Libertadores de 1989, atinge notório destaque.
Treinado por Abel Braga, o Inter havia construído maiúscula caminhada continental. Nas oitavas, despachou o todo poderoso Peñarol através de incrível agregado de 8 a 3. Logo depois, o Bahia, atual campeão brasileiro em cima do próprio Colorado, sucumbiu à força do Gigante. Embalado, o Clube do Povo abriu fora de casa, contra a alvinegra equipe do Olímpia, a disputa por vaga na decisão.
O jovem Abel Braga, comandante do Inter no final da década de 80
No Defensores del Chaco, Luis Fernando Rosa Flores anotou, de bicicleta, um dos gols mais bonitos da história da Libertadores. Com ele, o Inter garantiu a vantagem mínima para o jogo da volta, duelo acompanhado, no Beira-Rio, por mais de 70 mil colorados e coloradas que encerrariam o dia atônitos. Ninguém imaginava, mas o Clube do Povo viveria uma das noites mais trágicas de sua história, sacramentada com eliminação após duas derrotas. A primeira, por 3 a 2, aconteceu no tempo normal. A segunda, na marca do cal. Desde então, jamais havíamos chegado tão longe na Libertadores. Até 2006. Até o retorno de Abel. Até novo confronto contra paraguaio, agora o Libertad.
Comandado por Gerardo ‘Tata’ Martino, técnico que chegaria, no futuro, ao comando da Seleção Argentina e também do Barcelona, o atual campeão do Paraguai contava com forte elenco. Entre as principais estrelas de geração que conquistaria o tricampeonato nacional estavam Édgar Balbuena, Víctor Cáceres, Martín Hidalgo, Cristian Riveros, Rodrigo López e, é claro, Pablo Horácio Guiñazú. Para avançar à final, o Inter teria, então, de superar grande adversário dentro de campo, e temido fantasma fora dele.
O jogo de ida
A classificação para a final não seria conquistada graças a alguma receita mágica, invenção de última hora ou coelho tirado da cartola. Se o Inter estava entre os quatro melhores do continente, era por merecimento e justiça. Abrir mão do fizera para chegar tão longe no torneio seria inconsequente. A despeito de qualquer má recordação, a partida contra o Libertad precisava ser encarada como todas as outras. Nosso capitão, como sempre genial, sabia disso.
“Se chegamos até esta fase da competição foi porque adquirimos uma maneira de jogar. Por isso, não podemos mudar nossa postura contra o Libertad. Vamos em busca da vitória, tendo consciência dos perigos que o adversário oferece”
Fernandão, projetando o duelo
Os maus agouros, inclusive, também encarariam adversário de peso nas arquibancadas do Defensores del Chaco. Contra o espírito das frustrações passadas, o Inter contaria com a vibração do mais inabalável povo, capaz de erguer um gigante sobre as águas de um rio. Torcida que sofrera no passado recente, e ansiava para retornar ao seu lugar de direito: o topo do pódio. Para tanto, os milhares que viajaram ao Paraguai apostavam em um comandante identificado com nossas cores.
“É muito bom saber que teremos este apoio maciço no Paraguai. O Inter é uma equipe de alma, de cor vermelha, de sangue. Contra o Libertad não vai ser diferente”
Abel Braga, antes do jogo
Desfalcado por Tinga, o Clube do Povo foi a campo com Clemer no gol, Índio, Bolívar e Eller na zaga; Ceará e Jorge Wagner nas respectivas alas direita e esquerda; Edinho, Fabinho e Alex no meio; Fernandão e Sobis no ataque. Vivendo noite inspirada, o jovem camisa 11 alvirrubro causou grandes problemas à zaga paraguaia, criando as principais oportunidades do começo de partida. De sua parte, o Libertad insistia em bolas alçadas na área, sempre contando com a vibração de Guiñazú para garantir o rebote. Os três zagueiros colorados, todavia, frustravam os planos mandantes.
Na etapa inicial, as melhores oportunidades de cada equipe foram criadas após os 30 minutos. Primeiro, Fernandão, como se fora um poço de tranquilidade em meio ao nervosismo clássico de um confronto eliminatório, recebeu passe forte de Ceará, na altura da intermediária, e, inteligente, deu um chapéu no marcador. Afobado, o adversário passou batido, enquanto o Eterno Capitão colorado dominava no peito, adiantando a posse. Com força, o camisa 9 mandou de direita, e a bola tirou tinta do travessão.
Pouco depois, Cholo Guiñazú conseguiu seu primeiro bom rebote no jogo e, de canhota, em cima da linha da grande área, finalizou no canto. A redonda explodiu no poste, cruzou em frente à meta vermelha, encontrou Riveros e, na segunda tentativa deste, foi cruzada para a confusão, onde López arrematou para defesa segura de Clemer. Por fim, aos 42, Ceará levantou bola fechada que foi direto na trave superior de Gonzalez. Dono da sobra, Sobis ajeitou para Jorge Wagner encher o pé. O arqueiro paraguaio promoveu um belíssimo milagre.
O panorama de igualdade foi mantido para a etapa final. Mortais como de costume, os entrosados Sobis e Fernandão cansaram a defesa paraguaia. À dupla, somavam-se os constantes avanços de Jorge Wagner, pela esquerda, e Ceará, na direita, além de Iarley, que substituiu Alex. O lance mais marcante do segundo tempo, contudo, foi da equipe da casa – mas, de certa forma, também do Inter. Após cruzamento de Romero, Eller afastou para a intermediária. Bem posicionado, Riveros pegou a sobra e, ignorando a longa distância, mandou de primeira.
Rasante, ela voou até o travessão de Clemer, bateu nas costas do goleiro e, mansa, teimosa, picando, saiu ao lado do poste direito. Há dois anos, na Bombonera, também em uma semifinal continental, o goleiro sofrera gol em lance muito parecido. Agora, a bola saía. Na luta entre a camisa colorada e o fantasma paraguaio, parecíamos levar a melhor. Nossa torcida, presente aos milhares no Defensores, certamente fazia por merecer desfecho mais alegre. Pouco depois do lance, o jogo foi encerrado, com o placar zerado. O duelo seguia em aberto.
Partida contou com muita movimentação no ataque e grande aplicação na defesa
Tensão gigante
Entre os confrontos de ida e volta das semifinais continentais, o Inter disputou, pelo Brasileirão, o Gre-Nal de número 366 na história. Com os reservas, o time de Abel Braga até criou as melhores chances, mas não conseguiu alterar o placar do duelo, que ficou marcado, muito mais do que por qualquer lance dentro de campo, pelo vexame histórico da torcida gremista, que provocou grande tumulto nas arquibancadas do Gigante, inclusive incendiando banheiros químicos. Dois dias depois, foi o povo vermelho quem deu exemplo – mas positivo. Na abertura do mês de agosto, o Inter atingiu a inédita marca de 40 mil sócios e sócias, feito que teve como consequência um Beira-Rio completamente lotado para o duelo diante do Libertad.
O Clube do Povo foi a campo, no dia 3 de agosto de 2006, escalado, a exemplo do que ocorrera na partida de ida, com três zagueiros. Bolívar era o responsável pelo lado direto da trinca, enquanto Eller ocupava a esquerda. Entre eles, estava Índio. À frente, cinco meio-campistas tratavam de gerar superioridade numérica na região mais crítica do campo. Donos de grande poder de contenção, mas também responsáveis por oferecer boa saída de bola, Fabinho e Edinho garantiam a liberdade necessária para Alex, extremamente entrosado com o ala-esquerda Jorge Wagner. Ceará, na direita, tinha como parceiro preferido o inquieto atacante Rafael Sobis, eterno par perfeito de Fernandão. No gol, é claro, o titular foi Clemer.
Os heróis responsáveis por devolver o Inter à decisão continental
Os primeiros movimentos da partida deram a entender que o fantasma paraguaio, incapaz de triunfar diante de cinco mil colorados em Assunção, não teria a menor chance contra as mais de 50 mil pessoas que fizeram trepidar o Beira-Rio. Logo aos 3, Edinho escapou em velocidade pelo meio e abriu com Fernandão. Invertendo posição com Sobis, o camisa 9, posicionado como um ponta-direita, cruzou rasteiro para o 11, que se atirou em preciso carrinho. Com os pés, Gonzalez salvou.
De garçom, Fernandão passou a artilheiro, e tentou, aos 14, completar cruzamento aberto de Jorge Wagner. Alta demais, a bola saiu em tiro de meta. Já aos 31, no último lance de perigo da etapa inicial, o Eterno Capitão alvirrubro recebeu grande passe em profundidade de Alex, assistência que não dominou por questão de centímetros, suficientes para o goleiro adversário fazer a defesa.
Embora de ampla supremacia colorada, a etapa inicial conviveu, também, com crescente ansiedade do povo vermelho. Contra o Olímpia, o Inter fora eliminado exatamente no segundo tempo, quando, inclusive, desperdiçou uma penalidade. A lição do passado, logo, era bastante clara: quem não faz, sofre. E o sofrimento deu as caras depois do intervalo. Cedo, o Libertad desperdiçou a primeira oportunidade, respondida rapidamente por Sobis, que teve boa chance. A partir dos 10 minutos, todavia, um verdadeiro filme de terror teve início.
O Inter viveu seis minutos de pura tensão, capaz de paralisar os atletas dentro de campo. Aos 11, Cáceres subiu livre após cobrança de escanteio e, respeitando o figurino, cabeceou para baixo. Clemer defendeu. Cerca de 40 segundos depois, López foi lançado na área e só não balançou as redes graças a desarme providencial de Bolívar. Na cobrança do córner, o mesmo atacante cabeceou bola que levou muito perigo ao gol alvirrubro. A torcida finalmente conseguia puxar o primeiro ar quando Riveros finalizou cruzado e Villareal, por detalhe, não completou de carrinho. Ato contínuo, quem arrematou para longe foi Gamarra. Abel, então, percebeu que a situação só tendia a piorar. Como respondeu? Mandando Rentería a campo, na vaga de Fabinho.
A troca foi ousada. A partir dela, Alex seria recuado à volância, e Fernandão, como um ponta-de-lança, estaria responsável por municiar Rentería e Sobis, a nova dupla de ataque. Necessária para um time que se via obrigado a marcar gols, a substituição também poderia oferecer ainda mais espaços para o Libertad, dentro de campo, e ao azar, fora dele. Felizmente, nenhum destes teve tempo para agir.
Aos 17, pouco mais de um minuto após a entrada de Rentería, Alex recebeu passe de Ceará. Recuado, o camisa 24 pôde visualizar o campo de frente e perceber que, ao mesmo tempo que seus companheiros mais adiantados estavam excessivamente marcados, existia espaço de sobra para progredir até as cercanias da grande área paraguaia. Assim fez e, após simples dois toques na bola, soltou um de seus marcantes canhotaços. Veloz, a esférica voou até as cercanias da pequena área, picou pela primeira vez, ganhou velocidade ainda maior e, sem oferecer chance alguma de defesa, bateu no poste para depois morrer nas redes. Inter na frente!
Ele sempre foi de bomba/Imagens: SporTV
A vantagem colorada nocauteou o Libertad. Antes confiantes em um gol que parecia iminente, os paraguaios ficaram visivelmente desorientados com o caldeirão da beira do Guaíba. Completamente zonzos devido à festa da torcida, chegaram a sentir náuseas quando, ao ritmo do povo vermelho, Sobis começou a dançar na ponta direita.
Primeiro, aos 21, o camisa 11 decidiu partir para dentro da marcação e só depois soltar a bola, cruzada na cabeça de Ceará, que parou no goleiro. No minuto seguinte, mudou de ideia e, ainda na intermediária, acionou Fernandão.
Vindo de trás como um meia, o capitão pôde dominar, fazer o giro, ajeitar e, a exemplo do que fizera Alex, soltar a canhota. Cruzado, o arremate dispensou o beijo no poste, mas também morreu no canto das redes alvinegras. Após abrir o placar graças a meio-campista recuado para a volância, o Inter chegava ao segundo através de um camisa 9 que ocupava a ponta-de-lança. Brilhante, Abel!
O 2 a 0 permitia ao Inter sofrer um gol e, mesmo assim, garantir vaga na decisão. A postura ofensiva, portanto, podia ser arrefecida. Assim, Abel mudou mais uma vez, colocando Wellington Monteiro na vaga de Índio. Deste momento em diante, o Clube do Povo esteve formado por duas linhas de quatro. Na primeira, estavam Ceará, Bolívar, Eller e Jorge Wagner. Logo na frente, Edinho, Alex, Wellington Monteiro e Fernandão.
Compacto, o Colorado seguiu se fechando bem, tocando a bola com segurança e transpirando disposição e garra. Ao mesmo tempo, a torcida, enlouquecida de felicidade, vaiava cada trama adversária com furor idêntico ao usado para incentivar o Alvirrubro. Nos acréscimos, Rentería ainda desperdiçaria boa chance, defendida pelo goleiro paraguaio.
Enfim, aos 48 minutos do segundo tempo, ecoou pelo Beira-Rio o último apito do árbitro Oscar Ruiz, oficializando o retorno do Inter, após 26 anos de espera, à final da Libertadores. Na força do Gigante, nos libertávamos do último fantasma continental. Livres, logo serviríamos de libertadores para os povos vizinhos. Que viesse o São Paulo!
Estávamos loucos por ti, América!/Foto: Jefferson Bernardes
Com festa, o recebemos. Diferenciado, provou-se capaz de transformar centímetro em hectare, segundo em eternidade. Assim, evoluiu: de gênio para amor, depois ídolo e, enfim, divindade. Há 12 anos, D’Alessandro, um dos maiores de nossa história, era oficialmente apresentado pelo Inter. Marcada, desde o desembarque, por grandes emoções, a trajetória do craque esteve repleta de estreias em sua primeira temporada. Relembre-as agora!
O primeiro contato
As primeiras linhas da história entre Andrés Nicolás D’Alessandro e Sport Club Internacional foram escritas no dia 30 de julho de 2008. Gélida quarta-feira invernal, a data conviveu, desde cedo, com grande movimentação de colorados e coloradas no Aeroporto Salgado Filho. De todos os cantos, centenas desejavam receber o mais novo reforço alvirrubro, que desembarcou às 18h35 do horário de Brasília. Poucos minutos depois, o argentino ouviu, no lugar do intenso zunido das turbinas de aeronaves, som ainda mais estrondoso. Este, proferido pela torcida colorada que, a plenos pulmões, alternava do ‘Vamo, Inter!’ ao Dale, D’Alessandro!
As expectativas, vale lembrar, eram grandes em ambos os lados. Para o Clube do Povo, D’Ale simbolizava a ambição de um time que queria mais e seguia sedento por títulos mesmo depois de conquistar América e Mundial. Carregando status de jogador diferenciado, o gringo era a grande aposta para superar quaisquer desconfianças com a reformulação do elenco, que recentemente perdera Iarley, seu camisa 10, e Fernandão, capitão, além do comandante Abel Braga. Nem o mais otimista apaixonado poderia imaginar, contudo, que o buenairense que desembarcava na capital gaúcha assumiria, com o tempo, os dois papéis: de referência técnica, vestindo o número dos gênios, e também anímica, empunhando faixa costurada nos braços de gigantes.
De sua parte, D’Alessandro sonhava em atingir, no Inter, o patamar que sempre provou ser capaz. Revelado pelo River Plate, precisou de poucos anos para virar o grande craque do time hermano. Referência técnica também da Seleção Argentina Sub-20, campeã mundial em 2001, foi negociado, dois anos depois, com o Wolfsburg, da Alemanha. No velho continente, atuaria ainda por Portsmouth, da Inglaterra, e Zaragoza-ESP. Já em 2008 regressou, por empréstimo, ao seu país natal, onde disputou, com o San Lorenzo-ARG, boa Libertadores. O Clube do Povo, portanto, representava o sonho de afirmação do atleta. Também ele não sabi, mas, em breve, começaria a trilhar, a passos largos, roteiro rumo à eternidade alvirrubra.
A estreia
D’Alessandro teve seu nome registrado no Boletim Informativo Diário (CBF) da CBF em 11 de agosto, seis dias depois de começar a trabalhar com seus companheiros. Já devidamente integrado ao grupo, o craque estava, assim, pronto para estrear com a camisa colorada. A partida mais próxima no horizonte, por ironia do destino, era um Gre-Nal. Duelo sempre único, o clássico da ocasião, que teria como palco o Beira-Rio, era ainda mais especial, uma vez que valia pela abertura da primeira fase da Sul-Americana. Após breves contatos com o povo vermelho, tanto no desembarque quanto em seu primeiro treino, acompanhado por 300 pessoas, El Cabezón conheceria, enfim, a força do Gigante lotado.
Cerca de 30 mil pessoas tomaram as arquibancadas do Beira-Rio na noite de 13 de agosto de 2008, data do Gre-Nal 371. Comandado pelo técnico Tite, o Inter, desfalcado de Alex e Nilmar, foi a campo no esquema 3-5-2. Protegido em sua meta por Clemer, o time colorado contava, na defesa, com a segurança do trio Índio, Sorondo e Bolívar. Wellington Monteiro fez a ala-direita, e Nery a esquerda. Na volância, Edinho e Guiñazú conferiam sustentação ao Clube do Povo, que apostava na dupla de ataque formada por Daniel Carvalho e Adriano. Completando a formação estava, é claro, D’Alessandro. Camisa 15 às costas, o argentino era o responsável por armar as tramas ofensivas alvirrubras.
A partida começou a se provar histórica ainda antes do apito inicial. Tradicional rito da torcida colorada na abertura de confrontos disputados no Beira-Rio, os nomes dos atletas titulares foram, um a um, enunciados pelo público. Após saudar Guiñazú, hermano que, àquela altura, já conquistara o coração do povo vermelho, o Gigante celebrou, pela primeira vez em seus 38 anos, Andrés Nicolás D’Alessandro. Perfeito, o canto dedicado ao gringo fez tremer a estrutura do templo alvirrubro, endereço que não costuma se curvar facilmente a jogadores estreantes. De certa forma, nossa casa parecia saber que o canhoto meio-campista faria história em seu gramado, e deixava esta profecia clara à multidão presente nas arquibancadas, que eufórica bradava D’Ale.
Naturalmente à procura do melhor entrosamento com seus companheiros, D’Alessandro compensou qualquer falta de ritmo com enorme movimentação. Insinuante, o gringo não economizou suor na luta por espaços, aparecendo ora pelos lados, ora centralizado. O tradicional refino na cobrança de bolas paradas também foi percebido em escanteios e faltas que aterrorizaram a defesa tricolor. Titular durante os 90 minutos, somente deixou de cobrar o pênalti colorado na partida, convertido por Daniel Carvalho. Minutos depois, Léo empataria para os visitantes, dando números finais ao confronto, primeiro dos atuais 486 que D’Ale, terceiro jogador que mais vezes vestiu o manto alvirrubro, disputou pelo Inter.
Surge o garçom
O dia 20 de agosto de 2008 pode ser entendido como um divisor de águas na história recente do Internacional. Na data, Alex, D’Alessandro e Nilmar atuaram juntos pela primeira vez. Trio de ouro, responsável por completar a nominata de geração que marcou época com a camisa colorada, estreou em jogo da segunda rodada do returno nacional, diante do Palmeiras. No Beira-Rio, debaixo de chuva fraca, mas constante, o Clube do Povo foi a campo em busca da reabilitação no Campeonato Brasileiro.
O azar, presente em recentes frustrações do Clube do Povo no certame, ameaçou a quinta-feira colorada logo cedo. Aos três minutos, Alex Mineiro cavou e cobrou pênalti para os visitantes. Pouco depois, Diego Souza ainda desperdiçaria clara oportunidade de gol. O bom momento, entretanto, subiu à cabeça dos palestrinos, que, ansiosos por marcar o segundo, esqueceram do poderio ofensivo colorado. A consequência? A virada, construída em um minuto. Primeiro, aos 18, Alex cobrou falta na cabeça de Índio, que empatou. Depois, aos 19, o canhoto camisa 10 soltou uma bomba de fora da área para colocar o Inter na frente.
A magra vantagem do Inter resultou em um começo de segundo tempo bastante agitado. Principal nome da etapa inicial, Alex, que retornava de lesão, precisou ser sacado cedo, aos 11. Sem o camisa 10, D’Alessandro ocupou protagonismo ainda maior na criação de jogadas. De modo praticamente simultâneo à saída do companheiro, que deixou o campo para a entrada de Taison, El Cabezón brigou contra dois marcadores, levou a melhor e cruzou rasteiro para Nilmar, que finalizou de primeira levando perigo à meta de Marcos. Pouco depois, aos 16, o craque argentino bateu falta pela esquerda da área paulista. Açucarada, a bola viajou até a segunda trave para, dentro do retângulo pequeno, encontrar Índio. Goleador, o zagueiro não perdoou. No placar, 3 a 1, e o camisa 15, logo em sua terceira exibição com o manto alvirrubro, já servia a primeira das 113 assistências que hoje soma pelo Clube do Povo.
Momento histórico: a primeira assistência de D’Alessandro pelo Inter
Já nos acréscimos, enquanto a torcida celebrava a vitória, D’Ale deu lindo corte na marcação e deixou com Adriano, dentro da área rival. O atacante dominou com a esquerda, limpou para a direita e soltou um foguete, espalmado por Marcos. O rebote, dentro da área, foi de Taison, que fuzilou para anotar o quarto. Goleada alvirrubra, celebrada com dança por seu autor e o garçom argentino, que aos poucos começavam a nutrir belíssima amizade.
O gol de número 1
O alto nível das primeiras atuações de D’Ale no Inter foi reconhecido, ainda no mês de agosto, com convocação do craque para a Seleção Argentina. Desfalque na 24ª rodada do Brasileirão, o gringo retornou a tempo de atuar contra o Botafogo, na jornada seguinte. Realizado no Engenhão, o confronto diante dos cariocas foi o primeiro disputado pelo inesquecível losango de Tite. Armador, El Cabezón correspondia ao vértice superior do meio de campo colorado, enquanto Edinho fazia a base. Pela direita, quem atuava era Magrão, ao lado do canhoto Guiñazú. O quarteto, ilustre, antecedia a dupla Nilmar e Alex.
O duelo contra os cariocas também contou com brilho do trio ofensivo alvirrubro. No primeiro tempo, aos 30, D’Alessandro, demonstrando grande entendimento das características de seu companheiro, lançou Nilmar em velocidade. Na corrida, o atacante venceu até mesmo o goleiro carioca para cruzar na direção do gol, onde Alex, livre, apenas completou. Inter na frente!
A grande pintura da noite ainda estava por vir. No início do segundo tempo, Guiñazú e Taison escaparam em grande tabela pela esquerda que chegou às cercanias da meta carioca, onde o argentino acionou seu compatriota D’Alessandro. El Cabezón dominou com a direita, já colocando na frente e invadindo a área. Com ângulo para arrematar de canhota, enquadrou o corpo e enganou o zagueiro Renato, que decidiu dar o bote. Genial, o camisa 15 colorado cortou para dentro, deixou o marcador no chão, reconduziu para fora e, com o pé bom, arrematou rasteiro. Golaço, o segundo do Clube do Povo no jogo, primeiro dos 94 marcados por D’Ale com o Inter.
Na comemoração, o futuro ídolo, eufórico com o marco que alcançava, e também com a jogada que produzira, convocou todos seus companheiros para o abraço. Destaque, é claro, para a celebração com Taison, reafirmando a crescente amizade da dupla.
O Botaofogo até conseguiu descontar, marcando o seu com André Luiz. A proximidade no placar, contudo, não resultou em grande pressão do time da casa. Maquiavélico, D’Ale assumiu o controle da partida e passou a ditar o ritmo de cada movimento realizado dentro de campo, escolhendo, a bel-prazer, quando o jogo deveria ser acelerado ou ter seu ritmo diminuído.
Com espaço no centro do campo, o gringo desfilou, sempre de cabeça erguida, inversões milimétricas, passes teleguiados, dribles desconcertantes e uma boa dose de experiência hermana. O show de Andrés apenas foi finalizado quando o camisa 15 deixou o campo para a entrada de Rosinei, que ajudou o Inter a garantir os três pontos.
Homem Gre-Nal
Do alto de seus 51 anos de vida, o Beira-Rio ostenta história rara entre os estádios do mundo. Ao longo das últimas cinco décadas, o Gigante já serviu de palco para diversas gerações vitoriosas e craques renomados. Foi ele, por exemplo, quem revelou Falcão, muito vibrou com Valdomiro, reverenciou Jair, aplaudiu Lula, amou Rubén Paz, eternizou Fernandão e consagrou Sobis, entre muitos outros geniais criadores. Sozinha, nossa casa sabe ocupar o papel de protagonista para superar batalhas difíceis. Humilde, também consegue servir de moldura perfeita aos espetáculos de artistas colorados. Poucas exibições foram tão belas quanto a oferecida por D’Alessandro no dia 28 de setembro de 2008.
D’Ale chegou ao Inter talhado para encarar o significado do Gre-Nal. Duas semanas depois de estrear com a camisa colorada no maior clássico do país, o argentino seria um dos destaques do jogo de volta da primeira fase da Sul-Americana, encerrado com empate de 2 a 2 e classificação do Clube do Povo em pleno Estádio Olímpico. Nada do que produzira contra o Grêmio ao longo do mês de agosto, todavia, pode ser comparado à magnificência do que ofereceu aos 42.590 colorados e coloradas que lotaram o Beira-Rio para acompanhar o confronto de número 373 na história entre Alvirrubro e Tricolor.
O Gre-Nal do segundo turno do Brasileirão de 2008 foi diferente. Antes da partida, o presidente gremista vociferara às rádios gaúchas que, no Beira-Rio, o time visitante “passaria a máquina” sobre o Inter. Ingênuo, injetou ainda mais ânimo no esquadrão colorado. Não que adrenalina fizesse falta, pois o Clube do Povo, vivendo grande fase, ansiava por coroar o bom momento superando o rival e, assim, dando fim a jejum de quase dois anos sem triunfos em clássicos. O infeliz comentário do dirigente, contudo, certamente alimentou a sede dos comandados de Tite, que entraram em campo sedentos, emulando o saudoso Rolo Compressor.
Maestro, El Cabezón transformou o Beira-Rio em teatro – nada silencioso, por óbvio. Como se conduzisse uma orquestra de tango, desfilou no tapete de nossa casa alternando entre o drama de passes estonteantes e a agressividade de arrancadas e finalizações incontroláveis. Sutil como são os gestos de um regente, aos quatro minutos progrediu até a área gremista mirando rebote que se oferecia à feição. Diante da bola, enquadrou o pé direito e chicoteou com a canhota, desabafando. Golaço do Inter, o primeiro de D’Ale no templo que, aos poucos, começava a chamar de casa.
Pouco depois, Tcheco empataria para os visitantes. O gol, verdade seja dita, não passou de ousada provocação a um time que apenas respirava, preparando-se para o segundo ato, que nada custou para chegar ao clímax. Muitos dos presentes, inclusive, sequer prestigiaram o reinício do espetáculo, culpa do maestro, que decidiu aprontar com a desatenção do público. O que você consegue fazer em oito segundo? D’Ale precisou deste punhado de centésimos para ter um lampejo e cobrar rápido falta pela direita. No pé de Alex, a bola foi fuzilada pelo camisa 10, que mandou rasteiro. Era o segundo.
A Maior e Melhor Torcida do Rio Grande jamais se comportou como plateia teatral. Se D’Ale regia uma orquestra, a reverência que recebia como resposta nada tinha de silenciosa, e sim apoteótica. Porque o Inter, naquele momento o gringo descobriu, não é o Clube do Povo por acaso. Instituição nascida em berço popular e embalada por blocos e marchas carnavalescos, carrega a efervescência como sobrenome. Todo colorado é um pouco Rao ou Charuto. Toda colorada sabe ser coreana. Em meio a esta bela mistura, perfeitamente heterogênea e bagunçada, seguiu o espetáculo. Primeiro, catapultado por Índio, que mandou, de cabeça, cruzamento de Andrés para as redes. Depois finalizado, também em um testaço, por Nilmar, completando lançamento açucarado do argentino. Massacre alvirrubro por 4 a 1, que ficou barato (assim como o ingresso, se comparado à excelência oferecida pela sinfonia dalessandrina), confirmado.
“Quando cheguei aqui, só se falava do Gre-Nal. É um clássico, e é preciso ganhar. O time necessitava da vitória. Hoje, tive sorte de ter uma atuação tão boa, meu gol foi importante para mim e para a torcida, mas amanhã pode ser com outro jogador. Para mim, o importante mesmo foi a vitória.”
D’ALESSANDRO, APÓS O CLÁSSICO
Debut continental
Lutando para atingir as primeiras posições no Campeonato Brasileiro, e ainda reticente quanto ao desenho da Sul-Americana, Tite preservou diversos atletas nos 180 minutos que compuseram a fase de oitavas de final do torneio, disputada contra a Universidad Católica. D’Alessandro, envolvido também em convocações para a Seleção Argentina, foi um deles, e sequer entrou em campo nas partidas diante dos chilenos.
O cenário de cautela para com o certame continental foi transformado a partir da classificação para as quartas de final e consequente proximidade do título. Na luta para garantir vaga entre os quatro melhores da América, o Clube do Povo enfrentou o Boca Juniors, recente algoz que eliminara o Colorado da competição nos anos de 2004 e 2005 e campeão da Libertadores na temporada anterior. Escalado com força máxima, o Clube do Povo venceu a primeira partida contra o time xeneize, antigo rival de D’Ale nos tempos de River, por 2 a 0. Disputado no Beira-Rio, o confronto, primeiro da trajetória de Andrés no Inter contra equipes do exterior, contou com dois gols de Alex, grande protagonista da noite.
Duas semanas depois, o Clube do Povo foi a campo, na Bombonera, para garantir a classificação às semis do continente. Disputado no dia 6 de novembro, o confronto foi o primeiro disputado pelo time de Tite com uma linha de quatro zagueiros na defesa. À frente de Lauro, um dos grandes destaques da partida, Bolívar, na direita, Marcão, na esquerda, e a dupla Índio e Álvaro, no miolo, formaram a defesa. A escalação era continuada, no meio, pelo já tradicional quarteto de Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro, argentino que se somava a Alex e Nilmar para formar mágico trio ofensivo.
Extremamente vaiado a cada toque na bola, D’Alessandro, carrasco do Boca no início do século, ajudou a construir uma etapa inicial cadenciada, sem grandes sustos para o Inter. Imperante antes do intervalo, a morosidade foi completamente abandonada no segundo tempo, que contou com gol colorado logo no minuto inaugural. Nilmar, lançado por Magrão, foi ao fundo pela direita e cruzou na medida para o camisa 11, que mandou no travessão. A bola até picou dentro, mas, por via das dúvidas, o meio-campista completou, de cabeça, estufando as redes. O time da casa respondeu com as entradas de Riquelme e Dátolo, duas das estrelas xeneizes, que reacenderam a Bombonera. o mítico palco hermano foi ao delírio pouco depois, aos 12, quando Juan Román empatou.
Insuficiente para classificar o time da casa, a igualdade apenas impulsionou ainda mais o Boca Juniors, que tentava, a todo custo, encurralar o escrete colorado. Atuar de maneira desesperada contra o Inter de Alex, Nilmar e D’Alessandro, contudo, jamais foi uma ideia inteligente. Entregue a fortuitos cruzamentos na área alvirrubra, os quais raramente eram finalizados na direção do inspirado goleiro Lauro, o time xeneize aprendeu a lição a duras penas.
Aos 27, D’Alessandro foi lançado pela esquerda. Pouco depois da quina da grande área, mas ainda fora do retângulo, o argentino, esbanjando visão de jogo rara para os seres humanos, mas comum na rica carreira que ostenta, serviu, de canhota, assistência precisa para Alex. Em velocidade, o camisa 10 sequer precisou dominar e, de frente para o goleiro, apenas desviou buscando o canto. Golaço, à altura da épica atuação colorada, consagrador de vitória incontestável e maiúscula de um elenco que desejava ser campeão.
Ganhar do Boca,
na Bombonera,
é especial para mim!
D’ALESSANDRO, COMEMORANDO A EPOPEIA COLORADA
Aproximadamente quatro minutos após o gol da vitória, D’Ale, sacado para a entrada de Taison, fez questão de não deixar o campo sem antes agradecer a festa dos milhares de colorados e coloradas que lotaram o setor visitante da Bombonera. O craque, que aos poucos conquistava o coração do povo vermelho, não somente ganhou preciosos segundos durante o aplauso, como também despertou a ira da torcida local, reforçando sua fama de protagonista em clássicos. Gigante, Cabezón!
A primeira taça
Depois de eliminar o poderoso Boca Juniors com o maiúsculo placar agregado de 4 a 1, o Clube do Povo encarou, nas semifinais da Sul-Americana, o forte time do Chivas de Guadalajara. Com problemas intestinais, D’Alessandro desfalcou o Inter no confronto de ida, disputado no México, mas a ausência do gringo, felizmente, não foi sentida. Atuando com Andrezinho, que, como de costume, entregou grande exibição, o Colorado contou com noite inspirada da dupla Nilmar e Alex para vencer por 2 a 0, um gol de cada, e trazer a vantagem para o Beira-Rio.
Para a partida de volta, o desfalque foi outro – assim como o protagonista. Desfalcado de Alex, convocado pela Seleção Brasileira, o Inter encontrou em D’Alessandro o substituto ideal para o camisa 10. Reposição, esta, ocorrida não na criação de jogadas, já que o gringo, desde sua estreia, evoluía continuamente enquanto meia dos sonhos do povo vermelho, mas sim para o faro artilheiro em bolas paradas.
Cada vez mais adaptado ao corredor esquerdo, Marcão construiu excelente jogada individual aos 18 da primeira etapa, invadindo a área mexicana perseguido por três marcadores. O camisa 6 apenas perdeu a posse quando tentou fintar para dentro, mas o corte da zaga, parcial, encontrou o pé canhoto de D’Alessandro. Pisando na meia-lua, o gringo fingiu chutar e, esperto, ajeitou para a direita, adiantando na área e escapando do primeiro zagueiro. Pressionado por um segundo, tentou fazer o giro, mas foi derrubado por violento carrinho. Assinalado o pênalti, o próprio Cabezón abraçou a bola e, um minuto depois, bateu com exímia perfeição. Era o primeiro.
Os três gols de vantagem no agregado deixaram o Clube do Povo ainda mais tranquilo na partida. Armado com Taison e Nilmar na linha de frente, o Colorado, decidido a explorar a velocidade da dupla, soube oferecer parte do campo para os mexicanos, que passaram a cruzar a região central com relativa facilidade para, logo depois, esbarrar na defesa vermelha. Perfeita para contra-ataques, a receita ofereceu boas escapadas ao Inter.
Em uma destas, aos 35, o jovem atacante que substituía Alex chamou D’Alessandro para tabelar, mas, derrubado por trás, não conseguiu receber a devolução do argentino. Oscar Ruiz flagrou a irregularidade e indicou a falta. Coube ao grande nome do jogo, é claro, fazer a cobrança. Inteligente, El Cabezón percebeu pulo do goleiro na direção da barreira e cobrou no canto do arqueiro, pegando-o no contrapé. Indefensável, ela morreu na rede.
Marcão, de novo ele, investiu contra dois adversários pela esquerda e, experiente, cavou escanteio aos 43 do primeiro tempo. A cobrança, desta vez, coube ao destro Taison, que bateu fechado, buscando olímpico. No reflexo, o goleiro Hernandez até espalmou, mas manteve a bola na pequena área, entregue ao cabeceio de Nilmar, que ampliou. A dupla de ataque também aprontou na segunda etapa, com nova assistência do jovem camisa 20 para o artilheiro dono da 9. Mais do que garantir a classificação para a final, a vitória de 4 a 0 também serviu como homenagem perfeita a Arthur Dallegrave, ex-dirigente que figura entre os mais importantes políticos da história colorada, falecido dois dias antes da partida.
O adversário colorado na decisão foi o Estudiantes-ARG. Tradicional equipe do futebol sul-americano, o Pincha abriu a final, em seus domínios, apostando na magia de La Brujita Verón para largar em vantagem. Disputados no dia 26 de novembro, os primeiros 90 minutos do embate de alvirrubros envolveram tudo o que um duelo de gigantes continentais cobra. Drama, raiva, euforia, injustiça, heroísmo e uma boa dose de sorte flertaram com a maiúscula e histórica exibição do Clube do Povo, que teve em D’Alessandro um de seus referenciais. Genial como de costume, o gringo soube se adaptar às circunstâncias da partida, construindo atuação multifacetada.
No primeiro tempo, D’Alessandro foi letal no ataque. Mesmo deslocado de função a partir dos 24 minutos, quando Guiñazú recebeu injusto cartão vermelho, o gringo orquestrou todos os escapes colorados. Atuando pela direita da linha de quatro meio-campistas, formou, no flanco, triângulo perfeito com Bolívar, lateral, e Magrão, volante. Combinado, o trio misturava força e leveza, imposição física e alto quilate técnico.
Empolgado com a superioridade numérica, o Estudiantes se mandou para o ataque, deixando espaços letais na defesa. Aos 32, D’Alessandro percebeu um desses e, após receber passe de Nilmar, devolveu para o camisa 9 lançando, de direita, em profundidade, nas costas de Desábato. Incomodado, o beque atropelou o jogador colorado. Pênalti, que Alex bateu duas vezes para valer uma e abrir o placar!
Aos 37, D’Ale quase ampliou. Afiado nas cobranças de falta, o gringo mandou, da intermediária, chute forte no canto de Andújar. Venenosa, a bola triscou na ponta dos dedos do arqueiro, explodiu no poste esquerdo e retornou para os braços do camisa 1 pincharrata. Por detalhe o Clube do Povo não marcava o segundo, mas D’Alessandro demonstrava ser ele, e não Verón, o grande regulador do duelo. Como joga, Andrés!
Mais do que continuar dando exemplo de aplicação defensiva para fechar os espaços na retaguarda, na segunda etapa D’Alessandro, apoiado pela vantagem colorada no placar, passou a cozinhar o confronto. Sempre chamando a bola de “tu”, tratando a redonda com carinho, o gringo irritou seus compatriotas que, incrédulos, assistiam ao matrimônio de D’Ale com a esférica sem conseguir interferir no relacionamento. O camisa 15 ainda ofereceu assistência espetacular para Magrão, acionando o volante com um ganchinho surpreendente. Forte, o arremate do número 11 foi defendido por Andújar. Desta forma, findada a partida, o Inter garantia vantagem para a volta em Porto Alegre: 1 a 0!
Em campo, Lauro; Bolívar, Danny Morais, Álvaro e Marcão; Edinho, Andrezinho, Magrão e D’Alessandro; Alex e Nilmar. No Gigante, 51.803 apaixonados, decididos a conquistar o último título de elite que faltava na galeria de troféus alvirrubra. A terceira noite do mês de dezembro reuniu todos os ingredientes para ficar na história.
O clima de mobilização visto no Beira-Rio catalisou grande atuação colorada na etapa inicial. A exibição, é claro, passou longe de um massacre, como costumeiramente são disputadas as finalíssimas, mas era evidente a superioridade do Inter na partida. Incendiado por um Gigante que praticamente pegou fogo, o time do técnico Tite criou sua primeira oportunidade aos 4, com D’Alessandro, que pegou a sobra de boa jogada de Alex e finalizou, forte, com a canhota. A bola saiu por cima, levando muito perigo. Já às vésperas do intervalo, El Cabezón deu lindo passe para Andrezinho chutar colocado e exigir milagre de Andújar.
O Estudiantes cresceu no segundo tempo, especialmente depois dos 10 minutos. Time matreiro, conhecedor dos mata-matas, aproveitou o momento positivo para balançar as redes do Inter. A vitória pelo placar mínimo igualou o placar agregado, levando a decisão para a prorrogação. Uma vez mais, o Beira-Rio precisou exercer papel de protagonista para compensar o desgaste de seus heróis e amedrontar os visitantes mal-intencionados. Incendiário, o Gigante começou a jogar, e serviu de parceiro perfeito para a canhota de Andrés.
O time que começou a disputa do tempo extra exibia diferenças em relação ao escalado para a partida. No lugar de Alex, Taison compunha veloz linha de frente com Nilmar, enquanto Gustavo Nery, que substituira Andrezinho, acrescentava maior vigor físico na esquerda do meio. No início da etapa final, Sandro ainda foi alçado a campo na vaga do extenuado Magrão. Uma escalação pautada na imposição e na força, portanto, buscava a taça continental. Controlando o ímpeto e adicionando pitadas de brilhantismo à robustez, D’Alessandro capitaneava cada avanço vermelho, sempre acompanhado por seus companheiros, que ofereciam respostas perfeitas aos movimentos do camisa 15. O gringo, consciente de sua responsabilidade, criou as melhores oportunidade do Clube do Povo na prorrogação.
Ainda nos primeiros 15 minutos, D’Alessandro progrediu, a seguidos cortes, pela esquerda da área rival. Com espaço, alçou bola milimétrica para Bolívar, que cabeceou na zaga, deu início a verdadeiro caos e, ainda, encerrou a jogada soltando um petardo milagrosamente defendido pelo goleiro. No segundo tempo, aproveitando o recente entrosamento com Bolívar e tirando vantagem do fôlego renovado de Taison, o argentino ocupou, com grande frequência, o lado direito do campo. Por ali, aos 6, driblou dois marcadores para invadir a área, aplicou o La Boba em um terceiro e cruzou de direita por cima de Andújar. Posicionado sob as traves, Nilmar teria o gol aberto para marcar, mas fora cortado, segundos antes do arremate, por Angeleri. Apesar de desperdiçada, a oportunidade deixava claro qual era o caminho do gol.
O relógio indicava oito minutos e quatro segundos da etapa final da prorrogação quando D’Ale, empurrado pela curva sul do Beira-Rio, partiu para levantar escanteio na área argentina. Cavado por Taison, o córner, pela direita, permitia ao canhoto a possibilidade de cobrança fechada. Exatamente assim o camisa 15 alçou, procurando a entrada da pequena área. Ali, quem subiu foi Danny Morais, testando para o solo.
Na subida, a bola resvalou nos dedos de Andújar e explodiu no travessão, oferecendo-se para Nery. De esquerda, o meio-campista soltou o pé, mas também foi bloqueado pelo goleiro. O rebote, contudo, sobrou para o artilheiro. Encarando um gol aberto, Nilmar não teve problemas para honrar o faro goleador de sempre e empatar para o Clube do Povo. Gol de título, de um campeão de tudo. E o Beira-Rio? Ficou catártico!
O título da Sul-Americana foi o primeiro dos 13 que D’Ale conquistou, até o presente dia, com o Colorado. Já amado pela torcida após míseros quatro meses de Beira-Rio, o argentino não titubeou ao escolher a comemoração perfeita para o triunfo. Com a taça em mãos, disparou até a saudosa goleira do placar e, de frente ao público ensandecido, subiu no antigo fosso do Gigante. Encarando cada torcedor nos olhos, provou ser um capitão nato para erguer o cobiçado troféu, levando dezenas de milhares ao delírio. Clube do Povo, campeão continental! Vamo, Inter; e Dale, D’Alessandro.
Tarefa ingrata resumir a gigante história do Inter na Libertadores. Primeira equipe da região sul do país a participar do torneio e disputar uma final, o Clube do Povo abriu o século XXI encarando indigesto histórico de recentes desencontros com a maior competição das Américas. Ao todo, o Colorado viveu um hiato de 13 anos distante do principal certame de nosso continente. O retorno, rodeado de grandes expectativas por um final feliz, aconteceu em 2006, e teve um de seus maiores capítulos vivenciados há exatos 14 anos.
Rafael Sobis e torcida: os destaques da vitória sobre a LDU
O caminho até as quartas
Credenciado após dois anos seguidos de boas campanhas na Sul-Americana, o Inter encarou com autoridade a pressão da reestreia na Libertadores. Contra o Maracaibo-VEN, fora de casa, Ceará abriu o placar aos três minutos do segundo tempo. Disputada no dia 16 de fevereiro, a jornada contou com infeliz gol dos donos da casa aos 43, igualando o marcador. Uma semana depois, o Beira-Rio lotado comemorou os 3 a 0 do Clube do Povo sobre o Nacional-URU. No mês seguinte, o Colorado conquistou duas grandes viradas sobre o Pumas-MEX, a segunda por 3 a 2, em Porto Alegre, e chegou aos 10 pontos. Novo empate, este no Uruguai, somado a triunfo de 4 a 0 sobre os venezuelanos, já em abril, encerrou a campanha alvirrubra, segunda melhor entre os participantes, na fase de grupos do torneio.
De maneira simultânea à boa fase continental, no Gauchão o Inter também avançou líder para as eliminatórias. Na final, entretanto, dois empates contra o maior rival deixaram o Clube do Povo com o vice-campeonato. O resultado serviu de alerta para Abel Braga, que promoveu mudanças na escalação, reconduzindo Rafael Sobis, que sofrera com lesões no primeiro semestre, ao time titular, assim como Jorge Wagner. No encerramento dos grupos da Libertadores, a lesão de Tinga resultou em nova alteração nos onze iniciais. Assim, com um meio de campo formado por Edinho, Fabinho, Alex e Gabiru, o Colorado chegou para a disputa das oitavas, que promoveram novo encontro com os uruguaios do Nacional.
O Inter exorcizou seu primeiro fantasma logo na partida de ida, disputada no Parque Central. Jorge Wagner, em um golaço de falta, empatou para o Inter na etapa inicial, mas a grande pintura da noite ainda estava por vir. Aos 18 do segundo tempo, Rentería, o mais colombiano dos sacis, aplicou um lençol no zagueiro Pallas e, sem deixar a bola cair, pegou na veia. Vitória por 2 a 1 que, somada a empate sem gols do Beira-Rio, classificaria o Inter para as quartas.
A tensão pelo jogo de volta
O adversário nas quartas de final foi a LDU. Equipe dona da segunda melhor campanha entre os segundo colocados da primeira fase, superou, nas oitavas, o Atlético Nacional, da Colômbia, com o agregado de 5 a 0. Extremamente forte em seus domínios, o time equatoriano sabia explorar a altitude de Quito, localizada cerca de 3.000 metros acima do nível do mar, para encurralar adversários. Abusando deste recurso, largou em vantagem na luta por vaga nas semis continentais. Jorge Wagner, vivendo fase artilheira com sua sempre afiada perna canhota, até abriu o placar para o Inter no primeiro tempo, mas o ar rarefeito fez a diferença na etapa final, permitindo aos donos da casa o triunfo por 2 a 1.
Inter vinha de campanha invicta na Libertadores/Fotos: Jefferson Bernardes
O revés marcou o fim de uma invencibilidade de 27 jogos. Para piorar, o confronto de volta, tradicionalmente disputado sete dias após o primeiro duelo, levaria meses até ser realizado. Paralisada por conta da disputa da Copa do Mundo da Alemanha, a Libertadores seria retomada apenas em julho. Assim, ao longo de mais de sessenta dias a torcida precisaria conter a ansiedade e, ao mesmo tempo, seguir esperançosa. Missão difícil? Não para o povo colorado.
A Maior e Melhor Torcida do Rio Grande não somente continuou fiel, como criou uma corrente de energias positivas poucas vezes vista na história. Foram semanas marcadas por recordes de associação, liquidação de cadeiras disponíveis nos setores locados e peregrinação ao Beira-Rio para comprar camisas, acompanhar treinos ou simplesmente fazer alguma reza, depositando sua fé no número 891 da Avenida Padre Cacique. Enquanto o restante do país estava imbuído de forte espírito nacionalista, o povo alvirrubro deixava os jogos da Seleção Brasileira em segundo plano, permanecendo ansioso não para as esperadas exibições de Dida, Ronaldinho, Kaká, Robinho, Ronaldo e Adriano, mas sim para ver em campo Clemer, Tinga, Alex, Rafael Sobis, Fernandão e companhia.
Duas semanas depois da partida do Equador, o Inter anunciou que 400 novas cadeiras locadas seriam colocadas à disposição, visando a suprir a demanda crescente dos associados e torcedores colorados. O bom momento vermelho, que após campanha histórica no Campeonato Brasileiro do ano anterior conseguia conciliar as diferentes disputas de 2006, seguindo vivo na Libertadores e ocupando as primeiras posições do torneio nacional, orgulhava a torcida. Faltava, porém, conquistar um título que estivesse à altura da grande fase.
Todos no Beira-Rio encaravam o confronto que se avizinhava como o jogo do ano. O Inter, por exemplo, tratou de aprimorar a estrutura do Gigante, realizando reformas nas cadeiras locadas, preparando o setor para a noite de 19 de julho, quando centenas de novos frequentadores eram esperados no local. A Central de Atendimento ao Sócio (CAS) também se adaptava, fazendo plantões em série, muitas vezes trabalhando noite adentro. Nem mesmo a derrota para o Juventude, na última partida do Nacional antes da decisão pela Libertadores, arrefeceu o ânimo da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.
O Gigante jogou junto
Passados mais de dois meses e uma Copa do Mundo, enfim o apito inicial estava próximo. Cerca de 40 mil colorados e coloradas tomaram as arquibancadas do Beira-Rio, ignorando o horário da partida, marcada para as 19h15, que complicava a rotina de todos que trabalharam naquela quarta-feira. Dentro do Gigante, todavia, nada mais parecia importar. Para a multidão ensandecida, apenas o estádio existia. Com bandeirões, faixas, cantoria, sinalizadores e instrumentos, o povo transformou o templo da Padre Cacique em um caldeirão, pronto para cozinhar o adversário desde a entrada das equipes em campo.
Iniciado o confronto, o Inter estava escalado com Clemer no gol; Elder Granja, Bolívar, Fabiano Eller e Jorge Wagner na defesa; Fabinho, Edinho, Tinga, recuperado de lesão, e Alex no meio; Rafael Sobis e Fernandão no ataque. Do outro lado, sete atletas que integraram a delegação equatoriana na Copa da Alemanha impunham respeito. Armada no esquema 4-5-1, com três volantes, a LDU tinha como claro objetivo anular o ataque colorado – e abria mão de quaisquer princípios por isso. Logo no primeiro minuto, Sobis cruzou da esquerda buscando Fernandão. O Capitão quase chegou na bola, dividindo com o goleiro Mora, que fez a defesa e, de imediato, aproveitou a oportunidade para ganhar alguns segundos na primeira cera visitante.
Resumido a esparsos cruzamentos na direção da área rival, o Clube do Povo sofreu para criar oportunidades na primeira meia hora de partida. Na reta final da etapa, Fernandão, Sobis e Granja, em arremates de fora da área, conseguiram esboçar uma pressão colorada, incapaz de balançar as redes equatorianas, mas suficiente para reascender o pavio do Gigante. Chegado o intervalo, da inferior às cadeiras o povo compartilhava da mesma certeza: se quarenta e cinco minutos eram pouco comparados às semanas de mobilização entre uma partida e outra, imagine, então, em relação a 97 anos de história.
Etapa final para a história
A sinergia entre time e estádio resultou em pressão arrasadora dos comandados de Abel Braga na volta do intervalo. Como um rolo compressor, o Inter encurralou os visitantes, e passou a empilhar grandes chances. Aos dois minutos, Sobis costurou do meio para a esquerda e deixou com Jorge Wagner, que cruzou rasteiro. A bola passou do goleiro e encontrou, praticamente debaixo das traves, o pé de Tinga. Desequilibrado por um marcador, o camisa 7 colorado finalizou com muita força, caindo, e mandou por cima da goleira. Segundos depois, Alex descolou lindo lançamento para Fernandão. Entre a dupla de zaga rival, o camisa 9 dominou no peito e, de canhota, finalizou cruzado, tirando tinta da trave de Mora. O gol era iminente.
A dobradinha Sobis e Fernandão fez história com a camisa colorada. Explosivo, o garoto de Erechim sabia explorar espaços como poucos. Surgiu para o futebol seguindo à risca a cartilha de um segundo atacante, genial para estabelecer combinações com seu parceiro ofensivo. Ao mesmo tempo, nosso Eterno Capitão sempre demonstrou inteligência acima da média. Apesar do que a estatura e o número que vestia podem sugerir, não era um centroavante clássico. Habituado a ocupar a ponta-de-lança, gostava de circular fora da área, criando vazios na defesa adversária. Exatamente desta forma, após lançamento de Jorge Wagner, nosso camisa 9, caindo pela esquerda, escorou de cabeça para Rafael.
Pula que é gol do Sobis, só pode ser o Sobis!/Imagens: Rede Globo
Sobis partiu no mano a mano com o zagueiro Espinoza. Inteligente, retardou ao máximo seu primeiro toque na bola, deixando a redonda seguir a trajetória proposta por Fernandão. Já próximo da área adversária, começou a cortar para a direita, entortando as costas do defensor rival. Ao pisar na meia-lua, percebeu que tinha visão aberta para a goleira, e soltou a bomba. Inter na frente!
Nos minutos que se seguiram, o Inter acumulou chances desperdiçadas. Pouco depois, Tinga sentiu lesão e deixou o campo para a entrada de Adriano Gabiru. Os milhares presentes no estádio, que tanto esperaram pelo jogo, agora torciam para que o confronto chegasse ao fim o quanto antes. Depois de 17 anos, o Colorado gaúcho poderia retornar, pela quarta vez em sua história, às semifinais da Libertadores.
Desesperada, a LDU passou a ocupar o campo de ataque, construindo pressão nos minutos finais. Bem postado, contudo, o Colorado impediu a criação de chances equatorianas. Mais do que isso, soube esperar por um contra-ataque fatal. Desgastado, Sobis deixou o campo para a entrada de Rentería, que precisou de menos de três minutos para aprontar. Após cruzamento perigoso da equipe visitante, Jorge Wagner ficou com a sobra pela esquerda e lançou o colombiano, nas costas da marcação. Em velocidade, o Saci chegou antes de Mora e tocou por cobertura. Golaço, comemorado com cachimbo e touca pelo artilheiro talismã.
Rentería, é nós! Tipo Colômbia!/Imagens: Rede Globo
Se antes os visitantes buscavam o gol que seria da classificação, o revés por 2 a 0 cobrava que balançassem as redes coloradas para, pelo menos, postergarem a decisão da vaga para além dos 90 minutos. Nos acréscimos, o incômodo destino obrigou o povo alvirrubro a flertar com a decepção. A centímetros da grande área, Candelário, tentando tirar proveito da encoberta visão de Clemer, que tinha todos os jogadores das duas equipes postados na sua frente, cobrou falta rasteira. Habituado a crescer nos grandes momentos, o goleiro do Inter voou no canto esquerdo, espalmando para escanteio e garantindo a classificação para as semifinais.
Assim, graças aos pés de Sobis, a genialidade de Rentería e as mãos de Clemer, o Inter seguiu escrevendo um belíssimo e vitorioso ano de 2006 na sua história na Libertadores. Ainda mais importante do que o brilho dos jogadores, entretanto, foi o apoio da torcida, que consagrou nosso amor. Com ele, já encaramos tudo – e vencemos. Sempre foi assim em nossa biografia – e sempre será. Afinal de contas, nós não somos DO Internacional, e sim O Internacional. Somos o povo que nunca deixa de acreditar, porque nada, nunca, vai nos separar! Associe-se aqui!
Nilmar Honorato da Silva é um gigante na história alvirrubra. Nascido em 1984 no paranaense município de Bandeirantes, chegou ao Inter ainda garoto, acreditando, como muitos em nosso país, no sonho da profissionalização no futebol. Hoje (14/07), data em que celebra 36 anos de vida, o craque certamente pode se orgulhar da carreira que construiu por gramados Brasil afora. No Clube do Povo, foi soberbo, e marcou gerações de colorados e coloradas. Confira especial da Rádio Colorada sobre o ídolo e relembre, abaixo, sua trajetória no Beira-Rio:
Honrar posto já ocupado por gigantes como Flávio Minuano, Claudiomiro e Escurinho não é tarefa simples. Nilmar fez parecer. De cria do Celeiro à figura incontestável na lista de maiores atletas da história colorada, o atacante construiu linda biografia com a camisa vermelha. Revelado em 2003 por um Inter que se transformava, tinha a responsabilidade de, junto a seus companheiros, não somente fazer a torcida esquecer do panorama negativo deixado pela temporada predecessora, como também reconduzir o Clube do Povo ao caminho das grandes conquistas.
Após flertar com o descenso até as últimas rodadas do Brasileirão de 2002, o Inter, sob o comando de Muricy Ramalho, abriu o novo ano apostando no sempre fértil Celeiro de Ases como espinha de uma nova geração. Os gêmeos Diego e Diogo representavam a maior esperança do Clube do Povo, mas não eram as únicas promessas alvirrubras. Na linha de frente, o jovem Nilmar, de 18 anos, também alimentava o sonho de novos dias vencedores no horizonte do colorado, bem como Daniel Carvalho, já frequente entre os titulares desde a temporada anterior.
A história de Nilmar com a camisa vermelha foi oficialmente inaugurada no dia 15 de março. Nesta data, o Inter recebeu o Juventude em partida que encerrou a primeira fase do Gauchão. Titular, o jovem atacante sofreu um pênalti e criou jogada que originou outro, assim desempenhando papel fundamental no triunfo parcial do Clube do Povo, por 3 a 0, conquistado antes mesmo do intervalo. Na segunda etapa, os visitantes até buscaram a igualdade, resultado que, embora lamentado, em nada afetou a classificação alvirrubra para a fase final, feito que garantiu três meses de descanso no Estadual.
A boa exibição diante do Papo ajudou o atleta a ganhar importantes pontos com Muricy Ramalho. Após atuar em confrontos da Copa do Brasil, o atacante fez sua estreia no Brasileirão em duelo contra o Bahia, válido pela terceira rodada do Nacional. O Inter já vencia por 1 a 0 quando, aos 31 minutos da etapa final, Diego arrancou pela ponta direita e cruzou rasteiro para Nilmar, que acabara de entrar, marcar, em sua quarta partida com a camisa colorada, o primeiro gol como profissional. A jovem promessa precisou de apenas mais três jornadas para voltar a balançar as redes, desta vez contra o Vitória, em Salvador. Alçado a campo na segunda etapa, foi o grande nome do jogo, anotando dois dos três tentos alvirrubros no triunfo por 3 a 0 sobre os baianos.
Imagens: Rede Globo
Muito graças ao Celeiro de Ases, o Clube do Povo encerrou o mês de abril vivendo o seu melhor momento nos últimos anos. Entre as promessas que brilhavam, obviamente, estava Nilmar. Habituado a ouvir seu nome gritado pela torcida em todos os jogos do Colorado no Beira-Rio, no dia 18 de maio, contra o Athletico-PR, o jovem fez sua segunda partida como titular alvirrubro. Destaque do confronto, marcou gol no injusto empate de 1 a 1, resultado que em nada transpareceu a supremacia vermelha nas ações do jogo.
Nimar galgou posições na hierarquia do grupo alvirrubro em ritmo comparável apenas ao de suas meteóricas arrancadas. Em junho, já era titular absoluto do time de Muricy, a ponto de disputar – com notoriedade – seu primeiro Gre-Nal, válido pelo Brasileirão e encerrado sem gols. Exatos três dias após o clássico, o atacante produziu, contra o São Gabriel, em duelo de volta das semifinais estaduais, verdadeira obra de arte. O placar de 2 a 0 para o Colorado não parecia satisfazer o inquieto paranaense, que, logo no reinício da partida, invadiu a área adversária pela esquerda, driblou dois marcadores e tocou por cima do goleiro, de cobertura, fazendo delirar a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Vitorioso por 4 a 1, o Clube do Povo avançou para a decisão gaúcha, realizada diante do XV de Novembro e iniciada, em Campo Bom, com novo triunfo vermelho, agora por 2 a 0, também marcado por pintura da cria do Celeiro, agora de letra.
A grande fase individual de Nilmar foi recompensada com convocação para a Seleção Brasileira Sub-23 que disputaria, entre os dias 12 e 27 de julho, a Copa Ouro, no México. Antes de se apresentar à esquadra nacional, o jovem conquistou, no terceiro dia do sétimo mês do ano, o Gauchão, segundo consecutivo do Inter, sua primeira taça como profissional e a última comemorada pela saudosa Coreia do Beira-Rio. Com a Canarinho, foi vice-campeão do torneio realizado em território norte-americano, e desfalcou o Clube do Povo ao longo de seis rodadas. No retorno, marcou, contra o São Paulo, no Morumbi, mais um golaço, o seu sétimo na temporada, logo sucedido, na jornada seguinte, por tento marcado sobre o Coritiba.
O elenco campeão gaúcho de 2003. Nilmar é o terceiro da esquerda para a direita
Cada vez mais entrosado com Daniel Carvalho e Diego, Nilmar marcaria, ainda em agosto, seu nono gol pelo Inter. A vítima? O Bahia, exatamente o time que sofrera, no primeiro turno, o tento de número um da carreira do paranaense. Em setembro, como reflexo das artilheiras atuações que vinha construindo ao lado dos companheiros de juventude, a promessa colorada ocupava a sétima colocação na corrida pela Bola de Ouro, tradicional ranking da Revista Placar. Entre os atacantes, o paranaense era o quarto melhor do Brasileirão, e Daniel, seu companheiro, o oitavo.
Imagens: Rede Globo
Não foram só notícias positivas, todavia, que formaram o nono mês do ano para Nilmar, que sofreu delicada injúria no joelho. Inicialmente, o atleta foi preservado de três partidas, voltando aos gramados no dia 4 de outubro, data de empate do Clube do Povo com o Paysandu. Cinco dias depois, contra o Criciúma, o atacante esbanjou oportunismo para, pegando rebote de cabeceio de Jéfferson Feijão na trave, emendar rápido carrinho em direção às redes. O que poderia significar um regresso avassalador, contudo, precisou ser interrompido, uma vez mais, por conta da lesão. O retorno definitivo ocorreu apenas no mês de novembro, em duelo diante do Atlético-MG, fora de casa.
Enfrentando adversário direto na luta por vaga na Libertadores, o Clube do Povo sabia da importância da vitória, e chegou a ela através de Nimar. Como se os 28 dias em que ficara afastado dos gramados fossem revertidos em fome de gols, o atacante deu show no Estádio Independência, abrindo o placar aos cinco minutos de jogo. Aos 14, o artilheiro acertou linda cabeçada para voltar a balançar as redes. Protagonista no triunfo alvirrubro por 2 a 1, foi convocado para a disputa do Mundial Sub-20, que seria realizado, entre os dias 27 de novembro e 19 de dezembro, nos Emirados Árabes. A situação muito desagradou ao Inter, que perderia o atleta, junto de Daniel Carvalho, também chamado, nas três rodadas finais do Brasileirão.
Imagens: Rede Globo
O Clube do Povo bem que tentou, recorrendo à CBF, mas não teve seus anseios atendidos. Sem Nilmar e Daniel, somou quatro pontos nos últimos nove, e terminou o Brasileiro na sexta colocação, a um ponto do Coritiba, quinto, primeiro classificado para a Libertadores. O sonho de retornar à elite continental e finalizar hiato iniciado no ano de 1993, portanto, era adiado. Ao mesmo tempo, a vaga na Sul-Americana servia de grande consolação, capaz de alimentar os sonhos colorados de brilho em terriório latino.
‘Triturante’ homem Gre-Nal
Marcados por intensa dedicação ao Brasil, os meses último de 2003 e primeiro de 2004 não permitiram descanso para Nilmar. O atacante, primeiro, conquistou o Mundial de juniores, competição na qual anotou três gols e foi um dos destaques. Logo depois, integrou a delegação Sub-23 que disputou o Pré-Olímpico. Em compensação à exaustante maratona de jogos, o jovem recebeu, junto de Daniel Carvalho, seu companheiro nas empreitadas selecionáveis, tempo especial de folga concedido por Lori Sandri, novo comandante alvirrubro.
Já desacompanhado de Daniel, vendido para o futebol russo, Nilmar se reapresentou em 4 de fevereiro. Cinco dias depois, estreou, como titular, na temporada colorada – e o fez em grande estilo. No Beira-Rio, o atacante marcou os dois gols do Inter no empate com o Santa Cruz, chegando a 14 com a camisa do Clube do Povo. Passada menos de uma semana, voltou a campo para participar, ativamente, de empate por 1 a 1 com o Grêmio, no Gigante. O clássico serviu de estreia para Oséas, centroavante que, ao longo do primeiro semestre de 2004, consolidaria-se como dupla ofensiva da jovem promessa alvirrubra.
Houve quem acreditasse que o Inter seria triturado no Gre-Nal 358, disputado em 7 de março de 2004. Integrante do segundo turno do Gauchão, o clássico esteve marcado, ao longo de toda a semana que lhe serviu de véspera, por relativa arrogância de parte do lado azul, que cantou vitória, por dias, aos quatro cantos. Dentro de campo, porém, o roteiro foi bastante diferente daquele esperado pelos mandantes.
Após Elder Granja abrir o placar na etapa inicial, aos oito do segundo tempo Wellington escapou em grande arrancada pelo meio e lançou Nilmar, nas costas do marcação. Endiabrado como de costume, recebendo bola na medida para aprontar das suas, o jovem velocista, de frente para o gol, dominou de esquerda e, com a direita, tocou na saída do arqueiro. O Inter marcava o segundo, garantindo vitória até diminuída no escore por Christian, mas nem por isso menos comemorada pelos cerca de oito mil colorados e coloradas presentes no campo da Azenha. Com os três pontos, o Clube do Povo praticamente garantia a liderança da Chave B.
Imagens: Rede Globo
Nilmar também brilhou na segunda fase da Copa do Brasil, marcando os dois gols colorados na vitória por 2 a 0 sobre o Prudentópolis, triunfo suficiente para classificar o Clube do Povo sem a necessidade do jogo de volta. Protagonista, voltou a fazer o Grêmio de vítima no dia 4 de abril, data em que o Inter completou 95 anos de história.
Válido pela decisão da primeira fase do Gauchão, o Gre-Nal 359 foi disputado em Bento Gonçalves, no Estádio Montanha dos Vinhedos, e teve seu placar inaugurado aos 18 do primeiro tempo por Luciano Ratinho, atleta gremista. Persistente, o Inter não se deixou abalar, empatando, 11 minutos depois, com Edinho, em bonito cabeceio. Inalterado ao longo de toda a etapa final, o escore igualado exigiu a disputa da prorrogação.
Com Sobis na vaga de Oséas, o Inter mostrou o porquê de Paulo Paixão, seu preparador físico, ser um dos melhores que já desempenharam a função na história do futebol brasileiro. Voando em campo, ao ritmo da jovem dupla de ataque, o Clube do Povo amassou o rival, que nada pôde fazer quando, aos 22 do tempo extra, Nilmar, em cabeceio milimétrico, venceu Tavarelli. A taça era nossa, assim como a vaga na fase final do Estadual!
Nilmaravilha
Ainda sofrendo para digerir injusto revés sofrido diante do Figueirense, fora de casa, na abertura do Brasileirão, o Inter recebeu, no dia 25 de abril, o Palmeiras, em partida da segunda rodada do Nacional. Na raça, Nilmar marcou, aos 37 da etapa inicial, o único gol da ensolarada tarde gaúcha. Para tanto, o insistente atacante precisou interceptar a saída de jogo do goleiro Marcos e dividir com o arqueiro do Penta antes de mandar às redes. Os três pontos eram alvirrubros!
Imagens: Rede Globo
Nilmar seguiu voando nas rodadas seguintes, cavando pênalti na terceira, contra o Coritiba, e servindo assistência milimétrica para Granja, na quarta, diante do Paysandu. Com os arranques do atacante, o Inter chegou a sete pontos somados em 12 disputados, confirmando o bom início de Brasileirão. No confronto com os paraenses, entretanto, o avante sofreu grave lesão muscular, injúria responsável por retirar a promessa dos gramados por um mês. Em seu retorno, no dia 2 de junho, o Clube do Povo garantiu vaga na decisão estadual após superar, nos pênaltis, o Glória, em duelo realizado no Beira-Rio.
Os patrões do Rio Grande em 2004. Cabeludo, Nilmar está agachado no centro
Junho, dia 6. Sediado em Canoas, o Complexo Esportivo da Ulbra recebeu a finalíssima do Gauchão. Contra os donos da casa, o Inter sofreu para impor seu estilo de jogo, especialmente nos primeiros movimentos. Ao mesmo tempo, a equipe da região metropolitana levava bastante perigo, especialmente em bolas aéreas. Exatamente de um cruzamento, Alex Martins, aos 20, marcou o primeiro gol do jogo, suscitando dúvidas na torcida alvirrubra, mas que pouco duraram.
Recém-chegado ao Clube do Povo, Alex deu uma das primeiras mostras do poderio de sua perna canhota aos 30, quando cobrou falta na cabeça de Oséas. Soberano, o centroavante escorou para a confusão, onde Edinho, avassalador, surgiu fuzilando para as redes. O empate permaneceu até o segundo tempo, marcado por expulsão precoce de Alexandre Lopes, que deixou o Inter com um a menos. Felizmente, Nilmar, um craque já afirmando, mostrou-se capaz de jogar por dois.
Aos 15 minutos, Bolívar costurou da direita para o centro e lançou o atacante em profundidade. Genial, o camisa 11 deixou a bola passar entre suas pernas para então fazer o giro e correr em direção à redonda, que atingiu, antes de goleiro ou zagueiro, já na altura da pequena área. Preciso, com a canhota deu toque sutil para encobrir o arqueiro Rafael e virar o jogo. Inter 2 a 1. Inter, tricampeão estadual, dono do Rio Grande pela 36ª vez em sua história. Nilmar? Escolhido o melhor atacante do campeonato!
Imagens: Rede Globo
Embalado pela coroa gaúcha, Inter esteve sublime na rodada seguinte do Brasileirão. Azar do Galo, que não teve chance diante da exuberante atuação alvirrubra no Beira-Rio. Depois de descer para os vestiários com o placar igualado em 1 a 1, o Colorado desempatou, logo aos 4, com Nilmar, que ganhou na velocidade de Luiz Alberto, driblou o goleiro Eduardo e mandou rasteiro para a cidadela mineira.
Golaço, foi respondido pela torcida com os gritos de “Uh! Terror! O Nilmar é matador!”. O segundo do atacante no jogo, terceiro do Clube do Povo, veio aos 31. Também belíssimo, o tento serviu de antítese perfeita ao anterior, posto que, no lugar do jeito, a promessa usou da força para, da entrada da área, mandar arremate indefensável e garantir a vitória, que ainda foi encerrada, nos acréscimos, por Gavilán.
Imagens: Rede Globo
A breve parceria com o Capitão
Nilmar voltou a sofrer grave lesão após o show diante do Atlético-MG, desfalcando o Inter em sete rodadas do Brasileirão. Voltou à ativa somente no dia 20 de julho, em duelo contra o Corinthians, no Pacaembu. Encerrado com o placar em branco, o confronto teve como grande destaque a composição do ataque colorado, também formado por Fernandão, recém-chegado e já credenciado pelo Gol Mil, e Sobis, cada vez mais afirmado.
O técnico alvirrubro, diga-se, também era outro: no lugar de Lori, Joel Santana. Na volta de Nilmar ao Beira-Rio, a assistência do atacante para Danilo acabou ofuscada por infeliz revés diante do Juventude, vencedor por 2 a 1. O reencontro com as redes, em compensação, foi muito festejado. Aos 42 da etapa final, o atacante completou, de cabeça, cruzamento de Gavilán, virando para o Inter sobre o Paraná e encerrando um jejum de seis partidas sem vitória.
Imagens: Rede Globo
O gol marcou, em definitivo, o início de nova fase iluminada na carreira do artilheiro. Primeiro, no dia 13 de agosto de 2004, Nilmar foi convocado para a Seleção Brasileira que disputaria, em Porto Príncipe, amistoso contra o Haiti, naquele que ficou conhecido como o ‘Jogo da Paz’, responsável por catapultar forte campanha desarmamentista em país que se encontrava mergulhado em grave crise política.
Já com a camisa colorada, o bom momento foi comprovado em partida contra o Figueirense, realizada no Beira-Rio. Imparável, Nilmar participou do tento de Fernandão, segundo da jornada, e ainda marcou dois na vitória por 4 a 0 sobre os catarinenses – o último de letra. Verdadeira obra de arte, a pintura correspondeu à 25ª bola na rede do artilheiro pelo Inter, e serviu de carimbo perfeito no passaporte do atacante que, do Gigante, partiu direto para a concentração da Seleção. Com o Brasil, inclusive, o craque também anotaria gol, o sexto no festivo triunfo sobre os caribenhos.
Desfalque na jornada de meio de semana válida pelo Brasileirão, Nilmar retornou para Porto Alegre em tempo de defender o Inter, contra o Coritiba, em confronto da terceira rodada do returno nacional. Na ocasião, formou dupla de ataque com Fernandão, e assistiu, de posição privilegiada, à bicicleta inesquecível do camisa 9, que abriu o placar no empate de 1 a 1. Breves 72 horas depois, o craque voltou a campo para, com o Clube do Povo, estrear na Sul-Americana.
Modorrenta, a igualdade sem gols com o Figueirense, em Florianópolis, serviu de injusto ponto final à empolgante e avassaladora primeira passagem de Nilmar pelo Inter, oficialmente terminada no dia 28 de agosto, quando o Clube do Povo oficializou a venda do atacante para o Lyon-FRA. De coração partido, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande se despediu do craque entristecida, é claro, mas também convicta de que aquele não era um adeus, e sim até logo. Em breve, todos sabiam, o gramado do Beira-Rio reencontraria um de seus mais letais avantes. Nosso tapete, era fato, não aguentaria muito tempo longe de um dos maiores nomes nele escrito.
O retorno
Poucos atletas simbolizam o crescimento vivenciado pelo Inter na primeira década do século XXI com precisão comparável a Nilmar. Personificação ideal do gigantismo colorado, o atacante possui trajetória com a camisa alvirrubra que se confunde à história que trilhamos rumo ao topo. Curiosamente, exibe este posto mesmo sem ter participado das principais conquistas do Clube do Povo nos anos passados. Pelo menos, dentro de campo. Afinal, torcedor que é, jamais esteve completamente afastado do Beira-Rio.
“Comecei com 18 anos aqui.
Agora estou de volta, mais maduro
e consciente de que é preciso
dar ao máximo cada dia.
Me sinto em casa.”
NILMAR, NO RETORNO AO INTER
Na exata temporada em que Nilmar foi negociado, o Inter voltou a frequentar a elite do futebol latino, brilhando na Sul-Americana. Simultaneamente, o atacante dava seus primeiros passos por campos europeus, sempre na luta por vaga na Seleção Brasileira. Três anos depois, o craque retornou para sua casa, sediada no mesmo número 891 da Padre Cacique, mas completamente revolucionada em sua estrutura interna, agora campeã de América e Mundial. Boa parte das mudanças, inclusive, consequência do valor arrecadado pelo Clube com a negociação do atacante. Também ele, diga-se, era outro. Antes revelado como parte de geração promissora, agora desembarcava em Porto Alegre com o status de estrela, responsável por formar, junto de Fernandão e Iarley, uma nova linha de frente multicampeã com o Alvirrubro.
Nilmar foi oficialmente apresentado como reforço colorado no dia 17 de setembro de 2007. Encarando o estágio final de recuperação de cirurgia no joelho, o atacante sabia que, embora a velocidade fosse sua principal característica, desta vez era a cautela sua melhor aliada. Com ela, em menos de 30 dias realizou seu primeiro treino com bola e, na abertura de novembro, mês seguinte, estava relacionado para uma partida. Diante do Vasco faria, no dia 4, sua reestreia.
E que atuação! Todos acreditavam que a reestreia aconteceria apenas no segundo tempo, menos Abel. O comandante colorado, que escalou o Inter no 3-5-2, com Nilmar e Iarley formando dupla ofensiva municiada por Fernandão, teve sua ousadia recompensada cedo. Logo aos 7, o novo reforço alvirrubro superou a marcação com linda finta de corpo e, cara a cara com o goleiro, tentou por cobertura, por cima. Aos 14, o atacante desarmou o zagueiro adversário na entrada da área e driblou o arqueiro, mas, por detalhe, chegou atrasado para a finalização. Um minuto depois, decidiu ser garçom, e serviu assistência açucarada para Fernandão abrir o placar.
“O talento do Nilmar é incrível.
Ele é fora de série.
Com o que joga, merece Seleção”
FERNANDÃO, APÓS PARTIDA CONTRA O VASCO
Nilmar seguiu jogando em alto nível, apesar da forte chuva que caía em São Januário, até os 15 minutos da etapa final, quando foi sacado para a entrada de Roger. Do banco, viu seu substituto cavar pênalti convertido pelo Eterno Capitão, gol que garantiu importante triunfo. Empolgante, a atuação do craque foi escolhida pela torcida como a melhor da vitória colorada. Animadas, quase 30 mil pessoas encheram as arquibancadas do Beira-Rio para prestigiar o retorno oficial da cria ao Gigante, ocorrido em duelo contra o Cruzeiro.
“Está passando um filme na minha cabeça. Toda vez que vou treinar, olho para a concentração onde morei aqui no Beira-Rio. Aprendi a valorizar muito este clube. Vai ser um jogo especial para mim!”
Nilmar sobre a reestreia no Gigante
Dentro de campo, Nilmar atuou durante toda a primeira etapa, causando estresse à defesa mineira. Sacado no intervalo, comemorou, do banco de reservas, o gol de Alex, único da partida, marcado nos acréscimos do confronto. A aparição contra o Cruzeiro, inclusive, foi a última do atacante na temporada, uma vez que, com incômodo no ombro, o camisa 7 não participou das duas últimas partidas do Clube do Povo no ano, de modo a garantir que, no retorno aos trabalhos, previsto ainda para o mês de dezembro, consequência da disputa da Dubai Cup, estivesse em suas melhores condições.
Os atletas colorados se reapresentaram para a pré-temporada em 26 de dezembro. Uma semana depois, no dia 2 de janeiro, ocorreu o desembarque nos Emirados Árabes. A estreia na Dubai Cup, por sua vez, aconteceu no dia 5, diante dos alemães do Stuttgart. Válido pela semifinal, o confronto de alvirrubros foi encerrado com triunfo do Clube do Povo, placar de 1 a 0, gol de Alex. Titular, Nilmar formou, com Fernandão, a dupla de ataque do Inter, sustentada por um losango no meio de campo, de Maycon no vértice mais baixo, Magrão, na direita, Guiñazú, pela esquerda, e Alex, no topo.
Depois de enfrentar um irmão de cores na semifinal, o Clube do Povo lutou pela taça, no dia 7 de janeiro, contra seu xará italiano. Para o duelo, Abel Braga repetiu quase todo o time que superara o Stuttgart, à exceção de Índio. Lesionado, o xerife goleador deu lugar a Sidnei, que formou a defesa com Wellington Monteiro, na direita, Orozco, zagueiro, e Marcão, lateral-esquerdo, além do goleiro Renan.
Matador como sempre, Fernandão inaugurou o placar logo a um minuto, acertando lindo voleio de fora da área. Aos 40, os italianos da Internazionale empataram com Jimenez, após assistência de Ibrahimovic. Fazia-se necessário, portanto, vazar novamente o catenaccio milanês, lacrado por nomes como Júlio César, Maicon, Materazzi, Iván Córdoba, Burdisso e Javier Zanetti. Felizmente, o Inter também contava com grandes estrelas.
Nilmar, uma das principais, fez questão de deixar isso claro aos 19 minutos da etapa final, quando Marcão escorou de cabeça para a área, na medida para o camisa 7 emendar bicicleta cinematográfica direto para as redes rivais. Pintura, 26ª marcada pelo atacante com a camisa alvirrubra, foi a primeira depois de seu retorno e garantiu o título colorado, por isso sendo comemorada com lágrimas.
De volta ao Rio Grande do Sul, o Inter disputou a primeira rodada do Gauchão no dia 20 de janeiro. Após conquistar o Tetra entre os anos de 2002 e 2005, o Clube do Povo desejava encerrar o jejum de dois anos sem levantar a taça estadual. Para tanto, visitou o Inter-SM com o que tinha de melhor, formação que garantiu importante igualdade de dois gols para cada lado. Já o retorno para Beira-Rio, ocorreu no dia 24.
Contra o Veranópolis, vitória por 2 a 0, e Nilmar, garçom de Iarley no primeiro gol, escolhido o melhor em campo. Três dias depois, no Passo d’Areia, a goleada de 4 a 1 confirmou o grande início de temporada colorado. Infelizmente, no entanto, o confronto contra o São José-POA esteve marcado, também, por lesão muscular do jovem atacante, que se tornou desfalque para os meses de fevereiro e março.
Recuperação compressora
Nilmar voltou aos gramados em 5 de abril, dia seguinte ao aniversário de 99 anos do Clube do Povo. Contra a Ulbra, entrou no segundo tempo do confronto de volta das quartas estaduais e precisou de somente quatro minutos para, em uma de suas muitas arrancadas, ser derrubado dentro da área. Pênalti assinalado e, por detalhe, desperdiçado por Fernandão. A oportunidade não fez falta para o Colorado, que avançou com vitória por 3 a 2, agregado de 7 a 3.
Empolgante, o retorno deu para Abel a confiança necessária para escalar o atacante como titular. Assim ocorreu nos dois confrontos semifinais contra o Caxias, finalizados com classificação alvirrubra, e também nos duelos das oitavas da Copa do Brasil, diante do Paraná. Encarando o Tricolor da Vila, o camisa 7 cavou novo pênalti, este convertido por Fernandão, que garantiu o 5 a 1 para o Clube do Povo.
Na decisão gaúcha, frente ao Juventude, o atleta formou dupla de ataque com Fernandão, municiada, no confronto de volta, disputado no Beira-Rio, por Alex, que vivia grande fase. Com o trio atuando junto, o Clube do Povo superou o Papo por 8 a 1, e Nilmar, além de servir assistência para o Eterno Capitão anotar o segundo, marcou o sexto. A taça foi a terceira do camisa 7 com o Clube do Povo, que também passava a somar 27 bolas na rede com a camisa colorada.
Segundo semestre goleador
A empolgação colorada com o título estadual durou pouco. Na contramão da arrasadora goleada sobre os caxienses, as partidas seguintes foram frustrantes para a torcida alvirrubra. Na Copa do Brasil, o Inter foi eliminado para o Sport, enquanto, no Brasileirão, três rodadas sem vitória custaram a permanência de Abel Braga. Apesar do cenário conturbado, porém, Nilmar seguiu como uma das melhores notícias dos meses de maio e junho do Clube do Povo, marcando dois gols, contra Flamengo e Portuguesa, e servindo uma assistência nas cinco primeiras jornadas do Nacional.
Se a fase individual de Nilmar já era boa, a partir da chegada de Tite o coletivo também cresceu. Com problemas musculares, o atacante não foi a campo na estreia do novo comandante, ocorrida, com vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo, no dia 14 de junho de 2008, marcante data em que Fernandão se despediu do Inter. Na rodada seguinte, consciente da cobrança ainda maior por ocupar papel de protagonista no elenco colorado, o artilheiro, novo dono da camisa 9, retornou aos gramados marcando o gol alvirrubro em injusto revés para o Vitória, na Bahia. Uma semana depois, no Olímpico, teve participação direta no tento de Índio, o único do Clube do Povo no empate contra o maior rival.
Coroando o momento garçom, Nilmar também brilhou nas duas primeiras partidas do mês de julho. Contra o Coritiba, sofreu pênalti que Alex converteu – o camisa 10 fez os três gols do Clube do Povo no jogo. Já diante do Goiás, também no Gigante, o camisa 9 serviu Adriano, autor do único tento da invernal noite gaúcha. O reencontro com as redes aconteceu na 12ª rodada, quando o Inter superou o Atlético-MG, por 1 a 0, no Beira-Rio, que esteve tomado por 27 mil pessoas. O gol, de cabeça, saiu logo aos 6 da etapa inicial, após excelente cruzamento de Marcão. Na jornada seguinte, frente ao Náutico, o atacante liderou um Inter desfalcado, repleto de jovens, incluindo Walter e Taison, futuros campeões da América, e marcou o de empate no Recife.
A iluminada sequência de Nilmar atingiu ponto alto na noite do dia 23 de julho. Diante de um Beira-Rio lotado por mais de 40 mil pessoas, o centroavante balançou as redes do São Paulo em duas ocasiões na vitória colorada por 2 a 0. Com os gols, isolou-se ainda mais na artilharia alvirrubra na competição, chegando a sete no torneio. Pelo Clube do Povo, já eram 34.
O início de agosto também foi especial para o ídolo colorado. Logo no segundo dia do mês, o atacante encerrou sequência de duas derrotas consecutivas ao marcar dois contra o Fluminense, no Maracanã, e garantir a primeira vitória do Inter como visitante no Brasileirão. Duas rodadas depois, o camisa 9 reencontrou as redes para anotar o de empate contra o Figueirense, no Beira-Rio. Singular, o confronto diante dos catarinenses marcou a reestreia de Daniel Carvalho e Bolívar com o manto alvirrubro. Ex-companheiros de Nilmar, retornavam para garantir um segundo semestre de resultados ainda melhores ao Clube do Povo. A grande cereja do bolo, contudo, veio do exterior. Após desembarcar em Porto Alegre no dia 30 de julho, Andrés Nicolás D’Alessandro estrearia na rodada inaugural da Sul-Americana, marcada por clássico Gre-Nal no Gigante. Uma geração inesquecível, aos poucos, começava a ser montada.
É bem verdade que, com desconforto na panturrilha, Nilmar não foi a campo na estreia de D’Ale pelo Inter. A primeira partida dos dois juntos, inclusive, ficou marcada por dolorida derrota para o Vasco, no Rio de Janeiro. Até por isso, a expectativa da torcida era grande para o duelo entre Inter e Palmeiras, que ocorreria, no Beira-Rio, no dia 20 de agosto. Dentro de campo, o camisa 9 entraria em campo pela 100ª vez com o manto colorado. Somando 37 gols em duas passagens, o ídolo lutava, com seus 10 tentos, pela artilharia do Brasileirão, estando a quatro de Kléber Pereira, o goleador de então.
“Vem um filme na cabeça, lembrar que a carreira começou aqui, onde fiz meus primeiros jogos como profissional. Apesar de jovem, hoje já tenho um certo nome no futebol, sou reconhecido graças, ao Internacional. Devo muito a esse Clube. Não poderia ser outro melhor para ter a oportunidade de comemorar 100 jogos. Espero que eu possa jogar muitos mais pelo Inter!
Índio, Bolívar e Marcão na zaga. Magrão, Guiñazú e D’Alessandro no meio. Alex e Nilmar na frente. Debaixo de fina chuva, uma formação de altíssimo quilate foi a campo no Beira-Rio e patrolou o adversário paulista. A vitória colorada por 4 a 1 contou com participação do camisa 9, que tabelou com Alex antes deste marcar, em um foguete, o segundo vermelho, e sofreu falta que originou o terceiro alvirrubro, de autoria de Índio. O 11º gol do ídolo no Brasileirão saiu quatro dias depois, também no Gigante. Prejudicado pela arbitragem, o Clube do Povo jogou melhor, mas não saiu do 1 a 1 com o Flamengo.
De volta à Sul-Americana, no dia 28 de agosto o Olímpico virou Beira-Rio, com o Inter avançando às oitavas após empate de 2 a 2. Nilmar, depois de driblar diversos marcadores, abriu o placar no antigo estádio gremista. Em justo reconhecimento ao grande ano do atacante, 24 horas mais tarde ele seria convocado para a Seleção Brasileira do técnico Dunga.
Imagens: Rede Globo
Sem seus camisas 9 e 15, entregues às respectivas seleções de Brasil e Argentina, o Inter superou, no Beira-Rio, a Portuguesa, placar de 1 a 0. Quando Nilmar e D’Ale retornaram, o técnico Tite já havia promovido alteração importante no esquema colorado. No lugar do 3-5-2, o Clube do Povo vinha atuando com duas linhas de 4, estruturado em um losango, exata formação que enfrentou, no Rio de Janeiro, o Botafogo.
Como ocorrera ainda em janeiro sob o comando de Abel, Magrão e Guiñazú fizeram os lados direto e esquerdo do meio de campo. Na base esteve Edinho, verdadeiro cão de guarda, enquanto o armador foi D’Ale, que esbanjou grande entrosamento junto à dupla Alex e Nilmar. Dos pés do trio, inclusive, saiu o primeiro do Inter. D’Alessandro lançou o camisa 9 na linha de fundo, dentro da área carioca. Antes do goleiro, ele chegou na bola e colocou, com toque sutil, para o retângulo pequeno, na medida para o gol do 10. No segundo tempo, o argentino ainda faria o segundo do Clube do Povo, seu primeiro com o manto alvirrubro, último da vitória por 2 a 1 no Engenhão.
O Inter alcançou, na 26ª rodada, seu terceiro triunfo consecutivo no Brasileirão. Contra o Vitória, no Beira-Rio, Nilmar sofreu pênalti que Alex cobrou para marcar o único do Colorado na partida. Uma semana depois, após empatar, no dia 25, com a Universidad Católica, na abertura das oitavas da Sul-Americana, em 1 a 1, o Clube do Povo recebeu, em 28 de setembro, o Grêmio, atual líder do Brasileirão. A boa fase do rival motivou o presidente Paulo Odone a afirmar, antes do clássico 373, que os visitantes passariam a máquina sobre o Alvirrubro. Para sua infelicidade, o coitado mandatário acabou conhecendo a força do Rolo Compressor.
Uma seleção abraçada por seu povo, com Nilmar agachado, o segundo da direita para a esquerda
Logo aos 4, D’Alessandro, grande nome da partida, abriu o placar após voleio de fora da área. Aos 18, Tcheco até empatou, mas a igualdade durou míseros 10 minutos, tempo necessário para Alex, servido por El Cabezón, recolocar o Inter à frente no marcador. Nova assistência do argentino, aos 40, encontrou a cabeça de Índio, que fez o terceiro. Antes do intervalo, Nilmar, também completando cruzamento do camisa 15, marcou o seu 12º no Brasileirão e fechou o caixão gremista.
Inaugurado com classificação às quartas da Sul-Americana, outubro contou com dois gols de Nilmar para o Inter. O primeiro saiu no dia 4, quando o Clube do Povo foi derrotado, fora de casa, para o Coritiba, por 4 a 2. Já no dia 18, contra o Atlético Paranaense, o camisa 9 abriu o placar na vitória colorada por 2 a 1 no Beira-Rio. A partida mais emocionante do décimo mês do ano, todavia, foi disputada pelo torneio continental.
Mais de 36 mil colorados e coloradas lotaram o Beira-Rio na noite de 22 de outubro para empurrar o Inter em busca da vitória na partida de ida das quartas de final da Sul-Americana. Em campo, Clube do Povo, campeão da América em 2006, e Boca Juniors, vencedor da Libertadores de 2007, prometiam um duelo do mais alto nível. Recentemente, as duas equipes já haviam se enfrentado em confrontos eliminatórios válidos pelo mesmo torneio, integrantes das edições de 2004 e 2005 e encerrados, os dois, com o agregado de 4 a 2 para os hermanos. Demonstrando ter tirado importantes aprendizados dos encontros passados, o Colorado encurralou os visitantes desde o primeiro momento e, contando com show de Alex, venceu por 2 a 0, os dois gols marcados pelo camisa 10.
La Bombonera. Palco dos mais temidos do mundo, foi determinante para as classificações xeneizes sobre o Inter nos anos anteriores. Credenciado pela grande vitória do Beira-Rio, o Clube do Povo até tinha a vantagem para o jogo de volta, mas, calejado pelas frustrações passadas, sabia que regulamento algum poderia transformá-lo em favorito no palco hermano. Para sair com a vaga nas semifinais, a atuação precisaria ser irretocável, épica. E assim foi.
O Inter deu exemplo de raça, talento e organização na inesquecível noite de 6 de novembro. Inábalavel, ignorou o pulsar do caldeirão hermano, muito graças à genialidade do técnico Tite, que escalou o time com formação inédita. Na defesa, Álvaro integrou o miolo com Índio, enquanto Marcão e Bolívar fizeram as laterais. No gol, esteve Lauro. Do meio para a frente, foi repetida a poética nominata de sempre, com Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro; Alex e Nilmar. Depois de uma etapa inicial sem gols, o Clube do Povo abriu o placar ainda no primeiro minuto do tempo final. Responsável por, com sua velocidade e disposição, causar pesadelos à zaga argentina desde a semana retrasada, o camisa 9 colorado foi lançado pela direita e cruzou açucarada para Magrão. Com a canhota, o meio-campista mandou no travessão. A bola picou dentro, mas, por via das dúvidas, o próprio concluiu, de cabeça, para as redes, garantindo o tento. Riquelme ainda empatou para os locais aos 12, mas Alex, completando grande tabelinha com D’Alessandro, marcou, aos 27, o último do jogo. Que viesse o Chivas!
Campeão do continente
Uma vez garantido entre os quatro melhores da Sul-Americana, o Inter passou a encarar o torneio como obsessão. A tangibilidade do título, distante apenas quatro partidas, motivou o Clube do Povo a tratar a competição como principal objetivo para o final do ano. O ineditismo da taça, também. Nunca conquistada por uma equipe brasileira, a competição era a única, entre as de elite, que faltava no museu colorado.
Como a partir do duelo de ida das semifinais os confrontos eliminatórios seriam jogados semanalmente, sem tempo para respiro, uma equipe alternativa, repleta de grandes valores como Andrezinho, Sandro e Taison, assumiu a responsabilidade de disputar o Brasileirão. Ao mesmo tempo, a escalação estreada por Tite contra o Boca, formada por quatro zagueiros na linha defensiva, virou a titular, logo se provando capaz de brindar o povo vermelho com atuações sempre melhores a cada nova jornada.
Embora desfalcado por D’Alessandro, o Inter abriu em grande estilo o duelo por vaga na decisão continental. Em Guadalajara, o Clube do Povo anulou completamente as ações ofensivas do Chivas. Ao mesmo tempo, contando com o apuro de Andrezinho na armação, os comandados de Tite apresentaram contra-ataques tão afinados quanto o sistema defensivo, e perturbaram a defesa mexicana com as escapadas conduzidas pelo ritmo da dupla Alex e Nilmar, sempre acompanhada dos incansáveis Guiñazú e Magrão. Desta forma, aos 24 da etapa final, o camisa 9 colorado abriu o placar.
Após troca de passes rápidos na intermediária ofensiva, Andrezinho criou espaço percebido por Magrão. O camisa 11 se lançou pelo centro e, na hora certa, abriu o jogo com Nilmar, que dominou, no mano a mano, pela esquerda da área adversária. Lépido, chamou o zagueiro Reynoso para dançar, cortou para a direita e mandou rasteiro, no contrapé do goleiro. Inter na frente!
Menos de 10 minutos depois, Índio lançou o artilheiro nas costas da marcação, que só conseguiu conter o paranaense com falta. De muito longe, Alex assumiu a responsabilidade e mandou direto, surpreendendo o goleiro Hernández. No placar, 2 a 0, e a vantagem garantida para a volta.
O decênio inaugural do século XXI brindou a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande com diversos esquadrões inesquecíveis. Na memória dos adultos, estas formações, campeãs de Libertadores e Mundial, somaram-se à Academia do Povo da década de 70 para ocupar lugar privilegiado na nostalgia colorada. De sua parte, os mais antigos, frequentadores do Estádio dos Eucaliptos, também não pouparam comparações entre os escretes dos anos 2000 e Rolo Compressor ou Rolinho. Fértil, portanto, a mitologia alvirrubra não carece de gerações mágicas, o que evidencia o futebol encantador praticado pela de 2008. Afinal de contas, para muitos torcedores e torcedoras trata-se, graças ao seu toque de bola hipnótico, da melhor formação de nossa história – pelo menos recente. Certamente, as quase 40 mil pessoas que encheram o Beira-Rio no dia 19 de novembro compartilham desta certeza.
Diante do Chivas, o Inter foi a campo decidido a confirmar sua vaga na final com autoridade. Mais do que ratificar o grande momento da equipe, uma vitória correspondia à única homenagem possível para Arthur Dallegrave, histórico dirigente alvirrubro falecido dois dias antes do duelo. Contando com o retorno de D’Alessandro, o Clube do Povo teve como único desfalque Alex, convocado para a Seleção Brasileira. Na vaga do camisa 10 entrou Taison, oferecendo ao público um prelúdio do que ele e Nilmar seriam capazes de produzir no ano do Centenário vermelho. Embalado pela dupla de ataque, que atuou na mesma intensidade do Beira-Rio, frenético, o Colorado abriu o placar aos 19 minutos com D’Ale, cobrando pênalti que ele mesmo sofrera. Aos 35, o argentino voltou a balançar as redes, desta vez em batida de falta.
Ainda antes do intervalo, a dobradinha alucinante converteu seu primeiro tento na partida, terceiro do Inter. Aos 43, Taison cobrou escanteio fechado, buscando olímpico. Atento, Hernandez impediu o golaço com tapa de grande reflexo, mas, para sua infelicidade, a sobra ficou na medida para Nilmar. De cabeça, o camisa 9 se atirou em direção à bola e, com ela, estufou as redes mexicanas.
A proximidade da final, que teria sua disputa aberta em apenas sete dias, motivou o time colorado a reduzir a intensidade para o segundo tempo. No lugar dos arranques, brilharam os passes, delirantes para uma torcida que respondeu à ilusão das triangulações com uma outra tão bela quanto: a ola. Vivo, o Beira-Rio assistiu à assistência milimétrica de Taison, aos 25, acionando Nilmar. Imaginando ter encontrado o antídoto perfeito para conter o camisa 9 alvirrubro, o goleiro adversário deixou o gol em alta velocidade, como que tentando superar o pique de nosso ídolo. Ao desespero rival, o craque respondeu com sua tradicional genialidade e, por cobertura, marcou o quarto e último do Inter, seu quarto na Sul-Americana e 45º com o manto vermelho.
Os pincharratas tomaram o Estádio Ciudad de La Plata, na noite de 26 de novembro, convictos de que o Halloween argentino seria comemorado com um mês de atraso. Certos de que la brujita Verón causaria pesadelos à zaga colorada, apostavam na enfeitiçada perna canhota do craque para largar em vantagem na luta pela taça latino-americana. Não contavam nossos vizinhos, contudo, com a força do folclore brasileiro. Às maldições que tentaram pregar, o Inter respondeu honrando o Saci que tem como mascote. No lugar da perna, apenas, o que nos faltou foi um jogador, pois Guiñazú, injustamente, foi expulso aos 24 da primeira etapa. Cenário dramático? Ao Clube do Povo, nada mais do que motivação para aprontar em terras castelhanas.
Ludibriado Estudiantes, acreditou que a superioridade numérica cobraria menor dedicação defensiva, e se lançou ao ataque sem qualquer pudor. Fechado em duas linhas de quatro, a segunda formada por D’Alessandro, Magrão, Guiñazú e Alex, o Inter se retraiu sorridente, tranquilo. Por quê? Bom, acontece que, para quem tem Nilmar, qualquer centímetro de espaço vira latifúndio.
O relógio indicava 32 minutos quando D’Alessandro recuperou a posse para o Inter, ainda no campo de defesa, e tentou armar contra-ataque. O gringo, ainda vestindo a 15, entortou dois marcadores e cavou arremesso lateral, que o pressionado Bolívar cobrou em direção ao ataque. Após corte parcial da zaga, Nilmar deixou com El Cabezón. De primeira, com a canhota, o argentino devolveu para o avante, lançando em profundidade. O camisa 9 chegou nela antes de Desábato, que não aceitou comer poeira e desferiu um pontapé no jovem colorado. Pênalti, que Alex cobrou duas vezes para valer.
Gigante travessura era forçar o adversário a furar uma retaguarda de Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão. Pelo chão, o espaço inexistia. No alto, conseguir vantagem sobre os xerifes não passava de delírio. De longa distância, os arremates normalmente explodiam na muralha. Pior ainda, quando superavam o quarteto era preciso vazar um iluminado Lauro. Ao mesmo tempo, o trio de ouro formado por Alex, D’Alessandro e Nilmar produzia tudo que o rival sonhava em criar. Assim, a derrota por 1 a 0 acabou ficando barata para os mandantes, que escaparam de perder o título ainda nos 90 minutos iniciais.
Nada passou pela defesa colorada
Não existia assunto mais comentado entre os latinos ao longo do dia 3 de dezembro de 2008 que a final da Sul-Americana. No Brasil, a crônica esportiva celebrava a iminente conquista do Clube do Povo, afirmando que, ao erguer o troféu, o Inter se tornaria o único brasileiro Campeão de Tudo, dono de todas as taças possíveis para um time da elite de nosso continente. Com a mesma confiança, 51.803 colorados e coloradas lotaram o Beira-Rio e transformaram nossa casa em um verdadeiro caldeirão, decidido a cozinhar o Estudiantes.
Terceiro em pé da esquerda para a direita, Nilmar disputou sua primeira final continental pelo Inter
A euforia dos de fora, é bom registrar, somente era convertida em motivação pelos colorados, tanto torcedores quanto atletas. O clima de ‘já ganhou’ passava longe da Padre Cacique, onde a decisão foi disputada no limite até o último apito. Melhor em campo na primeira etapa, o Inter não conseguiu ampliar sua vantagem nos 45 minutos iniciais. Por outro lado, o Estudiantes aproveitou seu principal momento no jogo para, aos 20 do segundo tempo, balançar as redes alvirrubras, igualar o escore da partida de ida e obrigar a disputa da prorrogação.
Só o Inter jogou no tempo extra. Praticamente reduzido ao retângulo de sua área, o Estudiantes sofria para respirar, tamanha a pressão colorada. Orquestrado por D’Alessandro, que tinha a companhia dos recém-entrados Sandro e Gustavo Nery, o Clube do Povo encurtou o campo de jogo pela metade, com Danny Morais e Álvaro, os zagueiros titulares da decisão, atuando postados na altura do grande círculo. Bolívar e Marcão alternavam no apoio, atendendo aos movimentos de El Cabezón, enquanto Taison, que substituira Alex, e Nilmar tratavam de abrir espaços no ferrolho argentino. Mesmo assim, apesar do bombardeio alvirrubro e devido a milagre do goleiro Andújar, os primeiros 15 minutos não alteraram o placar.
Os comandados de Tite seguiram martelando na etapa final. Qualquer cruzamento ou passe vertical, contudo, parecia carregar, mais do que o cansaço de quase duas horas de partida, a pressão das penalidades. Tão grande quanto a vontade de vencer era o receio de permitir uma escapa rival. Diante de tamanha tensão, somente a leveza e a alegria típicas da juventude poderiam fazer diferença. Taison aceitou sua responsabilidade e, representando o Celeiro de Ases, partiu para cima de dois marcadores, cavando escanteio.
O relógio apontava 8 minutos e 5 segundos quando D’Alessandro fez a cobrança. Na entrada da pequena área, a bola encontrou a cabeça de Danny, que testou para baixo. Andújar, milagroso, voou para espalmar, mandando a redonda em direção ao travessão. Na frente de Gustavo Nery ela picou, ao que o atleta respondeu emendando de voleio. Uma vez mais, o goleiro salvou, mas dando rebote. Na frente do gol aberto. Na frente da abençoada goleira do placar. Na frente do pé esquerdo de Nilmar.
Imagens: Rede Globo
Pouco mais de cinco anos após ser revelado por um Inter que lutava para voltar ao topo, Nilmar tinha, diante de sua canhota, a oportunidade perfeita para colocar o Clube do Povo no mais alto posto do continente. No Estádio que lhe servira de casa, podia virar herói e fazer explodir como nunca as arquibancadas sob as quais no passado dormira. Demonstrando o faro artilheiro tão bem conhecido pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, não perdoou. Gol! Gol chorado, suado, brigado, lutado e, sem sombra de dúvidas, colorado. Gol de título, que valeu por todos os outras. Incontestavelmente, virávamos campeões de tudo! E o Beira-Rio? Ficou catártico!
Nilmar encerrou o ano amplamente requisitado pelo futebol estrangeiro. Artilheiro, ao lado de Alex, na conquista da Sul-Americana, o atacante ainda foi eleito o melhor em campo da finalíssima continental. Mais do que isso, diante do Estudiantes fechou a temporada da mesma maneira que abrira, ainda em janeiro: com gol de título. Ao todo, ao longo de doze meses mandou 21 bolas às redes rivais, totalizando 46 tentos com o manto colorado. O risco de perder o craque, consequentemente, era alto. Mas o ídolo decidiu ficar para o Centenário do Clube do Povo.
Ídolo renascentista
O Inter abriu 2009 com uma grande novidade para o ataque. Após se destacar como alternativa de velocidade para a linha de frente na temporada anterior, Taison iniciou com tudo o ano do Centenário colorado. Na quarta rodada do Gauchão, assumiu a titularidade da equipe, transformando o antigo trio de ouro em um poderoso quarteto ofensivo. Neste mesmo confronto, jogado contra a Sapucaiense, no Beira-Rio, Nilmar marcou seus primeiros tentos depois das férias, o segundo recebendo assistência da jovem promessa, demonstrando o entrosamento crescente da dupla, que na semana seguinte encararia seu maior teste.
A cidade de Erechim recebeu, no dia 8 de fevereiro, o Gre-Nal 374. Primeiro clássico da temporada, lotou as arquibancadas do Colosso da Lagoa, que estiveram divididas pela metade. Dentro de campo, o Inter contou com Lauro; Danilo, Índio, Álvaro e Marcão; Magrão, Guiñazú, D’Alessandro e Alex; Taison e Nilmar. Cedo na partida, El Cabezón cobrou falta da intermediária ofensiva, pela esquerda, com veneno. Viva, a bola triscou a cabeça de Wiliam Magrão e morreu nas redes tricolores. A vantagem colorada perdurou até os 16 da etapa final, quando Jonas empatou para os azuis, deixando o duelo completamente em aberto. Nos espaços criados, quem brilhou foi a dupla de ataque do Clube do Povo.
Aos 37 minutos, depois de cobrança de falta que explodiu na defesa alvirrubra, Taison ficou com a sobra e disparou em altíssima velocidade. Apenas um atleta, dentre os 22 que estavam em campo, conseguiu acompanhar seu ritmo: Nilmar. Como um raio, o camisa 9 abriu pela direita e foi percebido pelo 7, que ofereceu assistência primorosa. Sem nem dominar, o autor do gol do título da Sul-Americana soltou a bomba da entrada da área e mandou no ângulo de Victor. Vitória colorada!
Que não tratem Nilmar como grosseiro. Duas rodadas após a vitória no Gre-Nal, o camisa 9 retribuiu a generosidade de Taison servindo um par de assistências para o camisa 7, que brilhou na goleada por 5 a 1 sobre o Caxias. Escalado entre os 11 iniciais na ocasião, o lateral-esquerdo Kleber, recém-chegado, fez uma de suas primeiras partidas com a equipe titular, e soube explorar o ritmo alucinante da veloz e furiosa dupla de ataque do Clube do Povo. A sinfonia alvirrubra ficava cada vez mais afinada, e nem mesmo a saída de Alex, negociado com os russos do Spartak de Moscou, abalou a dinâmica da equipe. No lugar do canhoto, entrou Sandro, encorpando o meio de campo nas quartas e semis do turno estadual. Para chegar à decisão, inclusive, o Colorado voltou a contar com seu centroavante, que marcou bonito gol sobre o Novo Hamburgo, abrindo a vitória por 2 a 0.
A finalíssima foi de novo clássico. Homem Gre-Nal que era, Nilmar, por incrível que pareça, passou em branco, embora tenha causado problemas para a defesa gremista. Por sorte, a ausência de seus gols foi compensada pelo faro artilheiro da dupla Índio e Magrão. Com um gol cada, garantiram a vitória por 2 a 1 e a Taça Fernando Carvalho. O goleador voltou a marcar na segunda rodada do returno, contra o Brasil-Pel. No Bento Freitas, deu uma assistência e anotou um tento, seu quinto no Gauchão. Os números só não seguiram crescendo nas jornadas seguintes pois o paranaense recebeu folga, no início da segunda metade de março, para celebrar seu casamento.
Parecia impossível, mas o matrimônio conseguiu melhorar ainda mais a fase de Nilmar. Na primeira partida que disputou levando a aliança no dedo, o camisa 9 marcou três gols no passeio colorado em Bento Gonçalves, finalizado com vitória de 6 a 2 sobre o Esportivo. Taison, contando com duas assistências de sua dupla ofensiva, marcou outra trinca, comprovando que, dentro de campo, o casamento de atacantes alvirrubros também vivia grande momento.
Quatro dias depois de atropelar o Esportivo, o Inter voltou a brindar os fãs do bom futebol com novo confronto emocionante. O empate de 3 a 3 com o Juventude, em Caxias, garantiu a primeira colocação do grupo e a certeza de que o Beira-Rio sediaria todas as partidas eliminatórias da Taça Fábio Koff. Tudo isso, entretanto, ficou em segundo plano. O grande destaque no Alfredo Jaconi foi, como de costume, Nilmar, que marcou dois gols para o Colorado, o primeiro inspirado na genialidade de Pelé. Como fizera o Rei na decisão da Copa de 1958, nosso camisa 9 aplicou lindo chapéu no marcador, após receber passe de Taison, e, sem deixar a bola picar, emendou de primeira, com a direita. Uma pintura, tão bela quanto as de Michelangelo ou Da Vinci, mas longe de ser a mais bonita que o craque produziria na temporada.
Nas quartas de final do segundo turno, outro clássico Gre-Nal foi disputado no Beira-Rio. Desta vez, ainda mais especial do que o confronto era a data em que a partida ocorreria. Apenas 24h após completar 100 anos de história, o grupo alvirrubro foi a campo, no dia 5 de abril, consciente de que a vitória correspondia ao melhor parabéns possível para a biografia do Clube do Povo. Apoiado por cerca de 45 mil colorados e coloradas, o Inter não se abalou com o gol de Tcheco, abrindo o placar para os visitantes aos 18, e, ainda no primeiro tempo, viu Nilmar enozar a coluna de Thiego. Irritado, o zagueiro respondeu com um carrinho. Pênalti e gol de Andrezinho. Na etapa final, D’Alessandro deixou Índio na frente de Victor, e o defensor artilheiro não titubeou, mandando de cobertura para as redes.
Contra a Ulbra, nas semifinais, o camisa 9 voltou a marcar. De cabeça, fez o primeiro dos quatro gols colorados no Beira-Rio. Com a goleada, o Inter garantia vaga na decisão do segundo turno. Vencedor do primeiro, caso levantasse nova taça seria, também, campeão gaúcho. Rodeada de expectativas, a finalíssima foi disputada, em 19 de abril, no Gigante, que, apesar do frio e da chuva, recebeu um público de quase 40 mil pessoas. Repetindo o escore do ano anterior, o Clube do Povo teve atuação perfeita para despachar o Caxias por 8 a 1. Nilmar, que marcara nas finais de 2003, 2004 e 2008, fez dois, chegando a 13 no Gauchão, e ainda deu assistência para Guiñazú. Magrão, duas vezes, Álvaro, Taison e D’Alessandro fecharam o espetáculo.
Encerrado o Gauchão, Nilmar decidiu que era hora de balançar redes em outras competições. Na abertura das oitavas da Copa do Brasil, anotou o primeiro da vitória colorada por 3 a 0 sobre o Náutico, no Recife. Além dele, Taison e Marcelo Cordeiro garantiram importante vantagem, aumentada, na volta, após triunfo por 2 a 0 no Beira-Rio, gols de D’Alessandro e Taison. Superado o Timbú, era hora de encarar o Flamengo.
Antes do confronto de quartas de final diante dos cariocas, aconteceria a abertura do Brasileirão. Em São Paulo, Inter e Corinthians realizaram duelo de campeões estaduais, que teve o 1 a 0 para os visitantes como placar final. Não é a frieza dos números, contudo, quem melhor narra o que ocorreu naquela tarde de Pacaembu. Tudo começou com um bom lançamento de D’Alessandro para Nilmar, aos 9 minutos do primeiro tempo. O atacante recebeu pela ponta direita e, distante de seus companheiros, apostou na velocidade para encarar a defesa corintiana. Liso, passou por um, dois, três, quatro, cinco marcadores até pisar na área. Dentro do retângulo alvinegro, teve tranquilidade para brecar o embalo com que percorrera o campo e dar um corte no sexto defensor. Com ângulo para o pé direito, chutou rasteiro, colocado, direto no canto do goleiro Felipe. Uma peça de antologia, um gol de gênio, construído com toques mais belos do que qualquer afresco, quadro ou tela jamais foi capaz de conhecer.
Após boa atuação no empate que abriu a disputa por vaga nas semifinais nacionais, e participar do gol de D’Alessandro, segundo na vitória do Inter por 2 a 0 sobre o Palmeiras, em partida da segunda rodada do Brasileirão, Nilmar jogou o fino da bola no épico triunfo do Clube do Povo sobre o Flamengo, conquistado nos últimos minutos diante de um Beira-Rio lotado. Inteligentíssimo, o camisa 9 percebeu erro de passe do lateral Juan e, antecipando-se à marcação, disparou em velocidade com campo livre, pela esquerda. Já dentro da área, rolou para Taison, que marcou o primeiro de jogo que teria em Andrezinho o grande protagonista. No dia seguinte à classificação, o craque colorado foi convocado, junto do companheiro Kleber, para duas jornadas das eliminatórias da Copa do Mundo e, também, para a Copa das Confederações de 2009.
Antes de se apresentar à Seleção, Nilmar voltou a ser garçom de Taison, acionando o camisa 7 para que este marcasse o primeiro gol do Inter contra o Coritiba. Válido pelas semifinais da Copa do Brasil, o confronto foi encerrado com vitória de 3 a 1 do Colorado. Já com a Amarelinha, o camisa 9 do Clube do Povo marcou gol no duelo frente ao Paraguai, integrante das Eliminatórias. Na campanha vencedora da Copa das Confederações, foi a campo em uma ocasião, contra a Itália.
De volta ao Beira-Rio, Nilmar marcou dois gols na primeira partida que disputou pelo Brasileirão. Em Recife, foi o artilheiro solitário da vitória colorada sobre o Náutico, anotando o primeiro como centroavante, na pequena área, e o segundo em lindo chute no ângulo da meta adversária. Uma semana depois, contra o Athletico-PR, em Curitiba, o atacante descontou no revés de 3 a 2 para os locais. Também foi dele a bola na rede gremista no clássico 377, realizado no Olímpico.
Aos 25 anos, somando 64 gols em 150 partidas disputadas com a camisa colorada, Nilmar foi vendido para o Villareal no dia 24 de julho. Na primeira passagem, após surgir como promessa, foi vendido com status de craque. Assim retornou, para então ser negociado já enquanto ídolo. Nas graças da torcida, fez questão de se despedir através de comunicado endereçado ao povo vermelho. Feliz com a oportunidade de brilhar em uma das principais ligas do futebol mundial, não escondeu a dor por deixar amigos em Porto Alegre, nem a vontade de, no futuro, retornar para o Beira-Rio. Atitude gigante, como sempre foram suas atuações.
“Vou sempre estar torcendo pelo Inter, que foi muito especial na minha vida. Quero agradecer por tudo que a torcida fez por mim. Não sou gaúcho, mas vou morar em Porto Alegre no futuro. Sou colorado graças ao carinho que sempre tive aqui. Quero deixar um agradecimento, que o Inter continue crescendo cada vez mais. Nós, jogadores, estamos de passagem, mas o Clube continua com seus 100 anos de história. Espero que brilhe cada vez mais”
De volta para casa
Diferente do que os desavisados possam ter imaginado, a sexta-feira 19 de setembro de 2014 não foi um dia de jogo do Inter em Porto Alegre. Mesmo assim, o Beira-Rio recebeu grande público na data, que entoou, ao longo de toda a tarde, canto dos mais clássicos destinado a um atleta colorado. Uníssonas, mais de quatro mil pessoas bradavam que ali estavam para ver os gols de Nilmar. O motivo? A volta do craque ao seu clube de coração.
Anunciando como reforço no dia 16 de setembro, Nilmar retornou ao Inter com um currículo ainda mais encorpado. Jogador de Copa do Mundo, convocado para a edição da África do Sul, desembarcou, aos 30 anos, em um estádio de nível internacional, que recentemente sediara a disputa de cinco jogos do Mundial do Brasil. Também o Clube do Povo, então bicampeão de Libertadores e Recopa, demonstrava, ao atacante, estar em contínuo crescimento. Além disso, não era só a torcida que estava empolgada com o retorno do ídolo, como comprova o vídeo abaixo.
Vindo do banco, Nilmar reestreou pelo Inter no dia 9 de outubro, fora de casa, diante da Chapecoense. Comandando por Abel Braga, na rodada seguinte pôde, contra o Fluminense, reencontrar o gramado do Beira-Rio. Uma semana depois, foi titular contra o Corinthians, e balançou as redes ao marcar o gol colorado na derrota por 2 a 1. Entre os 11 inicias seguiu na jornada posterior, disputada contra o Flamengo, no Maracanã.
O segundo gol marcado por Nilmar em sua terceira passagem pelo Inter saiu contra o Bahia, no Beira-Rio. Aos 38 da primeira etapa, o camisa 7 tabelou com Jorge Henrique, recebeu na altura da marca do pênalti, dominou com a canhota, fez o giro e soltou a bomba de pé direito. O tento foi último da partida, vencida por 2 a 0, escore que recolocou o Clube do Povo no G-4. O atacante também foi titular em duelo frente ao Santos, na Vila, quando o Colorado encerrou jejum de 25 anos sem vitórias no Alçapão praiano, bem como no Gre-Nal 403, disputado na Arena, e no clássico nacional frente ao São Paulo, no Morumbi. Neste, sofreu lesão muscular na coxa direita, que o tornou desfalque para as últimas rodadas do Brasileirão.
Classificado para a fase de grupos da Libertadores após encerrar o Brasileirão na terceira posição, o Clube do Povo abriu o ano de 2015 realizando amistoso com o Juventude, em Caxias. Acostumado a aprontar no Jaconi, Nilmar marcou o primeira na vitória por 3 a 1 sobre o Papo. Um possível início de ano artilheiro, contudo, foi abreviado por problemas físicos, que tornaram o atacante desfalque para muitas das rodadas iniciais do Gauchão. Mesmo assim, retornou em grande estilo para os confrontos decisivos, e brilhou, como de costume, na decisão, disputada contra uma de suas principais vítimas, o Grêmio. Na finalíssima, sediada no Beira-Rio, o camisa 7 marcou o primeiro e deu assistência para Valdívia anotar no segundo e garantir a 44ª taça estadual do Clube do Povo, quinta consecutiva.
A Copa Libertadores de 2015 foi a primeira que Nilmar disputou com a camisa colorada. Campeão continental em 2008, quando marcou o gol do título da Sul-Americana, o camisa 7 jamais havia entrado em campo, vestindo o manto vermelho, para uma partida do principal campeonato das Américas. Na campanha que deu ao Inter a terceira colocação no torneio, o atacante encontrou grande destaque principalmente na fase de grupos, onde marcou três gols, dois deles na goleada por 4 a 1 sobre a Universidad de Chile, em Santiago, e outro no Gigante, diante do Emelec, após assistência mágica de D’Alessandro. Na partida de ida das semifinais, o craque ainda teve participação fundamental nos gos de El Cabezón e Valdívia.
O craque também marcou seus gols no Brasileirão. Logo na terceira rodada, fez o do Inter no empate por 1 a 1 com o Vasco, em São Januário. Na comemoração, reverenciou a estátua de Romário, localizada atrás de uma das metas do campo alvinegro. Na sexta jornada do Nacional, o Camisa 7 voltou a balançar as redes, desta vez contra o Coritiba, em partida disputada exatamente um ano após o falecimento de Fernandão, Eterno Capitão colorado e ex-companheiro de Nilmar. Seu terceiro e último tento na competição saiu no duelo posterior ao realizado contra os paranaenses. No Itaqueirão, abriu o placar, diante do Corinthians, depois de linda tabela com Rafael Moura, aos 40 da etapa inicial.
Nilmar provavelmente não sabia, mas disputou sua última partida com a camisa colorada em 26 de julho de 2015, quando Inter e Ponte Preta empataram sem gols no Moisés Lucarelli. Poucos dias depois, foi selada a venda do atleta para o Al Nasr, equipe de Dubai. Menos artilheira do que suas predecessoras, a terceira passagem do ídolo pelo Beira-Rio contou com 10 gols marcados em 35 jogos disputados, números que em nada deixaram de ser positivos, comprovando a facilidade para balançar redes que sempre acompanhou a cria do Celeiro de Ases.
Ao todo, foram 185 aparições com o manto do Clube do Povo e 64 as bolas na rede. Mais do que isso, inúmeras as lágrimas que em sua face deixou correr, e em nossos olhos fez surgir. Jogador decisivo, identificado com nossas cores e história, protagonista nos grandes momentos e companheiro de paixão e arquibancada. Referência, ocupa posto de luxo em nossa biografia, e é um dos maiores que tivemos o privilégio de assistir ao longo de ricos 111 anos de vida. Ídolo na acepção da palavra. Colorado, também. Eterno, por óbvio. Obrigado por tudo, Nilmar!
Felizes somos por ter nossa biografia escrita em vermelho. Rubro tom usado pelos guerreiros antes de uma batalha, a cor se confunde à vida do Inter, legítimo combatente que jamais se permite iniciar um duelo derrotado. Gigante Colorado das glórias, cansou de reverter situações difíceis apostando no apoio da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, que é também a mais obstinada nação de nossas terras. Com esta persistência, por exemplo, conquistamos, no dia 07 de junho de 2007, a Recopa Sul-Americana.
Pré-jogo de mobilização
É fato: o século XXI alimentou nossa determinação em lutar até o último centímetro de grama. Por diversas vezes corremos a ponto de metamorfosear sangue e barro, meião e pele, chuteira e encouraçado da bola.
Imagens da partida de ida da Recopa Sul-Americana
Cancheiro como poucos, o Clube do Povo encerrou os primeiros 90 minutos da decisão contra o Pachuca em dívida no escore. Havíamos marcado um, pelos pés de Pato, contra dois dos mexicanos, e a virada, portanto, convertia-se em uma indigesta obrigação. Por sorte, o Inter conta com o privilégio de ver sua mística, uma das maiores do continente, crescer ainda mais em partidas eliminatórias.
O gol de Pato/Imagem: SporTV
“Devemos isso à torcida,
que nos ajudou até o final.”
ALEXANDRE PATO, APÓS O JOGO
Sabendo que a soma de campo e cimento nos faz mais fortes, a torcida vermelha adotou postura exemplar já no desembarque do elenco, marcado por recepção calorosa no Aeroporto Salgado Filho. Poucos dias depois, o povo formou, assim que iniciada a comercialização de ingressos, filas quilométricas no pátio do Beira-Rio. Embora considerável, contudo, a multidão, formada pelos milhares que peregrinaram à Padre Cacique em busca de uma entrada, tornou-se pequena quando comparada à presente no Gigante na noite da finalíssima.
Da recepção no Aeroporto às filas no Gigante: torcida fez sua parte
Verdadeiro caldeirão, mais apimentado do que qualquer chili mexicano, nosso templo esteve tomado das cadeiras à inferior, embebedado por atmosfera capaz de contagiar o elenco alvirrubro e engolir qualquer obstáculo. Caso conquistada, a taça continental se somaria aos troféus de Mundial e Liberdadores, consagrando a tão desejada Tríplice Coroa colorada.
Escalado por Gallo, o Inter foi a campo com Clemer no gol; Ceará, Índio, Sidnei e Rubens Cardoso na defesa; Edinho, Wellington Monteiro, Alex e Pinga no meio; Iarley e Pato no ataque. Desfalcado de seu capitão, mais do que um 12º jogador o Colorado buscava, nas arquibancadas do Gigante, um sinal de protagonismo, uma demonstração de que, a despeito do tempo em que a desvantagem resistisse no placar, teria a torcida ao seu lado. Conscientes de tamanha responsabilidade, os mais de 51 mil colorados e coloradas presentes no Beira-Rio fizeram questão de, no momento da entrada dos times em campo, liquidar todas as dúvidas.
Uma noite inesquecível para o público que lotou o Beira-Rio
Após convocar, nome a nome, cada um dos atletas, a multidão comprovou, da melhor maneira possível, que, naquela noite, Clube e Povo seriam campeões. Apitado o início do confronto, um ensurdecedor ‘Vamo, Vamo Inter’ tomou conta da capital gaúcha.
A tensa etapa inicial
Enquanto o Gigante balançava de maneira ininterrupta, as redes custavam a ser estufadas. Não por culpa do Inter, que antes dos 15 minutos já acumulava oportunidades desperdiçadas, e sim do irônico destino, que parecia interceder nos rumos da partida, reservando boas doses de tensão ao Clube do Povo. Como desdobramento, nosso primeiro respiro aliviado chegou apenas aos 29 minutos.
Iarley sofreu, Alex bateu
“Só com o sacrifício e com o apoio
é que se consegue conquistar!”
ALEX, NA FESTA DO TÍTULO
Após passar quase um quarto de hora sem conseguir furar a defesa visitante, o Colorado chegou ao ataque em rápida tabela de Iarley e Pato. Lançado pelo jovem, o camisa 10 do Mundial foi derrubado por Pinto. Falta, dentro da área, assinalada pela arbitragem.
Alex converteu pênalti que, ao mesmo tempo em que nos aproximava do título, em nada afugentou o risco de uma escapada rival. Coube, então, ao Gigante, que antes fora atacante, começar a defender, impossibilitando qualquer princípio de troca de passes mexicana.
A canhota de Alex que fez explodir o Beira-Rio/Imagem: SporTV
Uma atuação de Rei para garantir a coroa
Pinga teve grande atuação na finalíssima
Logo na volta do intervalo, Pinga serviu de gasolina ao incendiário Beira-Rio, acendendo não a torcida, já efervescente, mas o clima de carnaval, digno de um título continental conquistado por brasileiro. O meio-campista recebeu grande passe de Wellington Monteiro e, de primeira, finalizou cruzado, com efeito, direto na bocheca da rede mexicana.
Pinga e Pato encaminharam o título/Imanges: SporTV
Ao Pachuca, não restou alternativa senão abandonar a retranca e tentar encurralar o Inter. Não contavam os mexicanos, no entanto, que pouco mais de 10 minutos após o segundo, chegaria o terceiro. Lançado pela esquerda, Pato provou o quão embalado estava pela arquibancada e, de frente para a marcação, decidiu sambar. Pobre da coluna do adversário que, entortada, viu o Beira-Rio explodir e Alexandre, de frente para a torcida, reger a festa. Golaço da jovem promessa!
Jovem promessa, Pato brilhou na conquista da Tríplice Coroa
Já na reta final da partida, quem decidiu entrar na roda foi Mosquera. Representando toda a América, o zagueiro se curvou à euforia colorada e, ao desviar contra o próprio patrimônio cruzamento vindo de Pinga, salsou à brasileira. Quarto gol vermelho, e jogo encerrado.
Mosquera impediu o gol de Pato, mas não a goleada alvirrubra
“Três títulos importantes,
todos estão de parabéns!
A conquista é o fechamento de 2006!”
Fernandão, depois de levantar a taça
Beira-Rio em festa!
Contínuo ao apito final, teve início uma verdadeira apoteose no gramado do Beira-Rio, com direito a invasão de torcedores que puderam, aos abraços e reverências, festejar com os atletas colorados. O relógio já se aproximava da primeira meia hora do dia 8 quando, ladeado por Fernandão e Clemer, Iarley ergueu a taça continental. Inter, campeão da Recopa e dono não apenas do continente, mas também da Coroa. Tríplice.
O beijo da taça no capitão que melhor lhe tratou na história/Foto: Jefferson Bernardes
É CAMPEÃO DO MUNDO!!! O planeta passou a ter uma nova cor neste domingo (17/12). Histórico, o Inter venceu o Barcelona, na grande final do Mundial de Clubes da Fifa, e assim coloriu a Terra em vermelho e branco. Disputada na japonesa cidade de Yokohama, a inesquecível decisão foi encerrada com triunfo por 1 a 0 do Clube do Povo, gol de Adriano Gabiru. Predestinado, o artilheiro responsável por colocar o Colorado no seleto grupo de donos do planeta estufou as redes catalãs aos 36 minutos do segundo tempo, pouco depois de entrar em campo no lugar de Fernandão.
O pré-jogo
Após lesão de Hidalgo, Abel teve quatro dias para definir o substituto na esquerda
Sem Hidalgo, machucado, o técnico Abel Braga escolheu Rubens Cardoso para a lateral-esquerda. Nas demais posições, o time colorado repetiu a formação que derrotara o Al-Ahly nas semifinais, assim subindo a campo, vestindo branco, com Clemer no gol; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens, na defesa; Edinho, Wellington Monteiro, Alex e Fernandão no meio; Pato e Iarley na frente.
Os 11 iniciais/Foto: Jefferson Bernardes
Do outro lado, o Barcelona de Frank Rijkaard esteve escalado com Victor Valdes no gol; Zambrotta, lateral campeão do mundo com a Itália no último mês de julho, Rafa Marquéz, Puyol e Van Bronckhorst, na defesa; Thiago Motta, Iniesta e Deco, no meio; e Ronaldinho, o atual melhor jogador do mundo, Gudjohnsen e Giuly, no ataque. A equipe foi a mesma que, no último dia 14, goleou o América-MEX na semifinal do Mundial.
Lotado por mais de 70 mil pessoas, o Estádio Internacional de Yokohama demonstrou, ao longo de toda a noite, grande simpatia pela equipe europeia, com especial destaque para os craques Ronaldinho e Deco, constantemente ovacinados pelo público. O ambiente hostil, contudo, em nada intimidou as centenas de colorados e coloradas que, localizados principalmente atrás da goleira esquerda, cantaram e apoiaram o Inter durante os 90 minutos, decorando as arquibancadas nipônicas com bandeiras e faixas do Clube do Povo.
Vamo (ou arigatô?), Inter!
Após bonito espetáculo protagonizado por jovens crianças e embalado por um grupo de música pop japonesa, as equipes entraram em campo perfiladas, respeitando o tradicional protocolo da FIFA. Considerado visitante, o Inter teve seus atletas completamente fardados de branco, com a maioria vestindo mangas longas devido ao intenso frio nipônico.
Em Porto Alegre, torcida colorada se reuniu na Avenida Göethe e nos arredores do Beira-Rio
Primeira etapa movimentada
Palco da decisão da Copa do Mundo de 2002, o Estádio Internacional de Yokohama assistiu à partida que esteve, desde seus primeiros movimentos, à altura da mística de suas arquibancadas. Vivendo grande momento, o Barcelona bem que tentou impor seu ritmo desde o minuto inicial, mas esbarrou no grande entrosamento da retaguarda colorada. Como se fora um meio-campista, Fernandão não oferecia respiro a Motta, perturbando a tradicionalmente qualificada saída de bola catalã. Diante do cenário positivo, o Clube do Povo começou a se soltar, criando boas oportunidades com Fernandão, Rubens Cardoso, Iarley e Pato.
Iarley não deu sossego à defesa catalã/Fotos: Ricardo Duarte
A resposta dos europeus, tidos por quase toda a crônica esportiva como favoritos, chegou aos 18 minutos, em chute forte de Van Bronckhorst. O holandês botou bastante curva na bola, exigindo grande reflexo de Clemer, que espalmou para a direita. Ronaldinho aproveitou o rebote e mandou de primeira, mas direto pela linha de fundo. Deste momento em diante, a partida ficou mais concentrada entre as duas intermediárias, com o Barcelona apostando em bolas alçadas para Gudjohnsen e forçando faltas, enquanto o Inter tentava encaixar um rápido contra-ataque que poderia ser fatal. Como elemento surpresa, Índio, aos 37, teve a última boa oportunidade da etapa inicial, finalizando por cima jogada tramada com Wellington Monteiro.
Foto: Jefferson Bernardes
Fernandão e Alexandre Pato completaram o mágico trio de ataque alvirrubro
O mais internacional dos tempos
Os 20 minutos iniciais da última etapa repetiram o cenário de abertura do primeiro tempo. Presente no campo ofensivo, o Inter levava perigo aos espanhóis ao mesmo tempo em que, no campo de defesa, contava com maiúscula atuação do sistema para segurar o ímpeto catalão. O cenário foi radicalmente revolucionado, todavia, aos 23, quando Fernandão sentiu cãibra após disputar bola por cima.
Após receber rápida massagem na panturrilha, o capitão retornou a campo e tentou, por quase cinco minutos, permanecer na partida, até não resistir às dores. Abel, então, chamou Gabiru, mas, no instante em que a troca seria feita, um novo problema surgiu: o nariz de Índio, que não parava de sangrar. O defensor precisou sair de campo em busca de uma nova camisa limpa. Ao mesmo tempo, recebia atendimento que impedia o comandante colorado de realizar a prevista substituição, que seria a terceira. Assim, o Inter permaneceu, durante intermináveis minutos, com um (e meio) a menos no gramado, até Índio retornar e Adriano entrar, aos 30.
Guerreiro, Índio!/Foto: Ricardo Duarte
Se no papel foi Adriano quem substituiu Fernandão, animicamente coube a Iarley ocupar o espaço de liderança deixado pelo capitão. Chamando a responsabilidade para si e importunando a defesa rival, o camisa 10 encontrou seu momento de maior brilhantura na partida aos 36, curiosamete em combinação com Gabiru, certamente abençoado por Fernando, que tudo assistiu da beira do campo.
Foto: Ricardo Duarte
PREDESTINADO, GABIRU!
Em velocidade, o quixeramobinense recebeu escorada de Luiz Adriano e, da altura do meio de campo, partiu em velocidade após aplicar caneta desconcertante em Puyol. Exatos cinco segundos após o corte, serviu açucarada assitência para Gabiru, que não perdoou. Gol. O mais importante de nossa história, o único da partida, apesar dos esforços de Deco, parado por Clemer, Ronaldinho, condenado pelo destino, e companhia. Faltando um segundo para os 48, Carlos Batres apitou pela última vez na partida e oficializou a conquista alvirrubra.
O Japão tremeu
O MUNDO É NOSSO/Foto: Jefferson Bernardes
Uma vez encerrado o confronto, a distância de 20 mil quilômetros entre Japão e Rio Grande do Sul foi encurtada a ponto de habitantes de uma terra confirmarem ser possível ouvir os festejos promovidos noutra. Goethe e Yokohama viraram um só ambiente, ou melhor, passarela, sobre a qual desfilou o popular bloco colorado.
Comemora o povo alvirrubro/Foto: Ricardo Duarte
Mais do que no momento do apito final, verdade seja dita, foi pontualmente às 21h38min do Japão, 10h38min do Brasil, que a euforia foi, enfim, iniciada. Neste instante, poucos minutos depois de Iarley ser premiado como o segundo melhor atleta da competição, Fernandão ergueu a taça do Mundial, colorindo, de vez, o mundo em alvirrubro. Depois disso, os jogadores deram a tradicional volta olímpica e partiram para a festa que não tem dia, hora ou lugar pra acabar. Comemore, povo colorado. O mundo é nosso!
Os principais lances da partida:
🏆 CHEGOU A HORA! 🏆 “Lá dentro, é dar o máximo. O máximo. Só que aí a gente vai ver, que na hora que a gente tá chegando no máximo, ainda a gente pode dar mais um pouquinho. Então vamos lá e vamos fazer isso. Vamos lá dentro e vamos sair daqui CAM-PE-ÃO!” ❤️ #F9Eternopic.twitter.com/rmlmfW4FKn
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
Primeiro tempo
(BARxINT) ⏰ 8’/1T: Tik-taka? 🤔 De pé em pé, o Inter vai chegando. Desta vez, a arbitragem pega impedimento na tabela colorada. É o carrossel do Abel! #NoTopoDoMundo 🇦🇹 pic.twitter.com/Q3Cbl9VJTD
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
(BARxINT) ⏰ 16’/1T: UEPA! Donde vás, amigo? Wellington Monteiro puxa o contra ataque e dribla bonito a marcação. Inter segue buscando espaços em jogo equilibrado até aqui. #NoTopoDoMundo 🇦🇹 pic.twitter.com/DJJ9LzObaG
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
(BARxINT) ⏰ 37’/1T: UHHHHHH!!! Índio se manda para o ataque, recebe um passe DEBOCHADO de Monteiro e arrisca o chute. Essa passou perto! #NoTopoDoMundo 🇦🇹 pic.twitter.com/pEPKqyDHSF
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
(BARxINT) ⏰ 39’/1T: “Olha o que ele fez!” Pato balança bonito a marcação e recebe falta dura. Amarelo neles, professor! #NoTopoDoMundo 🇦🇹 pic.twitter.com/k9aEfNqUK5
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
Segundo Tempo
(BARxINT) ⏰ 7’/2T: Tão deixando a gente sonhar! Pato é acionado na ponta direita e chuta forte, mas por cima. Vamo, Colorado! #NoTopoDoMundo 🌎🇦🇹 pic.twitter.com/k9Do05bIir
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
(BARxINT) ⏰ 36’/2T: O MUNDO VAI SER VERMELHO! Iarley puxa o contragolpe fulminante, deixa Puyol pra trás e manda um presente dos deuses para Adriano Gabiru. O camisa 16 não titubeia e bate na saída de Valdés! É GOL DO INTER! ANTOLOGIA NO JAPÃO! 🔥⚽️ #NoTopoDoMundo 🌎🇦🇹 pic.twitter.com/E4E2KKoPl6
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
(BARxINT) ⏰ 37’/2T: CLEEEEEEEEMER! 🤯 Deco capricha no veneno e encomenda na gaveta, mas o camisa 1 do Inter opera um milagre em Yokohama! #NoTopoDoMundo 🌎🇦🇹 pic.twitter.com/dtW7ZJVHwM
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) June 7, 2020
Ficha técnica
Internacional (1): Clemer; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho, Wellington Monteiro, Alex (Vargas) e Fernandão (Adriano); Alexandre Pato (Luiz Adriano) e Iarley. Técnico: Abel Braga.
Barcelona (0): Valdes; Zambrotta (Beletti), Márquez, Puyol e Van Bronckhorst; Motta (Xavi), Iniesta e Deco; Giuly, Gudjohnsen (Ezquerro) e Ronaldinho. Técnico: Frank Rijkaard.
Gol: Adriano (I), aos 36min do segundo tempo.
Cartões amarelos: Índio, Iarley e Adriano (I); Motta (B).
Público: 67.128.
Arbitragem: Carlos Batres (Guatemala), auxiliado por Carlos Pastrana (Honduras) e Leonel Leal (Costa Rica).
Local: Estádio Internacional de Yokohama, no Japão.
RBS TV transmite final neste domingo (24/5) Foto: Jefferson Bernardes
O Internacional é o maior time da América! O time alvirrubro conquistou o título da Libertadores após empate dramático por 2 a 2 com o São Paulo na noite desta quarta-feira (16/8), no Beira-Rio. Os gols do Clube do Povo foram marcados por Fernandão e Tinga, enquanto Fabão e Lenílson descontaram para os paulistas. O Inter ainda jogou os últimos 27 minutos com um jogador a menos porque Tinga foi expulso. Campeão, o Colorado agora se prepara para a disputa do Mundial Interclubes, em dezembro deste ano, no Japão.
Pré-jogo especial!
O ambiente antes da partida já demonstrava toda tensão e emoção que aguardavam a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Completamente mobilizada depois de triunfo por 2 a 1 na partida de ida, disputada no Morumbi, o povo colorado chegou cedo ao Gigante. Tamanha movimentação criou filas quilométricas, que se alongavam por todo o Complexo Beira-Rio horas antes de o duelo ser iniciado. No momento em que o ônibus que trouxe a delegação adentrou às dependências do Estádio, a massa correu em direção aos atletas, saudando cada um com gritos de apoio.
Isso vai marcar todos os jogadores,
todo mundo vai lembrar de nós!
Nos mostraram as imagens do pessoal
que ficou na fila durante dias e isso
nos sensibilizou muito, nos motivou!
Fernandão
Fotos: Jefferson Bernardes
No momento da entrada do time colorado em campo, um Beira-Rio completamente lotado saudou os heróis da noite, oferecendo grande manifestação de apoio e fé na conquista. Emoldurado por sinalizadores e foguetes, o Gigante rugia em uma só voz, empurrando o Clube do Povo ao som dos clássicos ‘Vamo, Vamo, Inter’ e ‘Nada vai nos Separar’, hinos desta campanha. Dentro de campo, os jogadores certamente eram contagiados por toda a energia positiva oriunda das arquibancadas.
Foto: Jefferson Bernardes
Expulso na partida de ida, o volante Fabinho foi o único desfalque do técnico Abel Braga para a partida desta quarta-feira. A alternativa encontada pelo comandante foi alçar Índio ao time titular, armando a equipe em um 3-5-2. No gol, como de costume, esteve Clemer, protegido pelo trio de zagueiros formado por Índio, pela direita, Bolívar, no centro, e Fabiano Eller, na esquerda. A ala direita ficou a cargo de Ceará, enquanto Jorge Wagner fez a esquerda. Por dentro, os volantes Edinho e Tinga ofereceram o apoio necessário ao meia Alex. Completando o time, Sobis e Fernandão formaram a dupla de ataque.
Foto: Jefferson Bernardes
De sua parte, o São Paulo foi a campo sem Ricardo Oliveira, negociado, e Josué, que também recebeu o vermelho no Morumbi. Às ausências, Muricy Ramalho respondeu escalando: Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Souza, Mineiro, Richarlyson, Danilo e Júnior; Aloísio e Leandro.
Primeiro tempo de dois momentos
Em linhas gerais, a etapa inicial seguiu a cartilha esperado para uma partida decisiva. Foi intensa a marcação imposta pelos dois times aos ataques adversários, característica que teve como consequência a profusão de faltas e passes errados. Apenas nos primeiros minutos, verdade seja dita, existiu um predomínio paulista, condição até já esperada, fruto da desvantagem visitante no placar agregado.
“Fizemos o que tinha de ser feito:
corremos como se tivéssemos
perdido no Morumbi.
Esquecemos da vantagem e fomos
com a mesma garra que temos
jogado em todos as partidas.”
Jorge Wagner
Bem postado, o Inter segurou a pressão visitante e escapou sem sofrer maiores sustos, assumindo as rédeas da partida assim que completado o primeiro terço de jogo. Efetivo, o Clube do Povo abriu o placar aos 29 com Fernandão, aproveitando confusão da zaga tricolor, causada por cruzamento venenoso de Jorge Wagner. À frente no marcador, o Colorado administrou o resultado até o intervalo, ainda levando perigo em boas escapadas.
De tirar o fôlego
Fotos: Jefferson Bernardes
O segundo tempo foi dramático e impróprio para cardíacos. Afinal de contas, correspondeu aos últimos 45 minutos restantes para qualquer equipe buscar o título. Ofensivo desde o soar do apito inicial, o São Paulo não cessou o ritmo nem mesmo com o empate, que chegou aos 5. Já o Inter, sempre abraçado por quase 60 mil vozes, conseguiu suportar os momentos mais difíceis e retomar a dianteira com Tinga, no início da metade final da partida.
Na comemoração, contudo, o camisa 7 colorado foi expulso e deixou o Clube do Povo com um a menos, abrindo, de uma vez por todas, o apoteótico capítulo de união entre time e torcida. É bem verdade que os visitantes marcaram seu segundo tento, mas não passaram disso. Aos pontuais 48 minutos, Horacio Elizondo apontou para o centro de campo e oficializou, de uma vez por todas, que a América estava livre. Livre, e colorida em vermelho e branco!
Fotos: Jefferson Bernardes
“A festa está completa.
Ganhamos o mais importante.
O Inter é o time que eu torço,
que meus amigos todos torcem!”
Tinga
Fotos: Jefferson Bernardes
Carnaval colorado
Foto: Jefferson Bernardes
Encerra a partida, jogadores, dirigentes, funcionários e torcedores entraram em êxtase. Depois de 97 anos de história, o Inter conquistava sua Libertadores, e os heróis da noite não cansavam de comemorar a taça, correndo eufóricos pelo gramado. Cria do Celeiro e grande nome da partida de ida, Rafael Sobis circulava pelo campo de jogo carregando uma gigantesca bandeira do Clube do Povo, como que fincando nosso mastro em solo continental e afirmando a soberania colorada em terras latino-americanas.
Fotos: Jefferson Bernardes
“Não tem título mais importante.
Estou no clube desde sua fase ruim,
mas nós conseguimos levantar o Inter
e alegrar o torcedor.
Essa torcida é muito sofrida e
merece essa festa!”
Clemer
Foto: Jefferson Bernardes
Não houve quem ousasse arredar o pé do Beira-Rio. Todos, à exceção dos torcedores rivais, queriam assistir ao capitão Fernandão erguendo a mais cobiçada taça das Américas. No centro do pódio, às 0h25 o camisa 9, craque da decisão e artilheiro da Libertadores recebeu o troféu e ergueu em frente ao mar vermelho que celebrou encantado. Em seguida, teve início a volta olímpica, inaugurando a mais carnavalesca noite já vista em um agosto gaúcho.
Fotos: Jefferson Bernardes
Confira os principais lances da partida:
Primeiro tempo:
1min – Clemer! Júnior levanta na área, Aloísio desvia de cabeça e Danilo completa, finalizando. Goleiro colorado fica com ela.
6min – GRANDE, CLEMER! Aloísio rola boa bola para Danilo, que chega batendo de primeira, de fora da área. Paredão colorado espalma em linda ponte e manda para escanteio.
6min – Por cima! Após cobrança de escanteio, a bola fica viva na área e sobra com Lugano, que manda sobre o travessão alvirrubro.
10min – SAAAAAAAAAALVA CENI! Jorge Wagner é lançado na área pela esquerda, chega na bola em velocidade e finaliza de canhota. Goleiro adversário sai bem do gol e consegue abafar o arremate com grande defesa.
13min – UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUH! Jorge Wagner lança Fernandão em profundidade. Capitão colorado invade a área dominando e, no momento de arrematar, sofre o desarme de Edcarlos, que atenta contra o próprio gol. Ceni salva, com muito reflexo.
17min – Jogo parado. Festa da torcida colorada, com sinalizadores, gera grande fumaça sobre o campo.
22min – Bola volta a rolar.
25min – TIIIIIIRA A ZAGA! Sobis faz boa jogada pela direita e cruza no segundo pau. Dentro da pequena área, Souza afasta, de qualquer maneira, para escanteio. Está amadurecendo o gol colorado!
26min – PRA FOOOOOOOOOOOORA! Jorge Wagner cobra escanteio na primeira trave. Ceará desvia de cabeça e ela sobra limpa para Índio, que chuta por cima. É pressão colorada no Gigante!
29min – GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL DO INTERNACIONAL! É DO CLUBE DO POVO, DO COLORADO, DO ALVIRRUBRO ENCARNAAAAAADO! UH, FERNANDÃO! UH, FERNANDÃO! Jorge Wagner cobra falta da intermediária, pela direita. Fechada, a bola vai na direção de Ceni, que tenta encaixar, mas não consegue. Genial, Fabiano Eller se antecipa à atordoada zaga paulista e serve Fernandão, livre na pequena área. De carrinho, o capitão colorado manda para o gol vazio. Agora, o Inter tem 3 no agregado, 1 na partida, e vai colocando uma mão na taça. Explode o Beira-Rio!
45min – NA TRAAAAAAAAAAAAAAAVE! Jorge Wagner levanta na áera, Eller desvia de cabeça e Índio, também com a nuca, manda buscando o ângulo. A bola explode no travessão e sai causando calafrios na defesa tricolor.
46min – Júnior cruza para Fabão, que arremata para fora.
51min – Fim de papo na primeira etapa!
Segundo tempo:
1min – UHHHHHH! Ceará vai ao fundo pela direita e cruza rasteiro. Fernandão chega finalizando de primeira e manda ao lado do gol, com muito perigo!
5min – Souza cobra falta na direção da área colorada, Lugano desvia e Fabão, na segunda trave, completa para o gol. Tudo igual.
12min – Boa chegada! Jorge Wagner levanta bola na medida para Eller, que cabeceia por cima!
13min – Muda o São Paulo. Danilo e Richarlyson dão lugar, respectivamente, a Lenílson e Thiago.
20min – GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL DO IIIINNNNTEEEEEEEEEEEEER! GOLAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAÇO COLORADO! DA ACADEMIA DO POVO! DO TIME QUE VAI SER CAMPEÃO DA AMÉRICA! TEU POVO TE AMA, TINGA! TINGA! TIIIIIIIIIIINGA! Sobis faz grande jogada, invade a área pela direita e deixa atrás com Ceará, que cruza aberto. Soberano, Fernandão cabeceia para baixo, como manda o figurino, exigindo milagre cinematográfico de Ceni. O rebote, entretanto, é colorado, é do Capitão, que levanta na medida para Tinga, livre e com o gol aberto, testar para as redes. O Beira-Rio entra em erupção!
22min – Por levantar a camisa na comemoração, Tinga recebe o segundo amarelo e é expulso.
25min – São Paulo encerra as trocas com a entrada de Alex Dias na vaga de Edcarlos.
33min – Lenílson recebe bola ajeitada na entrada da área, pela esquerda, e chuta buscando o canto. Ela vai para fora, levando perigo.
34min – Alex deixa o campo para a entrada de Michel!
35min – Pra fora! Aloísio pega a sobra de cruzamento e, livre, dentro da área, finaliza forte. Assustou!
37min – Entra Ediglê, sai Sobis. Abel reforça a marcação!
39min – Júnior chuta da entrada da área, Clemer espalma para o lado e ela fica com Lenílson, que empata o jogo.
44min – CLEMER! CLEMER! CLEMER! CLEMER! MILAAAAAAAAAAAAGRE! Júnior cruza na segunda trave e Alex Dias manda cabeceio forte. Ídolo colorado voa no ângulo para defender, mandando em escanteio.
46min – CLEEEEEMER! Souza chuta de fora da área e goleiro colorado, em dois tempos, faz a defesa. NÃO VAI ENTRAR! NÃO VAI ENTRAR! NÃO VAI ENTRAR!
48min – ACABOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOU! É CAMPEÃO! INTER! INTER! CAMPEÃO! CAMPEÃO! INTER! INTER! CAMPEÃO! CAMPEÃO! VENCEMOS A LIBERTADORES! LIBERTAMOS A AMÉRICA! FAÇA A FESTA, TORCEDOR COLORADO, O CONTINENTE INTEIRO É NOSSO. ESSE TÍTULO É SEU, É DE TODOS QUE VIVEM ESSA PAIXÃO MARAVILHOSA! VAMO, INTER!
Ficha técnica:
Internacional (2): Clemer; Índio, Bolívar e Fabiano Eller; Ceará, Edinho, Tinga, Alex (Michel) e Jorge Wagner; Sobis (Ediglê) e Fernandão. Técnico: Abel Braga
São Paulo (2): Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos (Alex Dias); Souza, Mineiro, Richarlyson (Tiago), Danilo (Lenílson) e Júnior; Leandro e Aloísio. Técnico: Muricy Ramalho.
Gols: Fernandão (I), aos 29min do primeiro tempo, Fabão (SP), aos 5min40seg do segundo tempo, Tinga (I), aos 20min40seg do segundo tempo, Lenílson (SP), aos 39min30seg do segundo tempo.
Arbitragem: Horacio Elizondo, auxiliado por Rodolfo Otero e Dario Garcia (trio argentino)