Definir a importância do eterno capitão colorado para o Inter é impossível, e também desnecessário. Até porque Fernandão não se explica, mas se vive. E nós sabemos que, de onde estiver, ele sempre estará conosco. No dia em que o ídolo completaria 44 anos, o Hoje na História presta uma homenagem ao camisa 9 das maiores conquistas do Clube do Povo. Ainda neste 17 de março, a Rádio Colorada parabeniza Fabiano, ex-camisa 7 vermelho, e lembra da conquista da SeleInter no Pan de 1956. Confira a íntegra!
Dia de clássico estadual no Beira-Rio! O Clube do Povo recebe o Juventude, a partir das 20h30 deste domingo (18/07), pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro. Confira entrevista da Rádio Colorada com Bruno Mucke, repórter da Rádio Caxias, projetando o duelo. Abaixo, você encontra todas as informações do confronto.
A cobertura da 12ª rodada do Brasileirão será apenas uma das atrações da Rádio Colorada para este domingo. Emissora oficial do Clube do Povo, a Mais Vermelha, que viverá tarde de jornada dupla, estará ao vivo, direto do Beira-Rio, a partir das 19h30. Confira a programação completa, que pode ser acompanhada viaSite e APP do Inter:
As redes sociais do Inter (@scinternacional no Twitter, Instagram e Facebook) cobrirão a partida com o tradicional minuto a minuto enriquecido por imagens dos melhores momentos do confronto. Na TV, o Premiere anuncia transmissão.
Vamo, Inter! 💪
A preparação colorada para o clássico estadual foi curta. Iniciada ainda no Paraguai na manhã da última sexta-feira (16/07), dia seguinte a empate sem gols diante do Olimpia-PAR pela partida de ida das oitavas da Libertadores, ela chegou ao fim já na tarde deste sábado, que contou com atividades no CT Parque Gigante.
Diego Aguirre e comissão técnica aproveitaram a véspera de confronto para realizar atividades técnicas e táticas com o grupo. Os exercícios encaminharam o time que irá a campo para encerrar jejum de cinco rodadas sem vitórias, além de buscar o primeiro triunfo do Inter como mandante neste Brasileirão.
No Gigante, o Clube do Povo precisará superar, além do adversário, lista considerável de desfalques. Saravia e Mauricio recentemente se juntaram a Guerrero e Zé Gabriel na nominata de lesionados, e, além do quarteto, Taison, com entorse no tornozelo direito, tem passado por avaliações diárias junto ao DM colorado.
O Inter abriu a 12ª rodada na 15ª posição do Campeonato Brasileiro. Até aqui, os comandados de Diego Aguirre somam 11 pontos, conquistados através de duas vitórias e cinco empates. Após o Juventude, o Clube do Povo voltará a campo pela Libertadores, torneio pelo qual enfrenta o Olimpia, no Beira-Rio, às 21h30 da próxima quinta-feira (22/07).
Arbitragem 👨⚖️
Rodolpho Toski Marques apita, auxiliado por Ivan Carlos Bohn e Sidmar dos Santos Meurer. Trio paranaense. Quarto árbitro: Rafael Rodrigo Klein, do Rio Grande do Sul. VAR: Pablo Ramon Pinheiro, do Rio Grande do Norte.
Rival 🆚
De volta à Série A após 13 anos, o Juventude apresentou desempenho competitivo e seguro nas primeiras 11 partidas do Brasileirão. Com 13 pontos, o Papo abre a 12ª rodada no 13º lugar, situação que, como revela Bruno Mucke, agrada a torcida jaconera, que já começa a sonhar com voos mais altos.
“O time vive um momento bom, agradável, na Série A. O Juventude tem um orçamento reduzido, talvez o menor do Brasileirão, mas tem uma competição, até aqui, segura. Esse Campeonato está sendo bom para o Juventude, que está vendendo caro os resultados, podendo brigar por uma competição sul-americana.”
Individualmente, o grande nome alviverde é Matheus Peixoto. Vice-artilheiro do Brasileirão com seis gols marcados, o atacante é o goleador da temporada do Juventude. Oriundo do Red Bull Bragantino, ele tem oferecido consistência que esfria a busca do Papo, que há poucas semanas quase contratou o argentino Nicolás Blandi, por um novo camisa nove.
“O Juventude tem interesse em contratar um nove. Acertou com o Blandi, mas ele colocou algumas questões que o impediram de ser anunciado. Assim, deu espaço para o Matheus Peixoto, que está em um momento iluminado. A bola bate nele e entra. Quando se trouxe esse atleta, já existia a convicção de que poderia ajudar.”
A boa fase alviverde passa, também, pelo encaixe do time de Marquinhos Santos. Frequentemente atuando com um tripé de meio-campistas, que pode variar entre o 4-4-2 losango e o 4-1-4-1, o Papo dispõe de uma série de atletas que desempenham com naturalidade o jogo de imposição e velocidade cobrado pelo treinador.
“No começo da competição, o Marquinhos demorou para encaixar o time titular. Vinha jogando num 4-2-3-1, mas se encaixou no 4-1-4-1. O Juventude joga muito na transição. Por isso, a importância dos volantes, do Castilho, do Jesus, do Jadson. São pilares importantes tanto para o sistema defensivo quanto na construção de jogadas.”
Diante do Inter, o atacante Roberson tem chances de fazer sua reestreia pelo Papo. Mesmo se estiver disponível, porém, o atleta, que inicia sua quarta passagem pelo Juventude, deve ser reserva no time de Marquinhos Santos, que tem os seguintes nomes como prováveis titulares: Carné; Michel, Vítor Mendes, Rafael Forster e William Matheus; Elton, Castilho, Jadson e Wescley; Paulinho e Peixoto.
Para voltar a vencer em casa 🔙
A última vitória do Inter no Beira-Rio ocorreu no dia 8 de maio, há mais de dois meses. O adversário da ocasião? Foi o Juventude. Superado por 1 a 0 em Bento Gonçalves, o Colorado recebeu o Papo para a disputa da partida de volta da semifinal do Gauchão de 2021, e sofreu para furar a retranca serrana, que permaneceu praticamente impenetrável até o minuto 42.
Neste instante, após escanteio cobrado pelo adversário, o Inter arrancou em altíssima velocidade através de Yuri Alberto, que tabelou com Thiago Galhardo antes de receber, com a meta aberta, assistência açucarada para empatar o escore agregado. Quatro minutos depois, Edenilson serviu Mauricio, que marcou o segundo em cima do rival estonteado.
Na etapa final, foi o próprio Edenilson quem tornou a situação mais cômoda. Tranquilo e preciso como sempre, ele marcou o terceiro, aos 15, após excelente cobrança de pênalti. Também da marca da cal, Peixoto descontou seis minutos mais tarde, mas Rodinei, em rebote de chute de Caio, encerrou a conta no minuto 33.
Show de Fernandão em 2007 ❤️
Inter e Juventude não se enfrentam pela Série A do Brasil desde 2007, quando, no dia 21 de outubro, o Beira-Rio sediou duelo válido pela 32ª rodada do Brasileirão. Mais de 35 mil colorados e coloradas apoiaram o Clube do Povo, que lutava por vaga na Sul-Americana da temporada seguinte, e foram recompensados com espetáculo de seu capitão.
Beira-Rio recebeu grande público em 2007/Fotos: Alexandre Lops
Comandado por Abel Braga, o Inter foi a campo com Clemer; Wellington Monteiro, Índio, Orozco e Marcão; Edinho, Guiñazú, Magrão e Alex; Gil e Fernandão. Aos 23 minutos, Monteiro finalizou de longe e exigiu milagre de Michel Alves. Dono do rebote, o Eterno Capitão tabelou com Gil e, pela esquerda da grande área, serviu Magrão, que girou como um centroavante antes de finalizar no cantinho.
Há 13 anos, Magrão abriu a conta/Foto: Alexandre Lops
O segundo do jogo saiu aos 31. Pela primeira vez em sua vitoriosa carreira, Fernandão marcou de falta, e o fez com estilo restrito a poucos. Em frente à área alviverde, o dono da 9 cobrou rasteira, por baixo da barreira, sem chances para Michel Alves, e fez explodir o Beira-Rio, que testemunhava o gol 64 do Capitão com a camisa colorada.
Fernandão encerrou o primeiro tempo com um golaço e uma assistência/Foto: DVG, Zero Hora
Senhor do jogo, o Inter controlou o segundo tempo, que presenciou verdadeiro espetáculo nas arquibancadas, embaladas pelos gritos de olé da torcida colorada. Decidido a retribuir seu povo, Fernandão fechou a conta aos 43, em lindo testaço após cruzamento de Marcão. Goleada no Beira-Rio!
Por baixo e pelo alto, Fernandão foi o soberano de sempre no dia 21 de outubro de 2007/Fotos: Alexandre Lops
Do Gol 1000 em clássicos ao topo do mundo. Das conquistas regionais para os maiores feitos da história do clube. Exemplo dentro e fora de campo. O Personagem do Mês de julho do Museu do Inter é o eterno camisa 9 e capitão colorado: Fernando Lúcio da Costa.
Quando desembarcou em Porto Alegre naquele longínquo 2004, havia esperança. Mas nem o mais otimista dos colorados poderia imaginar o que viria pela frente. Só que o Gol 1000 em clássicos mostrava que tinha algo a mais ali. O camisa 18 daquela partida tinha, na verdade, um 9 tatuado na alma.
Líder dentro e fora dos gramados, Fernandão desbravou os caminhos que nos levaram ao topo da América. Na Copa do Mundo de Clubes, o ídolo, como um grande capitão, foi a testa de sua tropa, combatendo os avanços adversários até o limite de seu corpo. Retirou-se do gramado para a entrada daquele que marcaria o gol da vitória. Até nisso foi predestinado.
Marcou 77 gols nos seus 190 jogos com a camisa rubra. Foi dirigente, técnico e deixou um legado gigante para as gerações futuras de colorados. Em uma fatalidade, perdeu a vida em 2014. Mas jamais deixará nossas memórias e corações. Fernandão é eterno.
Morumbi lotado. Cerca de 70 mil pessoas apoiando o time da casa, atual campeão do mundo, e que sonhava com o bicampeonato consecutivo da América. Duelo de duas das melhores campanhas da Libertadores. Confronto dos atuais líderes do Brasileirão. Os ingredientes, não se pode questionar, estavam postos para uma noite memorável. Tolos? Somente os que esperavam cozinhar o Inter no caldeirão paulista. Há 14 anos, vivíamos uma das maiores noites de nossa história.
Pula que é gol do Sobis, só pode ser o Sobis/Foto: Jefferson Bernardes
Duelo grandioso
De fato, o adversário exigia respeito. Tricampeão da Libertadores, em 2006 o São Paulo fechou a primeira fase com a quarta melhor campanha do torneio. Nas oitavas, superou o Palmeiras com o agregado de 3 a 2. Logo em seguida, eliminou, no Morumbi, os argentinos do Estudiantes. A classificação para as semis veio nas cobranças de pênaltis, após vitória por 1 a 0 no tempo normal.
Para chegar à finalíssima, o Tricolor, que contava com a estrelada geração de Rogério Ceni, Lugano, Josué, Mineiro, Aloísio e Ricardo Oliveira, ainda bateu o Chivas de Guadalajara. Na casamata, a equipe paulista tinha o comando de Muricy Ramalho, técnico colorado na temporada anterior e, portanto, grande conhecedor do elenco alvirrubro.
Em dezembro, São Paulo conquistaria o Brasil/Foto: Site São Paulo
“Com todo o respeito ao São Paulo, o Inter também é uma grande equipe!”
Bolívar, classificado para a final
O reconhecimento ao bom momento rival, todavia, não significava pessimismo. Muito menos covardia. Dono da segunda melhor campanha da fase de grupos da Libertadores, o Clube do Povo construiu caminhada maiúscula no torneio continental, à altura do que cobra o manto vermelho. Diante do Nacional-URU, equipe que derrotara o Inter na decisão do campeonato em 1980, o Colorado exorcizou seu primeiro fantasma na escalada rumo ao título.
Após eliminar os uruguaios do Parque Central em confronto marcado por pintura inesquecível de Rentería, o Inter encarou, nas quartas de final, duplo desafio. Dentro de campo, a LDU, base da Seleção do Equador, buscava fazer história a nível continental. Fora das quatro linhas, a ansiedade tirava o sono do povo colorado. Entre a partida de ida, vencida pelos locais, em Quito, e o duelo de volta, disputado no Beira-Rio, mais de dois meses, e uma Copa do Mundo, foram vividos. Obstáculos grandiosos, mas inferiores ao Gigante, que garantiu a classificação para as semis. O último rival no caminho até a decisão foi o Libertad, derrotado, depois de empate sem gols no Paraguai, por 2 a 0no templo da Padre Cacique.
“A história não está feita ainda. Temos que buscar o título”
Fernandão após vitória sobre o Libertad
Pré-jogo de mistério
O Colorado embarcou para São Paulo no sábado 5 de agosto, véspera de confronto contra o Santos, válido pela 15ª rodada do Brasileirão. Disputada apenas quatro dias após o Inter garantir vaga na final da Libertadores, a jornada em terras paulistas contou com uma escalação alternativa do Clube do Povo, que abriu o placar com Iarley, mas sofreu a virada, apesar de boa atuação, nos instantes finais do segundo tempo. O grande ponto positivo do embate foi o retorno de Tinga, recuperado de lesão sofrida no dia 19 de julho, data do duelo de volta contra a LDU. O meio-campista, inclusive, criou a jogada do tento vermelho.
“A gente foi minado com muitas faltas na frente da área, mas não quero me apegar nisso, porque temos uma situação muito importante na quarta-feira. Fico triste pela derrota, mas feliz porque consegui me movimentar bem e posso jogar na quarta-feira.”
Tinga após o duelo contra o Santos
A Baixada Santista seguiu como casa do Colorado nos dias seguintes ao duelo. No CT do Santos, Abel Braga comandou duas atividades fechadas para a imprensa, rodeada de mistérios. Se o retorno de Tinga era provável, por outro lado Alex, com dores no púbis, era dúvida. Autor do primeiro gol marcado pelo Inter na partida decisiva contra o Libertad, o camisa 24 desempenhava papel fundamental no time alvirrubro, alternando com Jorge Wagner entre a ala-esquerda e a armação. Élder Granja, com lesão muscular, também integrava a delegação, mas sua presença dentro de campo era tida como ainda mais complicada.
Eram muitas, assim, as dúvidas que rodeavam a nominata alvirrubra. Na direita, Ceará, que já vinha atuando no lugar de Granja, correspondia à maior certeza. Alex, ao mesmo tempo, passava longe de ter substituto definido. Caso Abel optasse por formação mais conservadora, poderia escolher Índio para o lugar do meio-campista, armando a equipe com três zagueiros e oferecendo maior liberdade a Tinga.
Inter, de Sobis, ajeitou os últimos detalhes no CT do Santos/Foto: Jefferson Bernardes
Outra alternativa residia em Iarley, camisa 10 que vinha somando grandes exibições no Brasileirão. A vocação ofensiva do comandante vermelho também suscitava expectativas acerca da escalação de Michel ou Rentería, avantes que poderiam formar o ataque com Sobis, passando Fernandão para o meio. Com a cabeça repleta de pequenas interrogações, ínfimas se comparadas à enorme motivação que carregavam, cerca de 3,5 mil colorados e coloradas encararam os 1109 quilômetros que separam as capitais de Rio Grande e São Paulo.
Era hora de fazer história. Era hora de soltar o libertador grito que estava preso há 97 anos em nossas gargantas.
Uh, Fernandão!/Foto: Jefferson Bernardes
Nenhum gol, duas expulsões
Entender as escalações que representaram Inter e São Paulo no Morumbi exige voltar mais quatro anos no tempo. Pentacampeão mundial em 2002, o Brasil do técnico Felipão surpreendeu a crítica esportiva, que muito desacreditava a Seleção Brasileira, na Copa do Mundo disputada em Japão e Coréia do Sul.
Armada no esquema 3-5-2, a Canarinho contava com os recuos dos alas Cafu e Roberto Carlos para ter segurança defensiva e máximo apoio pelos flancos. A formação marcou época e, como de costume em Copas do Mundo, ditou novas regras para o futebol. A decisão da Libertadores, é claro, comprova.
A seleção do Penta/Foto: Wilson Carvalho, CBF
Muricy escalou Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Souza, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Leandro e Ricardo Oliveira. O desenho, é claro, reproduzia o 3-5-2. Contra o escrete paulista, Abel apostou no 4-4-2. Clemer, há quatro jogos sem sofrer gols na Libertadores, defendia a meta alvirrubra. Na defesa estiveram, Ceará, na direita, Bolívar e Fabiano Eller, na zaga, e Jorge Wagner, na esquerda. À frente, Tinga e Alex armavam. Fabinho e Edinho, também – mas ainda somavam obrigações defensivas. Completando a nominata, Sobis e Fernandão reeditavam, uma vez mais, poética dupla que marcou época no ataque colorado.
O clima no luxuoso bairro paulista era de festa. Com foguetes, sinalizadores e bandeiras, a torcida da casa empurrou o São Paulo nos instantes iniciais, apostando que um precoce gol poderia bagunçar a estratégia de Abel. Logo no primeiro minuto, Leandro foi lançado na área colorada e chutou cruzado. Mascada pela zaga, a bola morreu segura nas mãos de Clemer. O Inter respondeu pouco depois com Ceará. Aos 3, o lateral escapou em velocidade pela direita e cruzou fechado buscando Sobis. Antes dele, Ceni cortou em escanteio. O camisa 11 colorado teve boa chance na continuidade do lance, partindo, sobre a linha da grande área, da esquerda para o centro. Cruzado, o arremate explodiu na rede, por fora.
Sobis era, de fato, o mais insinuante colorado em campo. Estonteante nas cercanias da grande área, não hesitava em buscar jogo no campo defensivo, irritando a selecionável dupla de volantes paulistas. Josué, estressado, descontou sua indignação muito cedo, e acertou cotovelaço no jovem atacante alvirrubro. Com 9 minutos de partida, o São Paulo já tinha um a menos.
Numérica, a superioridade colorada também foi vista nas ações do campo. Entregue a escassos contra-ataques, o São Paulo apostava o pouco que tinha em Souza, ala-direita. Esperto, Abel respondeu dando liberdade para Jorge Wagner, que muito se somou a Alex na construção de jogadas pelo flanco canhoto. Livre, o lateral-esquerdo colorado recebeu passe milimétrico de Edinho, que tabelara com Sobis, e, de cara com Rogério, finalizou rasteiro. O relógio marcava 17 minutos, e o Inter tinha a primeira grande chance da noite!
Cedo na partida, Jorge Wagner assustou os paulistas/Foto: Divulgação
A resposta tricolor chegou aos 23. Ricardo Oliveira interceptou troca de passes do Inter na intermediária ofensiva colorada e escapou em velocidade. Pela esquerda, colocou na frente e, antes do bote de Bolívar, cruzou com curva. Pouco depois da marca do pênalti, Leandro dominou, deixou correr e, quando Clemer já caía no chão, finalizou. Fabinho, salvador, travou em carrinho milimétrico. Que início de final!
Dono da posse de bola, o Inter voltou a assustar aos 34. Da mesma posição que partira para marcar o primeiro contra o Libertad, Alex recebeu passe de Bolívar. Com espaço, colocou na frente e dispensou a necessidade de um segundo toque na bola. Viva, com efeito, a finalização de canhota levou muito perigo. Três minutos depois, Fabinho acertou Souza por cima e também recebeu o vermelho.
Dono dos holofotes, o camisa 21 do Tricolor teve boa chance após cavar a expulsão do volante alvirrubro, mas esbarrou em Clemer. Por fim, Jorge Wagner encerrou os melhores momentos de uma agitada etapa inicial aos 44, quando cobrou falta por cima do gol de Ceni. O branco do placar, embora não refletisse o ritmo intenso do primeiro tempo, era bem recebido pelo time de Abel Braga, confiante na possibilidade de, no jogo de volta, exercer a tradicional força colorada no Beira-Rio.
Para a história
Até 2006, a maioria dos colorados e coloradas lembrava do Morumbi como palco da maior exibição da história do Inter como visitante. Abrindo a disputa da semifinal do Brasileirão de 1979, o Clube do Povo esteve perfeito para atropelar o Palmeiras e, através de vitória por 3 a 2, trazer a vantagem para o Beira-Rio. Na ocasião, Falcão, cabeludo craque revelado pelo Celeiro de Ases, brilhou balançando as redes paulistas em duas ocasiões. Passados 27 anos, o povo vermelho seria brindado com nova exibição impecável no gigante templo do São Paulo Futebol Clube.
A tranquilidade exibida pela equipe colorada na noite de 9 de agosto de 2006 contrastava com o turbilhão de emoções encarado pelos presentes no Morumbi. Seguro, o time de Abel jogava empurrado por rica biografia, e já construía, durante o zero a zero, atuação que despertava orgulho no povo vermelho. Seguindo à rica este roteiro, o Clube do Povo saiu de trás com tranquilidade aos 8 minutos da etapa final, quando Bolívar acionou Edinho.
Cabeça erguida, o volante progrediu firme para invadir a intermediária rival. Com passadas largas, venceu os dois primeiros marcadores na velocidade. Livre, lançou Sobis quando sentiu a aproximação de Lugano, descontrolado. Ingênuo, o uruguaio deixou espaço na retaguarda tricolor, já esvaziada graças à genialidade de Fernandão. Aberto na direita, o camisa 9 prendeu Edcarlos e criou espaço para a infiltração de seu parceiro de ataque. Como uma orquestra afinada, tudo corria bem na escapada colorada.
Cabeludo craque revelado pelo Celeiro de Ases (um salve às coincidências), Sobis partiu para o mano a mano contra Fabão. Em velocidade, dominou com a direita e, usando da mesma perna, conduziu em linha reta. Para a esquerda, gingou o corpo, levando junto o zagueiro. Ganhava, então, ainda mais espaço para sua melhor perna.
O drible custou o equilíbrio do atacante, que por pouco não caiu. Genial, todavia, ele, que acabara de costurar no gramado as veias do continente que estava prestes a libertar, manteve-se de pé para invadir a área. Dentro dela, finalizou cruzado. Rasteiro. Para a eternidade. Inter na frente, e o setor visitante do Morumbi conhecia o DNA carnavalesco do povo colorado.
Gaúcho e colorado, colorado e gaúcho/Imagens: Rede Globo
Logo depois do gol, Abel mandou Wellington Monteiro a campo, sacando Ceará. Mantido o desenho, a troca deu ainda mais liberdade para a infernal dupla Alex e Jorge Wagner, uma vez que o substituto pela direita, habituado a atuar também como volante, tinha no comportamento defensivo um de seus melhores valores. Em dívida no marcador, o São Paulo precisaria se jogar ainda mais para o campo ofensivo, e estava claro qual corredor ofereceria ao Inter seus melhores contra-ataques.
Infiltrando pela esquerda, Tinga recebeu ótimo passe de Alex que, posicionado pela direita, cobria o avanço do companheiro. Livre, o camisa 7 dominou no momento do pique, mas Rogério, inteligente, deixou o gol para ficar com ela antes do cabeceio do meia colorado. Chance perdida para alguns, caminho indicado para outros. Três minutos depois, Eller desarmou Ricardo Oliveira e deixou ela com Jorge Wagner, que escapou em velocidade.
O camisa 23 cruzou a linha do centro do campo e acionou Fernandão. Posicionado como um volante após ter empreendido intensa perseguição a Ricardo Oliveira, o Eterno Capitão colorado esperou o aproximação de Mineiro e devolveu em Jorge. Fazendo as vezes de meio-campista, ele deixou, em profundidade, para Alex, então exercendo a função de ala.
Alex cruzou linda bola na segunda trave, com efeito, direcionada à nuca de Fernandão, que infiltrou em velocidade. Nas costas da marcação, o camisa 9 colorado testou para a frente, onde estava Tinga, pisando na pequena área. O meio-campista mandou, também de cabeça, arremate certeiro e forte, que explodiu no travessão. Exatamente em cima da marca do pênalti, Rafael Sobis impediu o picar da bola no rebote e finalizou colocado em direção às redes abertas. Pobre Ceni, bem que tentou, mas a noite não era dele. Era de Sobis, que marcava o segundo do Inter.
O segundo do menino de Erechim/Imagens: Rede Globo
Os dois gols de vantagem conquistados em 16 minutos de etapa final criaram um portal na cidade de São Paulo. A partida, antes disputada no Morumbi, passou a ocorrer no gramado do Beira-Rio. O som ambiente não deixava dúvidas.
Tomado pelo povo vermelho, o estádio via ecoar estridente “Vamo, Vamo Inter”. Dona dos mais altos decibéis, a torcida colorada construiu festa poucas vezes vista no sudeste brasileiro. A noite, indubitavelmente, entrava para a história.
Festa da torcida colorada/Foto: Divulgação
Os elogios tecidos ao São Paulo no alvorecer desta matéria não se fizeram presentes por acaso. Treinado por um gênio, o time da casa respondeu ao segundo gol colorado com a entrada de Lenílson, ofensivo meio-campista que substituiu Danilo. Logo depois, Júnior, primeiro dentro e depois fora da área, desperdiçou boas oportunidades. O que antes era uma goleada, consequentemente, voltou a tomar contornos de igualdade, afinal de contas, entusiasmada pela postura de seus atletas, a torcida do São Paulo passou a disputar o posto de local com a colorada.
Dentro de campo, a vantagem do Clube do Povo também conviveu com ameaços. Aos 21, por exemplo, Clemer operou grande milagre. Sedento por novo contra-ataque, o Inter deu o troco com Sobis. Após servir Alex, o camisa 11 viu Fernandão ser lançado na esquerda da grande área. Parcialmente cortado, o cruzamento rasteiro do camisa 9 voltou para o artilheiro da noite. De frente pra o gol, ele exagerou na força.
É preciso reconhecer a excelente atuação de Souza, o mais perigoso atleta do São Paulo. Aos 28, ele quase consagrou Júnior, mas o excelente cruzamento foi cortado por Wellington Monteiro. Cobrado o escanteio, o lance prosseguiu até Leandro receber bola na direita da intermediária e cruzar para Edcarlos, postado como um centroavante. Certeiro, o cabeceio morreu nas redes de Clemer. Jogo em aberto, mais uma vez.
No lugar do zagueiro artilheiro, que vinha jogando como atacante, entrou Aloísio, centroavante de origem. Ao mesmo tempo, o Inter contava com Índio, que substituíra, minutos antes do gol, Alex. Fechado com cinco atletas na primeira linha, o Clube do Povo ainda somava mais quatro no meio de campo, consequência da aplicação tática de Fernandão e Sobis, que revezavam no momento de recompor.
A consequência de toda a dedicação dos avantes colorados chegou aos 34, quando o até então incansável Rafael Sobis precisou sair. Exaurido após atuação do mais alto nível, deu lugar para Michel. Renovado, o talismã de Abel Braga dispensou os recuos de Fernandão, e exerceu, absoluto, a função de coringa entre meio e ataque.
“As dificuldades serão iguais ou maiores no próximo jogo. Conseguimos apenas uma pequena vantagem e vamos aproveitá-la da melhor maneira possível”
Abel após o jogo no Morumbi
Descansado na linha de frente, Fernandão criou, aos 36 minutos, oportunidade mágica para o Inter. Acionado por Tinga, prendeu dois marcadores, fez a parede e recomeçou com Jorge Wagner, que deixou de lado com Edinho. O volante disparou do círculo central e, mais uma vez imparável, só foi derrubado por carrinho violento de Fabão, já na meia-lua da grande área. Para o agressor, amarelo. Para o Clube do Povo, falta. Para Jorge, o lamento. A bola saiu alta demais.
Ricardo Oliveira, Lenílson, Richarlyson – alçado a campo na vaga de Leandro -, Souza e, inclusive, Bolívar, cortando cruzamento perigoso vindo da direita. Todos estes atentaram contra a meta colorada ao longo dos instantes que antecederam o apito final. Nenhum balançou as redes de Clemer. Aos 48, Jorge Larrionda encerrou jornada que até hoje segue interminável na nostálgica memória do povo do Inter. Em uma semana, conquistaríamos a América.
Heróis colorados comemoram muito a vantagem conquistada na partida de ida/Foto: Divulgação
Semifinal de Libertadores. O adversário? Forte equipe paraguaia, alvinegra e atual campeã nacional. Último obstáculo na luta por vaga na decisão continental, teria de ser superado no Beira-Rio, sede da batalha final de guerra iniciada no mítico Defensores del Chacho. O roteiro, sabíamos, era conhecido. Tornava-se necessário, portanto, revolucionar seu último capítulo. Há 14 anos, exorcizávamos o último fantasma na caminhada rumo ao topo da América.
Em breve retornaríamos, depois de 26 anos, à final da América/Foto: Jefferson Bernardes
Time embalado
A Libertadores de 2006 foi a primeira disputada pelo Inter em 13 anos. Afastado do torneio desde 1993, o Clube do Povo, gaúcho que desbravou o certame na década de 70, retornou à elite continental após anos de rápida e concreta reestruturação interna. Inicialmente, na abertura do século XXI, o Colorado lutou contra grandes equipes latinas na Sul-Americana, assim ganhando cancha em competições do exterior.
Colorado ascendeu rapidamente no cenário sul-americano/Foto: Marcelo Campos
Logo depois, o Inter fez por merecer o título do Brasileirão de 2005, conquista que consagraria forte elenco abrilhantado por nomes como Clemer, Ceará, Índio, Bolívar, Edinho, Tinga, Jorge Wagner, Alex, Rafael Sobis, Fernandão e muitos outros. Os escândalos extracampo, contudo, embora tenham retirado o troféu nacional das mãos alvirrubas, também serviram de motivação para o time, que ficou ainda mais sedento por taças, como provou na invicta campanha da fase de grupos da Libertadores.
Praticando um futebol extremamente ofensivo, o time de Abel Braga somou 14 pontos e avançou para as oitavas de final na liderança de seu grupo. Ao mesmo tempo, duro revés na finalíssima estadual suscitou mudanças na equipe, que passou a atuar de maneira mais equilibrada, mas igualmente propositiva. Foi assim que eliminamos o Nacional, antigo carrasco, nas oitavas, e também a LDU, em dramático duelo por classificação às semis. Para chegar a decisão, seria necessário superar mais um fantasma – este paraguaio.
Rival também fora de campo
A década de 80 não foi fácil para a torcida colorada. Habituado a dominar Rio Grande e Brasil, o povo vermelho precisou se acostumar ao insosso gosto da prata. Batemos, inúmeras vezes, na trave, alimentando grande sentimento de frustração nos arredores do Gigante. Dentre as derrotas mais doloridas, o revés diante do Olímpia, na semifinal da Libertadores de 1989, atinge notório destaque.
Treinado por Abel Braga, o Inter havia construído maiúscula caminhada continental. Nas oitavas, despachou o todo poderoso Peñarol através de incrível agregado de 8 a 3. Logo depois, o Bahia, atual campeão brasileiro em cima do próprio Colorado, sucumbiu à força do Gigante. Embalado, o Clube do Povo abriu fora de casa, contra a alvinegra equipe do Olímpia, a disputa por vaga na decisão.
O jovem Abel Braga, comandante do Inter no final da década de 80
No Defensores del Chaco, Luis Fernando Rosa Flores anotou, de bicicleta, um dos gols mais bonitos da história da Libertadores. Com ele, o Inter garantiu a vantagem mínima para o jogo da volta, duelo acompanhado, no Beira-Rio, por mais de 70 mil colorados e coloradas que encerrariam o dia atônitos. Ninguém imaginava, mas o Clube do Povo viveria uma das noites mais trágicas de sua história, sacramentada com eliminação após duas derrotas. A primeira, por 3 a 2, aconteceu no tempo normal. A segunda, na marca do cal. Desde então, jamais havíamos chegado tão longe na Libertadores. Até 2006. Até o retorno de Abel. Até novo confronto contra paraguaio, agora o Libertad.
Comandado por Gerardo ‘Tata’ Martino, técnico que chegaria, no futuro, ao comando da Seleção Argentina e também do Barcelona, o atual campeão do Paraguai contava com forte elenco. Entre as principais estrelas de geração que conquistaria o tricampeonato nacional estavam Édgar Balbuena, Víctor Cáceres, Martín Hidalgo, Cristian Riveros, Rodrigo López e, é claro, Pablo Horácio Guiñazú. Para avançar à final, o Inter teria, então, de superar grande adversário dentro de campo, e temido fantasma fora dele.
O jogo de ida
A classificação para a final não seria conquistada graças a alguma receita mágica, invenção de última hora ou coelho tirado da cartola. Se o Inter estava entre os quatro melhores do continente, era por merecimento e justiça. Abrir mão do fizera para chegar tão longe no torneio seria inconsequente. A despeito de qualquer má recordação, a partida contra o Libertad precisava ser encarada como todas as outras. Nosso capitão, como sempre genial, sabia disso.
“Se chegamos até esta fase da competição foi porque adquirimos uma maneira de jogar. Por isso, não podemos mudar nossa postura contra o Libertad. Vamos em busca da vitória, tendo consciência dos perigos que o adversário oferece”
Fernandão, projetando o duelo
Os maus agouros, inclusive, também encarariam adversário de peso nas arquibancadas do Defensores del Chaco. Contra o espírito das frustrações passadas, o Inter contaria com a vibração do mais inabalável povo, capaz de erguer um gigante sobre as águas de um rio. Torcida que sofrera no passado recente, e ansiava para retornar ao seu lugar de direito: o topo do pódio. Para tanto, os milhares que viajaram ao Paraguai apostavam em um comandante identificado com nossas cores.
“É muito bom saber que teremos este apoio maciço no Paraguai. O Inter é uma equipe de alma, de cor vermelha, de sangue. Contra o Libertad não vai ser diferente”
Abel Braga, antes do jogo
Desfalcado por Tinga, o Clube do Povo foi a campo com Clemer no gol, Índio, Bolívar e Eller na zaga; Ceará e Jorge Wagner nas respectivas alas direita e esquerda; Edinho, Fabinho e Alex no meio; Fernandão e Sobis no ataque. Vivendo noite inspirada, o jovem camisa 11 alvirrubro causou grandes problemas à zaga paraguaia, criando as principais oportunidades do começo de partida. De sua parte, o Libertad insistia em bolas alçadas na área, sempre contando com a vibração de Guiñazú para garantir o rebote. Os três zagueiros colorados, todavia, frustravam os planos mandantes.
Na etapa inicial, as melhores oportunidades de cada equipe foram criadas após os 30 minutos. Primeiro, Fernandão, como se fora um poço de tranquilidade em meio ao nervosismo clássico de um confronto eliminatório, recebeu passe forte de Ceará, na altura da intermediária, e, inteligente, deu um chapéu no marcador. Afobado, o adversário passou batido, enquanto o Eterno Capitão colorado dominava no peito, adiantando a posse. Com força, o camisa 9 mandou de direita, e a bola tirou tinta do travessão.
Pouco depois, Cholo Guiñazú conseguiu seu primeiro bom rebote no jogo e, de canhota, em cima da linha da grande área, finalizou no canto. A redonda explodiu no poste, cruzou em frente à meta vermelha, encontrou Riveros e, na segunda tentativa deste, foi cruzada para a confusão, onde López arrematou para defesa segura de Clemer. Por fim, aos 42, Ceará levantou bola fechada que foi direto na trave superior de Gonzalez. Dono da sobra, Sobis ajeitou para Jorge Wagner encher o pé. O arqueiro paraguaio promoveu um belíssimo milagre.
O panorama de igualdade foi mantido para a etapa final. Mortais como de costume, os entrosados Sobis e Fernandão cansaram a defesa paraguaia. À dupla, somavam-se os constantes avanços de Jorge Wagner, pela esquerda, e Ceará, na direita, além de Iarley, que substituiu Alex. O lance mais marcante do segundo tempo, contudo, foi da equipe da casa – mas, de certa forma, também do Inter. Após cruzamento de Romero, Eller afastou para a intermediária. Bem posicionado, Riveros pegou a sobra e, ignorando a longa distância, mandou de primeira.
Rasante, ela voou até o travessão de Clemer, bateu nas costas do goleiro e, mansa, teimosa, picando, saiu ao lado do poste direito. Há dois anos, na Bombonera, também em uma semifinal continental, o goleiro sofrera gol em lance muito parecido. Agora, a bola saía. Na luta entre a camisa colorada e o fantasma paraguaio, parecíamos levar a melhor. Nossa torcida, presente aos milhares no Defensores, certamente fazia por merecer desfecho mais alegre. Pouco depois do lance, o jogo foi encerrado, com o placar zerado. O duelo seguia em aberto.
Partida contou com muita movimentação no ataque e grande aplicação na defesa
Tensão gigante
Entre os confrontos de ida e volta das semifinais continentais, o Inter disputou, pelo Brasileirão, o Gre-Nal de número 366 na história. Com os reservas, o time de Abel Braga até criou as melhores chances, mas não conseguiu alterar o placar do duelo, que ficou marcado, muito mais do que por qualquer lance dentro de campo, pelo vexame histórico da torcida gremista, que provocou grande tumulto nas arquibancadas do Gigante, inclusive incendiando banheiros químicos. Dois dias depois, foi o povo vermelho quem deu exemplo – mas positivo. Na abertura do mês de agosto, o Inter atingiu a inédita marca de 40 mil sócios e sócias, feito que teve como consequência um Beira-Rio completamente lotado para o duelo diante do Libertad.
O Clube do Povo foi a campo, no dia 3 de agosto de 2006, escalado, a exemplo do que ocorrera na partida de ida, com três zagueiros. Bolívar era o responsável pelo lado direto da trinca, enquanto Eller ocupava a esquerda. Entre eles, estava Índio. À frente, cinco meio-campistas tratavam de gerar superioridade numérica na região mais crítica do campo. Donos de grande poder de contenção, mas também responsáveis por oferecer boa saída de bola, Fabinho e Edinho garantiam a liberdade necessária para Alex, extremamente entrosado com o ala-esquerda Jorge Wagner. Ceará, na direita, tinha como parceiro preferido o inquieto atacante Rafael Sobis, eterno par perfeito de Fernandão. No gol, é claro, o titular foi Clemer.
Os heróis responsáveis por devolver o Inter à decisão continental
Os primeiros movimentos da partida deram a entender que o fantasma paraguaio, incapaz de triunfar diante de cinco mil colorados em Assunção, não teria a menor chance contra as mais de 50 mil pessoas que fizeram trepidar o Beira-Rio. Logo aos 3, Edinho escapou em velocidade pelo meio e abriu com Fernandão. Invertendo posição com Sobis, o camisa 9, posicionado como um ponta-direita, cruzou rasteiro para o 11, que se atirou em preciso carrinho. Com os pés, Gonzalez salvou.
De garçom, Fernandão passou a artilheiro, e tentou, aos 14, completar cruzamento aberto de Jorge Wagner. Alta demais, a bola saiu em tiro de meta. Já aos 31, no último lance de perigo da etapa inicial, o Eterno Capitão alvirrubro recebeu grande passe em profundidade de Alex, assistência que não dominou por questão de centímetros, suficientes para o goleiro adversário fazer a defesa.
Embora de ampla supremacia colorada, a etapa inicial conviveu, também, com crescente ansiedade do povo vermelho. Contra o Olímpia, o Inter fora eliminado exatamente no segundo tempo, quando, inclusive, desperdiçou uma penalidade. A lição do passado, logo, era bastante clara: quem não faz, sofre. E o sofrimento deu as caras depois do intervalo. Cedo, o Libertad desperdiçou a primeira oportunidade, respondida rapidamente por Sobis, que teve boa chance. A partir dos 10 minutos, todavia, um verdadeiro filme de terror teve início.
O Inter viveu seis minutos de pura tensão, capaz de paralisar os atletas dentro de campo. Aos 11, Cáceres subiu livre após cobrança de escanteio e, respeitando o figurino, cabeceou para baixo. Clemer defendeu. Cerca de 40 segundos depois, López foi lançado na área e só não balançou as redes graças a desarme providencial de Bolívar. Na cobrança do córner, o mesmo atacante cabeceou bola que levou muito perigo ao gol alvirrubro. A torcida finalmente conseguia puxar o primeiro ar quando Riveros finalizou cruzado e Villareal, por detalhe, não completou de carrinho. Ato contínuo, quem arrematou para longe foi Gamarra. Abel, então, percebeu que a situação só tendia a piorar. Como respondeu? Mandando Rentería a campo, na vaga de Fabinho.
A troca foi ousada. A partir dela, Alex seria recuado à volância, e Fernandão, como um ponta-de-lança, estaria responsável por municiar Rentería e Sobis, a nova dupla de ataque. Necessária para um time que se via obrigado a marcar gols, a substituição também poderia oferecer ainda mais espaços para o Libertad, dentro de campo, e ao azar, fora dele. Felizmente, nenhum destes teve tempo para agir.
Aos 17, pouco mais de um minuto após a entrada de Rentería, Alex recebeu passe de Ceará. Recuado, o camisa 24 pôde visualizar o campo de frente e perceber que, ao mesmo tempo que seus companheiros mais adiantados estavam excessivamente marcados, existia espaço de sobra para progredir até as cercanias da grande área paraguaia. Assim fez e, após simples dois toques na bola, soltou um de seus marcantes canhotaços. Veloz, a esférica voou até as cercanias da pequena área, picou pela primeira vez, ganhou velocidade ainda maior e, sem oferecer chance alguma de defesa, bateu no poste para depois morrer nas redes. Inter na frente!
Ele sempre foi de bomba/Imagens: SporTV
A vantagem colorada nocauteou o Libertad. Antes confiantes em um gol que parecia iminente, os paraguaios ficaram visivelmente desorientados com o caldeirão da beira do Guaíba. Completamente zonzos devido à festa da torcida, chegaram a sentir náuseas quando, ao ritmo do povo vermelho, Sobis começou a dançar na ponta direita.
Primeiro, aos 21, o camisa 11 decidiu partir para dentro da marcação e só depois soltar a bola, cruzada na cabeça de Ceará, que parou no goleiro. No minuto seguinte, mudou de ideia e, ainda na intermediária, acionou Fernandão.
Vindo de trás como um meia, o capitão pôde dominar, fazer o giro, ajeitar e, a exemplo do que fizera Alex, soltar a canhota. Cruzado, o arremate dispensou o beijo no poste, mas também morreu no canto das redes alvinegras. Após abrir o placar graças a meio-campista recuado para a volância, o Inter chegava ao segundo através de um camisa 9 que ocupava a ponta-de-lança. Brilhante, Abel!
O 2 a 0 permitia ao Inter sofrer um gol e, mesmo assim, garantir vaga na decisão. A postura ofensiva, portanto, podia ser arrefecida. Assim, Abel mudou mais uma vez, colocando Wellington Monteiro na vaga de Índio. Deste momento em diante, o Clube do Povo esteve formado por duas linhas de quatro. Na primeira, estavam Ceará, Bolívar, Eller e Jorge Wagner. Logo na frente, Edinho, Alex, Wellington Monteiro e Fernandão.
Compacto, o Colorado seguiu se fechando bem, tocando a bola com segurança e transpirando disposição e garra. Ao mesmo tempo, a torcida, enlouquecida de felicidade, vaiava cada trama adversária com furor idêntico ao usado para incentivar o Alvirrubro. Nos acréscimos, Rentería ainda desperdiçaria boa chance, defendida pelo goleiro paraguaio.
Enfim, aos 48 minutos do segundo tempo, ecoou pelo Beira-Rio o último apito do árbitro Oscar Ruiz, oficializando o retorno do Inter, após 26 anos de espera, à final da Libertadores. Na força do Gigante, nos libertávamos do último fantasma continental. Livres, logo serviríamos de libertadores para os povos vizinhos. Que viesse o São Paulo!
Estávamos loucos por ti, América!/Foto: Jefferson Bernardes
É impossível desassociar o Inter de seu Eterno Capitão. Passados 16 anos da estreia do ídolo no Colorado, as histórias de Clube e atleta parecem ter se metamorfoseado por completo. Nascido em Goiás, Fernandão certamente não sabia, mas já veio ao mundo pronto para fardar o manto alvirrubro. O atacante precisava de nossa camisa, que sempre o reconheceu como legítimo dono. A braçadeira de capitão, idem. Com ele, repousavam, estavam seguras. Assim se sentiram desde o primeiro encontro, ocorrido no clássico Gre-Nal de número 360.
Predestinado Fernandão/Foto: Mauro Vieira, RBS
Apresentado menos de duas semanas após o Clube do Povo conquistar o Tetra do Rio Grande, Fernandão precisou esperar por quase um mês até ter sua situação regularizada para a estreia. Neste ínterim, o Clube do Povo trocou de técnico, com a saída de Lori Sandri para a chegada de Joel Santana, e acumulou insucessos no Campeonato Nacional. Foi encarando cenário de grande pressão, portanto, que o atacante vestiu, no dia 10 de julho de 2004, há 16 anos, a camisa do Inter pela primeira vez. O adversário? “Apenas” o maior rival.
Confira abaixo especial da Rádio Colorada sobre o Gol Mil dos Gre-Nais. Se preferir, você também encontra o material nos nossos perfis em Spotify e SoundCloud!
Após empate sem gols no primeiro tempo, Joel decidiu abrir o time ainda no intervalo, retirando o zagueiro Wilson para a entrada do cabeludo Fernando, que na ocasião vestia a camisa 18. Com a troca, Bolívar, que passara a etapa inicial na ala-direita, foi recuado para a zaga. Granja, por sua vez, passou a ocupar o corredor, enquanto o substituto ficou encarregado da armação, municiando a dupla de atacantes formada por Sobis e Danilo. Ousada, a mudança se provou correta logo aos oito minutos, quando Vinícius completou cruzamento de Alex e mandou, de cabeça, para as redes tricolores. O Inter abria o placar!
Empurrado pela torcida e percebendo seu rival acuado, o Inter passou a ocupar ainda mais o campo de ataque, pressionando intensamente. Como consequência, aos 33 minutos Danilo recebeu bola na direita, pedalou para cima da marcação e acionou o pivô de Fernandão. Do camisa 18 a bola seguiu até Marabá, que lançou Alex, livre.
Mais rápido do que os carros que corriam ao seu lado na Padre Cacique, o garoto paranaense deixou a marcação para trás com facilidade, ganhando espaço para usar sua famosa perna canhota. Com ela, alçou na área, buscando o segundo pau. Precisa, a bola foi parcialmente cortada pelo gremista Cocito, mas, para a infelicidade do marcador, sobrou com Élder Granja, que teve tempo para ajeitar a redonda com carinho e levantar na marca do pênalti.
Gigante, Fernandão cresceu ainda mais e, esbanjando presença de área, mandou testaço no canto da meta adversária. De tão forte, o arremate não pôde ser acompanhado por câmera alguma. O que ficou registrado, em contrapartida, foi a explosão dos mais de 23 mil colorados e coloradas presentes no Beira-Rio, que vibraram muito com o gol de número 1 mil do maior clássico do Brasil. Um tento histórico, a princípio ignorado por seu predestinado ator.
Ajoelhado, Fernandão comemora o Gol Mil/Foto: Marcelo Campos
No momento em que tocou o chão novamente e percebeu que marcara o gol, o abençoado artilheiro se emocionou e, tapando o rosto, ajoelhou-se no gramado. Certamente, a lágrima que teimava em escorrer não pôde ser contida quando ouviu Sóbis, eufórico, anunciar a importância do momento que protagonizara: “Tu marcou o gol mil do Gre-Nal!”. Inesquecível, o tento foi também o último marcado na gélida tarde de outono em Porto Alegre, primeiro dos 77 anotados pelo Eterno Capitão defendendo o Clube do Povo.
Envolvido em ações organizadas com o objetivo de amenizar os impactos sociais da pandemia mundial de Covid-19, Inter criou, no último mês de abril, o selo ‘Juntos Vencemos’, que ratifica nosso histórico posicionamento de Clube do Povo. Entre as iniciativas que englobam o projeto, o Colorado lançou, nos tamanhos adulto e infantil, máscaras protetoras do vírus, as quais ganham, hoje, nova estampa mais do que especial, em homenagem ao Eterno Capitão Fernandão.
Disponíveis nos tamanhos adulto e infantil, as máscaras personalizadas são vendidas a R$ 9,00 a unidade. Você pode adquirir a sua através do site da loja licenciada Baby Brasil, parceira do projeto, e também pelo Whatsapp, número (51) 98610-9973.
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Aí vai a dica: você vai precisar de, no mínimo, duas máscaras. Assim, quando uma estiver lavando, a outra poderá ser usada. Aproveita e compra uma pra quem mora contigo, ou combina com um vizinho. Desta forma, vocês aproveitam o frete grátis!
Oficialmente anunciado como reforço do Inter há exatos 16 anos, Fernandão fez história com a camisa colorada desde o passo inaugural que deu no gramado do Beira-Rio. O primeiro grande feito alcançado pelo capitão no Clube do Povo, entretanto, não pode ser simbolizado através de placa ou troféu. Muito antes de vencer América e mundo, o goiano centroavante tratou de conquistar, com maestria, o coração da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.
Fernandão comemora o Gol Mil dos Gre-Nais/Foto: Mauro Vieira, RBS
Polivalente para desempenhar diversas funções na linha de frente colorada, Fernando ignorou tempo de adaptação, primeiro, e lesão, depois, para, em apenas quatro meses, finalizar sua temporada de estreia na Padre Cacique como artilheiro do ano alvirrubro. Em campo, o goleador somou atuações empolgantes a ponto de chegar ao mês de dezembro como um dos grandes responsáveis pelo entusiamo latente da torcida vermelha, que se preparava para entrar em 2005 certa de que, muito em breve, momentos especiais seriam vivenciados pelo Clube do Povo. Os números registrados pelo futuro ídolo, é bom que se diga, justificavam qualquer empolgação. Com 16 gols marcados em 31 jogos disputados, o camisa 9 foi uma das grandes notícias do segundo semestre do Inter em 2004.
O Gol Mil
Apresentado menos de duas semanas após o Clube do Povo conquistar o Tetra do Rio Grande, Fernandão precisou esperar quase um mês até ter sua situação regularizada para a estreia. Neste ínterim, o Clube do Povo trocou de técnico, com a saída de Lori Sandri para a chegada de Joel Santana, e acumulou insucessos no Campeonato Nacional. Foi, portanto, encarando cenário de grande pressão que Fernandão vestiu, no dia 10 de julho, a camisa do Inter pela primeira vez. Contra quem? “Apenas” o maior rival.
Técnico Joel Santana e Vinícius festejam o primeiro gol, de número 999 nos Gre-Nais
Após empate sem gols no primeiro tempo, Joel decidiu abrir o time, retirando o zagueiro Wilson para a entrada do cabeludo Fernando, que na ocasião vestia a camisa 18. Com a troca, Bolívar, que passara a etapa inicial na ala-direita, foi recuado para a zaga. Granja, por sua vez, passou a ocupar o corredor, enquanto o substituto ficou encarregado da armação, municiando a dupla de atacantes formada por Sobis e Danilo. Mudança ousada, mas que se provou correta logo aos oito minutos, quando Vinícius completou cruzamento de Alex e mandou de cabeça para as redes tricolores. Inter na frente no Gre-Nal 360!
Empurrado pela torcida e percebendo seu rival acuado, o Inter passou a ocupar ainda mais o campo de ataque, pressionando intensamente. Como consequência, aos 33 minutos Danilo recebeu a bola na direita, pedalou para cima da marcação e acionou o pivô de Fernandão. Do camisa 18 a bola seguiu até Marabá, que lançou Alex, livre.
O Gol Mil
Mais rápido do que os carros que corriam ao seu lado na Padre Cacique, o garoto paranaense deixou a marcação para trás com facilidade, ganhando espaço para usar sua famosa perna canhota. Com ela, alçou na área, buscando o segundo pau. Precisa, a bola foi cortada, parcialmente, pelo gremista Cocito, mas, para a infelicidade do marcador, a sobra ficou com Élder Granja, que teve tempo para ajeitar a redonda com carinho e levantar na marca do pênalti.
Predestinado, Fernandão!
Gigante, Fernandão pareceu crescer ainda mais e, esbanjando presença de área, mandou testaço indefensável no canto da meta adversária. De tão forte, seu arremate não pôde ser acompanhado por câmera alguma. O que ficou registrado, em contrapartida, foi a explosão dos mais de 23 mil colorados e coloradas presentes no Beira-Rio, que vibraram muito com o gol de número 1 mil do maior clássico do Brasil. Um tento histórico, a princípio ignorado por seu ator.
No momento em que tocou o chão novamente e percebeu que marcara o gol, o abençoado artilheiro se emocionou e, tapando o rosto, ajoelhou-se no gramado. Certamente, a lágrima que teimava em escorrer não pôde ser contida quando ouviu Sóbis, eufórico, anunciar a importância do momento que protagonizara: “Tu marcou o gol mil do Gre-Nal!”. Inesquecível, o tento foi também o último marcado na gélida tarde de outono em Porto Alegre.
Feito virou placa e camisa no ano de 2004
Final de turno complicado
A estreia de alto nível garantiu para Fernandão sua vaga entre os titulares. Apenas 72h após anotar o milésimo gol dos Gre-Nais, o craque atuou durante os 90 minutos de duelo contra o Guarani, em Campinas, encerrado com vitória dos mandantes por 2 a 1. Encarregado de municiar Sobis e Dauri, exerceu, na ocasião, a função de meia-atacante no 3-5-2 de Joel Santana, mesma posição que ocupou, desta vez jogando atrás de Rafael e Danilo, na goleada de 6 a 0 do Inter sobre o Athletico, ocorrida no dia 17 de julho. Diante dos rubro-negros, marcou, vestindo a camisa 8, seu segundo gol pelo Clube do Povo, além de oferecer, para Danilo, nome do jogo, autor de quatro tentos, sua primeira assistência com a camisa vermelha.
Camisa 8, Fernandão se mostrava cada vez mais integrado ao elenco
Fernandão, Rafael Sobis e Nilmar. Trio de ataque que, caso tivesse atuado por mais tempo junto, certamente figuraria entre os maiores da história do futebol, reuniu-se, pela primeira vez, no dia 20 de julho, data de duelo contra o Corinthians, no Pacaembu, encerrado com o placar inalterado apesar da grande pressão alvirrubra. Quatro dias depois, o futuro ídolo sofreu, para o Juventude, sua primeira derrota no Beira-Rio, escore de 2 a 1. Por fim, encerrando o sétimo mês do ano, nova derrota, agora por 2 a 0, diante do São Caetano, fora de casa, manteve o Clube do Povo estagnado na tabela.
Titular na 20ª rodada, Fernandão foi substituído no intervalo do confronto entre Inter e São Paulo, disputado no Gigante e finalizado com igualdade de um gol para cada lado. Na jornada seguinte, foi preservado de partida contra o Cruzeiro, no Mineirão, terminada com triunfo dos locais por 2 a 0.
Seu retorno aos gramados, em melhores condições físicas, aconteceu no dia 8 de agosto, quando o Inter recebeu a Ponte Preta. Indigesto, o time campineiro ampliou o jejum do Clube do Povo ao somar vitória por 2 a 1. O gol do Inter na ocasião foi marcado por Granja, após assistência de Fernando, que, embora tenha criado as melhores chances do Colorado na partida, não conseguiu impedir o novo revés. A sequência de insucessos alvirrubros chegou ao fim na rodada seguinte, última do primeiro turno, graças à vitória sobre o Paraná, no Durival Britto, placar de 2 a 1.
Os segundos gol e assistência de Fernandão pelo Inter
Os primeiros atos de genialidade
A abertura do segundo turno do Brasileirão foi extremamente positiva para o Clube do Povo. Recém-convocado para a Seleção Brasileira, o atacante Nilmar marcou dois dos quatro gols colorados sobre o Figueirense, destacando-se como o grande nome da partida disputada no Beira-Rio. Fernandão, que formou a dupla de ataque com o jovem artilheiro, também deixou o seu, anotando o segundo do confronto.
Figueirense foi a terceira vítima de Fernandão no Inter
Na rodada seguinte, o Inter sofreu injusto revés para o Palmeiras, em São Paulo, sucedido por empate em 1 a 1 com o Coritiba, no Gigante, em confronto disputado no dia 22 de agosto. Contra o Coxa, o já camisa 9 produziu, aos 21 minutos do primeiro tempo, obra de arte que figura entre as mais bonitas de sua carreira. Após aplicar um lençol no marcador, o futuro ídolo não deixou a bola cair e emendou bicicleta perfeita, que morreu no canto das redes visitantes, não oferecendo qualquer reação ao goleiro adversário.
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Inscrito com o número 9 na competição, Fernandão estreou com a camisa colorada em torneios internacionais no dia 25 de agosto, em Florianópolis, onde Inter e Figueirense não conseguiram alterar o marcador da partida de ida da primeira fase da Copa Sul-Americana. No final de semana seguinte, o Clube do Povo voltou suas atenções para o Brasileirão, visitando o Paysandu, em Belém-PA. Formando, junto de Sobis, o ataque vermelho, o capitão não conseguiu impedir a derrota, por 2 a 1. Revés, inclusive, também foi o resultado do duelo disputado quatro dias depois, este diante do Fluminense, finalizado em 3 a 1 para os cariocas. Como consequência, Joel Santana foi demitido do comando técnico alvirrubro. Em seu lugar, assumiu Muricy Ramalho, treinador de grande passagem pelo Beira-Rio em 2003.
Surge o matador
E como foi a tensa a reestreia de Muricy na casamata alvirrubra! O técnico, que muito em breve entraria em definitivo para a história como um dos principais comandantes da biografia do Clube do Povo, mandou o Inter a campo, para o duelo de volta contra o Figueirense, válido pela Sul-Americana, escalado no 3-5-2. Fernandão, como se tornaria regra a partir da chegada do novo comandante, esteve encarregado de armar a equipe. Melhor em campo, o Colorado deixou a vitória escapar no último lance da partida, quando André Santos empatou para os catarinenses e levou a decisão para os pênaltis. Na marca da cal, o capitão converteu o seu, Clemer brilhou, e a vaga foi conquistada!
Segurança de Clemer e tranquilidade de Fernandão: Inter avançou na Sul-Americana
Classificado no torneio continental, o Inter disputou as rodadas de número 29 e 30 do Brasileirão desgastado pela dramática vitória nos pênaltis. Assim, empatou sem gols com o Flamengo, em casa, e perdeu por 1 a 0 para o Goiás, fora. Resultados negativos, cobravam rápida resposta, que chegou no dia 15 de setembro, data da partida de ida da segunda fase da Sul-Americana, chave disputada contra o Grêmio.
Pela primeira vez na história, era disputado um Gre-Nal válido por competições internacionais, que teve o Beira-Rio como sede e Fernandão na figura de artilheiro inaugural, abrindo o placar após excelente cruzamento rasteiro de Felipe. Chiquinho, na etapa final, ainda marcaria o segundo e último do clássico.
O primeiro gol em um Gre-Nal de competições internacionais na história
O triunfo sobre o maior rival deu novo ânimo ao Clube do Povo, que, no final de semana seguinte, superou o Vitória, no Beira-Rio, por 2 a 1. Inspirado, Fernandão marcou os dois gols, o primeiro de cabeça, completando cruzamento de Marabá, e o segundo após grande jogada individual. Passados três dias, o Inter foi derrotado no Olímpico, por 2 a 1, mas fez a festa, garantindo vaga nas oitavas da Sul-Americana.
Fernandão deu show contra o Vitória
De volta ao Brasileiro, empatamos, na 32º rodada, com o Atlético-MG, placar de 1 a 1. Fernandão, em nova pintura, marcou o golaço de empate para o Inter, que comemorou muito o ponto conquistado no Mineirão, especialmente porque, no meio de semana, enfrentaria o Santos, time sensação do campeonato, líder e embalado por grande geração que encantava a América naquele início de século. Um dos principais nomes do Alvinegro era Elano, que abriu o placar em chute de perna canhota. Empurrado pelo Gigante, o Clube do Povo empatou, aos 12 do segundo tempo, com Vinícius, criando clima perfeito para a virada, que chegou, aos 19, em cabeceio meticuloso de Fernandão, completando cruzamento açucarado de Élder Granja.
Dentro e fora da área, de cabeça ou com o pé, Fernandão conquistava o coração do povo colorado
O início da idolatria
Gol sobre o Criciúma, com assistência de Rafael Sobis
Após duas derrotas consecutivas longe do Beira-Rio, a primeira para o Vasco, por 2 a 0, e a seguinte diante do Criciúma, com Fernandão marcando o do Inter no revés por 2 a 1, no dia 10 de outubro recebemos, no Gigante, o Cruzeiro, em partida de abertura das oitavas da Sul-Americana. Dando continuidade ao seu tradicional esquema 3-5-2, que tinha no capitão colorado o ponta-de-lança ideal, Muricy certamente esboçou grande sorriso quando, logo aos 19 da etapa inicial, seu camisa 9 abriu o placar, em bonito cabeceio. Leandro, ainda no primeiro tempo, empatou para os visitantes, mas Wilson e Chiquinho, já nos 45 minutos finais, garantiram a vantagem alvirrubra.
Uh! Terror! Fernandão é matador!
Nova vitória por 3 a 1, esta em partida da 36ª rodada do Brasileirão, aumentou a paixão de nossa torcida pelo camisa 9. Goleador, Fernandão fez dois no triunfo do Inter sobre o Botafogo, no Beira-Rio, assim chegando a 13 tentos marcados em 26 jogos disputados pelo Colorado. Nas graças da torcida, via o canto “Uh! Fernandão” se tornar uma espécie de hino no Gigante, sempre entoado por milhares de fiéis que semanalmente peregrinavam até a Padre Cacique esperançosos em assistir a mais uma exibição de luxo de seu capitão. Contra o time da estrela solitária, converteu de pênalti e, é claro, em preciso cabeceio.
Impecável, o Clube do Povo voltou a superar o Cruzeiro, desta vez por 1 a 0, no Mineirão, para garantir vaga nas quartas da Sul-Americana. Titular, Fernandão participou da jogada do gol de Sobis, que coroou feito especial para um Inter que voltava a sonhar com grandes feitos após anos de insucesso. Classificado, o Colorado voltaria a disputar, pela primeira vez desde 1993, quando participou da Copa Libertadores da América, um duelo válido por competição oficial contra adversários sul-americanos, no caso, o Junior de Barranquilla.
Botafogo sofreu com o goleador colorado
Especial, o mês de outubro também esteve marcado, a exemplo de seus predecessores, por vitória do Inter sobre o Grêmio, agora no Estádio Olímpico. Em uma rara atuação como atacante sob o comando de Muricy no ano de 2004, Fernandão, que vinha de dois gols marcados nos últimos três clássicos que disputara, comprovou, mais uma vez, sua vocação para carrasco de nosso rival. Dono do Gol Mil dos Gre-Nais e responsável por marcar o primeiro tento válido por competições internacionais na história do duelo, o camisa 9 fez, de cabeça, o segundo da vitória alvirrubra por 3 a 1, na Azenha.
Capitão também festejou no Olímpico
A lesão que postergou a primeira taça
Gol contra o Athletico/Imagem: SporTV
Completamente focado em superar o Junior de Barranquila, adversário nas quartas continentais, e apoiado nas duas vitórias consecutivas que conquistara pelo Brasileirão, o Inter poupou alguns atletas na dupla de partidas nacionais que antecedeu a abertura do duelo contra os colombianos. Fernandão foi titular nos dois reveses sofridos, o primeiro para para o Guarani, 3 a 1, e depois em jornada frente ao Athletico, esta fora de casa, terminada com o escore de 2 a 1. De sua parte, o camisa 9, sempre jogando pelo meio, não deixou de marcar gol, seu 15º pelo Clube do Povo, anotado em cobrança de pênalti contra os paranaenses.
Poucas foram as partidas tão aguardadas pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande no início do século XXI quanto o duelo contra o Junior-COL. Ocorrido no dia 3 de novembro, o confronto simbolizou o retorno do Clube do Povo ao seu tradicional posto de protagonista continental. Primeiro gaúcho a participar, marcar gol e chegar a uma final de Libertadores, o Inter sofrera, na década de 90, dolorosas frustrações que acabaram por afastá-lo da elite sul-americana. Uma grande atuação diante dos colombianos, portanto, significava afirmar, para todos as tribos latinas, que a Academia do Povo estava, enfim, retornando ao seu lugar. Responsável por liderar o Colorado nesta empreitada americana, Fernandão se provou, ainda no primeiro minuto de jogo, o capitão ideal para um novo ciclo alvirrubro.
Chiquinho, Fernandão e Sobis: trio teve grande atuação contra os colombianos
Mesmo marcado por três jogadores, o ala-esquerda Chiquinho descolou, pela lateral do campo, cruzamento na medida para Fernandão. Na altura da marca do pênalti, nosso capitão subiu soberano, gigante como o Beira-Rio, e cabeceou respeitando o figurino. Picando, a bola voou como um foguete no canto direito da goleira do Gigantinho, fazendo explodir os quase 25 mil colorados e coloradas que ocupavam as arquibancadas do templo da Padre Cacique.
O 16º e último gol de Fernandão pelo Inter em 2004
Poucos minutos depois da explosão com o balançar de redes, o Beira-Rio assistiu, incrédulo, à injusta travessura do ingrato destino. Após esticar a perna na tentativa de dominar lançamento forte, Fernandão foi ao solo acusando dores intensas na perna direita. Desta vez, não existia Gabiru no banco capaz de substituir o capitão com estrelismo equiparável ao do camisa 9, que precisou deixar o campo. Pior ainda, a lesão sofrida na vitória por 1 a 0 sobre os colombianos em nada se pareceu a uma cãibra. Pelo contrário, a injúria acometeu o músculo posterior da coxa direita, afastando o goleador dos gramados até o final da temporada.
Mesmo sem Fernandão, o Inter garantiu, após empate em 1 a 1 na Colômbia, a classificação para as semifinais continentais. Diante do temido Boca Juniors de Pato Abbondanzieri, Carlitos Tevez, Guillermo Schelotto, Martín Palermo e companhia, a ausência do capitão, contudo, foi sentida. Contra a melhor equipe do continente, faltaram ao Colorado dois gols para a conquista da vaga, que ficou com o time da Bombonera, futuro campeão da Sul-Americana. Eliminação dolorosa, pela certeza de que, com Fernandão, poderíamos ir mais longe, mas encarada com grande orgulho pelo povo vermelho.
Duelo ficou marcado na biografia colorada
Quase 50 mil colorados e coloradas encheram o Beira-Rio para a partida de volta das semifinais continentais, público que fez questão de aplaudir o elenco após o apito final, em clara demonstração de sintonia entre time e torcida, também entendida, por todos os presentes, como uma cerimônia de casamento. Naquele instante, cimento e grama concordaram que a história não acabaria por ali. Nossa casa voltaria a ser palco continental, e jamais aceitaria novo hiato de afastamento da elite latino-americana.
A conquista da vaga para a Sul-Americana de 2005, nas rodadas finais do Brasileirão, reafirmou o pacto, impondo a todos a mesma expectativa: o surgir do amanhã seria ainda mais radioso de luz do que o festivo passado alvirrubro. Novos feitos relevantes aguardavam o Clube do Povo do Rio Grande do Sul, que encontrara em seu camisa 9 o líder perfeito para ocupar o papel de guia. O povo vermelho tinha, agora, um capitão, e nunca mais eles seriam separados.
Predestinado Fernandão, para sempre nosso Eterno Capitão
A semana compreendida entre 27 de abril e 04 de maio de 2008 nada teve de tranquila para o Clube do Povo. Os dias corridos da partida de ida à de volta da final do Gauchão estiveram marcados por grande tensão no número 891 da Padre Cacique. A vitória do Juventude, pelo escore mínimo, nos primeiros 90 minutos, obrigava o Inter a buscar um triunfo por dois gols de diferença em seus domínios. Maior do que a vantagem caxiense, todavia, era o sentimento de frustração que abatia os alvirrubros, uma vez que o solitário tento alviverde fora anota somente no último lance do confronto disputado no Alfredo Jaconi. Pior ainda, a injusta derrota ocorreu no final de semana seguinte à histórica virada vermelha sobre o Paraná, em duelo das oitavas de final da Copa do Brasil encerrado com o 5 a 1 gaúcho no Gigante. Acima da desvantagem no placar, portanto, estava o abalo psicológico da equipe colorada, que buscava encerrar um jejum de dois anos sem conquistar o principal título do Rio Grande do Sul.
“A gente não pode se alimentar de raiva, tem que se alimentar de alegria. Hoje, o time todo lutou muito e o torcedor incentivou bastante. O pessoal está de parabéns!”
Abel Braga – 15/03 – iNTER CLASSIFICADO COM DUAS RODADAS DE ANTECEDÊNCIA
O Inter construiu campanha bastante sólida no Gauchão de 2008. Campeão da Dubai Cup logo no sétimo dia da temporada, o Clube do Povo fez sua estreia no Estadual em 20 de janeiro, contra o xará de Santa Maria. Comandada por Abel Braga, a equipe voltou para Porto Alegre com um ponto na bagagem, após igualdade de dois gols para cada lado. Integrante do Grupo 2, que contava, ainda, com Juventude, Veranópolis, Guarany de Bagé, Brasil de Pelotas, São José-POA e São Luiz, o Colorado somou, na primeira fase do certame, disputada em turno e returno, 10 vitórias, duas derrotas e mais um empate, assim registrando 32 pontos.
Grupo foi tomando forma ao longo da primeira fase do Estadual
Como um Rolo Compressor, o Clube do Povo chegou à fase eliminatória com 34 gols marcados e apenas nove sofridos. Espetaculares, os números ofensivos foram construídos apesar do desfalque de Nilmar, atacante que sofreu lesão na terceira rodada e, por isso, passou mais de dois meses afastado dos gramados. Compensando a perda do lépido avante, Alex e Iarley viveram excelente fase, capaz de encher a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande de motivos para sorrir. Artilheiros colorados, até o momento somavam, respectivamente, sete e seis gols.
A dupla fazia parceria, no ataque alvirrubro, com o Eterno Capitão Fernandão, assim formando goleador tridente, sustentado, especialmente, por Guiñazú e Magrão, motores de uma equipe muito bem armada no sistema 3-5-2. De linda história com a camisa vermelha, todos estes nomes estiveram apoiados, no Gigante ou no interior, pelo povo colorado, que ofereceu um espetáculo à parte em todas as arquibancadas que sediaram jornadas do Inter.
Local ou visitante, campanha do Inter esteve marcada pelo intenso apoio da torcida
“Agora quero atuar para adquirir ritmo de jogo. Mas estou me sentindo bem melhor fisicamente do que no início do jogo!”
NILMAR – 05/04 – Retorno aos gramados após 69 dias
Os canoenses da Ulbra foram os adversários nas quartas de final. Iniciada na Região Metropolitana, a jornada teve o 4 a 1 para o Inter como placar de seus primeiros 90 minutos. Guiñazú, de carrinho, marcou o primeiro gol do confronto, seu segundo com a camisa vermelha, e esteve acompanhado, na lista de artilheiros colorados, por Alex, com dois tentos, e Índio. Seis dias depois, o Beira-Rio recebeu mais de 20 mil pessoas para a partida de volta, disputada no dia 5 de abril, apenas 24 horas após o Clube do Povo completar 99 anos de história.
Inter superou as quartas de final com autoridade
Agitado, o duelo teve seu placar inaugurado ainda aos 5 minutos por Fernandão, em preciso cabeceio. Aos 20, contudo, os visitantes ameaçaram arrefecer o ritmo alvirrubro ao atingirem o empate. Breve igualdade, logo dissipada por Iarley, completando assistência de Sidnei. Na etapa final, Abel Braga promoveu o retorno de Nilmar aos gramados. O ídolo entrou aos 19, e precisou de apenas quatro minutos para, em uma de suas muitas arrancadas, ser derrubado dentro da área. Pênalti, que nosso Eterno Capitão cobrou para grande defesa do arqueiro adversário. O segundo gol dos rivais perturbou ainda mais a comemoração do aniversário vermelho, mas Magrão, aos 44, deu números finais ao embate. Inter 3 a 2, no agregado 7 a 3, e a vaga nas semis era nossa. Que viesse o Caxias, pois, com a volta da estrela que faltava, nosso ataque estava mais preparado do que nunca!
“Importante o empenho e a dedicação de uma equipe que sabe o que quer. A vitória foi mais que justa”
FERNANDÃO – 13/04 – ENTREVISTA APÓS VITÓRIA NO CENTENÁRIO
Partida de ida foi muito brigada. Fotos: Marcelo Campos/VipComm
Não foi fácil chegar à final do Gauchão. Diante do Caxias, o Inter não apenas enfrentou tradicional instituição do futebol gaúcho, como também time que vinha embalado de uma sequência de 21 jogos sem perder em seus domínios. Além disso, a equipe da Serra ainda tinha a melhor defesa do torneio, tendo sido vazada em escassas 10 oportunidades. Contra o retrospecto positivo dos mandantes, a torcida colorada tratou de criar, no Centenário, uma verdadeira sucursal do Beira-Rio. Aproximadamente uma dezena de milhares de alvirrubros tomaram o campo adversário, praticamente dividindo o Estádio ao meio. O clima chuvoso e frio, típico da região, completava a lista de ingredientes para uma grande abertura de semifinal, confronto para o qual se esperava um Clube do Povo extremamente ofensivo, consequência da escalação com Fernandão e Alex no meio, e Iarley e Nilmar na frente.
Após uma primeira metade de partida truncada como seria de se imaginar, o confronto tomou contornos épicos para o Inter quando, aos 26 minutos, já debaixo de verdadeiro temporal, Marcão foi expulso. Abel respondeu sem substituição, mas com mudança tática: Alex foi para a lateral-esquerda, e Iarley passou a compor o meio, mais próximo de Fernandão. Na frente, Nilmar puxava rápidos contra-ataques, que ofereceram ao Colorado, mesmo em inferioridade numérica, as melhores oportunidades da etapa inicial. O Clube do Povo voltou do intervalo com Titi na vaga de Iarley e, ainda mais encaixado defensivamente, praticamente não ofereceu chance aos mandantes, que limitavam seu poderio ofensivo a raros cruzamentos bem-sucedidos. De sua parte, o escrete alvirrubro seguiu levando perigo em escapes de velocidade, agora conduzidos por Adriano. Aos 47, o atleta recebeu cobrança de lateral pela direita, conduziu até a linha de fundo e, inteligente, superou dois marcadores com o corpo para invadir a área e servir açucarada assistência para Alex. Vantagem garantida para a volta, justa por toda a dedicação dos heróis vermelhos.
Imagem: RBSTV
E como a canhota de Alex estava afiada no ano de 2008. No dia 20 de abril, o ídolo ofereceu um verdadeiro espetáculo para as mais de 35 mil pessoas que lotaram o Beira-Rio. De volta ao esquema com três defensores, o Inter iniciou a partida em altíssima rotação, impulsionado pelo ritmo do camisa 7, acompanhado de Fernandão e Nilmar. Foi após assistência de Guiñazú, contudo, que recebera lindo de passe de Magrão, que o grande nome da tarde fez sua primeira obra de arte. Com a canhota, de primeira, mandou um foguete indefensável. Já aos 27, o craque tabelou com o Eterno Capitão e, depois de pivô preciso do 9 alvirrubro, finalizou no cantinho. Lesionado, infelizmente o protagonista precisou sair de campo na etapa final, que ainda teve o tento de honra dos caxienses. Com o triunfo por 2 a 1, o Clube do Povo confirmou a vaga na final e, de quebra, garantiu o segundo jogo no Gigante.
Grande atuação, no campo e nas arquibancadas, garantiu o Inter na decisão
“Está na hora de o raio
mudar de lugar!”
ABEL BRAGA – 03/05 – VÉSPERA DA FINALÍSSIMA
O gol de Maicon, aos 47 do segundo tempo na partida de ida da decisão, representou ao Juventude a terceira vitória consecutiva sobre o Inter no Gauchão. O Papo, até então, ostentava o posto de única equipe a não ter sido derrotada pelo Clube do Povo naquela edição do Estadual. O Colorado, inclusive, sequer havia vazado a defesa alviverde. Até por isso, na véspera da finalíssima, Abel Braga declarava torcer para que, enfim, o raio “parasse de cair no mesmo lugar”. Para tanto, mais do que contar com a sorte, o comandante alvirrubro preparava estratégia repleta de repertórios antigos e recentes para conquistar a taça, até então inédita em seu museu particular.
Inter lutou muito, mas foi derrotado na partida de ida. Fotos: Jefferson Bernardes/VipComm
Após sofrer com os desfalques de Guiñazú e Alex nos primeiros 90 minutos da final, Abel manteve, até o último instante, mistério quanto ao retorno da dupla para o confronto no Gigante. Fundamentais para o funcionamento do time, os canhotos eram aguardados com grande ansiedade pela torcida, povo que correspondia a outra armadilha tida como decisiva pelo comandante alvirrubro. À época, o Inter acabara de atingir a marca de 60 mil sócios, público capaz de esgotar os ingressos do duelo de volta antes mesmo de a venda ser aberta aos demais torcedores, e que, habituado a atuar como um 12º jogador, prometia fazer a diferença. Por fim, o treinador, vencedor de América e Mundial na casamata vermelha, sabia que, contra um psicológico claudicante, não restava melhor motivação ao elenco do que a liderança de Fernandão – que, acredite se quiser, vinha sendo provocado pelos torcedores do time da Serra.
Abel, na véspera da decisão, conversa com Alex e Guiñazú, as dúvidas na escalação colorada
Desarmado no lance que originou o gol do Juventude, nosso Eterno Capitão foi ironizado, ao longo de diversos dias, pela torcida alviverde. Os resultados que vinham sendo alcançados pelo Papo, desde o final da década de 90, em partidas contra o Clube do Povo, pareciam alimentar, nos moradores de Caxias, a falsa impressão de equivalência ao gigantismo colorado. Irritante para alguns, a postura mais parecia delirante aos alvirrubros, uma vez que não passava de combustível para um elenco acostumado a fazer história vestindo vermelho. E também, é claro, branco, cor do uniforme envergado pelos atletas no momento em que subiram ao gramado de um Beira-Rio tomado por mais de 42.000 ensandecidos, que encaravam a chuva e o vento para apoiar o Internacional rumo ao 38º título gaúcho de sua biografia.
Beira-Rio fez a diferença na finalíssima
“Hoje é dia
de suar sangue!”
FERNANDÃO – 04/05 – MOMENTO DA ENTRADA EM CAMPO
Tão intensa quanto a cantoria da torcida foi a exibição colorada assim que soado o primeiro apito. Retrancado, o Juventude tentava limitar os espaços em seu campo de defesa, estratégia respondida pelo Inter com lançamentos em sequência para o pivô de Fernandão, que sempre buscava a tabela com Alex e Nilmar. Defendendo o Clube do Povo no dia quatro de maio estiveram, também, Clemer no gol; Índio, Orozco e Marcão na defesa; além de Bustos, Danny Morais, Magrão e Guiñazú no meio de campo. Igualmente impecáveis, os guerreiros daquela tarde puderam extravasar, pela primeira vez, aos 25 da etapa inicial, quando Danny, de cabeça, estufou as redes visitantes.
Com seu gol, Danny Morais começou a transformar o roteiro do confronto, até então de poucos espaços
Pouco mais de quatro minutos correram até Fernandão marcar o seu primeiro na partida, segundo do Inter, completando grande cruzamento de Nilmar. O Beira-Rio ainda tremia com a festa da torcida quando, aos 31, o Eterno Capitão ampliou, concluindo, de pé direito, bola escorada por Marcão. Ainda antes do intervalo, Alex, em cobrança magistral de falta, anotou o quarto, dando início a um verdadeiro carnaval nas arquibancadas e cadeiras do Gigante.
“Eu jogo em time grande.
Sabia que a nossa equipe
iria fazer uma partida espetacular! ”
FERNANDÃO – 04/05 – INTERVALO DA FINALÍSSIMA
Ninguém poderia prever o significado daquela bola na rede. Aos quatro do segundo tempo, Bustos cobrou falta para a área e Fernandão, preciso em seus cabeceios como sempre, testou no contrapé de Michel Alves. Golaço, de número 77 do Capitão com a camisa colorada, o último que marcou vestindo nosso manto. Na comemoração, o ídolo partiu em direção à massa localizada na eterna ‘Goleira do Placar’, e arremessou, para o povo, a faixa que usava no cabelo. Uma festa digna do significado que o tento assumiria no futuro. Uma comemoração que mais pareceu um abraço, de um herói e torcedor na torcida que tanto lhe deu amor. Metamorfose entre jogador e arquibancada, selando união que perdurará para sempre na história alvirrubra.
Na chuvosa tarde de maio, Fernandão foi, simplesmente, Fernandão
Iniciada em novembro de 2007, a segunda passagem de Nilmar pelo Inter foi, também, a mais artilheira do ídolo com as cores do Clube do Povo. O primeiro tento que marcou no Beira-Rio, contudo, até que custou para sair. Foi aos 9 minutos do segundo tempo que o craque recebeu passe rasteiro de Bustos e, sem chances de defesa para Michel Alves, finalizou rasteiro, direto para as redes. Pouco depois, saiu o tento de honra dos visitantes, também este originado dos pés de um colorado. Índio tentou cortar cruzamento da direita e, por acidente, atentou contra o próprio patrimônio. Ato contínuo, a torcida aplaudiu o zagueiro multicampeão, que respondeu anotando o sétimo, de cabeça, após cobrança de escanteio de Andrezinho. Àquela altura, vale lembrar, o meio-campista já estava em campo na vaga de Alex, assim como Jonas, no lugar de Bustos. Segundos após o defensor fazer o seu, Fernandão, completamente ovacionado, deixou o campo para a entrada de Iarley, finalizando as substituições alvirrubras.
Imagem: RBSTV
A hora estava chegando. O sol raiava, vencendo as teimosas nuvens que imperaram durante a tarde em Porto Alegre. A torcida, apaixonada, exaltava o Internacional. Dentro de campo, o time trocava passes, deixando o tempo correr. Mais rápido do que o relógio, no entanto, Andrezinho invadiu a área visitante aos 44. Irritada, a zaga juventudista derrubou o jogador. Pênalti, cujo batedor foi escolhido pelo Beira-Rio, unânime em conclamar Clemer. Prestes a conquistar sua quinta taça estadual pelo Clube do Povo, o goleiro foi estupendo e, com muita categoria, cobrou, de cavadinha, direto aos barbantes da cidadela serrana. Colorado oito, sim, oito. Juventude? Apenas um.
O título, incontestável, era nosso, e foi erguido, em conjunto, pelos três líderes daquele grupo: Clemer, Iarley e, é claro, Fernandão. Extremamente vencedor com a faixa de capitão, o camisa 9 se sagrou, naquele instante, bicampeão estadual. Última taça de sua trajetória no Clube do Povo, encerrou ciclo abrilhantado pelos troféus de Libertadores, Mundial, Recopa e Dubai Cup, e iniciado, em 2005, também com um Gauchão. Dentro de campo, a história de Inter e Fernando Lúcio chegava ao seu fim. Fora das quatro linhas, ela será eterna. Uh, terror!
Grupo campeão:
Goleiros: Clemer, Renan, Agenor, Muriel e Luiz Carlos;
Zagueiros: Danny Morais, Índio, Marcão, Orozco, Sidnei e Titi;