Gol do Dia – viva o Rei!

Craque, Falcão era perfeito. Volante moderno mesmo atuando nos tempos antigos, o Rei encantou o Brasil ao longo dos anos que vestiu vermelho. Camisa 5 às costas, praticava contínua metamorfose para outros números. Era sete, por exemplo, quando servia, através de cruzamentos dignos de um ponta-direita. Também parecia vestir a 10, especialmente quando encantava em chutes de fora da área. Já a 9 aparecia nos momentos de centroavante. Matador na bola aérea!

Vídeo: arte colorada no viaduto da Conceição

Está finalizada a revitalização das pilastras da elevada da Conceição. Ao longo da última semana, o Inter convocou o artista Alan Vieira para grafitar a região com artes que retratam a história dos Eucaliptos, do antigo Beira-Rio e do atual Gigante. O trabalho ainda conta com homenagens aos ídolos Carlitos, Tesourinha e Falcão. Te liga no resultado final!

> Saiba mais sobre a ação

Falcão é o Personagem do Mês do Museu do Inter

Quem não viu nosso Personagem do Mês jogar, com certeza ouviu muito sobre ele de seus pais ou avós. Quem o viu, nunca esquece do camisa 5 que encantou o Brasil, a Itália e o mundo, sendo coroado como oitavo Rei de Roma.

Natural de Abelardo Luz-SC, Paulo Roberto Falcão ingressou nas categorias de base do Inter em 1968, onde foi lapidado por nomes como Jofre Funchal e Abílio dos Reis. Subiu ao profissional pelas mãos de Dino Sani e, aos poucos, firmou posição no meio-campo colorado.

Durante sua trajetória vestindo a camisa alvirrubra, foi referencial técnico e líder do grupo de jogadores. Falcão era referência também fora de campo, ajudando bravamente na construção do Estádio Beira-Rio. Tricampeão brasileiro, deixou o clube rumo à Itália após o vice-campeonato da Copa Libertadores da América de 1980.

Após sua aposentadoria dos gramados, treinou o Inter em três oportunidades. Em 2011, conquistou o Campeonato Gaúcho de 2011, título que coroou sua segunda passagem como técnico.

Ao passar dos anos, o Rei seguirá tendo sua história passada adiante por torcedoras e torcedoras saudosos de sua classe e garra dentro de campo. Salve Falcão!

Título brasileiro invicto completa 41 anos

Inter contra Vasco. Academia do Povo diante do Cruz-Maltino. Maracanã e Beira-Rio. A decisão do Campeonato Brasileiro de 1979 contou com todos os atrativos necessários. Duelo que colocou frente a frente duas torcidas apaixonadas, encerrou com chave de ouro os anos 70 no futebol de nosso país. Felizes os colorados e coloradas, que, há 41 anos, deleitaram-se no doce festejo destinado aos campeões.

Confira especial produzido pela Rádio Colorada sobre o Tri:

Sport Club Internacional · Especial 'Invictos' – 40 Anos Do Tricampeonato Brasileiro

Ênio Andrade, de branco, e Gilberto Tim, de vermelho: comissão em 1979

O Clube do Povo chegou em vantagem para a finalíssima de 23 de dezembro de 1979. Três dias antes, os comandados de Ênio Andrade haviam superado o Maracanã, a chuva, 60 mil pessoas e os desfalques de Falcão e Valdomiro. À ausência dos craques, curiosamente, o Inter tratou de marcar um gol para cada, ambos anotados por Chico Spina, substituto na ponta-direita, um deles com assistência de Valdir Lima, alternativa no meio de campo.

Empolgada com a vantagem obtida na partida de ida e eufórica pela grande campanha que o Clube do Povo vinha construindo, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande lotou o Beira-Rio, gigante palco que naquela temporada completava 10 anos de história. Até então, nas 22 partidas que disputara pelo Nacional, o Inter somava 15 vitórias e sete empates, tendo anotado 38 gols e sofrido apenas 12. Mais do que o título, portanto, os colorados e coloradas queriam os louros da conquista invicta.

Do outro lado, um adversário extremamente ofensivo, disposto a estragar a festa, exigia respeito. Comandante vascaíno, Oto Glória declarara, na véspera da partida, que entendia a missão carioca como difícil, mas não impossível. Em busca da taça, o técnico cruz-maltino tratou de escalar equipe bastante ofensiva, centrada nas ações do atacante Roberto Dinamite. Não contavam os visitantes, porém, que a postura resultaria em espaços excessivos para um meio de campo histórico.

O Inter de 1979 ajudou a revolucionar o futebol brasileiro. Enquanto a geração bicampeã atuava num claro 4-3-3, esquema pensado para maximizar as ações de Valdomiro e Lula, respectivos pontas pela direita e esquerda, o Time que Nunca Perdeu variava com enorme facilidade das duas linhas de três para um meio de campo formado por quatro jogadores. O grande coringa da equipe era Mário Sérgio, sucessor de Lula na posição, mas responsável por desempenhar função completamente diferente.

O vesgo, como ficou conhecido por sua rara habilidade de dar passes em uma direção enquanto olhava para outra, constantemente descia do trio de ataque para a região central do campo. Aproximava-se, assim, de Falcão, formando dupla capaz de superar qualquer ferrolho defensivo. A movimentação de Mário ainda confundia zagueiros e laterais rivais que, arrastados pelo movimento do camisa 11 colorado, abandonavam a linha defensiva, oferecendo espaços para elementos surpresa do lado alvirrubro. O maior deles, sem dúvidas, era Jair.

Os termômetros marcavam 28º quando o time colorado deixou os vestiários e subiu ao campo do Beira-Rio. Com todos atletas à disposição, Ênio escalou seus 11 ideais. No gol, esteve Benítez. João Carlos, Mauro Galvão, Mauro Pastor e Cláudio Mineiro ocuparam a defesa, enquanto Falcão, Batista e Jair foram os escolhidos para a meia. O ataque, por fim, contava com Valdomiro, Bira e Mário Sérgio. De sua parte, o Vasco atuou com Leão; Orlando, Gaúcho, Ivan e Paulo César; Zé Mário, Paulo Roberto e Paulinho; Catinha, Roberto e Wilsinho.

João Carlos, Benítez, Mauro Pastor, Falcão, Mauro Galvão, Cláudio Mineiro; Valdomiro, Jair, Bira, Batista e Mário Sérgio

Apoiado por um Beira-Rio explosivo, o Inter empilhou chances na etapa inicial. Cedo na partida, Jair serviu lançamento primoroso para Bira, que ganhou da zaga na velocidade e, da altura da meia-lua, percebeu Leão adiantado. O centroavante tentou de cobertura, mas o goleiro exibiu excelente poder de recuperação para espalmar em escanteio. Quase o primeiro!

Definitivamente, sobravam craques na meia-cancha colorada. Também esplendoroso, Batista exibiu grande forma na finalíssima – a exemplo do que fizera no Campeonato inteiro. Ainda na primeira metade da etapa inicial, o camisa 10 emendou um balaço da intermediária ofensiva após corte parcial da defesa vascaína. Leão, de novo, brilhou.

O arqueiro vascaíno não tinha seu nível acompanhado pelos companheiros de ataque, que apenas assustaram Benítez quando Wilsinho, lançado por Roberto, tentou tirar proveito do montinho artilheiro para surpreender. Seguro, o paraguaio paredão colorado espalmou sem maiores problemas.

Inevitável, o primeiro gol do Inter saiu aos 41, e ele teve a cara do time de Ênio. Com a bola em suas mãos, Benítez percebeu que Mário Sérgio recuara até a intermediária defensiva e acionou o companheiro. Postado com linhas baixas, marcando praticamente da linha central para trás, o time visitante não apertou a marcação. Genial, o camisa 11 então percebeu que, enquanto Bira prendia a dupla de zaga, Jair atacava o vazio que o próprio vesgo deixara no corredor esquerdo do ataque, e lançou o camisa 9.

Que centroavante era Bira! Referendado à época de sua contratação pelo também matador Dadá Maravilha, o centroavante do Time que Nunca Perdeu tinha consciência de todos os movimentos que o cercavam. Assim, apenas escorou, de casquinha, para trás. Livre, quem recebeu a assistência foi Jair, que, em disparada, precisou de somente dois toques para marcar. No primeiro, fintou Leão. Depois, dentro da grande área, finalizou rasteiro em direção às desprotegidas redes. Catarse coletiva no Gigante.

O gol destruiu de vez o psicológico da equipe vascaína. Antes do intervalo, Bira e Falcão construíram excelente tabela, que o Rei finalizou, da pequena área, de letra. Por sorte, Leão salvou com o tornozelo. Já no início do intervalo, quem brilhou foi a trave esquerda da goleira do Gigantinho. Não fosse por ela, Valdomiro decidiria, mais uma vez, um título através de suas cobranças de falta. O destino, porém, já havia escolhido seu herói, e ele atendia pelo nome de Paulo Roberto.

Mauro Galvão (E) e Falcão (D) minutos antes da decisão

Mário Sérgio, de novo ele, retornou até o campo de defesa na casa dos 13 minutos. Desta vez, quem atacou o espaço deixado pelo vesgo foi Cláudio Mineiro, devidamente lançado pelo companheiro de corredor. Preciso, o passe sequer cobrou domínio do lateral-esquerdo colorado, que da quina da grande área cruzou rasteiro para a entrada do retângulo pequeno, onde Bira chegava em desabalada carreira.

Antes do centroavante, Leão apareceu para espirrar a bola até a marca do pênalti. Para azar do goleiro, apenas mais três vascaínos ocupavam da grande área visitante. Do lado do Inter, eram quatro. A bola, simpática aos craques, escolheu o cinco, que emendou chute forte, rasteiro, rasante. No canto direito, a encouraçada explodiu nas redes e, tamanha sua violência, reboteou de volta para o campo. Quando retornou, todavia, sequer foi percebida. Mais de 70 mil comemoravam o segundo gol do Clube do Povo.

Histórico, o carnaval formado nas arquibancadas do Beira-Rio sequer lamentou a oportunidade desperdiçada por Chico Spina, após assistência de Mário Sérgio, ou vociferou contra o gol de Wilsinho, que para os visitantes descontou aos 39. O povo já havia coroado o Inter campeão, e o apito de José Favile Neto não passou de mera formalidade. Pela terceira vez na história, o Brasil era alvirrubro. Desta vez, depois de campanha inédita, única e inigualável. Campanha invicta. Campanha, legitimamente, colorada.

O caminho até o topo: relembre a trajetória colorada rumo ao primeiro Brasileirão

Melhor ataque, autor de 51 gols, e também defesa, vazada em míseras 12 ocasiões. Maiúscula campanha, com aproveitamento superior aos 70%, e artilheiro do campeonato, dono de nossa camisa 9. Há 45 anos, em 14 de dezembro de 1975, o Clube do Povo conquistou o Brasil pela primeira vez. A vitória por 1 a 0, na final diante do Cruzeiro, consagrou caminhada incontestável de um time forjado para ser campeão. Relembre, em detalhes, a trajetória do Inter até o topo do país!

> Confira especial da Rádio Colorada sobre o Brasileirão de 1975:

Sport Club Internacional · Rádio Colorada | Especial: Internacional Campeão Brasileiro de 1975 | 14/12/2020


Não se vira gigante de uma hora para outra


A caminhada colorada rumo ao primeiro título nacional conquistado pelo Sul do Brasil foi iniciada nos anos 1960. Década sucessora dos mágicos períodos de Rolo Compressor e Rolinho, transcorreu marcada por doloridos insucessos estaduais, aos quais o Clube do Povo respondeu apostando no sempre fértil Celeiro de Ases. À época não se podia imaginar, mas a política de fortalecimento das categorias de base pavimentaria o processo de construção do maior time já visto em terras canarinhas.

No final da década, em 1967 e 1968, o Inter atingiu dois vice-campeonatos nacionais que serviram para consolidar nosso nome nas terras de cima do Mampituba, processo intensificado a partir da inauguração do Beira-Rio. Nostálgica, mas passada, a era dos Eucaliptos chegava ao fim com o Clube consolidado entre os grandes. O objetivo, a partir de então, era chegar ao posto de gigante.

“Tivemos a oportunidade de disputar o Robertão, o Brasileiro da época, e fomos vice-campeões com uma garotada cheia de energia, de vontade de crescer no futebol. Nos tornamos conhecidos no centro do país, o que era muito difícil. Rio e São Paulo ficavam longe, na mídia, em relação ao Rio Grande do Sul. A partir daí veio a inauguração do Beira-Rio, que nos deu um patamar maior. O Estádio trouxe ao futebol gaúcho uma situação que não tínhamos anteriormente.”

Dorinho, primeiro camisa 10 do Beira-Rio

O Colorado alcançou grandes resultados nos primeiros Brasileirões que disputou no Gigante, encerrando na quinta colocação os torneios de 1969 e 1970, decididos em quadrangulares. Em 1971, o Clube do Povo registrou a mesma posição, desta vez insuficiente para atingir o último triangular. Gradativamente, nomes como Valdomiro, Claudiomiro, Carpegiani, Hermínio, Pontes, Cláudio Duarte, Tovar e Carbone assumiam o protagonismo do time alvirrubro.

Elenco campeão gaúcho em 1969

Ao mesmo tempo em que ampliava sua fama nacional e acumulava casca nos quatro cantos do Brasil, o Inter também tratava de reassumir o controle do futebol gaúcho. A partir do ano de inauguração do Beira-Rio, o Colorado encarrilhou sequência de títulos que culminaria, em 1976, no histórico, inédito e jamais igualado Octa estadual. À frente da casamata vermelha estava, na virada da década, Daltro Menezes.

“Eu sempre gosto de lembrar o nome, a figura, do senhor Daltro Menezes. Todo mundo brincava por causa da altura dele, mas o que entendia de futebol não era pouco. Tanto é que hoje, um dos maiores ídolos do Internacional, o Valdomiro, foi ele quem insistiu.”

Bibiano Pontes
Com sua abotoada camisa branca, Daltro conduz seus comandados a campo

Mudanças ocorreram em 1972. Marcado pelo tetracampeonato estadual, o ano também valeu medalha de bronze no Brasileirão, alcançada em histórica campanha que levou o Clube do Povo até as semifinais, quando empate em 1 a 1 com o Palmeiras, no Pacaembu, classificou o rival, dono de mais pontos no torneio. Na fase anterior ao duelo eliminatório, o Colorado disputara inesquecível duelo contra o Cruzeiro.

Escurinho comemora o gol de empate diante do Cruzeiro

Partida de abertura do quadrangular predecessor aos mata-matas, o duelo entre Saci e Raposa teve como palco o Beira-Rio, e foi encerrado com vitória alvirrubra por 3 a 2. Conquistado de virada, já nos acréscimos, o triunfo, de tão emocionante, infelizmente vitimou dois torcedores, que faleceram por infarto. Já comandado por Dino Sani, na temporada o Inter havia recebido o reforço do gigante Figueroa, e passara a atestar, de maneira mais recorrente, a vocação de Escurinho para talismã.

“Quando eu vim para cá, foi porque o presidente (Eraldo Herrmann) foi para o Uruguai. Eu estava por ir para o Real Madrid, que me queria, como o Barcelona, equipes italianas… me queriam todos. Mas vim para o Inter, falei com o Peñarol para baixar meu preço, e aí, quando cheguei aqui, fizemos o contrato rápido, sem problemas. Foi uma coisa muito boa, muito sincera.”

Figueroa

Novo ano, nova estrela. Maior meio-campista da história do futebol brasileiro, Paulo Roberto Falcão estreou entre os profissionais do Clube do Povo no ano de 1973. Mais precisamente, no dia 15 de abril, data de confronto do Inter contra o Esportivo, no Beira-Rio.

Primeira derrota para equipes do interior gaúcho dentro do Gigante, única na campanha do penta estadual, o duelo fez parte de temporada que também contou com quarta posição no Campeonato Nacional, feitos, uma vez mais, alcançados sob o comando de Sani.

Na foto da Revista Placar, Dino Sani, de preto, observa o jovem Falcão

“Dino Sani conhecia futebol.
No meu ponto de vista,
foi quem ensinou pro Falcão o voleio cruzado.
Cabeceio, pra nós zagueiros, foi ele quem ensinou também.”

Bibiano pontes

Consolidado no principal campeonato de clubes do país, o Clube do Povo chegou ao fim da primeira metade da década de 70 decidido a não mais ocupar apenas papel de destaque no torneio, mas sim levantar o tão sonhado troféu. Para tanto, nada melhor do que buscar um técnico com experiência em taças nacionais. Na abertura de 1974, o Inter contava com um novo comandante: Rubens Minelli.

“Quando eu fui conversar com o presidente (Eraldo) Herrmann, eu falei ‘olha, eu vou ser sincero, nós precisamos de reforços. Agora, entenda bem: eu não quero novidades, eu quero reforços. Você tira um titular de outro time, na posição que eu quero, e me traga. O reserva dele não serve pra mim. Eu quero um titular.’ Aí foi quando nós trouxemos o Lula, e depois o Flávio.”

Rubens Minelli
Falcão, Valdomiro e Coréia comemoram gol que garantiu ao Inter o hexa do Rio Grande

A partir da contratação de Lula para a ponta-esquerda, ocorrida de maneira quase simultânea ao desembarque de Minelli, o Inter passou a exibir maior equilíbrio nos lados do campo. Já nas graças do povo vermelho, Valdomiro era patrão do corredor direito, mas carecia de companheiro dono de futebol à altura do seu, que inclusive valeria-lhe convocação para a Copa do Mundo da Alemanha, disputada exatamente em 1974.

Ofensivo pelas pontas, o Clube do Povo conquistou o Gauchão daquele ano com incríveis 100% de aproveitamento, garantidos também devido à segurança de uma defesa que passou a contar com o paredão Manga como arqueiro. Na zaga, Figueroa e Pontes eram acompanhados por Cláudio Duarte, cria do Celeiro, e Vacaria, lateral-esquerdo de currículo mais extenso.

“Houve uma mudança tática a partir do Gauchão de 1974: entramos marcando individualmente, e aprimoramos isso em 1975.”

PAULO ROBERTO FALCÃO

No meio de campo, Falcão já estava consolidado como titular. O grande destaque da região central, todavia, era Carpegiani. Um dos principais nomes do Brasil que encerrou a Copa de 1974 na quarta colocação, o camisa 10 era idolatrado pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, multidão privilegiada que desde o início da década podia atestar a genialidade de Paulo César. À dupla de Paulos, somava-se Escurinho, assim completando o trio de meias de Minelli.

No primeiro plano, Carpegiani e Escurinho

Campeões da Copa São Paulo no início da temporada, Jair e Caçapava também foram integrados ao elenco principal, dando ainda mais corpo ao forte grupo vermelho. No Brasileirão, dois empates e uma derrota no quadrangular final tiveram como consequência nova quarta colocação. Desta vez, porém, o time chegava ao fim da temporada com autoridade maior do que a vista no passado. Unido, o grupo estava pronto para conquistar o Brasil.

“Nós viemos da base, do juvenil, que era uma preparação para vir para o time de cima. Mas ninguém sabia se ia ficar dentro do grupo, então você fazia de tudo embaixo para que pudesse chegar no time de cima para lutar. Você já vinha com aquela determinação, com aquele amor pelo Internacional, para que tivesse uma oportunidade.”

Caçapava

Surge o maior time já visto no Brasil


Flávio Minuano (E), o Bicudo, ídolo colorado

A abertura da temporada de 1975 foi diferente para o Inter. Comprovando sua crescente fama, o Clube do Povo foi convidado para realizar uma excursão pela Europa. No Velho Continente, Rubens Minelli passou cinco semanas consecutivas com seus jogadores, tempo fundamental para conquistar admiração ainda maior dos atletas e, consequentemente, implementar de vez suas concepções de futebol dentro do grupo.

“Os jogadores obedeceram, taticamente, religiosamente aquilo que eu pretendia. Eles passaram a acreditar em mim e então nós modificamos tudo. Começamos a marcar a saída de bola dos adversários, a treinar jogadas ensaiadas…”

Rubens Minelli

Os resultados obtidos referendaram as inovações promovidas na sistemática colorada. Em 14 partidas, o Inter conquistou 13 vitórias e um empate, marcando 50 gols e sofrendo apenas um. Excelentes, os números representaram com justiça o alto nível das exibições alvirrubras, que motivaram comparações, de parte da imprensa europeia, entre o Clube do Povo e o Ajax de Cruijff, Neeskens e companhia, que recentemente conquistara três Ligas dos Campeões consecutivas.

Inter encantou o público europeu

“A excursão deu o conjunto necessário. Jogamos contra todas equipes imagináveis. Enfrentamos o time do Didi (Fenerbahçe, atual campeão turco), que, na época, falou que a gente tinha que ter cuidado, pois seríamos goleados. No intervalo, ele foi no nosso vestiário e pediu calma, estava 4 a 0. Esta experiência deu muita base, especialmente para os jovens. Com ela, o grupo se uniu mais ainda.”

Jair

De volta ao Rio Grande do Sul, o Inter se deparou com o primeiro grande objetivo do ano. Atual hexacampeão gaúcho, o Clube do Povo ansiava por chegar ao sétimo título consecutivo, assim igualando a maior sequência até então registrada no estado, feito ostentado pelo maior rival.

Lula balança as redes tricolores

Logo na estreia do torneio, sonora goleada de 6 a 0 sobre o Ypiranga de Erechim empolgou a torcida colorada. Mais 14 triunfos em outras 17 partidas nutriram a obsessão vermelha e serviram de prólogo perfeito ao primeiro Gre-Nal válido pelo certame, disputado em 13 de julho de 1975.

“O Flávio,

ele tinha uma coisa:

de frente, não perdia gol”

Caçapava sobre Flávio Minuano

Clássico de número 217 na história, o embate marcou a reestreia de Flávio Minuano, o Bicudo, com a camisa colorada. Revelado pelo Clube do Povo em 1961, o atleta retornava ao Inter após vitoriosa carreira nos gramados de São Paulo, onde defendeu o Corinthians, Rio de Janeiro, estado no qual atuou com as cores do Fluminense, e Portugal, país em que viveu como atleta do Porto. Artilheiro nato, o camisa 9 ignorou o grande público que tomou o Estádio Olímpico e inaugurou o marcador após assistência de Valdomiro.

Minutos depois, Carpegiani, Lula, Vacaria e Falcão colocaram a defesa do Grêmio na roda pelo lado esquerdo. Lançado pelo lateral, o camisa 10 Paulo César entortou a marcação e, da entrada da pequena área, fuzilou Picasso para marcar o segundo tento, definitivo para a vitória, apesar do desconto mandante que viria na sequência.

O Colorado seguiu construindo bonita campanha no Estadual até o dia 10 de agosto, quando um Beira-Rio abarrotado sediou a decisão do torneio. Depois de empate sem gols no tempo normal, a finalíssima seguiu para a prorrogação, onde Flávio, uma vez mais, brilhou.

Povo colorado, em 1975, chegou ao hepta gaúcho

Após grande jogada de Valdomiro pela direita, Ancheta quase fez contra, mas foi salvo por Picasso. O rebote, porém, ficou com o camisa 9 do Clube do Povo, que desferiu canhotaço indefensável. O hepta era nosso. O histórico patrão do Rio Grande reafirmava, uma vez mais, sua soberania em terras gaúchas.


O Brasil começava a ficar vermelho


Quarta-feira, 20 de agosto de 1975. No Beira-Rio, dezenas de milhares de colorados e coloradas tomaram as arquibancadas para torcer pelo Clube do Povo na rodada de abertura do Brasileirão. Embalado pela conquista estadual, o Inter deu continuidade ao bom momento e derrotou, por 3 a 1, o Figueirense, atual vice-campeão de Santa Catarina.

Manga, Cláudio, Figueroa, Hermínio, Vacaria e Falcão; Valdomiro, Escurinho, Flávio, Carpegiani e Lula

Pitoresco, o regulamento do Nacional de 1975 priorizava o futebol ofensivo. Assim, equipes que triunfassem por diferença superior a um gol somavam três pontos, enquanto vitórias magras rendiam apenas dois. Decidido a construir a melhor campanha possível, o Clube do Povo voltou a vencer na segunda rodada, desta vez de goleada. Na Fonte Nova, Lula, duas vezes, Carpegiani, Flávio e Altivo, contra, marcaram no 5 a 0 alvirrubro sobre o Vitória, comprovando a força do unido grupo colorado.

“Nós concentrávamos no Estádio, cada um tinha seu companheiro de quarto. Isto rendia muita piada, diversão. Éramos uma família. Nunca teve briga ou problema, e quando entrávamos em campo, tínhamos que ganhar. Era uma equipe muito forte. Figueroa, Vacaria, Carpegiani, Falcão, Caçapava, Lula, Valdomiro, Jair… algo maravilhoso.”

Manga

Repleto de craques, o elenco vermelho convivia com constante desconfiança de parte da crônica esportiva, que não entendia como Minelli era capaz de gerir o grupo de modo a evitar quaisquer rugas entre os atletas, todos sedentos por minutos. Enquanto muitos procuravam por crise, o Clube do Povo seguia acumulando vítimas, e assim encerrou a fase inicial do Brasileirão na liderança de sua chave, somando outras seis vitórias – três por vantagem considerável -, dois empates e uma única derrota.

Schneider, Jair, Luís Fernando Gaúcho, Pontes e Escurinho – que elenco!

“De uma maneira geral, eu trabalho em grupo. Acho que o futebol é um esporte coletivo em que você não pode deixar nenhum detalhe de lado. Então, é evidente que existem aqueles com quem você tem mais afinidade, mas, de uma maneira geral, quando se fazia cobrança ou elogio, era com todo mundo junto e pra todo mundo. Eu sempre trabalhei dessa maneira, não gostava de destacar um ou outro pra não cometer injustiça com os demais.”

Rubens Minelli

Igualmente vitorioso foi o início da segunda fase para o Colorado. Integrante do Grupo 2, o Clube do Povo derrotou por 2 a 0 Atlético-MG e Tiradentes, nas rodadas um e três, e aplicou 4 a 0 no Remo, na segunda partida que disputou na chave. Na sequência, os comandados de Minelli empataram em 1 a 1 com o Cruzeiro e seguiram para encarar o Fluminense, atual campeão carioca, que vivia a mágica era da ‘Máquina Tricolor’.

Com desfalques dos dois lados – Rivellino do deles, Falcão de nossa parte -, o excelente duelo valeu ao Inter três pontos, conquistados graças a triunfo de 3 a 1. Ainda no primeiro tempo, Cláudio Duarte abriu o placar para o Inter. Gil, cedo na etapa final, empatou para os visitantes, mas Figueroa, em rebote de chute de Flávio, e o próprio Minuano, servido por Escurinho, garantiram a alegria do povo colorado e a liderança do Grupo.

“Dentro do campo,

nós tínhamos uma amizade muito grande.

Todos queriam a mesma coisa.”

Valdomiro

O Inter viveu seu momento de maior oscilação dentro do Brasileiro a partir da sexta rodada da segunda fase, finalizada com empate de 1 a 1 diante do Corinthians. Após, o Clube do Povo, ainda sem Falcão, e também desfalcado de Valdomiro e Lula, foi surpreendido pelo excelente América-RJ de Bráulio, vitorioso por 1 a 0 no Maracanã.

Caçapava em ação contra o Coritiba

Um empate sem gols com o Coritiba, fora de casa, serviu de último capítulo para a hesitação rubra, que chegou ao fim através de triunfo por 2 a 0 sobre o Guarani, no Beira-Rio. Líder de seu grupo, o Colorado, que ainda registraria igualdade sem gols com o Palmeiras, avançou para o octogonal que antecedia os duelos eliminatórios.

“Esse time tinha

vergonha de perder.”

Falcão

De um lado, Inter, Santa Cruz, Flamengo, São Paulo, Portuguesa, Sport, Grêmio e Náutico. Do outro, Fluminense, Cruzeiro, América-RJ, Palmeiras, Corinthians, Guarani, Botafogo e Nacional do Amazonas. De cada grupo, apenas dois avançariam rumo às semifinais. Evitar erros era imperativo para dar continuidade ao sonho de colorir o Brasil em vermelho, e o Colorado gastou sua cota de vacilações logo na abertura da fase, quando sucumbiu, em Recife, ao Tricolor do Arruda.

“Quando nós perdíamos uma partida, e nós perdemos três partidas, no outro dia tu não via ninguém na rua. Todo mundo ficava escondido dentro de casa, envergonhado, esperando o quê? Que passasse rápido até o outro jogo. Porque a gente sabia que ia ganhar.”

Valdomiro

A reabilitação colorada foi imediata, símbolo da indignação do elenco. No Beira-Rio, Dadá Maravilha não foi capaz de causar problemas à defesa do Clube do Povo, diferente de Peri, seu companheiro de Sport. O tento rubro-negro, porém, saiu apenas aos 39 da segunda etapa, quando o Inter já vencia por 3 a 0, um gol de Valdomiro.e dois de Flávio, que chegou aos 16 no torneio, número que valeria ao craque a artilharia do certame.

Matador, Flávio foi o goleador do Brasileirão de 1975

Na rodada seguinte, o São Paulo, embora mandante, atuou completamente retrancado no Morumbi, e assim assegurou 0 a 0 que o manteve vivo na briga pelas semifinais. Ao time de Minelli, o ponto conquistado permitiu igualar a contagem do Santa Cruz, líder da chave.

“Éramos um time muito unido.
Não só dentro de campo, mas também fora dele.
Se alguém estava com problema, a gente tratava de ajudar.”

Figueroa

Na quarta rodada, Inter e Grêmio disputaram o 222º Gre-Nal da história. Escalado com Manga; Cláudio, Figueroa, Tião e Vacaria; Falcão, Caçapava e Carpegiani; Valdomiro, Flávio e Lula; o Clube do Povo assumiu as rédeas da partida desde os primeiros movimentos e, de tanto martelar, abriu o placar em gol contra de Beto Fuscão.

O tento, único da partida, saiu aos 26 minutos, e aproximou o time de Minelli dos matas, realidade que ficou ainda mais tangível após vitória por 1 a 0 sobre o Náutico, em Recife, conquistada com a solitária artilharia de Lula. Restavam duas rodadas.

Lula foi decisivo no Brasileirão de 1975

O Clube do Povo chegou para a última rodada do octogonal na terceira colocação. Dono de 9 pontos, o Colorado somava dois a menos do que o Santa Cruz, vice-líder da chave. Com 12, o Flamengo liderava. Dramático, o cenário poderia ser diferente não fosse por empate de 1 a 1 com os cariocas, no Beira-Rio, em 30 de novembro.

“O povo colorado

merecia ser campeão.”

Figueroa

Partida que registrou a maior renda da história do Brasileirão em Porto Alegre até aquele momento, um total de 604.575,00 cruzados, o duelo entre Inter e Flamengo contou com gol de Escurinho para o time da casa. Acima de qualquer avante colorado, no entanto, foi o goleiro rubro-negro Cantarele quem brilhou na jornada, impedindo novo tento vermelho e legando pesadelos à Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.

“A gente dava liberdade pros guris das categorias de base. Eram iguais a nós. Se nós errávamos, eles davam bronca.”

Valdomiro

Não restava alternativa. Diante da Portuguesa, no dia 4 de dezembro, o Inter precisava vencer ou vencer. Sem Flávio, Minelli escalou o Clube do Povo com Luís Fernando Gaúcho no comando do ataque. Na meia, Escurinho voltava a formar, após período no banco de Caçapava, trio ofensivo com Falcão e Carpegiani, alternativa recorrente nas partidas em que o triunfo se fazia mais provável (ou necessário). Toda a ousadia de Rubens foi recompensada logo aos 18 da primeira etapa, quando Carpegiani abriu o placar.

Ficha de Luís Fernando Gaúcho: atacante contribuiu na campanha da primeira taça nacional

O outro Paulo, Falcão, ampliou aos 21, enquanto aos 24, mas do tempo segundo, Luís Fernando, oriundo dos juvenis, anotou o terceiro. Com o resultado, o Clube do Povo garantiu três pontos que, somados à vitória de 3 a 1 do Santa Cruz sobre o Flamengo, em pleno Maracanã, classificaram o Inter para as semifinais do Brasil.

“Teve alguma coisa mágica

nessa história.”

Falcão

Conquistada graças à força do Celeiro, a segunda colocação no octogonal obrigava o Colorado a viajar. Na luta pela decisão, o adversário seria a Máquina Tricolor do Fluminense. Quem avançasse, teria de encarar Cruzeiro ou Santa Cruz, que decidiriam vaga no Arruda. Era hora de ser protagonista.


Máquina? Não se compara à Academia!


O Fluminense não era tratado como Máquina por acaso. Geração histórica no Tricolor carioca, a nominata, que contava com nomes a exemplo de Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio e Paulo Cezar Caju, tricampeões do mundo com o Brasil em 1970, atingiu seu ápice em 75, com a contratação de Rivellino, outro dos craques da Seleção que venceu a Copa do México.

Na foto publicada pelo Twitter do Fluminense, Caju e Beckenbauer

Além de título estadual, a temporada de estreia de Riva também ficou marcada por amistoso do time das Laranjeiras com o Bayern de Munique de Gerd Müller, Beckenbauer, Sepp Maier e Rummenigge. No Maracanã, os donos da casa levaram a melhor: 1 a 0. Comandante do Fluminense, apenas Didi não tinha o direito de se empolgar com a aparente iminência da taça nacional. Afinal, ele já somava uma derrota acachapante para o Inter em 1975, ocorrida ainda no início do ano, quando treinava o Fenerbahçe.

“Aquele time do Inter de 1975

seria, hoje, melhor

do que o Barcelona.”

Figueroa, em 2014

Didi, porém, se empolgou, e, na véspera da partida, que seria disputada no dia 7 de dezembro, subestimou a força colorada. O Inter estava em declínio, afirmou, e por isso o time que mais temia era o Cruzeiro. Enquanto o rival gracejava, Minelli armava a arapuca perfeita para anular os cariocas.

Manchete do Jornal dos Sports (RJ) um dia antes da semifinal

“Se tu marcares o Rivellino,

nós ganhamos o jogo.

Minelli para Caçapava, na preleção

A imprensa do Rio sabia da qualidade do Inter, equipe que tratou ao longo do Brasileirão como “timaço”. Até por isso, os periódicos locais convocaram as torcidas rivais a se somarem aos tricolores nas arquibancadas do Maracanã, palco que recebeu público na casa das 100 mil pessoas. A festa parecia pronta, mas um péssimo convidado estava decidido a atrapalhar as celebrações. Escolhido por Minelli, Caçapava tinha a missão de anular o craque Rivellino.

“Tá morto,

professor!”

A resposta de Caçapava

Nascido em Caçapava do Sul, Luís Carlos Melo Lopes fez história apelidado em referência a sua terra natal. Arma de Minelli para jogos mais delicados, não titubeou ao descobrir que seria responsável por marcar o craque tricolor. Confiante, o volante ainda recebeu conselhos de Falcão antes do jogo ser iniciado e, assim, não deu respiro ao camisa 10 adversário, à época famoso pelo drible do elástico.

“Tudo que eu enxergava na minha frente era Rivellino. Era o jogo da minha vida. Quando começou, meteram uma bola pro Riva. Ele puxou a bola, levou, e eu não deixei ele voltar. Dei no meio dele, com bola e tudo. E aí o juiz disse pra ele levantar, que se não eu ia matar ele (risos).”

Caçapava

A solidez defensiva do Inter irritou o Fluminense, que esperava resolver a partida sem maiores problemas. Dono da bola, o Tricolor, reduzido a insossos e pouco objetivos passes laterais, não conseguia fugir da briosa marcação colorada. Desferidos a esmo, tampouco os arremates de longa distância assustaram Manga.

Quem metia medo era o Clube do Povo, especialmente com os arranques de Lula. Da inquietude carioca, o ponta-esquerda colorado tirou proveito aos 33 minutos de jogo. Dono da camisa 11 do Inter, ele tabelou com Falcão e, servido por mágico passe de trivela, surgiu livre nas cercanias da pequena área rival. Fulminante, seu arremate de canhota não pôde ser defendido por Félix. Gaúchos na frente, sob a batuta do maestro Minelli.

“O Fluminense tinha uma jogada forte, que era o Riva metendo a bola no Gil, o ponta-direita. Então, a gente trancou um zagueiro atrás pra evitar essa bola. Foi o único jogo em que não fizemos marcação individual. Liberamos a dupla de zaga deles e bloqueamos o meio de campo.”

Falcão

A volta das equipes dos vestiários não alterou o cenário da partida. Impecável, a defesa colorada, liderada pelo intransponível xerife Elias Figueroa, legítimo proprietário de qualquer grande área que protegesse, não oferecia centímetro de grama ou segundo de respiro aos donos da casa. A intensidade da retaguarda era compartilhada pelo ataque alvirrubro, que teve seu ânimo renovado a partir da entrada de Jair.

“Eu era o coringa do Minelli. Ele me botava na ponta, de meia ou centroavante e eu tinha facilidade em qualquer posição.”

Jair

Substituto de Valdomiro, o futuro Príncipe prendeu, na casa dos 30 minutos da etapa final, dois marcadores pela direita. Com a canhota, chamou Falcão para tabelar, ao que o maior camisa cinco da história respondeu dominando no peito e escapando de zagueiro. De volta a Jair, a bola logo foi passada, pelo camisa 13, a Carpegiani. Desesperado, Silveira, defensor carioca, tentou levantar bola, grama e Paulo Cezar. Terminou somente com a relva.

“Quando acordaram,

já não dava mais.

Quase levaram o terceiro.”

Lula

No domínio, Carpegiani aplicou desconcertante drible da vaca no defensor. A bola correu precisa, como se estivesse presa aos pés do camisa 10 por um elástico, até a altura da marca do pênalti. Félix já deixava o gol atabalhoado quando a chuteira de Paulo voltou a encontrar a bola, desta vez para um sublime e elegante arremate de cobertura, que intrépido voou aos barbantes cariocas. O Inter estava na final. Que viesse o Cruzeiro!


Iluminado dono do Brasil


Além da classificação à final, a vitória no Maracanã também garantiu ao Clube do Povo valioso período de preparação para o confronto contra o Cruzeiro. Disputando duas partidas por semana desde o início de outubro, o Colorado contaria com hiato de sete dias entre o duelo com o Fluminense e a decisão nacional. Inicialmente comemorado, entretanto, o intervalo livre de compromissos logo virou uma dor de cabeça para Rubens Minelli. O primeiro problema foi Manga.

“A semana antes da final foi muito complicada. Começamos a treinar na segunda-feira, quando eu machuquei dois dedos no treinamento. Fui ao Hospital e colocaram uma tala de gesso. No domingo, estive no vestiário às duas da tarde e falei para o doutor que ía jogar. Ele não acreditava, mas eu pedi que ele tirasse o gesso.”

Manga
Atletas colorados fizeram festa no Maracanã lotado

Além das incertezas na meta, o técnico do Clube do Povo também conviveu com crescente indecisão quanto às condições de jogo do craque Lula. Grande nome da semifinal, o camisa 11 alvirrubro passou a semana anterior à decisão com o joelho inchado, fruto de pancada sofrida no Maracanã. Diante do provável desfalque, Minelli cogitava escalar Jair ou Escurinho, duas improvisações. Como nunca até então, o jovem Beira-Rio precisaria fazer a diferença. Disso, Valdomiro sabia.

“O Cruzeiro tinha um baita de um time, mas nós tínhamos confiança, ainda mais decidindo o título aqui no Beira-Rio, com o apoio da nossa torcida. Nós tínhamos um jogador a mais em campo: a torcida do Internacional.”

Valdomiro

E a mobilização foi impressionante. Embora a final estivesse marcada para o domingo 14 de dezembro, desde sexta-feira faltavam quartos nos hotéis de Porto Alegre. Ainda antes, na quinta, os ingressos para a torcida colorada haviam sido esgotados. Gigante, o Beira-Rio parecia pequeno comparado à paixão da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, que chegava dos quatro cantos para a capital gaúcha. Todos queriam jogar a decisão – o povo, a partir das arquibancadas, e os atletas, na relva abençoada.

“Não vou ficar fora

desta decisão

de jeito nenhum.”

Lula
O incomparável povo colorado fez a diferença

Inabalável, a confiança colorada jamais flertou com a soberba. Do outro lado, enquanto isso, o Cruzeiro se deixava iludir com o carinho da imprensa mineira. Inocente, o meio-campista Eduardo chegou a declarar que Caçapava e Carpegiani não podiam atuar juntos, insinuando que as características dos atletas alvirrubros seriam excessivamente distintas. A melhor resposta para as críticas, o Clube do Povo sabia, viria dentro de campo. A final estava chegando.

“Agora,

é tudo conosco!

Não dá pra perder!”

Figueroa, no túnel de acesso ao campo

Rica, a língua portuguesa carece de adjetivos que definam com justiça a magnificência de Figueroa. Zagueiro que ocupa a mais alta prateleira dos craques defensores, o chileno era também um líder nato. Capitão, usou de poucas e precisas palavras para conduzir seus companheiros ao campo de jogo. Diante de mais de 80 mil pessoas, o Inter estava escalado: Manga; Valdir, Hermínio, Don Elias e Chico Fraga; Caçapava, Carpegiani e Falcão; Valdomiro, Flávio e Lula.

O Inter conhecia a qualidade do Cruzeiro, tradicional equipe já campeã do Brasil, em 1966, e que contava com craques à exaustão em seu escrete. Titular na Copa do México, Piazza capitaneava outras estrelas como Raul, Nelinho, Zé Carlos, Joãozinho e Palhinha, todos selecionáveis. Também por este motivo, o Clube do Povo aceitou que a etapa inicial fosse disputada em ritmo reduzido, marcado pelo constante estudo das duas partes.

“Não vamos

menosprezar o adversário

e cometer o mesmo erro

do Fluminense.”

Carpegiani, antes da partida

Do lado visitante, Nelinho saía muito pouco ao ataque, passando a maior parte do tempo preso à lateral, atento aos movimentos de Lula. Pelo Inter, Valdir, que assumira a titularidade da direita após lesão de Cláudio Duarte, adotava o mesmo comportamento com Joãozinho. Conscientes de que qualquer centímetro poderia ser fatal se oferecido aos craques do rival, tanto Minelli quanto Zezé Moreira visivelmente mantiveram suas equipes presas a algumas amarras durante os 45 minutos que inauguraram a partida.

“Quando eu me apresentei no profissional, nunca esqueço, ele (Minelli) falou pra nós, que estávamos subindo, que não conhecia ninguém. Então, quem queria, precisava mostrar serviço naquele momento. Quem mostrasse valor, ficava.

Chico Fraga

Marcada por defesas trancadas e ataques anulados, a abertura da partida contou com grande quantidade de arremates de longa distância, em geral desferidos por elementos surpresa. Dono da lateral-esquerda colorada desde as semifinais, quando Vacaria deixara o time por lesão, Chico Fraga iniciou o confronto disposto a provar seu valor e, logo aos 9, soltou direitaço que Raul milagrosamente espalmou em escanteio.

Caçapava (8) brilhou na reta final do Brasileirão

Primeira chance do jogo, o chute de Chico não demorou a receber companhia na relação de melhores momentos da partida. Após tabelar com Carpegiani, Falcão costurou da direita para o centro e, aos 12 minutos, finalizou rasteiro. Venenosa, a bola picou na frente de Raul, que defendeu em dois tempos, por pouco não soltando o rebote nos pés de Flávio.

A resposta do Cruzeiro chegou aos 25. Bem servido por Zé Carlos, Eduardo lançou Palhinha. O centroavante até finalizou forte, mas esbarrou na primeira boa aparição de Manga, goleiro que seria um dos destaques da final. Pouco depois, Valdomiro, de canhota, exigiu, no último lance de perigo da etapa inicial, nova intervenção de Raul. Assim que o relógio indicou 45 minutos, o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia apitou para iniciar o intervalo.

“Valdô era um jogadoraço. Sempre treinávamos bola parada, e ele colocava onde queria. Se eu passava a mão no cabelo, ele sabia que a bola era curta. Se fazia algo no rosto, era mais comprida.”

Figueroa sobre Valdomiro

Carpegiani, Valdomiro, Figueroa, Flávio e Lula. Durante os 15 minutos que antecederam o segundo tempo, a torcida colorada repetiu os nomes do quinteto como se fossem um mantra. Mantida a igualdade ao fim da partida, o regulamento previa meia-hora de prorrogação e, em último caso, pênaltis para decidir o campeão do Brasil. A nominata continha os prováveis batedores do Inter. Cada vez mais, a bola parada despontava como principal esperança em um jogo tão truncado.

Carpegiani abriria as penalidades para o Inter

Roberto Batata, verdade seja dita, teve a oportunidade de modificar os rumos da partida quando, aos seis, recebeu excelente passe de Palhinha. A centímetros da pequena área, o ponta-direita celeste não conseguiu o domínio e deixou ela escapar, tendo que retornar até a marca do pênalti para então arrematar. O atraso permitiu que Figueroa bloqueasse a finalização. Brilhava o zagueiro!

O Gol Iluminado estava chegando

Lançado pela direita na casa dos 10 minutos, Valdomiro também queria reluzir. Infernal, o 7 colorado deu uma meia-lua em Isidoro, seu marcador, e partiu em direção à linha de fundo. Desesperado para impedir que o craque alvirrubro cruzasse, Piazza exagerou na força e, no lugar de recuperar a posse, ofereceu falta perigosíssima ao Inter. Pintava uma chance, saudada pelo povo aos gritos de “É Colorado! É colorado!”.

“Hermínio!

Eu vou fazer o gol.”

Figueroa, enquanto partia para a área rival

Simulacro de escanteio, a falta que Valdomiro sofrera cobrava cruzamento açucarado para a grande área cruzeirense. Especialista em bolas paradas, o ponta-direita ajeitou a esférica com o devido carinho. Neste instante, abarrotados atrás da antiga goleira do placar, milhares de alvirrubros perceberam, atônitos, o surgimento de um feixe de luz entre as nuvens que poluíam o céu da quase veranil tarde em Porto Alegre.

“Sabes que,

quando eu cabeceei,

eu já gritei gol?”

Figueroa

Travestido de torcedor, o sol indicou onde a bola deveria ser alçada, sugestão percebida pelo cobrador, que levantou com precisão, e igualmente constatada por Figueroa, que subiu para cabecear. Com a testa, consciente, o capitão colorado resvalou. Intocável, a bola partiu em direção ao canto direito de Raul, beijou o solo a centímetros da linha fatal e, apesar do golpe de vista do goleiro, somente flertou com o pé da trave antes de morrer nas redes. Saía o Gol Ilumilado!

“Só depois eu vi, na televisão e nas fotos, que tinha um raio de luz ao redor da minha cabeça.”

Figueroa

A desvantagem no placar obrigou o Cruzeiro a se soltar. Atentos aos sinais que o jogo oferecia, os visitantes também decidiram apostar no seu especialista em bolas paradas, que apareceu pela primeira vez aos 13. À direita da meia-lua da grande área colorada, Nelinho cobrou falta com muita força. Colocando seu tradicional efeito na batida, o lateral-direito quase enganou Manga, mas o goleiro alvirrubro exibiu sensacional poder de recuperação para mandar em escanteio.

“Joguei com fita nos meus dois dedos.

Graças a Deus, eu fui bem e dei

o Campeonato ao Internacional.”

Manga

Já no século XVII, Isaac Newton alertava que toda ação tem uma reação. Terceira de suas leis da física, a máxima foi atestada por Lula no gramado do Beira-Rio. Afinal, se Nelinho assustava no ataque, o lateral oferecia espaços na defesa. O primeiro vazio percebido pelo ponta-esquerda colorado valeu ao camisa 11 campo aberto até a pequena área, de onde completou cruzamento rasteiro de Valdomiro. Forte demais, o chute superou o travessão.

Espaços apareceram em abundância na etapa final

Aos 16, Nelinho cobrou escanteio fechado e com força. A bola passou por cima de Manga, mas o goleiro conseguiu encaixar a esférica, já na queda, com apenas uma mão. Dois minutos depois, Lula respondeu e, lançado por Valdomiro, invadiu a área e chutou rasteiro. A finalização explodiu no pé do poste que outrora participara do tento de Figueroa, mas o gol não saiu.

“Ganhamos do Cruzeiro um jogo que poderíamos ter perdido também. Foi um confronto muito equilibrado. O Manga fez defesas muito boas, o Raul também do outro lado.”

Rubens Minelli

Depois de tanto tentar por cima, Nelinho apostou na meia-altura. Aos 22, o lateral cobrou falta pela esquerda da intermediária de ataque. Nos primeiros segundos que passou no ar, a bola passou à direita da barreira. Já na altura da grande área, porém, o efeito carregou o arremate até o canto oposto da meta colorada. Curva indefensável? Não para Manga, que encaixou sem oferecer rebote.

MANGA!

Convencido de que não brilharia como artilheiro, o craque mineiro decidiu ser garçom e, transcorridos 25 minutos, bateu escanteio na primeira trave. De carrinho, Moraes finalizou. Como um gato, Manguita pegou. Inspirado pelo companheiro de posição, Raul, aos 39, também brilhou: o arqueiro saiu nos pés de Lula e impediu que o ponta completasse para as redes após maravilhosa assistência de Flávio.

“A gente sabia

que precisava ganhar.”

Figueroa

Apesar das mudanças do técnico Zezé Moreira, que sacara Eduardo e Batata para as entradas de Sousa e Eli, o Cruzeiro careceu de forças para incomodar o Inter nos instantes de encerramento da partida. Encaixado defensivamente e contando com o fôlego renovado de Jair, substituto de Valdomiro, o Clube do Povo também não fez questão de dar continuidade à perigosa correria que tanto fazia Manga trabalhar. O título, pouco a pouco, tomava contornos de realidade. Até que, aos 48 minutos e 50, ele foi oficializado.

O estádio lotado e o campo invadido nas lentes do Canal 100

“Eu fui um jogador que era torcedor.

Pra mim, não tem outro clube.

O meu se chama

Sport Club Internacional.”

Valdomiro

Após falta cavada por Hermínio, Dulcídio soprou pela última vez o apito. Para delírio das mais de 80 mil pessoas, o Inter era campeão brasileiro. No cimento e na grama, os torcedores faziam a festa, que depois viraria carnaval nas ruas de Porto Alegre, tomadas por uma centena de milhares de colorados e coloradas. Pela primeira vez, o Sul do Brasil conquistava o país. Enfim, o Clube do Povo vencia o Nacional.

Não pense, contudo, que este parágrafo serve como fim. Pelo contrário, a história iniciada em 14 de dezembro muito em breve seria continuada. À porta do Beira-Rio, Bi e Octa batiam. Logo, eles teriam seu lugar. A narrativa do maior time da história do futebol brasileiro estava apenas começando. Sortudos nós, que o tivemos. Viva o Internacional, glória do desporto nacional!

Raio-X: as informações da jornada contra o Vasco

Vice-líder nacional, o Inter busca, neste domingo (17/10), a quarta vitória consecutiva no Brasileirão. Confronto da 17ª rodada do torneio, o duelo entre Clube do Povo e Vasco da Gama ocorre a partir das 18h15, no Beira-Rio. Para ficar por dentro de tudo sobre a partida, confira, abaixo, o nosso Raio-X!


Pra cima deles, Colorado!

O Inter encerrou neste sábado os preparativos para o duelo diante do Vasco. No CT Parque Gigante, Eduardo Coudet aproveitou o lindo dia de sol para realizar exercícios técnicos e táticos que ajustaram os últimos detalhes da equipe que entrará em campo no Beira-Rio. Contra os cariocas, o comandante colorado contará com o retorno de D’Alessandro, que cumpriu suspensão na rodada passada.

Falar de retornos exige valorizar Rodrigo Dourado. Após 15 meses entregue ao Departamento Médio, o camisa 13 do Clube do Povo voltou aos gramados na última quarta-feira (14/10). Alçado a campo no lugar de Rodrigo Lindoso aos 24 minutos da etapa final, o volante construiu segura atuação na vitória colorada sobre o Sport, fora de casa. Feliz, o atleta conversou de maneira exclusiva com a Mídia do Inter sobre seu retorno, papo no qual fez questão de ressaltar seu coração de torcedor do Inter. Confira:

Dando continuidade à preparação para a partida deste domingo, Patrick participou de entrevista coletiva virtual na última sexta-feira (16/10). Em grande fase, o Pantera, autor de dois gols na vitória sobre o Sport, foi titular nos três triunfos consecutivos que o Inter soma. “Independente da forma com que eles vierem fazer o jogo, nós temos que nos preparar para fazer uma grande partida. É importantíssimo fazer o dever de casa para seguir forte no objetivo.”

Por fim, quem falou neste sábado foi o meia-atacante Marcos Guilherme. Titular nas últimas duas partidas, o Relâmpago, como é carinhosamente chamado pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, projetou o duelo diante do Vasco. “Um desafio muito difícil. Mas nós almejamos a liderança, precisamos vencer, ainda mais em casa, onde somos muito fortes. Estamos nos preparando bem para manter essa sequência positiva”.


Projeções de tabela

Vice-líder do Brasileirão com 31 pontos, o Clube do Povo conta com a segunda melhor defesa e o segundo melhor ataque do torneio, além do artilheiro Thiago Galhardo, que já balançou as redes em 13 ocasiões. Embalados, os comandados de Coudet vêm de três vitórias seguidas no Campeonato, contra Bragantino, fora, Athletico, em casa, e Sport, na Ilha do Retiro. Diante do Vasco, portanto, o Colorado busca o quarto triunfo em quatro jogos, resultado que pode garantir a primeira colocação para o Inter.

Empatado em pontos com Atlético-MG, líder, e Flamengo, terceiro, o Clube do Povo entra em campo pouco depois do time carioca, que também neste domingo visita o Corinthians. O duelo ocorre a partir das 16h. De sua parte, o Galo atua apenas na próxima segunda-feira (19/10), quando enfrenta o Bahia, no Pituaçu. Por ter uma vitória a mais do que Colorado e Urubu, o Alvinegro garante a manutenção da ponta em caso de triunfo sobre o Tricolor. Se empatar, porém, o atual primeiro colocado pode ser superado por seus perseguidores.

À frente do Flamengo devido ao saldo, superior em seis gols, o Clube do Povo precisa, para encerrar a rodada no topo, vencer o Vasco e torcer, além de por tropeço mineiro, para que os cariocas não apliquem goleada histórica no Corinthians. Em caso de empate, o Inter também pode chegar à liderança. Para tanto, o Galo teria de perder e o Urubu não poderia ganhar. Se for derrotado, o Colorado fica ao alcance apenas dos rubro-negros.


Arbitragem catarinense

Braulio da Silva Machado apita, auxiliado por Kleber Lucio Gil e Alex dos Santos. VAR: Rodrigo Dalonso Ferreira. Quarteto de Santa Catarina.


O rival

Vasco, de Talles Magno, perdeu para o Flamengo no sábado passado/Foto: Rafael Ribeiro, Vasco

O Vasco da Gama vive sequência negativa no Brasileirão. Após iniciar o Campeonato na luta pelo topo da tabela, com direito a aproveitamento de 100% nas três primeiras rodadas que disputou, o time carioca já encara mais de um mês sem triunfos no torneio. A má fase custou o emprego do técnico Ramon Menezes, demitido após revés para o Bahia. Em seu lugar assumiu o interino Alexandre Grasseli, derrotado, na última vez em que o Alvinegro foi a campo, pelo Flamengo, em São Januário.

A atual temporada, verdade seja dita, ofereceu poucos momentos de tranquilidade para a torcida do Vasco da Gama. Iniciado com Abel Braga na casamata, o ano de 2020 contou com eliminação precoce nas duas fases de grupo do Campeonato Carioca. Logo depois da primeira queda no Estadual, a diretoria demitiu o técnico e efetivou Ramon, treinador da equipe já durante a interrupção do calendário futebolístico brasileiro.

Ramon Menezes, ex-comandante do Vasco/Foto: Rafael Ribeiro, Vasco

Apoiado na excelente fase dos argentinos Benítez e Cano, o Vasco, normalmente armado no sistema 4-3-3, conquistou cinco vitórias (suas únicas no Campeonato) nas primeiras nove partidas que disputou. O último triunfo, obtido em clássico contra o Botafogo, na 10ª rodada, ocorreu em 17 de setembro. Desde então, a equipe sofreu quatro reveses e somou um único ponto, contra o Red Bull Bragantino.

Benítez e Cano, dupla vascaína/Foto: Rafael Ribeiro, Vasco

Os números provam que a recente má fase do Vasco não se limita ao placar final das partidas. O saldo de gols, por exemplo, que após o duelo contra o Botafogo era seis, fruto de 15 tentos marcados e nove sofridos, hoje indica negativos dois, consequência das atuais 20 ocasiões em que a equipe foi vazada.

Livre para o Vasco, a semana passada contou com muitas novidades em São Januário. Rival do Cruz-Maltino na 16ª rodada do Brasileirão, o Fortaleza disputou, contra o São Paulo, partida antecipada das oitavas de final da Copa do Brasil. Por consequência, o time carioca não entra em campo desde o sábado retrasado (10/10). Neste intervalo, os rivais colorados deste domingo anunciaram as contratações de Ricardo Sá Pinto, novo treinador, e Leonardo Gil, volante.

A dupla, porém, ainda não estará disponível para o confronto contra o Inter. Sob o comando de Alexandre Grasseli, a provável escalação do Vasco para este domingo conta com Fernando Miguel; Yago Pikachu, Miranda, Leandro Castan e Henrique; Benítez, Marcos Júnior, Andrey e Carlinhos; Talles Magno e Cano.

Alexandre Grasseli/Foto: Rafael Ribeiro, Vasco

Transmissão tri!

Dia de Inter é dia de sintonizar na Rádio Colorada! A transmissão mais vermelha da web e do FM ocorre a partir das 17h deste dia 18 de outubro. O horário marca a abertura do ‘Portões Abertos’, pré-jogo legitimamente alvirrubro que contará com participação especial de Mauro Galvão, ex-zagueiro e ídolo vermelho, campeão invicto do Brasileirão de 1979.

Na sequência, às 18h, chega a jornada esportiva do duelo entre Inter e Vasco, a qual se estende até o soar do último apito, quando terá início o ‘Vestiário Vermelho’. Com entrevistas exclusivas e também coletivas, a atração repercute todos os detalhes de mais um embate nacional do Clube do Povo. Acompanhe a transmissão através do FM 95,5 ou via Site e App do Inter!

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As redes sociais do Clube do Povo (@scinternacional no TwitterInstagram Facebook) , você já sabe, apresentam o mais completo minuto a minuto da internet. Neste domingo, não será diferente, com diversas imagens, compartilhadas de maneira instantânea, enriquecendo a cobertura. Na TV, o Premiere anuncia transmissão.


Retrospecto vermelho

É rica a história de encontros entre Clube do Povo e Cruz-Maltino. Ao todo, as equipes já se encontraram em 70 ocasiões, das quais 28 foram encerradas com triunfo colorado, duas a mais do que as finalizadas com vitória carioca. Ocorreram, também, 16 igualdades, em retrospecto que registra 100 gols para cada lado.


Na semana do Rei, um confronto pela realeza

Maior meio-campista da história do futebol brasileiro, o Rei Falcão completou, na última sexta-feira (16/10), 67 anos de idade. Ídolo que figura entre os maiores da biografia colorada, o eterno camisa cinco alvirrubro exibe, exatamente contra o Vasco, um dos capítulos mais lindos de sua trajetória no Beira-Rio.

Falcão comemora o gol marcado sobre o Vasco/Foto: Zero Hora, Divulgação

Bola de Ouro do Brasileirão de 1979, o protagonista do Time que Nunca Perdeu foi o responsável por, diante de um Gigante abarrotado, marcar o gol do Tricampeonato vermelho. Segundo do Inter na finalíssima, o gol do Rei sucedeu tento marcado pelo Príncipe Jajá, e foi o último do Clube do Povo no torneio – mas não do duelo, que ainda contaria com tento de Wilsinho para os visitantes. Colorado, uma vez mais, dono do Brasil!


Ídolos de cá e lá

Atração mais do que especial do pré-jogo da Rádio Colorada, Mauro Galvão não é ídolo apenas do Inter. Revelado, aos 17 anos, pelo Clube do Povo, o ex-defensor conquistou o Brasil logo em sua primeira temporada como profissional. Duas décadas depois, Mauro, dono de carreira extremamente vitoriosa, dominaria a América, desta vez vestindo as cores do Vasco.

Antes mesmo do nascimento de Galvão, porém, Inter e Vasco já contavam com lindas coincidências. Figura que também ocupa posto elevado no panteão de lendas coloradas, Osmar Fortes Barcellos, o Tesourinha, atuou, depois de 10 multicampeãs temporadas consecutivas nos Eucaliptos, com as cores do Vasco. Em São Januário, o ponta conquistaria o Rio de Janeiro e seguiria convocado para a Seleção Brasileira. Com a Canarinho, o imparável driblador venceria, ainda, a Copa América.

“Jogador sozinho não ganha campeonato, mas o Falcão de 79 seria vice!”

O título desta matéria não contém exagero algum. Icônica, a frase, proferida por um gênio, retrata com grande precisão a magnificência de outro. De Veríssimo, Luís Fernando, para Falcão, Paulo Roberto. O Inter tricampeão do Brasil jamais foi repetido. Protagonismo igual ao de nosso camisa cinco? Nunca mais visto. Marcada por superações coletivas e pessoais, a história do craque do ‘Time que Nunca Perdeu’ é única, e merece, no dia do aniversário do Rei, ter seu principal capítulo rememorado. Conheça detalhes da mágica temporada vivida por Falcão em 1979!

Falcão exibe o cobiçado troféu para o povo colorado/Foto: Divulgação

Idolatria afirmada


No futebol, a história da camisa cinco tem um antes e depois. Falcão a divide. Gênio da bola, o revolucionário meio-campista revelado pelo Celeiro de Ases construiu carreira meteórica no Clube do Povo. Lançado aos profissionais em 1973, por Dino Sani, no ano seguinte já seria pilar da máquina de Minelli.

Bicampeão nacional sob o comando Rubens, ainda atingiria, treinado por Cláudio Duarte, o seu quinto título estadual. Idolatrado e figurando no principal degrau do panteão colorado o craque chegou ao fim da década de 70. Ninguém poderia imaginar, portanto, que Paulo conseguiria abrir os anos 80 ainda mais amado.

Ficha de inscrição de 1968 do atleta Paulo Roberto Falcão/Foto: Arquivo histórico do S.C. Internacional

Falcão precisou de pouco mais de dois anos como profissional para ser escolhido o melhor meia do Brasil. Brilhante na conquista do Brasileirão de 1975, o jovem integrou a seleção do campeonato. Aos 22 anos (recém-completados), foi fundamental, por exemplo, diante do Fluminense, na semifinal do torneio, quando em um Maracanã lotado serviu linda assistência para a pintura de Lula, primeira da jornada em solo carioca.

No ano seguinte, o Inter bicampeão do Brasil voltou a contar com a magia de seu camisa cinco, uma vez mais decisivo para a classificação alvirrubra à decisão nacional. Contra o Atlético-MG, desta vez no Beira-Rio, o craque marcou, no último minuto do tempo regulamentar, um dos gols mais bonitos da história do futebol, segundo da virada alvirrubra por 2 a 1. Construído em belíssima tabelinha de cabeça com Escurinho, o tento classificou o Clube do Povo para o duelo diante do Corinthians, encerrado com vitória vermelha, no Gigante, por 2 a 0.

Após insucessos estaduais e nacionais em 1977, o Inter voltou a ser protagonista na temporada de 1978. Terceiro do Brasil, o Clube do Povo conquistou o título gaúcho no Olímpico, antiga casa gremista, após vitória por 2 a 1. Falcão, ao lado de Jair e Valdomiro, foi um dos destaques do feito, inclusive marcando gol em Gre-Nal do primeiro turno.

No Brasileirão, o Colorado sucumbiu, nas semifinais, para o forte time do Palmeiras. A ausência na decisão, todavia, não impediu a escolha do catarinense de Abelardo Luz para o prêmio de melhor do Campeonato. Bola de ouro, o camisa cinco chegava a 1979 sonhando com repetir o brilho individual e elevar o desempenho coletivo.

Os campeões do Rio Grande em 1978. Falcão, em pé, ao centro/Foto: Divulgação

Novos problemas, novas companhias


Primeiro campeonato do ano, o Gauchão de 1979 acendeu importante alerta no Beira-Rio. Os primeiros sinais de oscilação chegaram ainda nos turnos de abertura do torneio, encerrados com tropeços diante de adversários inferiores ao Colorado. Na sequência, Cláudio Duarte, comandante alvirrubro desde 1978, precisou deixar a casamata – embora tenha continuado a ocupar cargo na comissão técnica.

Com a missão de reverter o quadro negativo e construir campanha campeã no octogonal final, desembarcou, então, Zé Duarte, treinador de boas passagens pelo interior paulista, em especial a campineira dupla Guarani e Ponte Preta. Zé, contudo, não apenas falhou em injetar novo ânimo no Inter, como também viu intensificar o clima conturbado nos arredores da Padre Cacique.

“A maior motivação

foram as críticas e a

humilhação que sofremos

durante o Estadual”

Mário Sérgio

Para além de resultados inesperados, caso dos reveses consecutivos para São Paulo de Rio Grande e Novo Hamburgo, o condicionamento dos atletas também se tornou um problema. Pilares da equipe, os ídolos Falcão e Valdomiro sofreram lesões graves, assim como o excelente zagueiro Larry. Reforços, ficava evidente, eram necessários, e eles foram encontrados tanto no mercado, à época inflacionado, quanto no Clube, tradicional formador de estrelas.

Mauro Galvão e Falcão no Beira-Rio em 1979/Foto: Divulgação

A demora para encontrar uma nova formação, porém, custou o Estadual, encerrado no simplório terceiro lugar, posição que cobrou nova mudança na comissão técnica. No lugar de Duarte, chegou Ênio Andrade, então comandante do Coritiba. Com ele, veio também Gilberto Tim, mestre da preparação física e bicampeão nacional pelo Inter ao lado de Rubens. O Brasileirão batia à porta, e o Colorado seguia desencontrado.

Dentro de campo, o Inter acumulou, ao longo dos meses de disputa do Gauchão, novidades em todos os setores. Contratado em 1977, o goleiro Benítez, emprestado para o Palmeiras em 1978, retornou ao Beira-Rio e logo conquistou a titularidade. Na defesa, Mauro Pastor se consolidava como zagueiro, enquanto o lado esquerdo começava a ser desbravado por Cláudio Mineiro. Completando o miolo estava o jovem Mauro Galvão, que, aos 17 anos, já encantava o Brasil.

João Carlos, cria da casa, fazia o corredor direito, faixa de campo ocupada, no meio de campo, por Jair. O Príncipe tinha as magníficas companhias de Batista, mais recuado, e Falcão, trio responsável por ditar o ritmo do Alvirrubro. Mais tarde, para o ataque, chegou Bira, contratado junto ao Remo e com o aval de Dario Maravilha, camisa 9 do título de 1976. Os dois centroavantes travavam, em Belém do Pará, intenso duelo pela artilharia paraense, com Dadá vestindo a camisa do Paysandu.

Montagem do ‘Time que Nunca Perdeu’ não foi simples

Falcão e Jair, estrelas benquistas pela torcida, também desejavam um ponta-esquerda, e tinham em mente o nome ideal: Mário Sérgio Pontes de Paiva. Pesava contra o ‘Vesgo’ seu temperamento intempestivo, que gerava desconfiança na diretoria colorada. As estrelas do meio de campo alvirrubro, entretanto, bateram pé, e prometeram se responsabilizar pelo futuro companheiro. Com ele, argumentaram, conquistariam taças. Mário, então, foi contratado – e logo caiu como uma luva no corredor canhoto.

Disciplinado taticamente, o camisa 11 atuava como um legítimo construtor, armando constantes aproximações ao trio de meias, assim criando quadrado mágico no time de Ênio Andrade. Menos agudo do que Lula, seu predecessor na ponta, o carioca permitia a Falcão presença ainda maior no terço final do campo. Uma geração inesquecível, enfim, tomava forma. Restava azeitar as engrenagens.


Segurança nas fases iniciais


Integrante do Grupo G, o Inter abriu o Brasileirão como visitante. No Couto Pereira, o Clube do Povo enfrentou o Athletico Paranaense, partida disputada em 23 de setembro e encerrada com o placar inalterado. Coube a Bira, três dias depois, marcar o primeiro gol colorado no Brasileirão. Acompanhado por Adilson na súmula de artilheiros alvirrubros, o centroavante foi fundamental na vitória por 2 a 1 sobre o Santa Cruz, em Recife.

“O Inter torna-se grande

quando ninguém acredita nele.

É um time que cresce quando

tudo fica difícil!”

Paulo Roberto Falcão

Na mesma partida, entretanto, o camisa 9 fraturou o braço e, ao lado de Batista, com uma distensão, tornou-se desfalque para as rodadas seguintes. Desconfianças retornavam, embora Jair as tenha parcialmente dissipado na terceira rodada, quando marcou, no Beira-Rio, o tento da vitória sobre o Figueirense.

A quarta rodada reservou ao Inter o primeiro clássico daquela edição do Brasileiro. Em um Beira-Rio lotado, Jair e Falcão apostaram na bola parada e, através de jogada ensaiada que contou com toque do futuro Rei e arremate do Príncipe, venceram o ex-companheiro Manga, então goleiro gremista. Colorado 1 a 0, e a campanha nacional tomava corpo, bem como o psicológico alvirrubro, renovado após o primeiro triunfo em Gre-Nais no ano. Nas jornadas seguintes, dois por 3 a 0, sobre Sport e Coritiba, encaminharam a classificação.

Na reta final da primeira fase, o Inter ainda empatou com América-RJ, por 1 a 1, antes de superar, na oitava rodada, o Rio Branco-ES, por 5 a 1. Diante dos capixabas, Falcão anotou uma pintura para abrir o placar. O camisa cinco emendou de primeira, da entrada da área, cobrança aberta de escanteio feita por Mário Sérgio, pela esquerda. O gol, marcado na goleira do Gigantinho, foi o primeiro do craque no Campeonato, sucedido, na mesma partida, pelo de número dois, quinto da jornada, que saiu em lindo testaço. Depois da goleada, o Clube do Povo encerraria o grupo empatando, no Gigante, com o Operário-MS, placar de 2 a 2.

Se na fase inicial oito equipes avançaram de um grupo com 10, o segundo momento do Brasileirão de 1979 começou a afunilar os participantes do torneio. Disputado por 94 times, o Campeonato daquele ano contou, na fase de número dois, com sete chaves formadas por oito instituições. Destas, apenas duas avançariam. Líder no formato anterior, o Inter sabia que os tropeços precisariam se tornar cada vez mais escassos.

Assim, o Colorado venceu, na primeira rodada, o Goytacaz, do Rio de Janeiro, por 1 a 0, gol de Mauro Pastor. Na semana seguinte, o Gigante sediou novo duelo da Academia do Povo, este perante os gaúchos do São Paulo de Rio Grande. Jair, cobrando pênalti sofrido por Falcão, abriu o escore. Bira, precisamente servido pelo Rei, aumentou, e Mário Sérgio, já na etapa final, fez o terceiro do triunfo por 3 a 1.

Três empates consecutivos, contra Caldense-MG, Anapolina-GO e Atlético-PR, representaram o momento mais delicado do Inter no torneio. Seguro defensivamente, o Colorado custava para deslanchar na linha de frente, muito pela ausência de Valdomiro, com volta aos gramados prevista apenas para o ano seguinte. Até mesmo Falcão chegou a atuar como centroavante em uma das tentativas de Ênio para bagunçar zagas rivais. Foi então que Valdo, como sempre sedento por quebrar paradigmas e recordes, retornou ainda no final do mês de novembro. Mais precisamente, no dia 25.

A reestreia do ídolo ocorreu diante da Desportiva, do Espírito Santo, e foi coroada, logo cedo, com assistência para Bira. Depois, no segundo tempo, o Rei também quis ser garçom, e ofereceu passe maravilhoso para Batista marcar o segundo. O centroavante alvirrubro, que de burro não tinha nada, faria mais dois, o último após lançamento genial de um Falcão cada vez mais à vontade dentro de campo, visivelmente decidido a conquistar o país como protagonista. O duelo, encerrado com o triunfo por 4 a 0, até hoje é lembrado pela infeliz lesão de Zé Rios, lateral do time visitante.

Valdomiro fechou com gol a segunda fase do Brasileirão. O tento, inclusive, foi o único na vitória por 1 a 0 sobre a Inter de Limeira, em São Paulo. Líder de seu grupo, o Colorado gaúcho avançava para o quadrangular antecessor dos mata-matas. Enfrentaria, na Chave C, Atlético-MG, Goiás e Cruzeiro. Do quarteto, apenas um avançaria às semis.

Reforçada na linha de frente, a Academia do Povo finalmente encontrava o equilíbrio que lhe serviria de principal característica. Entre a intransponível retaguarda e o avassalador setor ofensivo, um meio de campo minuciosamente afinado orquestrava o time. Harmônico, o setor contava com os graves de Jair e o apoio de Batista, maximizadores da sinfonia de Falcão, craque já reluzente nas semanas anteriores, mas prestes a se tornar herói nos dias que estavam por vir.

Falcão, o Bola de Ouro do Brasileirão 79/Foto: Revista Placar, Divulgação

Mococa ou Falcão?


Três jogos para chegar às semis. O primeiro, contra o Goiás, ocorreria no Beira. Vencer era imperativo. Dezenas de milhares nas arquibancadas, unidas no mesmo pensamento, apoiaram o time de Ênio Andrade. O jovem Gigante, que acabara de completar 10 anos de vida, queria subordinar o país inteiro de novo. Para isso, jogou junto.

Com Bira, no encerramento da primeira etapa, o Estádio lançou. Ao lado de Cláudio Mineiro, no fundo, pela esquerda, cruzou. Dissimulado, com Falcão fintou a zaga e abriu vazio na área alviverde. Lacuna criada pelo Rei, foi aproveitada pela grande aposta do Monarca: Mário Sérgio, que para as redes arrematou. Gol, da importante vitória por 1 a 0!

Completando a rodada de abertura, o empate entre Atlético e Cruzeiro tornava decisivo o confronto de Inter e Raposa. No Mineirão, os donos da casa precisariam vencer para seguir sonhando com o Brasil. De sua parte, o Clube do Povo sabia que, em caso de triunfo, praticamente garantiria classificação às semifinais. Determinado a vencer o clássico, que envolveu duas das maiores equipes da década de 70, Ênio Andrade escalou uma equipe que estava no limite. Lesionados, Falcão e Valdomiro iniciaram o jogo, mesmo caso de Batista.

“A gente aceitou que

alguns jogassem no sacrifício

porque estamos numa guerra.

E na guerra, meu velho,

cada um usa o que tem de melhor”

Gilberto Tim

Quem estivesse inteiro precisaria, indubitavelmente, jogar por dois. Como jogaram Jair e João Carlos, donos da direita, flanco pelo qual o Príncipe progrediu antes de, aos 25 da etapa inicial, cruzar rasteiro. Na entrada da área, o rei dos voleios não perdoou. Inter, dos pés de seu camisa cinco, na frente. Pouco depois, Joãozinho até igualou, mas a majestade catarinense, que atuava gemendo de dores na clavícula, estava incontrolável. Tamanho sacrífico, bradava, não aconteceria em vão.

Lançado por Valdomiro, Falcão dominou com a canhota, investiu contra Marquinhos, superou o marcador e, da meia-lua do retângulo maior, mandou rasteiro, com a direita. Luis Antonio salvou, mas o rebote foi de Bira, que se atirou em violento carrinho na direção da bola. Chorado, brigado, o tento era colorado. Nos instantes antecessores do intervalo, o corredor direito valeu ao Inter novo gol.

Após corte parcial da zaga, Valdo pegou a sobra, ajeito para a canhota e, a centímetros da risca da grande área, mandou com a canhota, de trivela. Na bochecha da rede rival a esférica morreu. Inter 3 a 1, triunfo até diminuído, no escore, por Alexandre, mas não impedido. Vitória da Academia do Povo, resultado que, somado ao W.O. do Atlético-MG, que entrou em discordância com a CBD, valeu a classificação para as semis.

O Cruzeiro foi uma das muitas vítimas de Falcão no Inter

O adversário colorado nas semifinais seria o Palmeiras, algoz na temporada passada, quando ficou com o vice-campeonato brasileiro. Na final, os palestrinos sucumbiram para o Guarani de Zé Carlos, Careca, Zenon e Capitão. Indigesto, o gosto da prata, esperavam os alviverdes, seria superado em 1979. Terceiro no Nacional anterior, no entanto, o Inter também queria a taça, e entraria em campo sedento por vingança.

Foto: Jornal da Tarde, 13 de dezembro de 1979

Falcão, é claro!


Badalado, o duelo de 180 minutos entre o escrete de Telê e os eleitos de Ênio foi inaugurado no dia 13 de dezembro, no Morumbi. Empolgada com a boa fase alviverde, que superara com 100% de aproveitamento o quadrangular anterior, disputado perante a Flamengo, São Bento-SP e Comercial-Sp, a crônica paulista não hesitou em amplificar o choque que estava por vir.

O periódico Jornal da Tarde, porém, exagerou. Deleitado com as recentes exibições do jovem Mococa, valente marcador que anulara Zico, o noticiário criou um embate particular para o confronto eliminatório, e se permitiu questionar, em manchete garrafal, quem levaria a melhor: o valente meia bandeirante ou o deífico Falcão. Delírio!

As escalações que entraram em campo no Morumbi

A heresia da imprensa sudestina encontrou coro nos 45 minutos que serviram de abertura ao prélio. Superior nas ações do campo, o Palmeiras retornou para os vestiários em vantagem, mínima, no placar. Encurralado pelos locais na maior parte do tempo, o Clube do Povo sofreu muito com as arrancadas de Jorge Mendonça e Rosemiro, donos da direita do ataque palestrino. Apesar do triunfo parcial, todavia, a torcida da casa não encarou com grande euforia o intervalo da peleja. Também pudera, pois Falcão, a instantes do apito paralisador, quase marcou de bicicleta após estonteante tabela com Mário Sérgio. O Inter, afirmavam os alviverdes, entrara no jogo – e não havia Mococa capaz de contê-lo.

Reiniciado o confronto, o Clube do Povo precisou de apenas cinco minutos para empatar. Polivalente, Mário Sérgio foi mais ponta do que meia para arrastar a marcação até a linha lateral do campo. Espaçada, a zaga rival ofereceu espaço para Jair, que não titubeou. Livre, o camisa oito foi percebido pelo companheiro, que serviu rasteira. Fulminante como sempre, Jajá dominou engatilhando e, da intermediária, testou Gilmar, que foi reprovado pelo montinho artilheiro. O roteiro da semifinal, contudo, não seria tão simples ao Clube do Povo, que voltou a ficar no prejuízo aos 10, quando Jorge Mendonça marcou uma pintura.

Falcão e Pedrinho, antes do jogo/Foto: Divulgação

A desvantagem não abalou o Inter, que seguiu martelando. Inteligente, o time colorado percebeu que o chão não seria amigo naquela noite, e tratou de pressionar por cima. Quem mais levou o caminho a sério foi Falcão, que seguiria, até o fim do torneio, convivendo com intensas dores no ombro. Aos 19, o craque atingiu as alturas para completar, em fulminante cabeceio, cruzamento vindo da direita. Por pouco tempo, novo empate era denunciado pelo marcador. Desgostoso com a igualdade, o Rei, que já acumulava felizes súditos no sul, decidiu impor sua nobreza a azarados paulistas virentes.

“Não perdemos

para um time.

Perdemos para o

maior jogador do mundo.

Diretor palmeirense

O relógio indicava 25 minutos quando Mário Sérgio recebeu na esquerda. Com espaço para progredir, o camisa 11 fez o facão e acionou Cláudio Mineiro, que corria rente à linha esquerda da grande área palestrina. Embora travado, o cruzamento do lateral teve direção, e encontrou a cabeça de Bira. Também espirrado, o centroavante escorou para trás, onde estava Valdomiro, mais um que lutava por espaço. Espanada, a bola esbarrou no pé de Mendonça e tomou altura. Desequilibrado, o 10 do Palmeiras tentou afastar. Antes dele, a bola foi chicoteada. Por quem? Falcão, é claro.

Foto: Jornal da Tarde, 14 de dezembro de 1979

De bate-pronto, o arremate do camisa cinco esgaçou os barbantes da cidadela bandeirante. Mágico, o tento só não foi visto pelo artilheiro da noite, que, de modo a não acertar o rival, precisou recolher a perna com violência equiparável à da finalização, assim permanecendo de costas para a meta durante valiosos segundos. Último do jogo, o golaço valeu ao Inter vantagem especial para as pretensões coloradas. Sublime, o feito carrega, até hoje, assinatura das mais fidedignas de Falcão por misturar talento à classe, genialidade e simplicidade, precisão com protagonismo. Obra rara, digna de seu autor.

Disputado diante de um Beira-Rio completamente lotado, o confronto de volta consagrou, de uma vez por todas, a zona nevrálgica do time colorado. Incansáveis, Rei e Príncipe se sacrificaram pelo time, apoiando na mesma medida que fecharam espaços na defesa. Para Jair, a recompensa de tanto empenho chegou na abertura da etapa final. Após cruzamento de Cláudio Mineiro, Bira ajeitou para Adilson, que fez pivô perfeito. Jajá, é claro, não perdoou, e tirou o zero do placar. Irônico, o destino permitiu a Mococa o tento de empate. Placar final, 1 a 1. A luta de todos, enfim, justificada: Inter na decisão. Ao ritmo, óbvio, de Falcão.


Invicto, inédito e jamais igualado


Não bastasse a reviravolta que transformou um ano iniciado de maneira claudicante em finalista do Brasil, o roteiro de 1979 reservava mais emboscadas para a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Classificado depois de eliminar o Coritiba, o Vasco seria o adversário colorado na decisão. Os primeiros 90 minutos reservavam o Maracanã, como palco, e Roberto Dinamite, como possível algoz.

Missão difícil, largar em vantagem pareceu se tornar impossível quando a escalação alvirrubra foi revelada sem Falcão e Valdomiro. Combalida, a dupla, que há muito vinha no sacrifício, precisou dar lugar a Valdir Lima, contratado junto ao São Paulo de Rio Grande, e Chico Spina, ponta muito contestado nas fases de abertura do Brasileirão. O empate, para os mais pessimistas, virava obsessão. Tolos eles.

“Poucos esperavam que o Inter derrotasse

o Vasco quando o empate bastava.

Acontece que nosso time

não sabe jogar na retranca.”

Ênio Andrade

O primeiro apito da final soou às 21h15 do chuvoso 20 de dezembro. Instável, o clima afastou parcela do público, mas não evitou que mais de 60 mil pessoas tomassem as arquibancadas do eterno Maior do Mundo. Confiante, o Colorado não se abalou no mítico estádio para fazer, do limão, uma limonada. Substituto de Valdomiro, Chico Spina marcou dois. Reserva de Falcão, Valdir deu assistência para o primeiro. Impecável como estivera desde setembro, a defesa não vazou. De 2 a 0, a vantagem permitia, de uma vez por todas, maior respiro ao povo vermelho. Restavam míseros 90 minutos.

Os campeões invictos

Benítez, a muralha. João Carlos, incansável, Mauro Pastor, xerife, Mauro Galvão, fenômeno, e Cláudio Mineiro, guerreiro. Batista, gênio, Jair, artilheiro, e Falcão, divindade. Valdomiro, ídolo, Bira, matador e Mário Sérgio, craque. Escalado, o Inter entrou, como de costume, correndo no gramado do Beira-Rio. O Gigante, que fervilhava naquela antevéspera de Natal, respondeu com estremecedor tremular de bandeiras. A confiança do povo atingia escala comparável ao palco do duelo. A exibição colorada também, apesar de Leão, que muito retardou a abertura do placar. Inevitável, porém, o gol primeiro saiu, e teve a cara do time de Ênio Andrade.

Jamais derrotado, o goleiro Benítez repôs com Mário Sérgio, que recuara até a intermediária defensiva para receber. Pela esquerda, o Vesgo percebeu que Bira tomava a frente de seu marcador. Preciso, lançou o nove, que escorou, poucos metros depois do centro do campo, de casquinha. Perspicaz, Jair apareceu nas costas da adiantada defesa rival para, no primeiro toque, fintar Leão. No segundo, finalizou na direção da desprotegida goleira. Aos 41 minutos, o Beira-Rio aumentava os já ensurdecedores decibéis de festejo.

Quatro voltas do ponteiro depois, Falcão quase ampliou. Completo, o Rei lançou Bira, que driblou o arqueiro mas perdeu ângulo. Pela direita da área, o centroavante cruzou rasteiro. Ágil, ali já estava seu garçom, que tentou de letra. Por sorte dos cariocas, o goleiro impediu gol que faria justiça à magnífica campanha construída pelo camisa cinco vermelho. Decisivo em todas as fases, o ídolo dispensou estrelismos em nome dos objetivos. Na decisão, em momento algum foi individualista. Pelo contrário, seguiu ditando o ritmo de seus 10 companheiros, ora desfilando passes açucarados para os avantes, ora retendo a posse e esfriando o time visitante.

Fiel ao estilo de jogo que lhe fizera atingir a melhor forma de sua carreira, o camisa cinco não perdoaria, por óbvio, espaços na retaguarda rival. Espaços como os oferecidos a 13 minutos da segunda etapa, quando Mário Sérgio, de novo ele, lançou da defesa, desta vez para Cláudio Mineiro, que cruzou rasteiro, na direção de Bira. O centroavante finalizou, mas abafado por Falcão, que operou milagre. Abandonado por seus companheiros, o goleiro mal levantara do chão quando surgiu Falcão.

“Nós oferecemos este título

para aqueles que não

acreditavam no time”

Rei Falcão

Um, dois, três passos. Pé de apoio, perna direita no ar, chuteira na bola. Por um instante, corpo completamente fora do chão. O herói era elevado, ficava acima de seus rivais. Superior, como seu futebol. O Rei finalizou, com a seriedade dos grandes, a caminhada da maior equipe da história do principal desporto brasileiro.

Wilsinho até descontaria, é verdade, mas o gol de honra em nada ameaçou o Tri. Título único, posse exclusiva do Time que Nunca Perdeu, escalação inesquecível capitaneada pelo melhor meio-campista que nosso país já viu. O Rei de Roma. O Deus do Beira-Rio. O aniversariante desta sexta-feira (16/10). Parabéns, Falcão!

Falcão comemora o gol do Tri

O primeiro voo de Falcão: no dia do aniversário do ídolo, relembre a estreia do craque pelo Inter

As derrotas não são parte da rotina colorada. Por mais raras que sejam, no entanto, elas não só já ocorreram, como, por vezes, eternizaram-se em nossa história. Algumas, por exemplo, foram comemoradas como verdadeiras vitórias, vide a nebulosa jornada de Quilmes, em 2010. Outras, por não significarem um obstáculo nas caminhadas do Clube do Povo rumo a suas conquistas, acabaram ficando marcadas não pelo tropeço que representaram, e sim pelos aspectos positivos que legaram como aprendizado. Este último é o caso de revés que marcou a estreia oficial do aniversariante desta sexta-feira (16/10), Paulo Roberto Falcão, que comemora 67 anos de idade.


O Clube do Povo levou mais de quatro anos para perder a invencibilidade contra times do interior gaúcho no Beira-Rio. O adversário capaz de quebrar a série colorada foi o Esportivo, comandado por Ênio Andrade e vitorioso, em 15 de abril de 1973, por 2 a 1. Afora o resultado negativo, porém, atualmente a partida traz boas lembranças à torcida vermelha. Naquele domingo de outono, o Gigante presenciou a estreia oficial de cabeludo meio-campista de 19 anos tratado como uma promessa do futebol. Seu nome? Paulo Roberto Falcão.

Falcão, em pé no canto direito, nos tempos de Celeiro

O futuro camisa 5 do Inter já gozava de grande prestígio junto ao povo vermelho, consequência do alto nível apresentado em suas exibições nas categorias de base, sobretudo nas preliminares promovidas no Gigante. Sua proeminência em meio aos mais jovens era tamanha que, mesmo sem ter disputado uma única partida como profissional, fora convocado para os Jogos Olímpicos de 1972, disputados em Munique.

Para o Inter, a derrota em casa não se desdobrou em maiores problemas. O revés, ressalte-se, foi o único sofrido na espetacular campanha dos comandados de Dino Sani no Campeonato Gaúcho de 1973. O Clube do Povo, assim como seu maior rival, disputou apenas a fase final do Estadual, realizada entre doze equipes. Para além da partida contra o Esportivo, o Colorado, praticamente impecável, acumulou 17 vitórias e quatro empates, com 43 gols marcados e 10 sofridos, campanha vencedora dos dois turnos e, portanto, campeã. O título foi o quinto seguido na caminhada rumo ao inédito e jamais igualado Octa!

Clube do Povo seria Octa gaúcho na década de 70. Na foto, Falcão está ao centro, junto de Rubens Minelli

É provável que o excelente aproveitamento no Campeonato tenha contribuído para o esquecimento dos aspectos negativos que resultaram do confronto do dia 15 de abril. Sobre o jogo, inclusive, quem roubou a cena, apesar do ilustre estreante, foi Décio, autor dos dois gols visitantes. Para o Colorado, quem marcou foi Dejair. A escalação do Clube do Povo para a partida contou com Schneider no gol; Arceu, Figueroa, Bibiano Pontes e Jorge Andrade na defesa; João Ribeiro, Carbone, depois Falcão, e Carpegiani no meio; além de Valdomiro, Claudiomiro e Dejair, depois Escurinho, no ataque.

Falcão treina observado por Dino Sani/Foto: Revista Placar, Divulgação

Consta que, no dia seguinte ao prélio, durante treinamento no Beira-Rio, Sani questionou a Paulo César Carpegiani o que ele achara da breve exibição do outro Paulo, o Roberto. Carpegiani, que poucos anos depois comandaria o Flamengo na vitória sobre o Liverpool, no Japão, comprovou o olhar diferenciado que tinha para o futebol ao pedir para o técnico do Inter que escalasse Falcão ao seu lado, pois, juntos, seriam capazes de dominar qualquer partida, independente do adversário.

A conversa com Carpegiani pareceu convencer o comandante colorado, que, aos poucos, deu mais oportunidades para o jovem. Em breve, a aposta se provaria extremamente acertada. Se é verdade que não foi um dos protagonistas na caminhada do pentacampeonato estadual, o futuro Rei de Roma soube cavar sua vaga entre os titulares do Inter. Tanto que, no ano seguinte, quando o Clube do Povo conquistou o Hexa, Falcão já estava consolidado entre os 11 iniciais da equipe vermelha, posição que seguiria ocupando ao longo de toda a década. E que década!

Maior camisa 5 da história do futebol brasileiro, entre os principais meio-campistas da história do esporte, três vezes dono do país para na sequência ser coroado monarca na Itália. Jogador cerebral e moderno, à frente de seu tempo, que ao longo da carreira esbanjou dribles, assistências e gols magistrais. Este foi – e é – Falcão.

Nem o mais criativo romancista, porém, poderia elaborar a história deste ídolo nacional, e, principalmente, do Inter, iniciada por uma derrota. Um revés que serviu de abertura para uma narrativa Gigante, à altura do palco de sua infeliz alvorada. Obrigado por tudo, Rei Falcão, e um feliz aniversário!

Rei Falcão, colorado e campeão!

Top 10: clássicos da literatura colorada

Não é só dentro de campo que o Inter faz seus gols de letra. Fora dele, também. A literatura colorada é recheada de clássicos que enriquecem a cultura do futebol e seu papel como agente social. Na abertura desta semana, separamos 10 indicações de livros que envolvem a nossa história para a torcida ler em casa em tempos de pandemia e ampliar seu conhecimento sobre o Clube do Povo. 

Com autoria de renomados escritores, como Luis Fernando Verissimo, ou grandes ídolos, como Paulo Roberto Falcão, as obras são altamente indicadas para a estante ou cabeceira de todo e qualquer torcedor colorado, dos novos aos mais experientes. Você conhece a história de Abílio do Reis, homem que descobriu centenas de craques colorados? Ou a relação de Escurinho com o samba e a Cidade Baixa? E os colorados que conquistaram o primeiro título da Seleção Brasileira fora do país?  

Confira essas e outras histórias nesta lista imperdível para amantes da literatura e do Clube do Povo!


O Time Que Nunca Perdeu
Autor: Paulo Roberto Falcão
Editora: AGE
Ano: 2009

Um livro para ficar na cabeceira de qualquer colorado. Simplesmente essencial. Qual fã de futebol no Brasil nunca ouviu falar no Inter de 1979? O único time a vencer o Campeonato Brasileiro de forma invicta. Feito até hoje inigualado. Três décadas após a conquista, o grande maestro daquele time presenteou os colorados e coloradas com histórias inéditas dos bastidores, contadas pelo próprio craque.

Paulo Roberto Falcão analisa e comenta jogo a jogo no livro, contando com a colaboração de praticamente todos os jogadores daquele elenco, e trazendo episódios de vestiário e de campo. O lendário camisa 5 ainda destaca como o trabalho do treinador Ênio Andrade e do preparador físico Gilberto Tim era executado com maestria fora das quatro linhas.


No Último Minuto
Autor: Jones Lopes da Silva
Editora: Multilivros
Ano: 2011

Mais que um atleta, Escurinho foi uma personalidade de Porto Alegre. Exímio na arte do futebol e do samba, nascido e criado no mesmo berço que o Clube do Povo. O jornalista Jones Lopes da Silva apresenta, em ‘No Último Minuto – A História de Escurinho: Futebol, Violão e Fantasia’, a vida de Luís Carlos Machado, o talismã colorado nos anos 1970.

Desde cedo, o coração de Escurinho se dividia entre a bola e a música. Exemplo disso foi o ano de 1974, quando não só compôs o enredo da Imperadores do Samba no Carnaval, como também foi o goleador do Campeonato Gaúcho, no ano do hexacampeonato colorado. Os gols decisivos, os títulos, a música, a boemia, a criação simples na região da Ilhota – reduto negro da Cidade Baixa e berço das origens do Inter. Tudo isso e muito mais é contado nas páginas desta obra essencial para todo colorado.


Autobiografia de Uma Paixão 
Autor: Luis Fernando Verissimo
Editora: Ediouro
Ano: 2004

Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, com mais de cinco milhões de livros vendidos, cronista consagrado, desenhista, músico e colorado. Muito colorado. Em paralelo ao seu caminho de sucesso na cultura brasileira, Luis Fernando Veríssimo teve sua vida permeada pela paixão alvirrubra. É este lado do escritor que é revelado em ‘Autobiografia de Uma Paixão’. São as memórias do guri da Felipe de Oliveira, da Vó Elma, dos Eucaliptos, de suas escolhas pessoais e como o Clube do Povo esteve presente nisso tudo. Que honra ter Verissimo conosco!


Nosso Capitão
Autor: Sadi Schwardt
Editora: Libretos
Ano: 2017

“O capitão de uma equipe não representa apenas os colegas e o treinador. Ele é também representante da própria instituição simbolizada pelo escudo da camiseta que veste. Diria que, em última instância, o capitão representa os milhões de torcedores que expressam a força da paixão humana pelo esporte mais popular do mundo”.

Sadi Schwardt, capitão colorado nos anos 1960, vereador de Porto Alegre e radialista.

Grande obra de um craque que nos deixou há pouco tempo, em fevereiro do ano passado, a autobiografia carrega, em mais de 200 páginas, as memórias de um dos maiores laterais-esquerdo da história gaúcha, eleito o melhor do Brasil em 1967 e 68, e um dos primeiros com característica de avanço. Além de recordações e fotos, traz um panorama do Inter, da Seleção Brasileira e do Rio Grande do Sul durante a época da ditadura militar.


1956 – Uma Epopéia Gaúcha no México
Autor: Eduardo Valls
Editora: WS Editor
Ano: 2005

A história de quando o Brasil foi o Inter e o Inter foi o Brasil, em 1956. Contando apenas com jogadores de times gaúchos, a Seleção do técnico Teté, o Marechal das Vitórias, deu aula no Pan-Americano daquele ano e desbancou a favorita Argentina, do craque Di Stéfano. Além do treinador, o Clube do Povo cedeu oito jogadores que foram destaques na campanha: Florindo, Oreco, Odorico, Luizinho, Bodinho, Larry, Jerônimo e Chinesinho. Era a base do Rolinho dando show no México. O escritor e jornalista Eduardo Valls conta com detalhes a histórica conquista, a primeira do Brasil em terras estrangeiras.


Abílio dos Reis, Garimpador de Talentos
Autor: Abrão Aspis
Editora: Acadêmica
Ano: 1995

Talvez os mais jovens não tenham a dimensão de quem foi Abílio do Reis para o Internacional. Homem que não apenas garimpou como lapidou gerações de craques colorados. Um olhar clínico inigualável que ajudou o Clube do Povo a revelar craques como Falcão, Carpegiani, Mauro Galvão, Claudiomiro, Dunga e centenas de outros, seja prospectando ou aperfeiçoando cada um deles.

Publicado em 1995 pelo autor Abrão Aspis, o livro ‘Abílio dos Reis – O Garimpador de Talentos’, conta a trajetória deste que foi inegavelmente o maior descobridor de talentos do futebol gaúcho. O livro ainda conta com prefácio de ninguém menos do que Luis Fernando Verissimo.


Meu Coração é Vermelho
Autor: Ruy Carlos Ostermann
Editora: Mercado Aberto
Ano: 1995 

Em uma homenagem aos 90 anos do Inter, o jornalista e filósofo Ruy Carlos Ostermann brindou a torcida colorada com uma fina obra repleta de informações, depoimentos de ídolos, fotos e encontros brilhantes. Craque da comunicação, o ‘Professor’ passeia pela trajetória alvirrubra com sua inigualável destreza, trazendo entrevistas exclusivas e detalhes sobre capítulos importantes de nossa história. O livro conta ainda com uma reunião de colorados ilustres: Cláudio Cabral, Luis Fernando Verissimo, Ibsen Pinheiro e muitos outros.


Os 10 Mais do Internacional
Autor: Kenny Braga
Editora: Maquinária
Ano: 2009

Colorado apaixonado e jornalista consagrado, Kenny Braga lançou, no ano do centenário, uma lista detalhada dos seus 10 maiores ídolos do Clube do Povo. O time de craques, que têm suas trajetórias e façanhas esmiuçadas no livro, é composto por Carlitos, Tesourinha, Oreco, Claudiomiro, Figueroa, Valdomiro, Carpegiani, Falcão, Manga e Fernandão.


Meu Pequeno Colorado
Autor: Luís Augusto Fischer
Editora: Belas Letras
Ano: 2008

Em uma deliciosa viagem pela história do Internacional, um clube que nasceu em berço humilde, acolhendo as pessoas simples, e conquistou o mundo, o autor acende a faísca da paixão alvirrubra no coração dos coloradinhos e coloradinhas. A obra faz parte da coleção ‘Meu Time do Coração’ e trata de uma história singela, porém poderosa, que não fala apenas de futebol, títulos e ídolos, mas de espírito esportivo, amizade e união. 


A Conquista de um Sonho
Autor: Otavio Rojas
Editora: Nova Prova
Ano: 2007

Nada mais genuíno e emocionante do que torcedores falando de sua paixão, ainda mais aqueles que testemunharam o momento mais importante da trajetória colorada. Esta obra traz 102 histórias de torcedores, dirigentes e conselheiros que estiveram junto ao Inter na conquista do Mundial de 2006, no Japão, sobre o poderoso Barcelona, da Espanha. São pessoas comuns que tiveram, talvez pela primeira vez, a oportunidade de escrever em um livro relatos sobre o time de coração. A obra é organizada pelo conselheiro e ex-dirigente colorado Otavio Rojas.

Escolha o seu gol preferido da história colorada!

O Clube do Povo sempre escreveu suas glórias através de precisas finalizações de cabeça, canhota ou pé direito. Pensando nisso, lançamos a nossa torcida o desafio de escolher o melhor gol, entre os selecionados, da história colorada. Os critérios são os mais subjetivos possíveis: você pode decidir pelo mais bonito, o mais importante, o mais improvável, o mais marcante, ou o que preferir! Disponível em nossas redes sociais, a enquete, organizada em formato de chaveamentos eliminatórios (imagem abaixo), conta com tentos anotados em diferentes décadas, por vários ídolos. Confira-os a seguir:

Falcão x Atlético-MG

Válido pelas semifinais do Brasileirão de 1976, o confronto entre Inter e Atlético-MG brindou o público que lotou o Beira-Rio com duelo do mais alto nível. Após encerrar o primeiro tempo atrás no marcador, o Clube do Povo buscou a igualdade com Batista, aos 33, e passou a pressionar em busca do gol da virada, que saiu aos 46, após tabela inacreditável entre Falcão, Dario e Escurinho. Verdadeira obra de arte, à altura de seu autor e de uma equipe campeã!

Figueroa x Cruzeiro

Coube ao Inter, dono de DNA desbravador e pioneiro, estabelecer o nome do futebol gaúcho em território nacional. Em 1975, o Clube do Povo chegou à decisão do Brasileirão após campanha magnífica, com direito à vitória sobre a ‘Máquina Tricolor’, no Rio, nas semifinais. Disputada contra o Cruzeiro, a finalíssima encontrou em Figueroa, o zagueiro craque, seu único artilheiro, capaz de vencer não apenas a defesa mineira, mas também o céu nublado, para abrir o placar para o Colorado.

Valdomiro x Corinthians

O segundo título nacional do Inter veio na temporada seguinte ao primeiro. Em 1976, o Colorado enfrentou o Corinthians, no Beira-Rio, na final do Brasileirão. A taça, já habituada ao número 891 da Padre Cacique, foi conquistada graças a dois lances de bola parada. No primeiro, Valdomiro acertou a barreira, mas Dadá não perdoou no rebote. Depois, o camisa 7 e ídolo colorado executou mais uma de suas muitas cobranças magistrais. Esta explodiu no travessão antes de vencer a linha fatal e, de uma vez por todas, consagrar o Clube do Povo bicampeão!

Nilson x Grêmio

A maior edição do principal clássico do Brasil aconteceu em fevereiro de 1989. Confronto de volta da semifinal do Brasileirão de 1988, o Gre-Nal do Século foi antecedido por empate sem gols no Olímpico, e exibiu roteiro capaz de invejar qualquer cineasta premiado. Na primeira etapa, vitória parcial dos visitantes e expulsão do lado vermelho. No segundo tempo, dois gols de Nilson, o primeiro de cabeça, e Inter, com um a menos, vitorioso e classificado. Que tarde!

Iarley x Vasco

O gol de bicicleta é uma paixão planetária. O nível de dificuldade exigido para executá-lo, provavelmente, encontra equivalência apenas na plasticidade do lance. Em 2006, poucas semanas após a conquista da América, Iarley começava a dar mostras do protagonismo que exerceria na reta final da temporada anotando pintura rara, inclusive, entre as do estilo. O domínio no peito e a distância da meta vascaína não deixam dúvidas.

Fernandão x Coritiba

Eterno Capitão! As palavras que faltam para definir a importância de Fernandão no Inter também são escassas na tentativa de descrever esta pintura. Pouco mais de um mês depois de estrear pelo Colorado marcando o Gol Mil dos Gre-Nais, o centroavante, inquieto em escrever história, foi autor de mais um feito inesquecível. Sortudo o Beira-Rio por servir de tela à obra de arte do cabeludo artilheiro.

Giuliano x Estudiantes

Atual campeão da América, o Estudiantes julgou estar com a vaga garantida nas semifinais da Libertadores antes do apito final. Em 2010, o ídolo e capitão pincharatta, nos minutos de encerramento, convocou a torcida para festejar com seus sinalizadores. Na fumaça da festa precoce, Giuliano, lançado por Andrezinho, brilhou, e instalou na cancha portenha silêncio sepulcral, quebrado apenas pelo estrondoso celebrar do povo colorado.

Sobis x LDU

A espera foi angustiante. Mais de dois meses entre o revés no Equador, único na campanha, e a volta em Porto Alegre. Para piorar, a etapa inicial em nada diminuiu a tensão. Pelo contrário, truncado, o jogo foi tomando contornos desesperadores até os seis minutos do segundo tempo, quando Rafael Sobis abriu o placar em uma verdadeira pintura. Depois deste, Renteria faria o segundo, e a vaga nas semis estaria garantida.

Tinga x São Paulo

A libertação da América. Numa infindável noite de alegria, 16 de agosto de 2006, Tinga marcou gol inesquecível, o último de nossa campanha campeã continental. O título, depois de 97 aos de espera, era nosso. Vamos, Colorado!

Damião x Chivas

Final de Libertadores. Decisão do principal torneio de clubes do continente. Beira-Rio. Cenário perfeito para um jovem começar sua história de idolatria com a camisa vermelha. Matador, Damião interceptou passe na altura do meio de campo e, em velocidade, marcou o segundo do Inter, garantindo, de uma vez por todas, a reconquista da América.

Claudiomiro x Benfica

Lotado por mais de 100 mil pessoas, o Beira-Rio foi oficialmente inaugurado no dia 6 de abril de 1969, em partida amistosa que envolveu Inter e Benfica. Para estrear a história das redes da casa colorada, obviamente, seria necessária a ação de um legítimo alvirrubro. Ninguém melhor do que o jovem Claudiomiro. Com um testaço, o centroavante abriu o placar, completando grande trama do ataque vermelho.

Gabiru x Barcelona

Pregador de peças, o irônico destino armou a maior das suas no dia 17 de dezembro de 2006. Em Yokohama, o Mundial de Clubes era decidido entre Inter e Barcelona. Combalido, o aplicado capitão Fernandão, com cãibras, deixou o campo para a entrada do contestado Adriano Gabiru. Vestindo a 16, o substituto recebeu de Iarley passe açucarado e finalizou não para o barbante, e sim para a história.

Nilmar x Estudiantes

Para nos sagrarmos o primeiro time brasileiro campeão da Sul-Americana, tivemos de superar caminho turbulento – e o fizemos com excelência. Não bastasse a caminhada repleta de adversários de alto quilate, também nossa decisão foi sofrida, disputada até a prorrogação. No segundo tempo desta, Nilmar, cria do Celeiro, marcou, com um bico salvador, o gol do título.

Alex x Boca

De tão difícil, nas quartas de final a campanha do Inter na Sul-Americana encontrou o atual campeão da América. Derrotado com autoridade no Beira-Rio, também na Bombonera o Boca Juniors precisou se curvar à inesquecível escalação colorada de 2008. Servido por D’Alessandro, Alex marcou, na etapa final, o segundo do Clube do Povo, último da vitória por 2 a 1. Ao eliminar os xeneizes em sua casa, o Alvirrubro repetiu feito até então exclusivo, entre os brasileiros, ao Santos de Pelé.

D’Alessandro x Atlético-MG

Como joga, por favor! Nas oitavas da Libertadores de 2015, o gringo pegou a sobra de bola espirrada pela defesa adversária e, com sua canhota, anotou mais um belo capítulo em sua linda história no Inter. No ângulo, sem chances de defesa, preciso, perfeito. Andrés Nicolás D’Alessandro!

Renteria x Nacional

O mais colombiano dos sacis internacionalizou sua história também no Uruguai. Para exorcizar um fantasma do passado, usou do lençol, não como fantasia, mas artimanha. Com ele, e um arremate fulminante, garantiu vitória importante nas oitavas da Libertadores de 2006. É nós, Renteria. Tipo Colômbia!

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