De joia a ídolo: relembre a trajetória de Taison no Inter
O PASSISTA DO BEIRA-RIO VOLTOU! Fiel representante da essência do Clube do Povo, Taison está de volta ao Gigante. Anunciado na tarde desta sexta-feira (16/04), o ídolo retorna ao Inter para escrever novos capítulos em história que já conta boas doses de superação, alegria, taças e, é claro, muita irreverência vestindo vermelho.
Oriundo do pelotense Progresso, clube de sua cidade natal, Taison chegou ao Celeiro de Ases no ano de 2005. Jogador de extrema velocidade e dribles desconcertantes, foi descoberto durante confronto contra o próprio Inter. A partir de então, passou a ser cuidadosamente lapidado na base do Clube do Povo, onde viveu pouco mais de dois anos e atuou pelas categorias Sub-17 e Sub-20 até a promoção para os profissionais, oficializada no início de 2008.
À época, o mês de maio, inaugurado com taça estadual, não ofereceu final feliz para o Inter. Oscilante, o Colorado acumulou derrotas, por Brasileirão e Copa do Brasil, que culminaram com troca no comando técnico e despedida de ídolos. Neste cenário instável, Taison debutou entre os profissionais do Clube do Povo. No Estádio do Canindé, o jovem substituiu Magrão quando o relógio indicava 34 minutos da etapa final, e pouco pôde fazer para evitar o tropeço colorado para a Portuguesa, vitoriosa naquele domingo dia oito.
“Olha para trás, Taison.
TIte, em seus primeiros treinos À frente do INTER
Está todo mundo te observando e,
no dia do jogo, vai ter muito mais.
Tens que dar o teu melhor,
pois tu vai acertar!”
Os dias que sucederam o revés em São Paulo ficaram marcados por novas mudanças. Primeiro, Tite chegou. Pouco depois, Fernandão, nosso eterno capitão, deixou o Inter. O ataque vermelho, assim, sofria grande baixa, lacuna que aumentava a pressão sobre Taison. Felizmente, neste exato momento o jovem encontrou um amigo e fiel escudeiro na casamata do Beira-Rio. O novo comandante, em breve ficaria claro, era um entusiasta do futebol da cria colorada.
“Se o professor precisar de mim,
TAISON, SOBRE A CHEGADA DE TITE
estou pronto para dar
o meu melhor.”
Não demorou para Tite precisar de Taison. Em sua segunda partida à frente do Inter, o comandante deu novos minutos ao jovem, alçado a campo aos 22 da etapa final de partida contra o Vitória, em Salvador. O desempenho agradou a ponto de o pelotense ser escalado como titular no confronto seguinte. Formando dupla com Nilmar, a cria do Celeiro iniciou o Gre-Nal 370, disputado no Olímpico e válido pelo primeiro turno do Brasileirão. Missão difícil? Não para o futuro craque, escolhido o melhor do Inter no empate em 1 a 1.
Faltava a Taison apenas a estreia no Beira-Rio, que chegou no dia seis de julho. Diante do Coritiba, o insinuante avante ocupou papel de destaque em linha de frente compartilhada com Alex e Nilmar. Protagonista na vitória por 3 a 0, brilhou com dribles, ocupou o papel de garçom e fez os zagueiros adversários, infernizados com seu ritmo de garoto, acumularem cartões amarelos.
“A torcida é quem dá apoio para nós, estou muito emocionado. Temos muito o que mostrar ainda. Sempre sonhei em ter este reconhecimento, em ouvir a torcida gritando o meu nome no Beira-Rio. Que bom que isso aconteceu. O Inter apostou em mim, por isso quero dar o meu melhor.”
Taison, após estrear no Gigante
Se a parceria com nomes marcantes a exemplo de Alex, Tite e Nilmar avançava em velocidade equiparável apenas à das pernas do pelotense, o primeiro gol da joia pelo Inter apresentou uma nova dupla que faria história no Beira-Rio. A chuvosa noite de 20 agosto pareceu embalar D’Alessandro, que criou linda jogada para Adriano finalizar. Marcos defendeu, mas o rebote foi de Taison, que não hesitou em fuzilar. O Clube do Povo chegava a quatro, o Palmeiras seguia com um, e a cria do Celeiro estreava na lista de goleadores alvirrubros. Festa, no Beira-Rio, com El Cabezón!
Grande conquista colorada em 2008, a Sul-Americana também presenciou atuações de luxo do jovem colorado. Importante na fase de oitavas, quando o Inter enfrentou a Universidad Católica com equipes mistas, Taison saiu do banco no histórico triunfo de 2 a 1 sobre o Boca, na Bombonera.
Seu momento de maior brilho na campanha – e, provavelmente, na temporada -, veio na sequência, na partida de volta das semifinais. Titular diante da ausência de Alex, convocado para a Seleção Brasileira, a joia serviu Nilmar nos dois gols marcados pelo parceiro na vitória por 4 a 0 sobre o Chivas.
O show particular contra o Chivas, inclusive, ocorreu no embalo do segundo gol de Taison pelo Inter, marcado dias antes, durante goleada sobre o Ipiranga. Anotado em bonito chute de fora da área, o tento foi o último marcado pela cria no seu ano de estreia entre os profissionais.
Para além das bolas na rede, contudo, a participação do jovem pelotense também foi decisiva através de dribles insinuantes. Na finalíssima continental, contra o Estudiantes, foi Taison quem esbanjou coragem para encarar dois marcadores, um deles Desábato, e cavar o escanteio que originaria o inesquecível gol de Nilmar.
“Tive a felicidade de entrar e marcar. Agora, vou continuar trabalhando
Taison, após partida contra o são josé-poa
para conquistar uma chance
do técnico Tite.”
A titularidade absoluta de Taison chegou em 2009. Avassalador, o jovem saiu do banco na segunda rodada do Gauchão para marcar dois gols na brigada vitória de 3 a 1 do Inter sobre o São José e, a partir de então, se consolidar nos 11 iniciais de Tite. O último gol do jovem na partida, vale lembrar, saiu já nos instantes finais de jogo.
Novo dono da camisa 7 colorada, Taison voltou a marcar na semana seguinte, participando de importante 4 a 0 em cima do Sapucaiense. Logo depois, outro doblete, contra a Ulbra, confirmou o inspirado início de temporada do jovem. No horizonte, um clássico Gre-Nal despontava como momento perfeito para o pelotense referendar o recente protagonismo.
“Todo mundo brinca que eu sou um raio. Então, o Nilmar é o papa-léguas!”
Em Erechim, Taison foi gigante. Uma vez mais, o jovem provou que sua estrela vai muito além dos gols, e protagonizou contra-ataque histórico com Nilmar. Em alta velocidade, a dupla transformou lance de perigo do rival em rabisco eternizado na retina do povo vermelho. O gol, segundo do Inter, garantiu vitória por 2 a 1 no primeiro clássico do ano de nosso centenário.
O ritmo goleador não apenas foi mantido até o fim do primeiro turno estadual, conquistado em Gre-Nal disputado no Beira-Rio, como também renovado nas semanas seguintes. Campeão da primeira fase, o Inter também venceria o returno do Rio Grande, desta vez com goleada histórica sobre o Caxias. Autor de 15 gols no torneio, muitos deles decisivos, a exemplo do anotado em cima do Grená, Taison encerrou o Gauchão no topo da artilharia.
“Taison ou Messi?“
Depois do Rio Grande, o Brasil inteiro também teve a oportunidade de se curvar à fase estrelada de Taison. Autor de gol nas fases segunda, de oitavas, quartas e semifinal da Copa do Brasil, o craque chegou a suscitar, em partida contra o Coritiba, que abriu a disputa por vaga na decisão, questionamento marcante da imprensa gaúcha. Como esquecer da heresia do saudoso Wianey Carlet, que ousou comparar o menino de Pelotas a Lionel Messi? Na noite de 27 de maio de 2009, os colorados e coloradas perceberam quem era melhor.
O Brasileirão, vale lembrar, também serviu de solo fértil para grandes exibições de Taison. Peça importante na excelente arrancada do Clube do Povo na competição, o atacante desenvolveu, ao longo do torneio, simpatia cada vez maior pelo corredor esquerdo do gramado, consequência da cada vez mais evidente defasagem do sistema 4-4-2, revolucionado por Mourinhos e Guardiolas.
Desacompanhado de Nilmar, negociado com o futebol espanhol, o camisa 7 encontrou parceria com outros nomes de destaque no Inter de então. Ao lado de Giuliano, Marquinhos, Alecsandro e companhia – além dos companheiros mais longevos, é claro -, Taison ajudou a classificar o Colorado, vice-campeão nacional, para a Libertadores seguinte.
“O Taison, com velocidade, caiu
fossati, depois da estreia nos grupos da libertadores
em cima da última linha
do Emelec.”
A estreia do grupo principal colorado em 2010 ocorreu diante do Juventude. Titular, Taison marcou gol no Beira-Rio, logo acompanhado pelo segundo da temporada, tento anotado na terceira partida que disputou no ano. Com a chegada de Jorge Fossati para a casamata, todavia, o elenco passou a conviver com maior rotatividade na linha de frente.
Desta forma, o camisa 7 abriu a Libertadores na reserva do 3-5-2, mas entrando em campo para mudar esquema e postura do lado vermelho, contribuindo na virada sobre o Emelec. Também partindo do banco, a cria do Celeiro atuaria em outras quatro das cinco partidas que completaram a participação alvirrubra na fase de grupos da América.
Habituado a fazer a diferença em momentos decisivos, Taison viveu, na abertura das quartas de final, sua primeira grande noite no principal campeonato de clubes do continente. Contra o Estudiantes, foi o escolhido de Jorge Fossati na busca por espaços na retaguarda argentina, que emperrara o jogo colorado ao longo de todo o primeiro tempo.
Chamado pelo técnico aos 18 minutos, o camisa 7 cumpriu sua missão com louvor. Garçom para gol de Alecsandro, anulado por centímetros, atordoou o corredor direito da defesa pincha, estonteando Cellay. Não por acaso, neste setor surgiu a falta cobrada por Andrezinho e desviada, em direção ao gol e à vantagem, por Sorondo.
“Venho treinando com dedicação,
Taison, durante a intertemporada
quero aproveitar
esta chance!”
A Copa do Mundo de 2010 paralisou a disputa dos campeonatos de clubes, oferecendo intertemporada fundamental para Celso Roth, substituto de Fossati, conhecer o elenco do Clube do Povo. Com as atenções completamente voltadas para as semifinais da Libertadores, o Inter ainda pôde tornar preparativos os quatro jogos que tinha por disputar pelo Brasileirão antes de enfrentar o São Paulo na luta por vaga na final da América.
“Fiquei morto após a arrancada, mas valeu o empenho!”
Decidido a conquistar o continente com o Colorado, Taison marcou dois gols nas quatro vitórias alcançadas pelo Inter antes do embate com os paulistas. O primeiro, anotado em jogada de altíssima velocidade, saiu logo na retomada do Brasileirão, contra o Guarani, em Campinas. O outro, uma pintura, saiu na partida anterior à semifinal. No Beira-Rio, o camisa 7 fez o acertou lindo chute de perna direita no ângulo da meta flamenguista.
“Meu gol não me garantiu contra o São Paulo. Tenho certeza de que todos querem jogar.”
Que se registre para a posteridade: Taison viveu uma noite inspirada contra os paulistas. Disputados no Beira-Rio, os primeiros 90 minutos das semifinais da América tiveram no camisa 7 seu grande nome. Dono de crescente entrosamento com Kleber, o proprietário da ponta-esquerda de ataque do Inter participou de duas grandes oportunidades, milagrosamente defendidas por Ceni. Substituído por Sobis a instantes do apito final, deixou o campo justamente ovacionado pelas cerca de 50 mil pessoas presentes no Gigante.
Talhado para encarar momentos de tensão com a típica leveza dos craques, Taison sempre irritou marcadores que não compreendem a hierarquia exercida pelo pelotense dentro de campo. À pressão de 60 mil gargantas paulistas, ele respondeu com a tranquilidade característica de quem carrega o DNA do Celeiro, eternamente cassada pelos rivais. Fracassada para quem enfrenta Andrés D’Alessandro, a perseguição ao 7 valeu para o gringo falta cobrada na medida certa para o finalista resvalo de Alecsandro.
“Foi uma vitória muito importante.
taison, depois do jogo em guadalajara
Agora, vamos trabalhar forte
para o jogo da volta.”
Iniciada fora de casa, a decisão continental seguiu roteiro parecido ao do jogo de volta das semis. Liso como de costume, Taison seguiu oferecendo aos adversários um único caminho para ser interrompido: as faltas. Diferente do que ocorrera em São Paulo, entretanto, a melhor oportunidade que o jovem cavou em Guadalajara não virou gol – por detalhe. Alecsandro, desta vez, mandou no travessão. Sem problemas, graças ao grande segundo tempo colorado, premiado com vitória por 2 a 1.
Nova final, novo brilho. No gol de Rafael Sobis, do empate no Beira-Rio, foi Taison quem, atento à luta de Guiñazú, recuperou a posse para o Colorado e acionou D’Alessandro. Do Cabezón a bola seguiu até Tinga, que abriu tudo com Kleber, garçom da noite. O camisa 7, como de costume, era decisivo.
Sacado de campo logo após o empate, Taison acompanhou do banco os minutos que antecederam a consagração do Inter como bicampeão da América. Encerrada a partida, ele vivia o sonho de todo colorado. Pela segunda vez na história, seu time do coração conquistava a maior taça do continente. Pela primeira, com participação direta dele.
A reafirmação do futebol de Taison ao longo da campanha, coroada com a taça da Libertadores, não passou despercebida pelo mercado europeu. Assim, na semana seguinte ao Bi da América, o camisa 7 disputou, diante do Avaí, a última de suas 137 partidas com o Inter.
“Estou muito feliz por estar de volta a minha casa.
TAISON, NESTA SEXTA, EM LIVE NO PERFIL DO INTER
De volta a todos vocês, colorados.
Estou muito feliz, vocês
não têm noção.”
Casa adversária, a Ressacada presenciou tanto os últimos movimentos de Taison vestindo vermelho quanto as lágrimas que correram no rosto do craque após o jogo, no vestiário visitante. Quase 11 anos depois, o Clube do Povo agora volta a fazer sua cria chorar. Desta vez, de alegria. Bem-vindo de volta, ídolo!