O caminho até o topo: relembre a trajetória colorada rumo ao primeiro Brasileirão
Melhor ataque, autor de 51 gols, e também defesa, vazada em míseras 12 ocasiões. Maiúscula campanha, com aproveitamento superior aos 70%, e artilheiro do campeonato, dono de nossa camisa 9. Há 45 anos, em 14 de dezembro de 1975, o Clube do Povo conquistou o Brasil pela primeira vez. A vitória por 1 a 0, na final diante do Cruzeiro, consagrou caminhada incontestável de um time forjado para ser campeão. Relembre, em detalhes, a trajetória do Inter até o topo do país!
> Confira especial da Rádio Colorada sobre o Brasileirão de 1975:
Não se vira gigante de uma hora para outra
A caminhada colorada rumo ao primeiro título nacional conquistado pelo Sul do Brasil foi iniciada nos anos 1960. Década sucessora dos mágicos períodos de Rolo Compressor e Rolinho, transcorreu marcada por doloridos insucessos estaduais, aos quais o Clube do Povo respondeu apostando no sempre fértil Celeiro de Ases. À época não se podia imaginar, mas a política de fortalecimento das categorias de base pavimentaria o processo de construção do maior time já visto em terras canarinhas.
No final da década, em 1967 e 1968, o Inter atingiu dois vice-campeonatos nacionais que serviram para consolidar nosso nome nas terras de cima do Mampituba, processo intensificado a partir da inauguração do Beira-Rio. Nostálgica, mas passada, a era dos Eucaliptos chegava ao fim com o Clube consolidado entre os grandes. O objetivo, a partir de então, era chegar ao posto de gigante.
“Tivemos a oportunidade de disputar o Robertão, o Brasileiro da época, e fomos vice-campeões com uma garotada cheia de energia, de vontade de crescer no futebol. Nos tornamos conhecidos no centro do país, o que era muito difícil. Rio e São Paulo ficavam longe, na mídia, em relação ao Rio Grande do Sul. A partir daí veio a inauguração do Beira-Rio, que nos deu um patamar maior. O Estádio trouxe ao futebol gaúcho uma situação que não tínhamos anteriormente.”
Dorinho, primeiro camisa 10 do Beira-Rio
O Colorado alcançou grandes resultados nos primeiros Brasileirões que disputou no Gigante, encerrando na quinta colocação os torneios de 1969 e 1970, decididos em quadrangulares. Em 1971, o Clube do Povo registrou a mesma posição, desta vez insuficiente para atingir o último triangular. Gradativamente, nomes como Valdomiro, Claudiomiro, Carpegiani, Hermínio, Pontes, Cláudio Duarte, Tovar e Carbone assumiam o protagonismo do time alvirrubro.
Ao mesmo tempo em que ampliava sua fama nacional e acumulava casca nos quatro cantos do Brasil, o Inter também tratava de reassumir o controle do futebol gaúcho. A partir do ano de inauguração do Beira-Rio, o Colorado encarrilhou sequência de títulos que culminaria, em 1976, no histórico, inédito e jamais igualado Octa estadual. À frente da casamata vermelha estava, na virada da década, Daltro Menezes.
“Eu sempre gosto de lembrar o nome, a figura, do senhor Daltro Menezes. Todo mundo brincava por causa da altura dele, mas o que entendia de futebol não era pouco. Tanto é que hoje, um dos maiores ídolos do Internacional, o Valdomiro, foi ele quem insistiu.”
Bibiano Pontes
Mudanças ocorreram em 1972. Marcado pelo tetracampeonato estadual, o ano também valeu medalha de bronze no Brasileirão, alcançada em histórica campanha que levou o Clube do Povo até as semifinais, quando empate em 1 a 1 com o Palmeiras, no Pacaembu, classificou o rival, dono de mais pontos no torneio. Na fase anterior ao duelo eliminatório, o Colorado disputara inesquecível duelo contra o Cruzeiro.
Partida de abertura do quadrangular predecessor aos mata-matas, o duelo entre Saci e Raposa teve como palco o Beira-Rio, e foi encerrado com vitória alvirrubra por 3 a 2. Conquistado de virada, já nos acréscimos, o triunfo, de tão emocionante, infelizmente vitimou dois torcedores, que faleceram por infarto. Já comandado por Dino Sani, na temporada o Inter havia recebido o reforço do gigante Figueroa, e passara a atestar, de maneira mais recorrente, a vocação de Escurinho para talismã.
“Quando eu vim para cá, foi porque o presidente (Eraldo Herrmann) foi para o Uruguai. Eu estava por ir para o Real Madrid, que me queria, como o Barcelona, equipes italianas… me queriam todos. Mas vim para o Inter, falei com o Peñarol para baixar meu preço, e aí, quando cheguei aqui, fizemos o contrato rápido, sem problemas. Foi uma coisa muito boa, muito sincera.”
Figueroa
Novo ano, nova estrela. Maior meio-campista da história do futebol brasileiro, Paulo Roberto Falcão estreou entre os profissionais do Clube do Povo no ano de 1973. Mais precisamente, no dia 15 de abril, data de confronto do Inter contra o Esportivo, no Beira-Rio.
Primeira derrota para equipes do interior gaúcho dentro do Gigante, única na campanha do penta estadual, o duelo fez parte de temporada que também contou com quarta posição no Campeonato Nacional, feitos, uma vez mais, alcançados sob o comando de Sani.
“Dino Sani conhecia futebol.
Bibiano pontes
No meu ponto de vista,
foi quem ensinou pro Falcão o voleio cruzado.
Cabeceio, pra nós zagueiros, foi ele quem ensinou também.”
Consolidado no principal campeonato de clubes do país, o Clube do Povo chegou ao fim da primeira metade da década de 70 decidido a não mais ocupar apenas papel de destaque no torneio, mas sim levantar o tão sonhado troféu. Para tanto, nada melhor do que buscar um técnico com experiência em taças nacionais. Na abertura de 1974, o Inter contava com um novo comandante: Rubens Minelli.
“Quando eu fui conversar com o presidente (Eraldo) Herrmann, eu falei ‘olha, eu vou ser sincero, nós precisamos de reforços. Agora, entenda bem: eu não quero novidades, eu quero reforços. Você tira um titular de outro time, na posição que eu quero, e me traga. O reserva dele não serve pra mim. Eu quero um titular.’ Aí foi quando nós trouxemos o Lula, e depois o Flávio.”
Rubens Minelli
A partir da contratação de Lula para a ponta-esquerda, ocorrida de maneira quase simultânea ao desembarque de Minelli, o Inter passou a exibir maior equilíbrio nos lados do campo. Já nas graças do povo vermelho, Valdomiro era patrão do corredor direito, mas carecia de companheiro dono de futebol à altura do seu, que inclusive valeria-lhe convocação para a Copa do Mundo da Alemanha, disputada exatamente em 1974.
Ofensivo pelas pontas, o Clube do Povo conquistou o Gauchão daquele ano com incríveis 100% de aproveitamento, garantidos também devido à segurança de uma defesa que passou a contar com o paredão Manga como arqueiro. Na zaga, Figueroa e Pontes eram acompanhados por Cláudio Duarte, cria do Celeiro, e Vacaria, lateral-esquerdo de currículo mais extenso.
“Houve uma mudança tática a partir do Gauchão de 1974: entramos marcando individualmente, e aprimoramos isso em 1975.”
PAULO ROBERTO FALCÃO
No meio de campo, Falcão já estava consolidado como titular. O grande destaque da região central, todavia, era Carpegiani. Um dos principais nomes do Brasil que encerrou a Copa de 1974 na quarta colocação, o camisa 10 era idolatrado pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, multidão privilegiada que desde o início da década podia atestar a genialidade de Paulo César. À dupla de Paulos, somava-se Escurinho, assim completando o trio de meias de Minelli.
Campeões da Copa São Paulo no início da temporada, Jair e Caçapava também foram integrados ao elenco principal, dando ainda mais corpo ao forte grupo vermelho. No Brasileirão, dois empates e uma derrota no quadrangular final tiveram como consequência nova quarta colocação. Desta vez, porém, o time chegava ao fim da temporada com autoridade maior do que a vista no passado. Unido, o grupo estava pronto para conquistar o Brasil.
“Nós viemos da base, do juvenil, que era uma preparação para vir para o time de cima. Mas ninguém sabia se ia ficar dentro do grupo, então você fazia de tudo embaixo para que pudesse chegar no time de cima para lutar. Você já vinha com aquela determinação, com aquele amor pelo Internacional, para que tivesse uma oportunidade.”
Caçapava
Surge o maior time já visto no Brasil
A abertura da temporada de 1975 foi diferente para o Inter. Comprovando sua crescente fama, o Clube do Povo foi convidado para realizar uma excursão pela Europa. No Velho Continente, Rubens Minelli passou cinco semanas consecutivas com seus jogadores, tempo fundamental para conquistar admiração ainda maior dos atletas e, consequentemente, implementar de vez suas concepções de futebol dentro do grupo.
“Os jogadores obedeceram, taticamente, religiosamente aquilo que eu pretendia. Eles passaram a acreditar em mim e então nós modificamos tudo. Começamos a marcar a saída de bola dos adversários, a treinar jogadas ensaiadas…”
Rubens Minelli
Os resultados obtidos referendaram as inovações promovidas na sistemática colorada. Em 14 partidas, o Inter conquistou 13 vitórias e um empate, marcando 50 gols e sofrendo apenas um. Excelentes, os números representaram com justiça o alto nível das exibições alvirrubras, que motivaram comparações, de parte da imprensa europeia, entre o Clube do Povo e o Ajax de Cruijff, Neeskens e companhia, que recentemente conquistara três Ligas dos Campeões consecutivas.
“A excursão deu o conjunto necessário. Jogamos contra todas equipes imagináveis. Enfrentamos o time do Didi (Fenerbahçe, atual campeão turco), que, na época, falou que a gente tinha que ter cuidado, pois seríamos goleados. No intervalo, ele foi no nosso vestiário e pediu calma, estava 4 a 0. Esta experiência deu muita base, especialmente para os jovens. Com ela, o grupo se uniu mais ainda.”
Jair
De volta ao Rio Grande do Sul, o Inter se deparou com o primeiro grande objetivo do ano. Atual hexacampeão gaúcho, o Clube do Povo ansiava por chegar ao sétimo título consecutivo, assim igualando a maior sequência até então registrada no estado, feito ostentado pelo maior rival.
Logo na estreia do torneio, sonora goleada de 6 a 0 sobre o Ypiranga de Erechim empolgou a torcida colorada. Mais 14 triunfos em outras 17 partidas nutriram a obsessão vermelha e serviram de prólogo perfeito ao primeiro Gre-Nal válido pelo certame, disputado em 13 de julho de 1975.
“O Flávio,
ele tinha uma coisa:
de frente, não perdia gol”
Caçapava sobre Flávio Minuano
Clássico de número 217 na história, o embate marcou a reestreia de Flávio Minuano, o Bicudo, com a camisa colorada. Revelado pelo Clube do Povo em 1961, o atleta retornava ao Inter após vitoriosa carreira nos gramados de São Paulo, onde defendeu o Corinthians, Rio de Janeiro, estado no qual atuou com as cores do Fluminense, e Portugal, país em que viveu como atleta do Porto. Artilheiro nato, o camisa 9 ignorou o grande público que tomou o Estádio Olímpico e inaugurou o marcador após assistência de Valdomiro.
Minutos depois, Carpegiani, Lula, Vacaria e Falcão colocaram a defesa do Grêmio na roda pelo lado esquerdo. Lançado pelo lateral, o camisa 10 Paulo César entortou a marcação e, da entrada da pequena área, fuzilou Picasso para marcar o segundo tento, definitivo para a vitória, apesar do desconto mandante que viria na sequência.
O Colorado seguiu construindo bonita campanha no Estadual até o dia 10 de agosto, quando um Beira-Rio abarrotado sediou a decisão do torneio. Depois de empate sem gols no tempo normal, a finalíssima seguiu para a prorrogação, onde Flávio, uma vez mais, brilhou.
Após grande jogada de Valdomiro pela direita, Ancheta quase fez contra, mas foi salvo por Picasso. O rebote, porém, ficou com o camisa 9 do Clube do Povo, que desferiu canhotaço indefensável. O hepta era nosso. O histórico patrão do Rio Grande reafirmava, uma vez mais, sua soberania em terras gaúchas.
O Brasil começava a ficar vermelho
Quarta-feira, 20 de agosto de 1975. No Beira-Rio, dezenas de milhares de colorados e coloradas tomaram as arquibancadas para torcer pelo Clube do Povo na rodada de abertura do Brasileirão. Embalado pela conquista estadual, o Inter deu continuidade ao bom momento e derrotou, por 3 a 1, o Figueirense, atual vice-campeão de Santa Catarina.
Pitoresco, o regulamento do Nacional de 1975 priorizava o futebol ofensivo. Assim, equipes que triunfassem por diferença superior a um gol somavam três pontos, enquanto vitórias magras rendiam apenas dois. Decidido a construir a melhor campanha possível, o Clube do Povo voltou a vencer na segunda rodada, desta vez de goleada. Na Fonte Nova, Lula, duas vezes, Carpegiani, Flávio e Altivo, contra, marcaram no 5 a 0 alvirrubro sobre o Vitória, comprovando a força do unido grupo colorado.
“Nós concentrávamos no Estádio, cada um tinha seu companheiro de quarto. Isto rendia muita piada, diversão. Éramos uma família. Nunca teve briga ou problema, e quando entrávamos em campo, tínhamos que ganhar. Era uma equipe muito forte. Figueroa, Vacaria, Carpegiani, Falcão, Caçapava, Lula, Valdomiro, Jair… algo maravilhoso.”
Manga
Repleto de craques, o elenco vermelho convivia com constante desconfiança de parte da crônica esportiva, que não entendia como Minelli era capaz de gerir o grupo de modo a evitar quaisquer rugas entre os atletas, todos sedentos por minutos. Enquanto muitos procuravam por crise, o Clube do Povo seguia acumulando vítimas, e assim encerrou a fase inicial do Brasileirão na liderança de sua chave, somando outras seis vitórias – três por vantagem considerável -, dois empates e uma única derrota.
“De uma maneira geral, eu trabalho em grupo. Acho que o futebol é um esporte coletivo em que você não pode deixar nenhum detalhe de lado. Então, é evidente que existem aqueles com quem você tem mais afinidade, mas, de uma maneira geral, quando se fazia cobrança ou elogio, era com todo mundo junto e pra todo mundo. Eu sempre trabalhei dessa maneira, não gostava de destacar um ou outro pra não cometer injustiça com os demais.”
Rubens Minelli
Igualmente vitorioso foi o início da segunda fase para o Colorado. Integrante do Grupo 2, o Clube do Povo derrotou por 2 a 0 Atlético-MG e Tiradentes, nas rodadas um e três, e aplicou 4 a 0 no Remo, na segunda partida que disputou na chave. Na sequência, os comandados de Minelli empataram em 1 a 1 com o Cruzeiro e seguiram para encarar o Fluminense, atual campeão carioca, que vivia a mágica era da ‘Máquina Tricolor’.
Com desfalques dos dois lados – Rivellino do deles, Falcão de nossa parte -, o excelente duelo valeu ao Inter três pontos, conquistados graças a triunfo de 3 a 1. Ainda no primeiro tempo, Cláudio Duarte abriu o placar para o Inter. Gil, cedo na etapa final, empatou para os visitantes, mas Figueroa, em rebote de chute de Flávio, e o próprio Minuano, servido por Escurinho, garantiram a alegria do povo colorado e a liderança do Grupo.
“Dentro do campo,
nós tínhamos uma amizade muito grande.
Todos queriam a mesma coisa.”
Valdomiro
O Inter viveu seu momento de maior oscilação dentro do Brasileiro a partir da sexta rodada da segunda fase, finalizada com empate de 1 a 1 diante do Corinthians. Após, o Clube do Povo, ainda sem Falcão, e também desfalcado de Valdomiro e Lula, foi surpreendido pelo excelente América-RJ de Bráulio, vitorioso por 1 a 0 no Maracanã.
Um empate sem gols com o Coritiba, fora de casa, serviu de último capítulo para a hesitação rubra, que chegou ao fim através de triunfo por 2 a 0 sobre o Guarani, no Beira-Rio. Líder de seu grupo, o Colorado, que ainda registraria igualdade sem gols com o Palmeiras, avançou para o octogonal que antecedia os duelos eliminatórios.
“Esse time tinha
vergonha de perder.”
Falcão
De um lado, Inter, Santa Cruz, Flamengo, São Paulo, Portuguesa, Sport, Grêmio e Náutico. Do outro, Fluminense, Cruzeiro, América-RJ, Palmeiras, Corinthians, Guarani, Botafogo e Nacional do Amazonas. De cada grupo, apenas dois avançariam rumo às semifinais. Evitar erros era imperativo para dar continuidade ao sonho de colorir o Brasil em vermelho, e o Colorado gastou sua cota de vacilações logo na abertura da fase, quando sucumbiu, em Recife, ao Tricolor do Arruda.
“Quando nós perdíamos uma partida, e nós perdemos três partidas, no outro dia tu não via ninguém na rua. Todo mundo ficava escondido dentro de casa, envergonhado, esperando o quê? Que passasse rápido até o outro jogo. Porque a gente sabia que ia ganhar.”
Valdomiro
A reabilitação colorada foi imediata, símbolo da indignação do elenco. No Beira-Rio, Dadá Maravilha não foi capaz de causar problemas à defesa do Clube do Povo, diferente de Peri, seu companheiro de Sport. O tento rubro-negro, porém, saiu apenas aos 39 da segunda etapa, quando o Inter já vencia por 3 a 0, um gol de Valdomiro.e dois de Flávio, que chegou aos 16 no torneio, número que valeria ao craque a artilharia do certame.
Na rodada seguinte, o São Paulo, embora mandante, atuou completamente retrancado no Morumbi, e assim assegurou 0 a 0 que o manteve vivo na briga pelas semifinais. Ao time de Minelli, o ponto conquistado permitiu igualar a contagem do Santa Cruz, líder da chave.
“Éramos um time muito unido.
Figueroa
Não só dentro de campo, mas também fora dele.
Se alguém estava com problema, a gente tratava de ajudar.”
Na quarta rodada, Inter e Grêmio disputaram o 222º Gre-Nal da história. Escalado com Manga; Cláudio, Figueroa, Tião e Vacaria; Falcão, Caçapava e Carpegiani; Valdomiro, Flávio e Lula; o Clube do Povo assumiu as rédeas da partida desde os primeiros movimentos e, de tanto martelar, abriu o placar em gol contra de Beto Fuscão.
O tento, único da partida, saiu aos 26 minutos, e aproximou o time de Minelli dos matas, realidade que ficou ainda mais tangível após vitória por 1 a 0 sobre o Náutico, em Recife, conquistada com a solitária artilharia de Lula. Restavam duas rodadas.
O Clube do Povo chegou para a última rodada do octogonal na terceira colocação. Dono de 9 pontos, o Colorado somava dois a menos do que o Santa Cruz, vice-líder da chave. Com 12, o Flamengo liderava. Dramático, o cenário poderia ser diferente não fosse por empate de 1 a 1 com os cariocas, no Beira-Rio, em 30 de novembro.
“O povo colorado
merecia ser campeão.”
Figueroa
Partida que registrou a maior renda da história do Brasileirão em Porto Alegre até aquele momento, um total de 604.575,00 cruzados, o duelo entre Inter e Flamengo contou com gol de Escurinho para o time da casa. Acima de qualquer avante colorado, no entanto, foi o goleiro rubro-negro Cantarele quem brilhou na jornada, impedindo novo tento vermelho e legando pesadelos à Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.
“A gente dava liberdade pros guris das categorias de base. Eram iguais a nós. Se nós errávamos, eles davam bronca.”
Valdomiro
Não restava alternativa. Diante da Portuguesa, no dia 4 de dezembro, o Inter precisava vencer ou vencer. Sem Flávio, Minelli escalou o Clube do Povo com Luís Fernando Gaúcho no comando do ataque. Na meia, Escurinho voltava a formar, após período no banco de Caçapava, trio ofensivo com Falcão e Carpegiani, alternativa recorrente nas partidas em que o triunfo se fazia mais provável (ou necessário). Toda a ousadia de Rubens foi recompensada logo aos 18 da primeira etapa, quando Carpegiani abriu o placar.
O outro Paulo, Falcão, ampliou aos 21, enquanto aos 24, mas do tempo segundo, Luís Fernando, oriundo dos juvenis, anotou o terceiro. Com o resultado, o Clube do Povo garantiu três pontos que, somados à vitória de 3 a 1 do Santa Cruz sobre o Flamengo, em pleno Maracanã, classificaram o Inter para as semifinais do Brasil.
“Teve alguma coisa mágica
nessa história.”
Falcão
Conquistada graças à força do Celeiro, a segunda colocação no octogonal obrigava o Colorado a viajar. Na luta pela decisão, o adversário seria a Máquina Tricolor do Fluminense. Quem avançasse, teria de encarar Cruzeiro ou Santa Cruz, que decidiriam vaga no Arruda. Era hora de ser protagonista.
Máquina? Não se compara à Academia!
O Fluminense não era tratado como Máquina por acaso. Geração histórica no Tricolor carioca, a nominata, que contava com nomes a exemplo de Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio e Paulo Cezar Caju, tricampeões do mundo com o Brasil em 1970, atingiu seu ápice em 75, com a contratação de Rivellino, outro dos craques da Seleção que venceu a Copa do México.
Além de título estadual, a temporada de estreia de Riva também ficou marcada por amistoso do time das Laranjeiras com o Bayern de Munique de Gerd Müller, Beckenbauer, Sepp Maier e Rummenigge. No Maracanã, os donos da casa levaram a melhor: 1 a 0. Comandante do Fluminense, apenas Didi não tinha o direito de se empolgar com a aparente iminência da taça nacional. Afinal, ele já somava uma derrota acachapante para o Inter em 1975, ocorrida ainda no início do ano, quando treinava o Fenerbahçe.
“Aquele time do Inter de 1975
seria, hoje, melhor
do que o Barcelona.”
Figueroa, em 2014
Didi, porém, se empolgou, e, na véspera da partida, que seria disputada no dia 7 de dezembro, subestimou a força colorada. O Inter estava em declínio, afirmou, e por isso o time que mais temia era o Cruzeiro. Enquanto o rival gracejava, Minelli armava a arapuca perfeita para anular os cariocas.
“Se tu marcares o Rivellino,
nós ganhamos o jogo.“
Minelli para Caçapava, na preleção
A imprensa do Rio sabia da qualidade do Inter, equipe que tratou ao longo do Brasileirão como “timaço”. Até por isso, os periódicos locais convocaram as torcidas rivais a se somarem aos tricolores nas arquibancadas do Maracanã, palco que recebeu público na casa das 100 mil pessoas. A festa parecia pronta, mas um péssimo convidado estava decidido a atrapalhar as celebrações. Escolhido por Minelli, Caçapava tinha a missão de anular o craque Rivellino.
“Tá morto,
professor!”
A resposta de Caçapava
Nascido em Caçapava do Sul, Luís Carlos Melo Lopes fez história apelidado em referência a sua terra natal. Arma de Minelli para jogos mais delicados, não titubeou ao descobrir que seria responsável por marcar o craque tricolor. Confiante, o volante ainda recebeu conselhos de Falcão antes do jogo ser iniciado e, assim, não deu respiro ao camisa 10 adversário, à época famoso pelo drible do elástico.
“Tudo que eu enxergava na minha frente era Rivellino. Era o jogo da minha vida. Quando começou, meteram uma bola pro Riva. Ele puxou a bola, levou, e eu não deixei ele voltar. Dei no meio dele, com bola e tudo. E aí o juiz disse pra ele levantar, que se não eu ia matar ele (risos).”
Caçapava
A solidez defensiva do Inter irritou o Fluminense, que esperava resolver a partida sem maiores problemas. Dono da bola, o Tricolor, reduzido a insossos e pouco objetivos passes laterais, não conseguia fugir da briosa marcação colorada. Desferidos a esmo, tampouco os arremates de longa distância assustaram Manga.
Quem metia medo era o Clube do Povo, especialmente com os arranques de Lula. Da inquietude carioca, o ponta-esquerda colorado tirou proveito aos 33 minutos de jogo. Dono da camisa 11 do Inter, ele tabelou com Falcão e, servido por mágico passe de trivela, surgiu livre nas cercanias da pequena área rival. Fulminante, seu arremate de canhota não pôde ser defendido por Félix. Gaúchos na frente, sob a batuta do maestro Minelli.
“O Fluminense tinha uma jogada forte, que era o Riva metendo a bola no Gil, o ponta-direita. Então, a gente trancou um zagueiro atrás pra evitar essa bola. Foi o único jogo em que não fizemos marcação individual. Liberamos a dupla de zaga deles e bloqueamos o meio de campo.”
Falcão
A volta das equipes dos vestiários não alterou o cenário da partida. Impecável, a defesa colorada, liderada pelo intransponível xerife Elias Figueroa, legítimo proprietário de qualquer grande área que protegesse, não oferecia centímetro de grama ou segundo de respiro aos donos da casa. A intensidade da retaguarda era compartilhada pelo ataque alvirrubro, que teve seu ânimo renovado a partir da entrada de Jair.
“Eu era o coringa do Minelli. Ele me botava na ponta, de meia ou centroavante e eu tinha facilidade em qualquer posição.”
Jair
Substituto de Valdomiro, o futuro Príncipe prendeu, na casa dos 30 minutos da etapa final, dois marcadores pela direita. Com a canhota, chamou Falcão para tabelar, ao que o maior camisa cinco da história respondeu dominando no peito e escapando de zagueiro. De volta a Jair, a bola logo foi passada, pelo camisa 13, a Carpegiani. Desesperado, Silveira, defensor carioca, tentou levantar bola, grama e Paulo Cezar. Terminou somente com a relva.
“Quando acordaram,
já não dava mais.
Quase levaram o terceiro.”
Lula
No domínio, Carpegiani aplicou desconcertante drible da vaca no defensor. A bola correu precisa, como se estivesse presa aos pés do camisa 10 por um elástico, até a altura da marca do pênalti. Félix já deixava o gol atabalhoado quando a chuteira de Paulo voltou a encontrar a bola, desta vez para um sublime e elegante arremate de cobertura, que intrépido voou aos barbantes cariocas. O Inter estava na final. Que viesse o Cruzeiro!
Iluminado dono do Brasil
Além da classificação à final, a vitória no Maracanã também garantiu ao Clube do Povo valioso período de preparação para o confronto contra o Cruzeiro. Disputando duas partidas por semana desde o início de outubro, o Colorado contaria com hiato de sete dias entre o duelo com o Fluminense e a decisão nacional. Inicialmente comemorado, entretanto, o intervalo livre de compromissos logo virou uma dor de cabeça para Rubens Minelli. O primeiro problema foi Manga.
“A semana antes da final foi muito complicada. Começamos a treinar na segunda-feira, quando eu machuquei dois dedos no treinamento. Fui ao Hospital e colocaram uma tala de gesso. No domingo, estive no vestiário às duas da tarde e falei para o doutor que ía jogar. Ele não acreditava, mas eu pedi que ele tirasse o gesso.”
Manga
Além das incertezas na meta, o técnico do Clube do Povo também conviveu com crescente indecisão quanto às condições de jogo do craque Lula. Grande nome da semifinal, o camisa 11 alvirrubro passou a semana anterior à decisão com o joelho inchado, fruto de pancada sofrida no Maracanã. Diante do provável desfalque, Minelli cogitava escalar Jair ou Escurinho, duas improvisações. Como nunca até então, o jovem Beira-Rio precisaria fazer a diferença. Disso, Valdomiro sabia.
“O Cruzeiro tinha um baita de um time, mas nós tínhamos confiança, ainda mais decidindo o título aqui no Beira-Rio, com o apoio da nossa torcida. Nós tínhamos um jogador a mais em campo: a torcida do Internacional.”
Valdomiro
E a mobilização foi impressionante. Embora a final estivesse marcada para o domingo 14 de dezembro, desde sexta-feira faltavam quartos nos hotéis de Porto Alegre. Ainda antes, na quinta, os ingressos para a torcida colorada haviam sido esgotados. Gigante, o Beira-Rio parecia pequeno comparado à paixão da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, que chegava dos quatro cantos para a capital gaúcha. Todos queriam jogar a decisão – o povo, a partir das arquibancadas, e os atletas, na relva abençoada.
“Não vou ficar fora
desta decisão
de jeito nenhum.”
Lula
Inabalável, a confiança colorada jamais flertou com a soberba. Do outro lado, enquanto isso, o Cruzeiro se deixava iludir com o carinho da imprensa mineira. Inocente, o meio-campista Eduardo chegou a declarar que Caçapava e Carpegiani não podiam atuar juntos, insinuando que as características dos atletas alvirrubros seriam excessivamente distintas. A melhor resposta para as críticas, o Clube do Povo sabia, viria dentro de campo. A final estava chegando.
“Agora,
é tudo conosco!
Não dá pra perder!”
Figueroa, no túnel de acesso ao campo
Rica, a língua portuguesa carece de adjetivos que definam com justiça a magnificência de Figueroa. Zagueiro que ocupa a mais alta prateleira dos craques defensores, o chileno era também um líder nato. Capitão, usou de poucas e precisas palavras para conduzir seus companheiros ao campo de jogo. Diante de mais de 80 mil pessoas, o Inter estava escalado: Manga; Valdir, Hermínio, Don Elias e Chico Fraga; Caçapava, Carpegiani e Falcão; Valdomiro, Flávio e Lula.
O Inter conhecia a qualidade do Cruzeiro, tradicional equipe já campeã do Brasil, em 1966, e que contava com craques à exaustão em seu escrete. Titular na Copa do México, Piazza capitaneava outras estrelas como Raul, Nelinho, Zé Carlos, Joãozinho e Palhinha, todos selecionáveis. Também por este motivo, o Clube do Povo aceitou que a etapa inicial fosse disputada em ritmo reduzido, marcado pelo constante estudo das duas partes.
“Não vamos
menosprezar o adversário
e cometer o mesmo erro
do Fluminense.”
Carpegiani, antes da partida
Do lado visitante, Nelinho saía muito pouco ao ataque, passando a maior parte do tempo preso à lateral, atento aos movimentos de Lula. Pelo Inter, Valdir, que assumira a titularidade da direita após lesão de Cláudio Duarte, adotava o mesmo comportamento com Joãozinho. Conscientes de que qualquer centímetro poderia ser fatal se oferecido aos craques do rival, tanto Minelli quanto Zezé Moreira visivelmente mantiveram suas equipes presas a algumas amarras durante os 45 minutos que inauguraram a partida.
“Quando eu me apresentei no profissional, nunca esqueço, ele (Minelli) falou pra nós, que estávamos subindo, que não conhecia ninguém. Então, quem queria, precisava mostrar serviço naquele momento. Quem mostrasse valor, ficava.“
Chico Fraga
Marcada por defesas trancadas e ataques anulados, a abertura da partida contou com grande quantidade de arremates de longa distância, em geral desferidos por elementos surpresa. Dono da lateral-esquerda colorada desde as semifinais, quando Vacaria deixara o time por lesão, Chico Fraga iniciou o confronto disposto a provar seu valor e, logo aos 9, soltou direitaço que Raul milagrosamente espalmou em escanteio.
Primeira chance do jogo, o chute de Chico não demorou a receber companhia na relação de melhores momentos da partida. Após tabelar com Carpegiani, Falcão costurou da direita para o centro e, aos 12 minutos, finalizou rasteiro. Venenosa, a bola picou na frente de Raul, que defendeu em dois tempos, por pouco não soltando o rebote nos pés de Flávio.
A resposta do Cruzeiro chegou aos 25. Bem servido por Zé Carlos, Eduardo lançou Palhinha. O centroavante até finalizou forte, mas esbarrou na primeira boa aparição de Manga, goleiro que seria um dos destaques da final. Pouco depois, Valdomiro, de canhota, exigiu, no último lance de perigo da etapa inicial, nova intervenção de Raul. Assim que o relógio indicou 45 minutos, o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia apitou para iniciar o intervalo.
“Valdô era um jogadoraço. Sempre treinávamos bola parada, e ele colocava onde queria. Se eu passava a mão no cabelo, ele sabia que a bola era curta. Se fazia algo no rosto, era mais comprida.”
Figueroa sobre Valdomiro
Carpegiani, Valdomiro, Figueroa, Flávio e Lula. Durante os 15 minutos que antecederam o segundo tempo, a torcida colorada repetiu os nomes do quinteto como se fossem um mantra. Mantida a igualdade ao fim da partida, o regulamento previa meia-hora de prorrogação e, em último caso, pênaltis para decidir o campeão do Brasil. A nominata continha os prováveis batedores do Inter. Cada vez mais, a bola parada despontava como principal esperança em um jogo tão truncado.
Roberto Batata, verdade seja dita, teve a oportunidade de modificar os rumos da partida quando, aos seis, recebeu excelente passe de Palhinha. A centímetros da pequena área, o ponta-direita celeste não conseguiu o domínio e deixou ela escapar, tendo que retornar até a marca do pênalti para então arrematar. O atraso permitiu que Figueroa bloqueasse a finalização. Brilhava o zagueiro!
Lançado pela direita na casa dos 10 minutos, Valdomiro também queria reluzir. Infernal, o 7 colorado deu uma meia-lua em Isidoro, seu marcador, e partiu em direção à linha de fundo. Desesperado para impedir que o craque alvirrubro cruzasse, Piazza exagerou na força e, no lugar de recuperar a posse, ofereceu falta perigosíssima ao Inter. Pintava uma chance, saudada pelo povo aos gritos de “É Colorado! É colorado!”.
“Hermínio!
Eu vou fazer o gol.”
Figueroa, enquanto partia para a área rival
Simulacro de escanteio, a falta que Valdomiro sofrera cobrava cruzamento açucarado para a grande área cruzeirense. Especialista em bolas paradas, o ponta-direita ajeitou a esférica com o devido carinho. Neste instante, abarrotados atrás da antiga goleira do placar, milhares de alvirrubros perceberam, atônitos, o surgimento de um feixe de luz entre as nuvens que poluíam o céu da quase veranil tarde em Porto Alegre.
“Sabes que,
quando eu cabeceei,
eu já gritei gol?”
Figueroa
Travestido de torcedor, o sol indicou onde a bola deveria ser alçada, sugestão percebida pelo cobrador, que levantou com precisão, e igualmente constatada por Figueroa, que subiu para cabecear. Com a testa, consciente, o capitão colorado resvalou. Intocável, a bola partiu em direção ao canto direito de Raul, beijou o solo a centímetros da linha fatal e, apesar do golpe de vista do goleiro, somente flertou com o pé da trave antes de morrer nas redes. Saía o Gol Ilumilado!
“Só depois eu vi, na televisão e nas fotos, que tinha um raio de luz ao redor da minha cabeça.”
Figueroa
A desvantagem no placar obrigou o Cruzeiro a se soltar. Atentos aos sinais que o jogo oferecia, os visitantes também decidiram apostar no seu especialista em bolas paradas, que apareceu pela primeira vez aos 13. À direita da meia-lua da grande área colorada, Nelinho cobrou falta com muita força. Colocando seu tradicional efeito na batida, o lateral-direito quase enganou Manga, mas o goleiro alvirrubro exibiu sensacional poder de recuperação para mandar em escanteio.
“Joguei com fita nos meus dois dedos.
Graças a Deus, eu fui bem e dei
o Campeonato ao Internacional.”
Manga
Já no século XVII, Isaac Newton alertava que toda ação tem uma reação. Terceira de suas leis da física, a máxima foi atestada por Lula no gramado do Beira-Rio. Afinal, se Nelinho assustava no ataque, o lateral oferecia espaços na defesa. O primeiro vazio percebido pelo ponta-esquerda colorado valeu ao camisa 11 campo aberto até a pequena área, de onde completou cruzamento rasteiro de Valdomiro. Forte demais, o chute superou o travessão.
Aos 16, Nelinho cobrou escanteio fechado e com força. A bola passou por cima de Manga, mas o goleiro conseguiu encaixar a esférica, já na queda, com apenas uma mão. Dois minutos depois, Lula respondeu e, lançado por Valdomiro, invadiu a área e chutou rasteiro. A finalização explodiu no pé do poste que outrora participara do tento de Figueroa, mas o gol não saiu.
“Ganhamos do Cruzeiro um jogo que poderíamos ter perdido também. Foi um confronto muito equilibrado. O Manga fez defesas muito boas, o Raul também do outro lado.”
Rubens Minelli
Depois de tanto tentar por cima, Nelinho apostou na meia-altura. Aos 22, o lateral cobrou falta pela esquerda da intermediária de ataque. Nos primeiros segundos que passou no ar, a bola passou à direita da barreira. Já na altura da grande área, porém, o efeito carregou o arremate até o canto oposto da meta colorada. Curva indefensável? Não para Manga, que encaixou sem oferecer rebote.
Convencido de que não brilharia como artilheiro, o craque mineiro decidiu ser garçom e, transcorridos 25 minutos, bateu escanteio na primeira trave. De carrinho, Moraes finalizou. Como um gato, Manguita pegou. Inspirado pelo companheiro de posição, Raul, aos 39, também brilhou: o arqueiro saiu nos pés de Lula e impediu que o ponta completasse para as redes após maravilhosa assistência de Flávio.
“A gente sabia
que precisava ganhar.”
Figueroa
Apesar das mudanças do técnico Zezé Moreira, que sacara Eduardo e Batata para as entradas de Sousa e Eli, o Cruzeiro careceu de forças para incomodar o Inter nos instantes de encerramento da partida. Encaixado defensivamente e contando com o fôlego renovado de Jair, substituto de Valdomiro, o Clube do Povo também não fez questão de dar continuidade à perigosa correria que tanto fazia Manga trabalhar. O título, pouco a pouco, tomava contornos de realidade. Até que, aos 48 minutos e 50, ele foi oficializado.
“Eu fui um jogador que era torcedor.
Pra mim, não tem outro clube.
O meu se chama
Sport Club Internacional.”
Valdomiro
Após falta cavada por Hermínio, Dulcídio soprou pela última vez o apito. Para delírio das mais de 80 mil pessoas, o Inter era campeão brasileiro. No cimento e na grama, os torcedores faziam a festa, que depois viraria carnaval nas ruas de Porto Alegre, tomadas por uma centena de milhares de colorados e coloradas. Pela primeira vez, o Sul do Brasil conquistava o país. Enfim, o Clube do Povo vencia o Nacional.
Não pense, contudo, que este parágrafo serve como fim. Pelo contrário, a história iniciada em 14 de dezembro muito em breve seria continuada. À porta do Beira-Rio, Bi e Octa batiam. Logo, eles teriam seu lugar. A narrativa do maior time da história do futebol brasileiro estava apenas começando. Sortudos nós, que o tivemos. Viva o Internacional, glória do desporto nacional!