Nesta terça-feira (01/03), o ídolo Daniel Carvalho completa 39 anos de idade. Além do aniversário da cria do Celeiro, a data também nos faz viajar ao ano de 2009, quando Índio e Magrão decidiram a vitória colorada em clássico sobre o Grêmio. Quadro do Programa do Inter, da Rádio Colorada, o Hoje na História te conta as efemérides deste primeiro de março!
Em meio a tantas desigualdades e adversidades vividas em nossa sociedade, algumas atitudes podem fazer toda a diferença, principalmente quando tratamos de nosso futuro: as crianças e os adolescentes. O Clube do Povo, em parceria com a Americanas, patrocinadora oficial do Inter, proporcionou um momento especial nesta terça-feira (21/12) para cerca de 120 jovens atendidos nos projetos sociais da Fundação de Educação e Cultura do Internacional (FECI).
No ginásio Gigantinho, foi promovida uma festa de Natal para mais de uma centena de crianças e adolescentes que fazem parte do Interagir e do Interabilita. O evento contou com uma lista gigante de atrações e convidados especiais. O mascote Saci foi o anfitrião, juntando-se à criançada para comandar a festa, que contou com brinquedos infláveis e camas elásticas fornecidas pelas Americanas.
Para alegria geral, no meio da tarde o Papai Noel adentrou o ginásio dirigindo um “tuk-tuk”. Ele distribuiu os presentes angariados junto aos funcionários do Clube, que apadrinharam cada uma das crianças. Além disso, estavam à disposição lanches e bebidas, fornecidos com apoio de Dario Rodrugues, do Núcleo de Apoio da FECI (NAFE).
Teve campeão do mundo marcando presença também. Índio, ex-zagueiro e ídolo colorado, apareceu de surpresa para fazer a alegria da criançada e distribuir presentes. “Depois de 10 anos atuando no Internacional, o Clube se tornou sinônimo de família após encerrar a minha carreira. Parabéns ao Inter por toda essa demonstração de amor ao próximo. Vim aqui para retribuir todo o amor e carinho que sempre recebo fora de campo”, declarou a lenda colorada.
Para quem pôde desfrutar da ocasião e testemunhar o sorriso de seu filho, tudo foi ainda mais belo. Rubia Braz, mãe de Artur, menino de cinco anos atendido pelo projeto Interabilita desde o seu primeiro ano de idade, viveu uma tarde inesquecível. “O Artur encontrou aqui muito mais do que o atendimento que ele precisava. Encontrou carinho, acolhimento, pessoas maravilhosas que prestam um cuidado personalizado, de acordo com o que ele gosta, como músicas e números. Hoje, foi um momento especial. Normalmente ele estranha alguns lugares, mas ele se sente em casa no Gigantinho e está podendo participar tranquilamente”.
Os projetos colorados oferecem serviços de convivência e fortalecimento de vínculos a crianças e adolescentes no turno inverso ao escolar, além de aulas de reforço, informática, artes, esporte, atendimento psicológico e refeições. O trabalho da fundação superou inúmeras dificuldades durante o último ano, sobretudo em função da pandemia, que restringiu o atendimento às crianças.
Valdir Scariot, presidente da FECI, celebrou o recomeço: “É um momento especial para as crianças e para todos nós que representamos a FECI. Uma oportunidade de mostrar a importância e a função social da fundação. Projetamos um crescimento significativo para o próximo ano, dobrando o número de crianças atendidas”, planejou.
O evento está em linha com o propósito da Americanas de “somar o que o mundo tem de bom para melhorar a vida das pessoas”. A iniciativa também busca reforçar o comprometimento da marca com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, tais como a redução das desigualdades (ODS 10).10).
Reza a lenda que o dia 16 de agosto de 2006 jamais teve fim. Por algum motivo desconhecido ou não, os astros se cruzaram justo no sublime momento de uma euforia coletiva às margens do Rio Guaíba, eternizando aquele exato instante.
Testemunhas apontam que tudo começou quando um bravo homem alto e de cabelos longos levantou um artefato brilhante sobre a sua cabeça, libertando um grito que ecoa no local até hoje.
Se o dia realmente não teve fim, ninguém confirma, mas também não nega. O fato é que a lenda correu por América Latina afora, virou tradição popular e eternizou os responsáveis pela obra em heróis lendários.
…
O Canal do Inter reuniu três destes bravos heróis lendários para contar de um jeito inédito a saga da primeira Libertadores colorada. Bolívar, Clemer e Tinga, pilares da conquista, retornaram ao vestiário do Gigante, ou melhor, à casa deles, para uma sessão de cinema e resenha histórica.
Dia de Inter! O Clube do Povo enfrenta o Fortaleza, a partir das 20h30 deste domingo (17/01), em partida da 30ª rodada do Brasileirão. No Beira-Rio, o Inter busca a sexta vitória consecutiva no Campeonato. Confira todas as informações sobre o confronto!
Transmissão
A Rádio Colorada abre transmissão para o duelo deste domingo a partir das 19h30, com a apresentação do Portões Abertos. A Jornada Esportiva começa às 20h15, e será sucedida, ao soar do último apito, pelo Vestiário Vermelho. A atração pós-jogo repercute todos os detalhes do confronto recém-encerrado, com direito a entrevistas exclusivas e também coletivas. Acompanhe no FM 95,5 ou via Site e App do Inter!
Participe da jornada através do InterZap: (51)99189-4124
As redes sociais do Inter (@scinternacional no Twitter, Instagram e Facebook) contarão com o mais completo minuto a minuto da internet, recheado de imagens compartilhadas de maneira instantânea. Na TV, TNT Sports e Premiere anunciam transmissão.
Vamo, Colorado!
Semana foi intensa no Parque Gigante
Abel Braga teve a semana livre para preparar a equipe. Após superar o Goiás, no último domingo (10/01), o grupo colorado recebeu folga na segunda passada. A partir de terça, cinco dias recheados de atividades encaminharam os 11 iniciais que buscarão a vitória diante do Fortaleza.
Contra o Leão do Pici, Edenilson e Yuri Alberto retornam à equipe, enquanto Moledo e Galhardo, lesionados, são desfalques. A lista de pendurados conta com Rodrigo Lindoso, Caio Vidal, Rodrigo Dourado, Marcos Guilherme, Boschilia, Matheus Jussa, Abel Hernández e Leandro Fernández.
Abel busca a sexta vitória seguida no Brasileirão
Abelão encerrou os preparativos, na chuvosa tarde deste sábado (16/01), com atividade tática no CT Parque Gigante. Após o treino, Rodinei, dono da assistência para o gol de Praxedes na rodada passada, concedeu entrevista exclusiva para a Mídia do Inter. Confira:
Fala, Rodi!💭 Lateral projeta duelo com o Fortaleza e destaca a luta pelo título brasileiro. Assista ao vídeo completo.
Quem também falou durante a semana foi Victor Cuesta. Dono da camisa 15 do Clube do Povo, El Patrón concedeu entrevista coletiva na tarde da última sexta. O atleta comemorou a sequência positiva do time de Abel Braga, reforçou a torcida pela pronta recuperação do companheiro Rodrigo Moledo e projetou o próximo confronto. Assista:
Um dia da lateral-direita, outro para a esquerda. Titular absoluto sob o comando de Abel Braga, protagonista nos gols colorados sobre Boca Juniors, Botafogo e Palmeiras – os primeiros tentos contra os dois últimos -, Moisés destacou a preparação realizada ao longo da semana. Veja:
Com a palavra: Moisés!💭 Lateral destaca a preparação colorada e a disputa pelo título brasileiro. Assista ao vídeo completo:
No início da semana, a palavra foi do artilheiro da última vitória. Bruno Praxedes comemorou o primeiro gol como profissional, destacou a grande presença de jovens da base no grupo principal, elogiou os trabalhos de Abel Braga e repercutiu a fase vermelha. Não perde:
Rodrigo Dalonso Ferreira apita, auxiliado por Alex dos Santos e Éder Alexandre, trio de Santa Catarina. VAR: Wagner Reway, da Paraíba.
Rival
Unido, grupo tricolor tenta reverter fase recente/Foto: Bruno Oliveira, Fortaleza
O Fortaleza vive momento delicado no Brasileirão. Após iniciar a temporada sob o comando de Rogério Ceni – e com o técnico conquistar o bicampeonato cearense -, o Leão perdeu o comandante, contratado pelo Flamengo, no início do último mês de novembro. Desde então, a equipe disputou 11 partidas, sofreu cinco derrotas, somou cinco empates e conquistou uma única vitória.
Time trabalha para continuar na Série A/Foto: Karim Georges, Fortaleza
Comandado pelo interino Marconne Montenegro na primeira partida após a saída de Ceni – derrota de 2 a 1 para o Bahia -, o Fortaleza anunciou Marcelo Chamusca em 12 novembro, menos de três dias depois da perda de Rogério. Oriundo do Cuiabá, o novo comandante venceu apenas um dos nove jogos que passou na casamata tricolor e, somando mais quatro derrotas e quatro empates, despediu-se com revés para o Sport, em Recife.
Ato contínuo à demissão de Chamusca, Enderson Moreira foi contratado até o final de 2021. O trabalho é o quarto do treinador na atual temporada, que conta com passagens recentes por Goiás e Cruzeiro, além do rival Ceará. O profissional, inclusive, já estreou no Tricolor: empatou sem gols com o Grêmio, no Castelão, em partida da 29ª rodada do Brasileiro.
Enderson Moreira (E) e Marcelo Paz (D), presidente do Leão/Foto: Leonardo Moreira, Fortaleza
A sequência de insucessos dentro de campo teve como consequência perigosa aproximação do Z4. O Fortaleza chega para a rodada com 32 pontos, três a mais do que o Bahia, 17º e primeiro na zona de rebaixamento. Momentaneamente na 16ª colocação, o Leão do Pici corre risco de, perdendo para o Inter, ficar ao alcance dos baianos, que só vão a campo na quinta-feira 28 de janeiro, diante do Corinthians, em Salvador.
Cria da base, zagueiro Wanderson é um ponto positivo no Leão/Foto: Leonardo Moreira, Fortaleza
Diante do Clube do Povo, Enderson Moreira deve mandar a campo Felipe Alves; Gabriel Dias, Paulão, Wanderson e Carlinhos; Felipe e Juninho; Osvaldo, Romarinho e David; Wellington Paulista. Existe a possibilidade de Gabriel, ex-Inter, ser deslocado para o meio de campo. Assim, Tinga entraria na lateral-direita, resultando em formação mais reativa nos visitantes deste domingo.
Estatísticas
Colorado vive boa fase no Brasileirão
Se o Inter chega para o duelo deste domingo embalado pelas cinco vitórias consecutivas que soma no Brasileirão, o Fortaleza tenta, no Beira-Rio, dar fim a dois jejuns indigestos. Há sete rodadas sem vencer, o rival colorado não marcou gols nas últimas quatro partidas que disputou.
Os números negativos do Fortaleza encontram justificativa quando analisados mais a fundo. De acordo com o SofaScore, O Leão do Pici é a terceira equipe que mais precisa tocar na bola para marcar um gol, total de 713 vezes. O Inter, quarto melhor ataque do Brasileirão, é terceiro no critério: necessita de apenas 420 toques.
De Rodinei para Praxedes: o gol do Inter sobre o Goiás
Os contrastes também existem dentro do contexto do duelo deste domingo. Enquanto o Inter é o segundo melhor mandante do Brasileirão, com 74% de aproveitamento, o Fortaleza ocupa a 15ª colocação entre visitantes, somando duas vitórias, cinco empates e sete reveses longe do Castelão.
Eficiente, o ataque colorado é o quinto melhor de mandantes, e precisa de apenas 6,8 finalizações para mandar uma às redes visitantes. Por outro lado, o Fortaleza tem a sexta defensa entre as equipes que atuam longe de casa, média de 1,14 gol sofrido por jogo. Ao todo, de acordo com o ge.com, Leão oferece 13,9 arremates, a cada partida, para seus adversários.
Inter quer manter o bom momento no Beira-Rio
A provável volta de David aos titulares é uma notícia boa para o Fortaleza. Vice-artilheiro do time na temporada com 10 gols marcados, atrás apenas de Wellington Paulista, ele já deu duas assistências neste Brasileirão. O atleta é, ainda, o líder em finalizações certas do Leão no Campeonato, embora seja o terceiro com arremates menos precisos.
No primeiro turno, David persegue Moledo
Situação de tabela
O Inter pode encerrar a 30ª rodada na liderança do Brasileirão! Para tanto, além de ganhar do Fortaleza, o Colorado precisaria de vitória do Athletico Paranaense em cima do líder São Paulo. O confronto ocorre a partir das 16h de domingo, em Curitiba. Neste cenário, Clube do Povo e Tricolor somariam os mesmos 56 pontos. Caberia ao time de Abel, ainda, tirar uma diferença de quatro gols de saldo.
Edenilson é retorno importante para o time de Abel
Independente do resultado do líder, fato é que o Inter, atual segundo colocado com 53 pontos, manterá a posição em caso de vitória sobre o Fortaleza. Empate também deixa os comandados de Abel fora do alcance de seus perseguidores, mas um vitorioso Atlético-MG, terceiro com 50, poderia encerrar a rodada com um ponto a menos e uma partida atrasada por disputar.
A volta de Yuri é outra notícia positiva para o Inter
O Galo é a única equipe capaz de ultrapassar o Clube do Povo, desde que vença o Atlético-GO, às 18h15, no Mineirão. Para isso, o Inter precisaria, por óbvio, ser derrotado. Confira os oito primeiros classificados:
P
J
V
E
D
GP
GC
SG
1 – São Paulo
56
29
16
8
5
49
27
22
2 – Internacional
53
29
15
8
6
44
26
18
3 – Atlético-MG
50
28
15
5
8
48
36
12
4 – Grêmio
50
29
12
14
3
38
24
14
5 – Flamengo
49
28
14
7
7
47
39
8
6 – Palmeiras
48
28
13
9
6
39
26
13
7 – Fluminense
46
30
13
7
10
40
37
3
8 – Corinthians
42
28
11
9
8
35
30
3
Pra cima, Colorado!
Retrospecto colorado
O Clube do Povo já enfrentou o Fortaleza em 17 ocasiões até hoje. À frente no retrospecto, o Inter soma oito vitórias, três a mais do que o rival. Ocorreram, também, quatro empates, números construídos através de 19 gols marcados e 14 sofridos.
Edenilson em ação contra o Fortaleza no Brasileirão passado/Foto: Ricardo Duarte
Vitória e recorde
Já com as atenções voltadas para o Mundial, o Inter contou com uma grande novidade para o duelo contra o Fortaleza na 35ª rodada do Brasileirão. Após um mês afastado por lesão, Fernandão retornou à equipe titular e formou ataque com Iarley, camisa 10 que abriu o placar aos 30 da etapa inicial.
Iarley deixa o marcador no chão e finaliza no canto
Menos de 10 minutos depois, nova bola na rede. Alex cobrou falta da esquerda que Índio, artilheiro como sempre, completou para as redes. No jogo, o segundo. Do zagueiro, quinto no Campeonato. De garçom para artilheiro, o homem da canhota de bomba seria o responsável pelo terceiro
Servido por Fernandão, Alex dominou na entrada da área e mandou no canto esquerdo. Festa no Gigante, que comemorou a vitória e também recorde de Renan, que completou oito jogos sem sofrer gols e se tornou o goleiro colorado com maior invencibilidade na história dos Brasileirões.
De novo, a América era nossa. De novo, ela pertencia ao povo colorado. Absoluto, o título consagrou time cascudo, talhado para fazer história como legítimo campeão. Em casa, fomos impecáveis. Longe dela, letais. Caminhada brilhante, teve seu último capítulo escrito há 10 anos. Relembre, abaixo, a vitória colorada por 3 a 2 sobre o Chivas, na finalíssima da Libertadores de 2010!
O dia 18 de agosto de 2010 amanheceu ensolarado na capital gaúcha. Para a torcida colorada, porém, o sol era mais do que dispensável. Todos torciam, inclusive, pelo seu pôr. Esperado crepúsculo, significaria, para muitos, o fim do expediente – ou mesmo da classe. Com ele, estariam livres para, enfim, somarem-se aos milhares que desde o início da tarde ocuparam o Beira-Rio. Juntos, travariam a mais bela das batalhas. Lado a lado, precisariam libertar a América!
O movimento na Padre Cacique, registre-se, começou cedo. Internamente, o gramado do Gigante, renomado tapete continental, estava pronto. Do lado de fora, a torcida chegava aos montes, colorindo em vermelho e branco o cimento formador do pátio do Beira-Rio. Nem mesmo o verde dos campos suplementares resistiu à força da maré alvirrubra, que transformou cada centímetro em concentração e, é claro, churrasco.
Movimento no Beira-Rio foi intenso ao longo de toda a quarta-feira
Juntos dos mais de 53 mil torcedores e torcedoras anônimos, ilustres nomes do passado alvirrubro também decidiram saudar o presente, que diz tudo. Ao mesmo tempo em que o povo tomava as arquibancadas e cadeiras do Gigante, ídolos da história colorada se fizeram presentes nos camarotes e suítes do Beira-Rio. Valdomiro, Rentería e Gamarra foram alguns dos heróis que, fundamentais como sempre, jogaram a final desta vez fora do campo, usando da voz no lugar das chuteiras.
Foto: Ricardo Duarte
Rentería, Valdomiro e, acima, Gamarra: diferente gerações representadas no Gigante
Em vantagem no duelo após conquistar, no dia 11 de agosto, triunfo de 2 a 1 sobre o Chivas, fora de casa, o Clube do Povo tinha em Alecsandro, lesionado, o único desfalque para a finalíssima. Em seu lugar, Celso Roth escolheu Rafael Sobis, que ficou encarregado do comando do ataque. Atrás do camisa 23, D’Alessandro, pela direita, Tinga, no centro, e Taison, pela esquerda, formavam exímia linha de três meio-campistas.
Despedindo-se do Inter, o volante Sandro, dono da 8, formou, uma vez mais, dupla de volantes com o ídolo Guiñazú, sempre responsável por empunhar o número 5. A defesa, por fim, contou com Nei e Kleber, nas laterais, e Índio e Bolívar, zagueiros. Renan, goleiro, completou a nominata. Do outro lado, José Luiz Leal escalou Michel; Magallón, De Luna, Reynoso e Ponce; Araújo, Baéz, Fabián e Bautista; Arellano e Omar Bravo.
Os heróis do Bicampeonato
“Foi difícil ficar de fora desta final. Mas valeu que o grupo mostrou que tem bons jogadores. É demais saber que fiz parte disso!”
Alecsandro
Os minutos iniciais transcorreram de maneira eletrizante, com cada centímetro do gramado sendo disputado com máxima energia pelos jogadores. Não faltaram lances ríspidos, principal aposta dos mexicanos para conter a troca de passes do Inter no campo de ataque. Como de costume sob o comando de Roth, o Colorado contava com grande movimentação de D’Ale e Tinga, responsáveis por constantes combinações entre direita e centro. Na esquerda, Taison abria espaços para a subida de Kleber, e ainda acompanhava o parceiro Sobis.
Buscando gol que tornaria o cenário ainda mais positivo, o Clube do Povo tratou de criar blitz ofensiva tão logo soprou o primeiro apito. Aos três, Kleber cruzou bola que, após desviar na zaga, tomou muita altura e superou a cabeça de Sobis. Inteligente, Tinga infiltrou e, pela direita, a centímetros da pequena área, emendou buscando o camisa 23. No último instante, a defesa conseguiu cortar. Pouco depois, aos nove, D’Ale bateu, da intermediária, falta com venenosa curva. Inicialmente aberta, a bola encontrou, na altura da marca do pênalti, a testa de Sandro, que exigiu defesa em dois tempos do arqueiro rival.
Após breve respiro, o Inter voltou a pressionar na terceira dezena de minutos da partida. Aos 21, Taison, caindo pela direita, foi lançado em profundidade. Salvador, Michel deixou a área para fazer o corte. Pelo mesmo lado, Tinga avançou dois minutos depois. Preciso, o camisa 16 cruzou rasteiro para Sobis, que fez o corta-luz. A bola chegou na medida para o 7, que finalizou colocado para milagre do goleiro.
Novo córner foi cavado pelo Inter aos 25. Da direita, próximo à área, D’Ale cobrou falta perigosíssima, que desviou na barreira antes de fazer vento no travessão. Na sequência do lance, após cobrança do escanteio, Bolívar ficou com a sobra de corte parcial e, como um centroavante, arriscou lindo giro de canhota. A redonda picou ao lado da trave esquerda mexicana, assustando o time visitante e empolgando o Beira-Rio.
Beira-Rio esteve completamente lotado para a finalíssima continental
Tinga e D’Alessandro pareciam ser, de fato, o melhor caminho para o gol. Aos 37, o argentino avançou pela direita, aplicou o La Boba na marcação e, com espaço, cruzou rasteiro. Por centímetros seu parceiro não completou para as redes, e Magallán, providencial, impediu que a sobra fosse de Sobis. Passados cinco minutos, todavia, tudo mudou.
“Time bom e forte ganha partida, mas um grupo forte ganha campeonatos. O individual vai aparecer quando o coletivo é forte. Já fui premiado com gols, passes, assim como o Giuliano. Hoje, foi a vez do Damião. Isso comprova que o elenco é forte, formado por homens e profissionais.”
Andrezinho
Pedindo licença para o poeta Vinícius de Moraes, é possível afirmar que, assim como o samba, a Libertadores, para ser vivida com beleza, precisa de um bocado de tristeza. Afinal de contas, conquistar a mais desejada copa do continente não é piada. São necessárias, para erguer o principal troféu da América, algumas formas de oração. Praticamente todas puderam ser ouvidas no Beira-Rio quando, a exemplo do que ocorrera em Guadalajara, a instantes do intervalo o Chivas abriu o placar. Quem marcou, em bonito voleio, foi Fabián.
Fundamental para o Colorado nas fases de oitavas, quartas e semis, o gol fora de casa não servia como critério de desempate na decisão da Libertadores de 2010. Assim, o tento marcado pelo Chivas demovia do Inter qualquer vantagem, igualava o placar agregado e conduzia à final para a prorrogação. Ao Clube do Povo, portanto, restava pressionar.
“Mostramos dentro de campo que temos qualidade. Não tem como descrever a sensação; estamos onde todo jogador queria estar.”
Nei
A torcida, é claro, sabia disso. Já enérgico nos primeiros 45 minutos, na etapa final o Beira-Rio se transformou em um verdadeiro caldeirão latino. Completamente trepidante, o Estádio, que vencera as seis jornadas continentais já disputadas em seu território, vibrou, decidido a buscar seu sétimo triunfo, em sincronia aos avanços de cada ídolo. Pobres dos mexicanos, que descobriram, da pior maneira possível, o poderio de nossa casa, endereço dos mais temidos de toda a América.
GIGANTE/Foto: Ricardo Duarte
Taison criou, já no minuto de abertura do segundo tempo, a primeira oportunidade da etapa final. Pelo centro, arrancou em velocidade e chutou forte, de bico, para defesa de Michel, que quase soltou a bola nos pés de Sobis. O camisa 23, inclusive, exigiria nova intervenção do arqueiro, também em dois tempos, aos três de jogo.
Surgia, aos poucos, uma rivalidade, aumentada depois, aos oito, quando o camisa 23 recebeu passe em profundidade de Kleber e tentou driblar o goleiro. Desta vez, o rival se saiu bem, e conseguiu tomar a bola dos pés do ídolo colorado. Felizmente, o Inter precisava de apenas um triunfo de Sobis contra Michel.
Foto: Ricardo Duarte
“Eu sou colorado, estou sendo campeão de algo grandioso, e eu passei muita coisa. Fiquei oito meses, nove meses sem jogar por duas cirurgias, e hoje, graças a Deus, meu joelho está bom. Só vou comemorar agora.”
Sobis
A vitória do ídolo, habituado a triunfar em decisões de Libertadores, não custou a chegar. O primeiro atleta colorado a tocar na bola no 16º minuto de partida foi D’Alessandro. Acionado por Bolívar, o camisa 10 colorado prendeu a atenção de dois marcadores, abrindo espaço para infiltração de Guiñazú. Com a bola, El Cholo tentou costurar do centro para a direita, mas, pressionado pelo zagueiro rival, que abandonou a retaguarda, quase teve a posse tomada. Guerreiro, lutou no chão e garantiu a sobra para Taison, que recolocou D’Ale no lance.
Bagunçada, a defesa do Chivas pecou ao oferecer espaço para D’Alessandro. De frente para a área rival, o craque tinha Sobis e Tinga em condições de investir no mano a mano. Preferiu servir o camisa 16, que fez a parede e abriu com Kleber. Pela esquerda, o lateral, anjo da perna canhota, cruzou bola viva. Brigando com a zaga mexicana estavam dois reconhecidos artilheiros continentais. Forte para o autor do gol do título da Libertadores de 2006, a bola chegou na medida para o atacante que calara o Morumbi na decisão de quatro anos atrás.
Rafael Augusto, sobrenome Sobis, apelido campeão, projetou-se na direção da bola e empurrou, com o pé direito, a redonda para as redes. Gol, que o talismã latino comemorou combalido, lesionado do ombro que lhe servira de amortecedor após choque com o goleiro rival. Aos 16 minutos, tudo estava igual no Beira-Rio, mas o Inter na frente do agregado!
O gol embalou o Inter, que por pouco não virou logo aos 24, em chute forte do gênio D’Alessandro. Espalmada por Michel, a bola quase sobrou limpa para Sobis, mas o camisa 23, ainda com dores, não conseguiu dominar o rebote. Na sequência do lance, quem brilhou foi Renan, reconhecido com aplausos da torcida.
“Estava fora da América, e que bom voltar para um clube como o Inter. Este título é para retribuir a confiança”
D’Alessandro
Roth respondeu ao susto mexicano realizando sua segunda troca na partida. Antes, já retirara Taison de campo, colocando Giuliano no lugar. Aos 27, Sobis deixou o gramado. Quem entrou no ataque? Leandro Damião, jovem oriundo das categorias de base, que renovou a tradição cancheira ostentada por aqueles que carregam o DNA do Celeiro de Ases.
O passar de minutos que sucedeu o gol de Sobis obrigou o Chivas a tomar postura ofensiva como ainda não ocorrera no duelo. Maduro o Inter, que fechou os espaços para forçar o erro de um rival igualmente pressionado por vaia do Beira-Rio. Historicamente bem-sucedida no ataque, a soma entre time e torcida também se provou decisiva na defesa. Com fôlego, Damião interceptou passe mexicano e, ainda do campo de defesa, disparou dando belíssimo drible da vaca no último homem adversário.
Com campo livre, o garoto esticou a bola em apenas outros dois toques e, já dentro da área rival, absoluto no lance, saiu de frente com o goleiro. Michel decidiu transformar o duelo em embate de futsal, abafando o arremate com as pernas. Leandro provou que também entendia dos fundamentos do futebol de salão, e finalizou com o bico da chuteira. Forte, o arremate até resvalou no arqueiro, mas não teve sua direção desviada. O destino, é claro, foi a meta mexicana. Gol da virada!
“Essa torcida nos apoiou bastante. Eu tô muito feliz com esse título, meu primeiro título profissional. Há dois anos atrás, eu nunca imaginaria estar aqui.”
Leandro Damião
À frente no marcador, tanto da partida quanto no agregado, o Clube do Povo renovou o ânimo não do ataque, e sim da defesa. Na vaga de Tinga, entrou Wilson Mathias. Simultaneamente, o Gigante, doidão, embebedava-se nas alegres lágrimas do povo que mais um título festejava. Reconhecido companheiro de sentimento, Sobis também se provou um parceiro de choro, e do banco de reservas não escondeu a felicidade que sentia. Gaúcho e colorado, colorado e gaúcho, o ídolo logo ficaria ainda mais emocionado.
Com um a mais dentro de campo, consequência da expulsão de Arellano, que com violento carrinho tentou quebrar a perna de D’Alessandro, o Clube do Povo ganhou diversos espaços para explorar. E que erro era ceder lacunas para um time que contava com um camisa 11 como Giuliano. Dono de cinco gols na campanha colorada, até então o atleta já provara, inúmeras vezes, sua vocação imperdoável.
De fato, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande estava ansiosa naquela quarta-feira de agosto. Após passar a data torcendo pela chegada da noite, a partir dos 40 minutos o povo vermelho começou a anunciar o raiar do dia. A hora, enfim, estava chegando. Antes dela, contudo, brilhou Giuliano. Após receber bom passe de Wilson Mathias, o camisa 11 partiu para cima de dois marcadores, na altura da meia-lua. À hesitação da dupla rival, reagiu com ganchinho maravilhoso. Dentro da área, deu novo toque embaixo da bola, este para superar o goleiro. Chorosa, ela entrou. Gol de campeão! Gol de título! Gol de Libertadores!
“É o Inter cada vez mais e mais grande. Momento especial que todos querem participar, a oportunidade única. Fico sem palavras por participar desta festa de novo. Vamos comemorar!”
Bolívar
O tento de Giuliano saiu aos 44. A confirmação de dois minutos de acréscimos, aos 45, mesmo instante em que Bravo cavou falta na meia-lua da grande área. Cobrada na trave por Bautista, a bola parada reboteou na medida para Araujo descontar. Não havia, porém, tempo para mais nada – nem mesmo para a comemoração mexicana.
Sem sequer permitir o reinício da partida, o árbitro Óscar Ruiz encerrou o duelo e permitiu que fosse cravada nova placa do Inter na mais cobiçada taça do continente. América, de novo, vermelha. Clube do Povo, uma vez mais, campeão da Libertadores. Festa, costumeira, do povo colorado!
Uma noite que demorou 97 anos para chegar e, desde então, jamais acabou. Data em que libertamos o grito continental que há tanto teimava em engasgar nossas gargantas. Feliz a América, que encontrou em nosso camisa 9 o melhor capitão de sua história. Feliz, também, o povo vermelho, que a partir do Gigante coloriu todo o continente em alvirrubro. Há 14 anos, vivíamos o Dia Sem Fim. Relembre a campanha colorada na Libertadores de 2006!
A maior festa que a América já viu!/Foto: Jefferson Bernardes
Para pegar ritmo
Era grande a expectativa da torcida alvirrubra em relação ao retorno do Inter à Libertadores. Afastado do principal torneio de clubes do continente desde 1993, o Colorado precisaria superar, além da aparente inexperiência na competição, o pessimismo deixado pelo frustrante desempenho de sua última participação, quando foi eliminado nos grupos. Na busca por grandes resultados, todavia, também sobravam motivos para o otimismo.
Clube do Povo ganhou cancha continental nas Sul-Americanas de 2004 e 2005
Dentro de campo, o Inter fizera por merecer o título do Brasileirão de 2005. Além disso, o elenco somava duas participações de destaque nas últimas edições da Sul-Americana. Em 2004, o Colorado chegou a eliminar o Júnior de Barranquilla, nas quartas, e somente foi eliminado, nas semis, para o campeão Boca.
Um ano depois, o Clube do Povo sucumbiria, uma vez mais, para o time xeneize, desta vez lutando por vaga entre as quatro melhores equipes do continente. Cascudos em nível continental, portanto, e embalados por grande fase nacional, os comandados de Abel Braga chegaram ao grupo 6 da Libertadores da América.
Inter e Boca travaram grandes duelos na primeira década do século passado/Foto: Marcelo Campos
O Colorado estreou na Libertadores de 2006 no dia 16 de fevereiro. Diante de 35 mil pessoas, o Clube do Povo enfrentou o Maracaibo, da Venezuela, fora de casa. Ceará, aos três minutos do segundo tempo, abriu o placar em bonito chute da entrada da área. O gol do lateral-direito, inclusive, criaria, em breve, superstição ímpar entre a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. O tento, contudo, não foi o único da noite: já nos últimos instantes, Maldonado empatou para os locais e impediu o triunfo alvirrubro.
A vitória que escapou na estreia chegou na semana seguinte. Apoiado por um Beira-Rio lotado, o Inter deu show para atropelar o Nacional-URU, tricampeão da Libertadores, por 3 a 0. Michel e Fernandão, ainda no primeiro tempo, garantiram boa vantagem para o intervalo, resultado que foi ampliado, já nos últimos minutos da etapa final, por Rubens Cardoso.
Abrindo o mês de março, no dia 8 o Inter viajou até a Cidade do México para encarar o Pumas. Como de costume naquele início de campanha continental, as redes balançaram minutos antes dos 45 – desta vez, da primeira etapa. López, de cabeça, garantiu vitória parcial do time da casa antes do intervalo. Na volta dos vestiários, porém, Rentería mudou radicalmente o cenário da partida e, com um gol e uma assistência, para Fernandão, garantiu o posto de protagonista do confronto. Por 2 a 1, o Clube do Povo vencia e mantinha a liderança do grupo.
Invencibilidade nos grupos
A partida mais emocionante do Inter na fase de grupos ocorreu na noite do dia 22 de março. Tomado por mais de 42 mil pessoas, o Beira-Rio, como de costume, fez a diferença, e brilhou na histórica virada sobre o Pumas. A importância da torcida no triunfo fica clara na súmula da partida, afinal de contas, aos 34 do primeiro tempo o Clube do Povo perdia por 2 a 0.
Fernandão comemora o segundo gol colorado na noite/Foto: Jefferson Bernardes
“Foi fantástico. Ninguém arredou o pé, ninguém parou de incentivar. Os jogadores se sentiram orgulhosos de fazer parte deste clube. O torcedor sentiu que o resultado era injusto e incentivou o tempo todo. Sofremos, mas tivemos a competência necessária para virar o resultado”
Foto: Jefferson Bernardes
Time e torcida, juntos, festejaram a inesquecível noite 22 de março
Contínuo ao segundo gol dos mexicanos, a torcida respondeu com cantoria ainda mais intensa para o time colorado. Sob tamanho apoio, o Inter descontou, logo aos 36, com Michel, em gol brigado, batalhado e com a cara da Libertadores. Na etapa final, Tinga descolou, aos 7, desarme magnífico, e lançou, na direita, o autor do primeiro tento vermelho. Rasteiro, ele cruzou para Fernandão, que tirou proveito da falha do goleiro para empatar. A virada, merecida, chegou aos 30. Gabiru, recebendo assistência de cabeça do Eterno Capitão, fez explodir, também com a nuca, mas de peixinho, as estruturas do Gigante.
Data em que comemorou 97 anos de vida, no dia 4 de abril de 2006 o Clube do Povo visitou o Nacional, em Montevidéu. Desfalcado de alguns nomes, incluindo Fernandão, o Colorado segurou positivo empate sem gols no Parque Central, resultado que garantiu a manutenção da liderança, agora com 11 pontos, e praticamente assegurou vaga na fase de oitavas de final da América.
Finalizando a fase de grupos, o Inter recebeu, no 18º dia de abril, o Maracaibo. Escalado com novidades, a exemplo de Jorge Wagner, que retomou a titularidade na lateral-esquerda, e Rafael Sobis, devidamente recuperado de lesão, o time de Abel Braga não deu chance aos visitantes. Após Adriano Gabiru marcar o único gol da etapa inicial, Bolívar, Michel e Rentería transformaram a vitória em goleada. Em grande estilo, portanto, o Clube do Povo, dono da segunda melhor campanha da Libertadores, avançou, invicto e com 14 pontos, às oitavas.
Velho conhecido, novo final
Atualmente, os confrontos de oitavas de final da Libertadores são decididos através de sorteio. Em 2006, a lógica era outra. À época, a fase era disputada entre os melhores líderes contra os segundo colocados de pior campanha.
Segundo melhor time da fase de grupos, o Inter, que avançou como líder da chave 6, enfrentou nas oitavas, atendendo ao regulamento, o penúltimo segundo colocado. Curiosamente, o adversário foi o Nacional-URU, time mais do que conhecido. Apesar do positivo retrospecto recente para o Alvirrubro, todavia, o rival despertava grande receio na torcida vermelha
Desbravador gaúcho na Libertadores, o Clube do Povo disputara, exatamente contra o ‘Bolso’, a decisão do torneio em 1980. Derrotado na ocasião, o Colorado encarava, 26 anos depois, excelente oportunidade de vingar o revés passado e superar o fantasma charrua que pairava sobre as caminhadas continentais do escrete oriundo da Padre Cacique.
Iniciada em território uruguaio, a fase de oitavas de final viu brilhar Rentería. Mais colombiano dos sacis, o atacante, que já construíra excelente trajetória na fase de grupos do torneio, foi o grande nome do duelo disputado no Parque Central. Após um primeiro tempo de boas chances para os dois lados, encerrado com o 1 a 1 no placar, empate alcançado pelo Inter já nos instantes finais graças a precisa falta de Jorge Wagner, o dançarino Wason foi alçado a campo, logo no retorno dos vestiários, na vaga de Rafael Sobis. Talismã, precisou de apenas 18 minutos para virar, e o fez com estilo: acionado por Fernandão, aplicou, com a direita, um balãozinho no marcador e, sem deixar a bola cair, soltou um canhotaço, que encobriu o arqueiro Bava. Festejada, a vitória por 2 a 1, somada a empate sem gols na volta, no Beira-Rio, classificou o Inter para as quartas de final!
Uma fase, dois meses
O Clube do Povo teve uma semana de folga entre a classificação para as quartas e a abertura do duelo contra a LDU. Em Quito, capital equatoriana, os comandados de Abel Braga saíram na frente com gol de Jorge Wagner. Na etapa final, porém, a altitude de quase 3.000 metros fez a diferença. Benéfica ao time da casa, desgastou o Colorado e garantiu a virada dos locais. No Beira-Rio seria preciso, no mínimo, vencer por 1 a 0. Difícil, o desafio ficou ainda maior somado à ansiedade que precisaria ser superada, consequência dos mais de dois meses que separavam o revés na ida do embate de volta.
A América estava prestes a ser liberta/Fotos: Jefferson Bernardes
Dia 19 de julho de 2006. Após meses de fé, mobilização e treinos intensos, o Gigante, lotado, sediou a disputa dos últimos 90 minutos por vaga nas semifinais continentais. Obrigado a vencer, o Inter até criou boas oportunidades, mas foi incapaz de vazar as redes rivais no primeiro tempo. De volta do intervalo, porém, o ritmo colorado foi amplificado. Prova da intensidade? O primeiro gol, de Sobis, aos 6. Rentería, já aos 41, ampliou. Clemer, nos acréscimos, brilhou. Estávamos entre os quatro melhores das Américas!
Depois de 26 anos, a final
No Clube do Povo, os anos 1980 não ficaram conhecidos como ‘década de prata’ por acaso. Acostumado ao gosto do ouro, recorrente no início da era Beira-Rio, o Inter sofreu com frequentes batidas na trave, ocorridas também em âmbito continental.
Avassaladora, a campanha alvirrubra na Libertadores de 2006 ofereceu ao Colorado, nas oitavas, a primeira oportunidade de superar um trauma passado. Nas semifinais, surgiu a segunda. Desta vez, contra um adversário distinto, mas dentro de roteiro idêntico.
Em 1989, o Colorado perdera a vaga na decisão continental para os alvinegros paraguaios do Olímpia. Traumático, o episódio retornou à memória da torcida vermelha 17 anos depois. Para chegar à final de 2006 o Inter teria de superar, nas semis, o Libertad. Rival também do Paraguai, também preto e branco e também mandante, na partida de ida, no Defensores del Chaco.
Fora de casa, o Clube do Povo empatou sem gols. No Gigante, 50 mil pessoas empurraram escalação decidida a entrar para a história. Os protagonistas do time, naquela noite, foram Alex e Fernandão, que brilharam em nova etapa final decisiva. Pela segunda vez na história, o gigante da Padre Cacique era finalista da Libertadores.
Foto: Jefferson Bernardes
Foto: Jefferson Bernardes
Uma semana sem fim
Morumbi lotado. Inter, de grande campanha no Brasileirão passado, contra São Paulo, vencedor do último Mundial de Clubes. Duelo gigante, entre os dois atuais líderes do Campeonato Nacional. A final de 2006 foi, sem sombra de dúvidas, uma das maiores da história do principal torneio de clubes da América.
Ídolo: Rafael Augusto Sobis, um gigante na rica história do Internacional
A caminhada não foi simples. Se em 2006 a campanha alvirrubra ficou marcada pela soberania com que o Colorado despachou um rival após o outro, o trajeto rumo ao Bi da América exigiu, através de suas sinuosas curvas, ainda mais sofrimento do povo vermelho. Definidas nos últimos instantes, as fases de oitavas, quartas e semifinais testaram o coração da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.
O aprendizado oferecido por tamanho drama, enfim, pôde ser atestado na partida de ida da decisão continental. Disputado há 11 anos, o confronto entre Inter e Chivas, em Guadalajara, até ofereceu grande susto, mas foi superado pelo gigantismo do dono do Beira-Rio.
A força do nosso povo
O Gigante fez a diferença para o Colorado na Libertadores de 2010. Nas seis partidas anteriores à finalíssima que disputou como mandante no torneio, o Clube do Povo conquistou 18 pontos, garantindo irretocável aproveitamento de 100%. Sempre empurrado por um Beira-Rio lotado, o Inter se mostrou capaz de superar qualquer adversário do continente. A partir da classificação para a final, todavia, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande tratou de aumentar o raio de seu apoio. Da Padre Cacique, partiu a contagiar todo o território de Porto Alegre.
Heroicos, os últimos 90 minutos das semifinais continentais ocorreram diante de um Morumbi lotado. Dono da casa, o São Paulo até deixou o campo vitorioso, placar de 2 a 1, mas o triunfo foi insuficiente para tirar a vaga das mãos alvirrubras. Apoiado no regulamento, o Inter, que massacrara os paulistas no Beira-Rio – onde conquistou magro 1 a 0 que em nada refletiu seu domínio sobre as ações do jogo -, avançou para a decisão. No desembarque em Porto Alegre, realizado em 6 de agosto, um dia após o jogo, centenas de colorados e coloradas criaram um clima de Beira-Rio na zona norte de Porto Alegre, região do Aeroporto Salgado Filho, endereço que teve seu saguão completamente tomado.
Dando continuidade à agitada maratona que sucedeu a classificação para a final da América, o elenco colorado, após aproveitar folga na tarde de sexta-feira, retomou os trabalhos, com vistas à decisão, no sábado dia 7 de agosto. Realizadas em dois turnos, as atividades consistiram, inicialmente, em exercícios físicos.
Depois, ocorreu treino com bola, realizado no gramado do Beira-Rio e aberto para a torcida. A consequência? Mais de duas mil pessoas presentes nas arquibancadas do Gigante, dispostas a superar o frio do inverno gaúcho para contagiar o grupo antes do embarque para o México.
“Falo por todos no grupo para agradecer o público que se fez presente aqui no Beira-Rio. Eles podem ficar tranquilos que nós faremos o melhor dentro de campo para atingir o sonho de todo colorado”
D’Alessandro, após o treino
O Inter embarcou rumo ao México na manhã do domingo 8 de agosto. Novamente local na zona norte, a torcida colorada demonstrou que o treino de sábado, com portões abertos, não havia sido suficiente. Ansiosos, cerca de 200 torcedores e torcedoras fizeram festa quando o ônibus alvirrubro apontou no Salgado Filho. O principal cântico entoado, é claro, misturava tons proféticos a outros eufóricos: “seremos campeões!”.
No trajeto até Guadalajara, o Inter ainda fez escala na cidade de São Paulo, onde treinou, durante a tarde de domingo, no corintiano Parque São Jorge. O relógio já passava das 22h45 quando o avião colorado finalmente partiu rumo à nação norte-americana. Na bagagem, junto das energias positivas irradiadas pela torcida, o técnico Celso Roth levava séria interrogação. Sem Tinga, suspenso após injusta expulsão diante do São Paulo, o comandante teria de escolher um único substituto entre Andrezinho, Giuliano e Wilson Mathias. A final estava cada vez mais próxima!
“Estamos concentrados para este confronto. O pensamento é de retornar para Porto Alegre com um resultado positivo. Todos aqui sabem da relevância que tem levantar uma taça como essa”
Renan, durante a viagem
Desafio sintético
Construir uma grande atuação na finalíssima não era tarefa simples. Embora as coincidências entre as campanhas de 2010 e 2006 servissem de alento, diversas novidades inusitadas perturbavam o sono da torcida colorada. No México, o Inter encararia, no Estádio Omnilife, o desafio de atuar em gramado sintético. Também por isso, o Clube do Povo obteve, junto à CBF, o adiamento de sua rodada do final de semana válida pelo Brasileirão. Assim, ganhava mais tempo para se adaptar às exigências do piso guadalajarense.
Verdade seja dita, afora o gramado o Inter não tinha motivos para reclamar do palco da partida. Moderno, aconchegante e muito bonito, o Estádio acabara de ser inaugurado. O duelo entre Colorado e Chivas, inclusive, seria apenas o segundo da história do Omnilife, sucedendo o inaugural amistoso disputado pelo time da casa contra o Manchester United. Ocorrido no dia 30 de julho, o festivo embate foi encerrado com triunfo local por 3 a 2.
O Inter teve seu primeiro contato com o tapete mexicano no dia 9 de agosto, data em que comemorava quatro anos da inesquecível vitória sobre o São Paulo, no Morumbi, conquistada na abertura da decisão da Libertadores de 2006. No Omnilife, Celso Roth comandou treino em campo reduzido, dividindo o grupo em três times. Um dia depois, o Clube do Povo encerrou a preparação para o duelo diante do Chivas com novas atividades realizadas no palco da final. Faltavam míseras 24 horas para o confronto.
Rival mobilizado
Hoje, a humanidade encara com braveza e mobilização a pandemia de Covid-19. Inimigo invisível, o novo coronavírus já vitimou mais de 730 mil vidas, uma centena de milhares apenas no Brasil. Sem precedentes na história recente da humanidade, a doença tem revolucionado o modo de vida das mais diversas sociedades. Há 11 anos, contudo, o México também encarava grave crise sanitária, esta causada por uma epidemia, localizada, mas também aterrorizante, de Febre Amarela.
Chivas na Libertadores de 2010/Foto: Divulgação, MedioTempo
O caos na saúde do país obrigou Chivas e San Luis, as equipes mexicanas presentes nas oitavas de final da Libertadores de 2009, a abandonarem o torneio. Como contrapartida, estas receberiam vaga para a mesma fase da competição no ano seguinte. Desta forma, o time de Guadalajara disputou apenas seis partidas continentais antes de chegar à decisão contra o Inter.
No caminho até a final, os comandados de José Luis Real superaram, respectivamente, Vélez Sarsfield, da argentina, Libertad, do Paraguai, e os chilenos da La U, comandada por Jorge Sampaoli. Assim, descansado e credenciado por breve – e brava – campanha, o adversário colorado chegava ao último capítulo de luta pela taça.
Federado à CONCACAF, o norte-americano Chivas Guadalajara sabia que, mesmo triunfo sobre o Inter, não garantiria vaga no Mundial de Clubes. Integrante da CONMEBOL, portanto, o Clube do Povo já tinha participação assegurada no maior torneio interclubes do planeta. A impossibilidade de disputar o certame internacional, todavia, em nada diminuía a empolgação dos mexicanos, que sonhavam dia e noite com a taça da Libertadores. No país, o adversário colorado contava com a simpatia da maioria dos rivais, assumindo-se, assim, enquanto representante de todo o México.
“O campo deixa a bola rápida e eles têm a velocidade como principal característica.”
Alecsandro, em Guadalajara
Dentro de campo, eram muitas as armas do adversário. Forte no contra-ataque, o Chivas estava invicto no segundo semestre de 2010, e contava com os ameaçadores Bautista e Omar Bravo na linha de frente. Vivendo bom momento, a equipe estaria apoiada por mais de 50 mil pessoas, multidão que prometia atordoar as tramas coloradas. Um duelo inesquecível, sem sombra de dúvidas, estava por começar.
Futebol solto para libertar a América
No gol, pela terceira vez consecutiva na Libertadores, Renan. Em frente ao arqueiro, Nei ocupava a faixa direita, Kléber a esquerda e Bolívar e Índio o centro. Abrindo o meio de campo, Sandro e Guiñazú, afinados como poucos volantes estiveram na história colorada, davam tranquilidade à defesa e, simultaneamente, sustentação ao ataque.
Pela direita da linha de três meio-campistas, D’Alessandro vestia a 10. No flanco esquerdo, Taison levava a 7. Por dentro, substituindo Tinga e dando fim ao mistério, Giuliano empunhou a 11. Completando o escrete escalado por Celso Roth, Alecsandro, com a 9, entrava em campo pela 100ª vez com o manto alvirrubro. O Inter estava pronto para a decisão!
Os 11 heróis de Guadalajara/Foto: Divulgação
O Inter começou a partida controlando a posse de bola. Quando não tinha controle sobre a redonda, a equipe colorada encurralava o Chivas, impedindo aos mandantes o direito de trocar mais de três passes. Visivelmente, os dois dias de trabalhos no gramado sintético surtiam efeito na mecânica do Clube do Povo, que não sofria com os distintos piques e velocidade tomados pela bola no piso do Omnilife.
Como de costume, D’Alessandro coordenava cada movimento da região nevrálgica colorada. Afinado com Giuliano, alternava entre o flanco direito e a zona central, construindo combinações tanto com o camisa 11 quanto com Nei. Pela esquerda, Taison e Kleber exibiam entrosamento cada vez maior. Veloz e dono de grande habilidade para o drible, o jovem atacante caía com frequência sobre a linha lateral, abrindo vazio perfeito para as infiltrações do construtor companheiro canhoto. Exatamente a partir de tabela da dupla, o Inter criou, aos 4, a primeira chance da noite. Lançado pelo 7, o lateral invadiu a área e finalizou aberto. A bola explodiu no poste e saiu pela linha de fundo!
“Realmente estou muito motivado. Foi muito bom ter chegado a um clube como o Internacional, que sempre está disputando títulos. Meu pensamento é de retribuir isso sagrando-se campeão contra o Chivas. Quero saber qual é o gosto de vencer uma Libertadores.”
Não existia porquê o Inter adotar postura descontrolada no ataque. Contando com jogadores de altíssimo quilate, o Clube do Povo podia se dar ao luxo de dominar a partida sem a necessidade de imprimir ritmo excessivamente intenso. Atuando em casa, o Chivas sabia da importância de largar em vantagem e, esperava-se, cederia espaços em busca de um gol. Assim, o Colorado tratava de cozinhar o jogo, não oferecendo qualquer espaço para os mexicanos, e aguardar pela escapa fatal, que quase chegou aos 28.
Taison, Alecsandro e Giuliano trocaram passes em velocidade para chegar às cercanias da área mexicana. Na altura da meia-lua, o camisa 7 recebeu do centroavante e driblou Reynoso, capitão do Chivas. A cria do Celeiro, porém, não conseguiu finalizar a jogada devido a carrinho do zagueiro rival.
Falta perigosa, foi cobrada, com grande precisão de parte do camisa 9, direto no travessão do goleiro Luis Michel. Perceptível no banco de reservas colorado, a lamentação ficou ainda maior depois que Alecsandro sentiu lesão muscular e precisou ser substituído. Em seu lugar, veio Everton a campo.
Alecsandro participou ativamente dos 30 minutos que disputou da partida/Foto: Divulgação
Inalterado o panorama da partida permaneceu até os minutos finais do primeiro tempo. Percebendo que o corredor esquerdo vinha rendendo grandes frutos ao Colorado, Giuliano passou a construir, pelo flanco, dobradinha tão insinuante quanto a que possuía ao lado de D’Ale. Aos 41, foi exatamente o camisa 11 quem, de calcanhar, acionou Kleber. Rente à linha de fundo, o lateral teve tempo para dominar, pensar e, passados bons segundos, cruzar bola açucarada para Taison, que chegou cabeceando. Batido no lance, o goleiro muito comemorou o corte providencial de seu zagueiro.
Pouco depois, aos 45, Bautista, até então sumido no jogo, anulado por excelente marcação individual de Sandro, recebeu cruzamento da direita e, por cobertura, marcou de cabeça. Criminosa injustiça, a bola na rede foi a única de um primeiro tempo marcado por supremacia total alvirrubra. Para a etapa final, seria necessário manter o controle da partida, é claro, mas revolucionar a postura na linha de frente. Mais do que ingrato, o revés era inaceitável.
Virada absoluta
O gol não abalou o Inter. De volta para o segundo tempo com os mesmos 11 nomes que encerraram a etapa inicial, o Clube do Povo finalizou pela primeira vez, com Giuliano, logo aos 50 segundos. Menos de cinco minutos depois, o talismã colorado na Libertadores de 2010 derivou do centro para a direita e, lançado por Nei, cruzou, já dentro da área, rasteiro. Antes de Everton, Luis Michel foi ao chão para defender.
Mais ofensivo, o Inter também passou a correr maiores riscos na defesa. Aos 9, por exemplo, Omar Bravo, jogador que marcou época na Seleção Mexicana, pegou a sobra de corte parcial e, de fora da área, chutou cruzado. A bola assustou Renan, mas saiu em tiro de meta. Taticamente, Roth inverteu Giuliano e D’Ale, acrescentando velocidade ao corredor direito e maestria à zona central. Responsável também pelas bolas paradas, o craque e camisa 10 colorado aplicou lindo La Boba, aos 12, e cruzou para o 11, que testou por cima. A dupla, ficava claro, começava a assumir, no lugar do flanco esquerdo, o protagonismo das tramas ofensivas alvirrubras.
O Chivas cresceu no jogo ao longo da segunda dezena de minutos da etapa final, aumentando seu percentual de posse de bola e, especialmente, a frequência com que ocupava a intermediária ofensiva. Maduro, o Inter respondeu com precisão milimétrica à simpatia dos mexicanos pelo jogo. Primeiro, aos 23, D’Ale mandou um canhotaço que tirou tinta do travessão rival. Depois, aos 26, Sobis entrou na vaga de Everton. A alteração, registre-se, aconteceu imediatamente após excelente cruzamento de Kleber passar reto pelo atacante, que mais cedo entrara na vaga de Alecsandro, e por Giuliano. A sorte, contudo, não voltaria a sorrir para os rivais daquela noite.
Rafael Sobis é um legítimo Senhor Libertadores. Revelado pelo Celeiro de Ases, o atacante conhece os atalhos da competição como poucos. Vestindo a camisa colorada, então, torna-se fatal especialista. Em sua primeira participação no confronto, o camisa 23, caindo pela direita, recebeu arremesso lateral de Nei. Genial, demonstrou a mesma sagacidade que exibira na primeira partida da decisão de 2006, contra o São Paulo, para matar dois marcadores com imprevisível corta luz.
Com espaço, o menino de Erechim avançou para as proximidades da grande área, cortou para dentro e, de trivela, inverteu jogo com o Guiñazú, livre. De Cholo ela seguiu até Kleber, que cruzou da altura da quina do retângulo mexicano. Açucarada, a bola encontrou a cabeça de Giuliano, posicionado exatamente sobre a marca do pênalti. Desta vez, ele não perdoou. Desta vez, o talismã artilheiro mandou testaço preciso para as redes guadalajarenses. Tudo igual no Omnilife!
Giuliano? Empatou/Imagens: Rede Globo
O empate devolveu ao Inter a tranquilidade exibida na etapa inicial. Somava-se agora, ao jogo de autoridade desempenhado pelo Colorado, o brilho de Sobis. Atuando como referência no ataque, mas tendo a costumeira liberdade para se movimentar e fazer combinações com Taison, o ídolo vermelho tabelou, aos 29 minutos, com outra divindade de nossa história. D’Alessandro, também centralizado, recebeu do parceiro e percebeu Giuliano na direita. O camisa 11 dominou, costurou, esperou e, na hora certa, soltou para Nei, que somente deixou de invadir a área por conta de puxão do lateral Fabián. Falta, quase pênalti, em favor do Clube do Povo.
Responsável pela cobrança, D’Ale, tirando proveito do ângulo ideal para uma batida fechada, tentou cobrar direto. Reboteada pela barreira, a posse retornou ao domínio do 10 colorado. Na quina da grande área, como também estivera Kleber mais cedo, mas agora pela direita, o craque, danado, usou do La Boba para ganhar espaço.
Com o drible, abusou da precisão de sua canhota. Aberto, o cruzamento encontrou Índio que, de cabeça, serviu Bolívar. Entre o retângulo menor e a marca do pênalti, o capitão alvirrubro, como se fora um centroavante, desferiu inesquecível peixinho. Afobado em sua saída de gol, o arqueiro nada pôde fazer. Picando, a bola beijou as redes do Chivas. Virávamos.
Bolívar, de sua parte, virou/Imagens: Rede Globo
A caminhada do Colorado como visitante na Libertadores de 2010 servia, até aquele momento, de antítese perfeita à impecável campanha construída pelo Clube do Povo no Beira-Rio. O Inter, nas seis jornadas que disputara longe do Gigante, ainda não conquistara triunfo algum. Motivo para nervosismo? Não ao calejado elenco alvirrubro, que, demonstrando péssimos modos, impediu qualquer novo sorriso dos donos da casa. Os 15 minutos finais correram rapidamente. Apenas as faltas cavadas pelo impiedoso D’Alessandro, ou a entrada de Wilson Mathias, na vaga de Taison, interromperam o correr da bola. Nervoso, o Chivas não conseguia assimilar a virada alvirrubra. Em um piscar de olhos, de vencedores passaram ao posto de vencidos.
“Tivemos muita disposição e qualidade. Mesmo jogando fora de casa, conseguimos criar muitas oportunidades. Agora vamos fazer um bom jogo no Beira-Rio para fechar a campanha com chave de ouro”
Bolívar, após a partida
O terceiro dos últimos três sopros de apito desferidos pelo argentino Héctor Baldassi chegou aos 47 minutos e 58 segundos. O estridente som, muito comemorado, oficializou mais uma coincidência entre as histórias de nossas conquistas continentais. De novo, vencíamos os primeiros 90 minutos da decisão. Uma vez mais, fora de casa. Novamente, por 2 a 1. Para encerrar a lista de encontros, restava, apenas, a taça. Ansiosas as noites que dormimos até a chegada dela. Em uma semana o Beira-Rio ergueria, uma vez mais, o principal troféu da América do Sul.
No horizonte colorado, despontava um Beira-Rio lotado e um continente por ser liberto/Foto: Ricardo Duarte
Morumbi lotado. Cerca de 70 mil pessoas apoiando o time da casa, atual campeão do mundo, e que sonhava com o bicampeonato consecutivo da América. Duelo de duas das melhores campanhas da Libertadores. Confronto dos atuais líderes do Brasileirão. Os ingredientes, não se pode questionar, estavam postos para uma noite memorável. Tolos? Somente os que esperavam cozinhar o Inter no caldeirão paulista. Há 14 anos, vivíamos uma das maiores noites de nossa história.
Pula que é gol do Sobis, só pode ser o Sobis/Foto: Jefferson Bernardes
Duelo grandioso
De fato, o adversário exigia respeito. Tricampeão da Libertadores, em 2006 o São Paulo fechou a primeira fase com a quarta melhor campanha do torneio. Nas oitavas, superou o Palmeiras com o agregado de 3 a 2. Logo em seguida, eliminou, no Morumbi, os argentinos do Estudiantes. A classificação para as semis veio nas cobranças de pênaltis, após vitória por 1 a 0 no tempo normal.
Para chegar à finalíssima, o Tricolor, que contava com a estrelada geração de Rogério Ceni, Lugano, Josué, Mineiro, Aloísio e Ricardo Oliveira, ainda bateu o Chivas de Guadalajara. Na casamata, a equipe paulista tinha o comando de Muricy Ramalho, técnico colorado na temporada anterior e, portanto, grande conhecedor do elenco alvirrubro.
Em dezembro, São Paulo conquistaria o Brasil/Foto: Site São Paulo
“Com todo o respeito ao São Paulo, o Inter também é uma grande equipe!”
Bolívar, classificado para a final
O reconhecimento ao bom momento rival, todavia, não significava pessimismo. Muito menos covardia. Dono da segunda melhor campanha da fase de grupos da Libertadores, o Clube do Povo construiu caminhada maiúscula no torneio continental, à altura do que cobra o manto vermelho. Diante do Nacional-URU, equipe que derrotara o Inter na decisão do campeonato em 1980, o Colorado exorcizou seu primeiro fantasma na escalada rumo ao título.
Após eliminar os uruguaios do Parque Central em confronto marcado por pintura inesquecível de Rentería, o Inter encarou, nas quartas de final, duplo desafio. Dentro de campo, a LDU, base da Seleção do Equador, buscava fazer história a nível continental. Fora das quatro linhas, a ansiedade tirava o sono do povo colorado. Entre a partida de ida, vencida pelos locais, em Quito, e o duelo de volta, disputado no Beira-Rio, mais de dois meses, e uma Copa do Mundo, foram vividos. Obstáculos grandiosos, mas inferiores ao Gigante, que garantiu a classificação para as semis. O último rival no caminho até a decisão foi o Libertad, derrotado, depois de empate sem gols no Paraguai, por 2 a 0no templo da Padre Cacique.
“A história não está feita ainda. Temos que buscar o título”
Fernandão após vitória sobre o Libertad
Pré-jogo de mistério
O Colorado embarcou para São Paulo no sábado 5 de agosto, véspera de confronto contra o Santos, válido pela 15ª rodada do Brasileirão. Disputada apenas quatro dias após o Inter garantir vaga na final da Libertadores, a jornada em terras paulistas contou com uma escalação alternativa do Clube do Povo, que abriu o placar com Iarley, mas sofreu a virada, apesar de boa atuação, nos instantes finais do segundo tempo. O grande ponto positivo do embate foi o retorno de Tinga, recuperado de lesão sofrida no dia 19 de julho, data do duelo de volta contra a LDU. O meio-campista, inclusive, criou a jogada do tento vermelho.
“A gente foi minado com muitas faltas na frente da área, mas não quero me apegar nisso, porque temos uma situação muito importante na quarta-feira. Fico triste pela derrota, mas feliz porque consegui me movimentar bem e posso jogar na quarta-feira.”
Tinga após o duelo contra o Santos
A Baixada Santista seguiu como casa do Colorado nos dias seguintes ao duelo. No CT do Santos, Abel Braga comandou duas atividades fechadas para a imprensa, rodeada de mistérios. Se o retorno de Tinga era provável, por outro lado Alex, com dores no púbis, era dúvida. Autor do primeiro gol marcado pelo Inter na partida decisiva contra o Libertad, o camisa 24 desempenhava papel fundamental no time alvirrubro, alternando com Jorge Wagner entre a ala-esquerda e a armação. Élder Granja, com lesão muscular, também integrava a delegação, mas sua presença dentro de campo era tida como ainda mais complicada.
Eram muitas, assim, as dúvidas que rodeavam a nominata alvirrubra. Na direita, Ceará, que já vinha atuando no lugar de Granja, correspondia à maior certeza. Alex, ao mesmo tempo, passava longe de ter substituto definido. Caso Abel optasse por formação mais conservadora, poderia escolher Índio para o lugar do meio-campista, armando a equipe com três zagueiros e oferecendo maior liberdade a Tinga.
Inter, de Sobis, ajeitou os últimos detalhes no CT do Santos/Foto: Jefferson Bernardes
Outra alternativa residia em Iarley, camisa 10 que vinha somando grandes exibições no Brasileirão. A vocação ofensiva do comandante vermelho também suscitava expectativas acerca da escalação de Michel ou Rentería, avantes que poderiam formar o ataque com Sobis, passando Fernandão para o meio. Com a cabeça repleta de pequenas interrogações, ínfimas se comparadas à enorme motivação que carregavam, cerca de 3,5 mil colorados e coloradas encararam os 1109 quilômetros que separam as capitais de Rio Grande e São Paulo.
Era hora de fazer história. Era hora de soltar o libertador grito que estava preso há 97 anos em nossas gargantas.
Uh, Fernandão!/Foto: Jefferson Bernardes
Nenhum gol, duas expulsões
Entender as escalações que representaram Inter e São Paulo no Morumbi exige voltar mais quatro anos no tempo. Pentacampeão mundial em 2002, o Brasil do técnico Felipão surpreendeu a crítica esportiva, que muito desacreditava a Seleção Brasileira, na Copa do Mundo disputada em Japão e Coréia do Sul.
Armada no esquema 3-5-2, a Canarinho contava com os recuos dos alas Cafu e Roberto Carlos para ter segurança defensiva e máximo apoio pelos flancos. A formação marcou época e, como de costume em Copas do Mundo, ditou novas regras para o futebol. A decisão da Libertadores, é claro, comprova.
A seleção do Penta/Foto: Wilson Carvalho, CBF
Muricy escalou Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Souza, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Leandro e Ricardo Oliveira. O desenho, é claro, reproduzia o 3-5-2. Contra o escrete paulista, Abel apostou no 4-4-2. Clemer, há quatro jogos sem sofrer gols na Libertadores, defendia a meta alvirrubra. Na defesa estiveram, Ceará, na direita, Bolívar e Fabiano Eller, na zaga, e Jorge Wagner, na esquerda. À frente, Tinga e Alex armavam. Fabinho e Edinho, também – mas ainda somavam obrigações defensivas. Completando a nominata, Sobis e Fernandão reeditavam, uma vez mais, poética dupla que marcou época no ataque colorado.
O clima no luxuoso bairro paulista era de festa. Com foguetes, sinalizadores e bandeiras, a torcida da casa empurrou o São Paulo nos instantes iniciais, apostando que um precoce gol poderia bagunçar a estratégia de Abel. Logo no primeiro minuto, Leandro foi lançado na área colorada e chutou cruzado. Mascada pela zaga, a bola morreu segura nas mãos de Clemer. O Inter respondeu pouco depois com Ceará. Aos 3, o lateral escapou em velocidade pela direita e cruzou fechado buscando Sobis. Antes dele, Ceni cortou em escanteio. O camisa 11 colorado teve boa chance na continuidade do lance, partindo, sobre a linha da grande área, da esquerda para o centro. Cruzado, o arremate explodiu na rede, por fora.
Sobis era, de fato, o mais insinuante colorado em campo. Estonteante nas cercanias da grande área, não hesitava em buscar jogo no campo defensivo, irritando a selecionável dupla de volantes paulistas. Josué, estressado, descontou sua indignação muito cedo, e acertou cotovelaço no jovem atacante alvirrubro. Com 9 minutos de partida, o São Paulo já tinha um a menos.
Numérica, a superioridade colorada também foi vista nas ações do campo. Entregue a escassos contra-ataques, o São Paulo apostava o pouco que tinha em Souza, ala-direita. Esperto, Abel respondeu dando liberdade para Jorge Wagner, que muito se somou a Alex na construção de jogadas pelo flanco canhoto. Livre, o lateral-esquerdo colorado recebeu passe milimétrico de Edinho, que tabelara com Sobis, e, de cara com Rogério, finalizou rasteiro. O relógio marcava 17 minutos, e o Inter tinha a primeira grande chance da noite!
Cedo na partida, Jorge Wagner assustou os paulistas/Foto: Divulgação
A resposta tricolor chegou aos 23. Ricardo Oliveira interceptou troca de passes do Inter na intermediária ofensiva colorada e escapou em velocidade. Pela esquerda, colocou na frente e, antes do bote de Bolívar, cruzou com curva. Pouco depois da marca do pênalti, Leandro dominou, deixou correr e, quando Clemer já caía no chão, finalizou. Fabinho, salvador, travou em carrinho milimétrico. Que início de final!
Dono da posse de bola, o Inter voltou a assustar aos 34. Da mesma posição que partira para marcar o primeiro contra o Libertad, Alex recebeu passe de Bolívar. Com espaço, colocou na frente e dispensou a necessidade de um segundo toque na bola. Viva, com efeito, a finalização de canhota levou muito perigo. Três minutos depois, Fabinho acertou Souza por cima e também recebeu o vermelho.
Dono dos holofotes, o camisa 21 do Tricolor teve boa chance após cavar a expulsão do volante alvirrubro, mas esbarrou em Clemer. Por fim, Jorge Wagner encerrou os melhores momentos de uma agitada etapa inicial aos 44, quando cobrou falta por cima do gol de Ceni. O branco do placar, embora não refletisse o ritmo intenso do primeiro tempo, era bem recebido pelo time de Abel Braga, confiante na possibilidade de, no jogo de volta, exercer a tradicional força colorada no Beira-Rio.
Para a história
Até 2006, a maioria dos colorados e coloradas lembrava do Morumbi como palco da maior exibição da história do Inter como visitante. Abrindo a disputa da semifinal do Brasileirão de 1979, o Clube do Povo esteve perfeito para atropelar o Palmeiras e, através de vitória por 3 a 2, trazer a vantagem para o Beira-Rio. Na ocasião, Falcão, cabeludo craque revelado pelo Celeiro de Ases, brilhou balançando as redes paulistas em duas ocasiões. Passados 27 anos, o povo vermelho seria brindado com nova exibição impecável no gigante templo do São Paulo Futebol Clube.
A tranquilidade exibida pela equipe colorada na noite de 9 de agosto de 2006 contrastava com o turbilhão de emoções encarado pelos presentes no Morumbi. Seguro, o time de Abel jogava empurrado por rica biografia, e já construía, durante o zero a zero, atuação que despertava orgulho no povo vermelho. Seguindo à rica este roteiro, o Clube do Povo saiu de trás com tranquilidade aos 8 minutos da etapa final, quando Bolívar acionou Edinho.
Cabeça erguida, o volante progrediu firme para invadir a intermediária rival. Com passadas largas, venceu os dois primeiros marcadores na velocidade. Livre, lançou Sobis quando sentiu a aproximação de Lugano, descontrolado. Ingênuo, o uruguaio deixou espaço na retaguarda tricolor, já esvaziada graças à genialidade de Fernandão. Aberto na direita, o camisa 9 prendeu Edcarlos e criou espaço para a infiltração de seu parceiro de ataque. Como uma orquestra afinada, tudo corria bem na escapada colorada.
Cabeludo craque revelado pelo Celeiro de Ases (um salve às coincidências), Sobis partiu para o mano a mano contra Fabão. Em velocidade, dominou com a direita e, usando da mesma perna, conduziu em linha reta. Para a esquerda, gingou o corpo, levando junto o zagueiro. Ganhava, então, ainda mais espaço para sua melhor perna.
O drible custou o equilíbrio do atacante, que por pouco não caiu. Genial, todavia, ele, que acabara de costurar no gramado as veias do continente que estava prestes a libertar, manteve-se de pé para invadir a área. Dentro dela, finalizou cruzado. Rasteiro. Para a eternidade. Inter na frente, e o setor visitante do Morumbi conhecia o DNA carnavalesco do povo colorado.
Gaúcho e colorado, colorado e gaúcho/Imagens: Rede Globo
Logo depois do gol, Abel mandou Wellington Monteiro a campo, sacando Ceará. Mantido o desenho, a troca deu ainda mais liberdade para a infernal dupla Alex e Jorge Wagner, uma vez que o substituto pela direita, habituado a atuar também como volante, tinha no comportamento defensivo um de seus melhores valores. Em dívida no marcador, o São Paulo precisaria se jogar ainda mais para o campo ofensivo, e estava claro qual corredor ofereceria ao Inter seus melhores contra-ataques.
Infiltrando pela esquerda, Tinga recebeu ótimo passe de Alex que, posicionado pela direita, cobria o avanço do companheiro. Livre, o camisa 7 dominou no momento do pique, mas Rogério, inteligente, deixou o gol para ficar com ela antes do cabeceio do meia colorado. Chance perdida para alguns, caminho indicado para outros. Três minutos depois, Eller desarmou Ricardo Oliveira e deixou ela com Jorge Wagner, que escapou em velocidade.
O camisa 23 cruzou a linha do centro do campo e acionou Fernandão. Posicionado como um volante após ter empreendido intensa perseguição a Ricardo Oliveira, o Eterno Capitão colorado esperou o aproximação de Mineiro e devolveu em Jorge. Fazendo as vezes de meio-campista, ele deixou, em profundidade, para Alex, então exercendo a função de ala.
Alex cruzou linda bola na segunda trave, com efeito, direcionada à nuca de Fernandão, que infiltrou em velocidade. Nas costas da marcação, o camisa 9 colorado testou para a frente, onde estava Tinga, pisando na pequena área. O meio-campista mandou, também de cabeça, arremate certeiro e forte, que explodiu no travessão. Exatamente em cima da marca do pênalti, Rafael Sobis impediu o picar da bola no rebote e finalizou colocado em direção às redes abertas. Pobre Ceni, bem que tentou, mas a noite não era dele. Era de Sobis, que marcava o segundo do Inter.
O segundo do menino de Erechim/Imagens: Rede Globo
Os dois gols de vantagem conquistados em 16 minutos de etapa final criaram um portal na cidade de São Paulo. A partida, antes disputada no Morumbi, passou a ocorrer no gramado do Beira-Rio. O som ambiente não deixava dúvidas.
Tomado pelo povo vermelho, o estádio via ecoar estridente “Vamo, Vamo Inter”. Dona dos mais altos decibéis, a torcida colorada construiu festa poucas vezes vista no sudeste brasileiro. A noite, indubitavelmente, entrava para a história.
Festa da torcida colorada/Foto: Divulgação
Os elogios tecidos ao São Paulo no alvorecer desta matéria não se fizeram presentes por acaso. Treinado por um gênio, o time da casa respondeu ao segundo gol colorado com a entrada de Lenílson, ofensivo meio-campista que substituiu Danilo. Logo depois, Júnior, primeiro dentro e depois fora da área, desperdiçou boas oportunidades. O que antes era uma goleada, consequentemente, voltou a tomar contornos de igualdade, afinal de contas, entusiasmada pela postura de seus atletas, a torcida do São Paulo passou a disputar o posto de local com a colorada.
Dentro de campo, a vantagem do Clube do Povo também conviveu com ameaços. Aos 21, por exemplo, Clemer operou grande milagre. Sedento por novo contra-ataque, o Inter deu o troco com Sobis. Após servir Alex, o camisa 11 viu Fernandão ser lançado na esquerda da grande área. Parcialmente cortado, o cruzamento rasteiro do camisa 9 voltou para o artilheiro da noite. De frente pra o gol, ele exagerou na força.
É preciso reconhecer a excelente atuação de Souza, o mais perigoso atleta do São Paulo. Aos 28, ele quase consagrou Júnior, mas o excelente cruzamento foi cortado por Wellington Monteiro. Cobrado o escanteio, o lance prosseguiu até Leandro receber bola na direita da intermediária e cruzar para Edcarlos, postado como um centroavante. Certeiro, o cabeceio morreu nas redes de Clemer. Jogo em aberto, mais uma vez.
No lugar do zagueiro artilheiro, que vinha jogando como atacante, entrou Aloísio, centroavante de origem. Ao mesmo tempo, o Inter contava com Índio, que substituíra, minutos antes do gol, Alex. Fechado com cinco atletas na primeira linha, o Clube do Povo ainda somava mais quatro no meio de campo, consequência da aplicação tática de Fernandão e Sobis, que revezavam no momento de recompor.
A consequência de toda a dedicação dos avantes colorados chegou aos 34, quando o até então incansável Rafael Sobis precisou sair. Exaurido após atuação do mais alto nível, deu lugar para Michel. Renovado, o talismã de Abel Braga dispensou os recuos de Fernandão, e exerceu, absoluto, a função de coringa entre meio e ataque.
“As dificuldades serão iguais ou maiores no próximo jogo. Conseguimos apenas uma pequena vantagem e vamos aproveitá-la da melhor maneira possível”
Abel após o jogo no Morumbi
Descansado na linha de frente, Fernandão criou, aos 36 minutos, oportunidade mágica para o Inter. Acionado por Tinga, prendeu dois marcadores, fez a parede e recomeçou com Jorge Wagner, que deixou de lado com Edinho. O volante disparou do círculo central e, mais uma vez imparável, só foi derrubado por carrinho violento de Fabão, já na meia-lua da grande área. Para o agressor, amarelo. Para o Clube do Povo, falta. Para Jorge, o lamento. A bola saiu alta demais.
Ricardo Oliveira, Lenílson, Richarlyson – alçado a campo na vaga de Leandro -, Souza e, inclusive, Bolívar, cortando cruzamento perigoso vindo da direita. Todos estes atentaram contra a meta colorada ao longo dos instantes que antecederam o apito final. Nenhum balançou as redes de Clemer. Aos 48, Jorge Larrionda encerrou jornada que até hoje segue interminável na nostálgica memória do povo do Inter. Em uma semana, conquistaríamos a América.
Heróis colorados comemoram muito a vantagem conquistada na partida de ida/Foto: Divulgação
O Inter é um gigante do futebol brasileiro. Como tal, exibe rica história em diversos estádios míticos de nosso país, não restringindo sua magnificência ao Gigante, templo que há 51 anos serve de casa ao Clube do Povo. Dentre os muitos palcos que já testemunharam epopeias coloradas, provavelmente o Cícero Pompeu de Toledo seja o mais habituado a reverenciar esquadrões alvirrubros. O apelido da cancha, que muitas vezes já virou Beira-Rio? Morumbi.
Em 1979, por exemplo, Falcão comandou atuação magistral do Time que Nunca Perdeu e, com dois gols, garantiu vitória de 3 a 2 na partida de ida das semifinais nacionais. Já no século XXI, o primeiro a brilhar Sobis, outra cria do Celeiro, responsável por costurar, no gramado paulista, as veias abertas do continente que estava prestes a libertar. Quatro anos depois, no mesmo endereço, o Inter viveu novo capítulo marcante de uma biografia bicampeã da América. No dia 5 de agosto de 2010, o Clube do Povo eliminava o São Paulo e avançava à decisão da Libertadores.
Foto: Jefferson Bernardes
Há 10 anos, o presente, que diz tudo, repetia o passado alvirrubro
As vantagens coloradas
O Clube do Povo partiu para São Paulo em vantagem na briga por vaga na decisão da Libertadores. No dia 28 de julho, diante de um Beira-Rio lotado, o Colorado superara os visitantes por 1 a 0, gol de Giuliano. Embora positivo, o resultado não deixou de ser lamentado por parte da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Afinal de contas, o Inter, dono do jogo, fizera por merecer escore ainda mais folgado.
De todo modo, a exemplo do que ocorrera na fase de quartas de final, diante do Estudiantes, o elenco alvirrubro partia para os últimos 90 minutos com a possibilidade de jogar pelo empate. Desta vez, esperava-se, apenas o sofrimento poderia ser menor. Contra os argentinos, o gol da classificação saiu aos 43 da etapa final, quando a torcida da casa já comemorava vitória por 2 a 0 e consequente classificação.
Entre os duelos de ida e volta contra o São Paulo, o Clube do Povo disputou, no Beira-Rio, Gre-Nal válido pelo Campeonato Brasileiro. Se a torcida já demonstrava grande simpatia pela superstição de, uma vez mais, encarar o tricolor paulista na caminhada rumo ao topo do continente, enfrentar o maior rival em meio a uma semifinal de Libertadores apenas aumentava a lista de coincidências entre a campanha de 2010 e a campeã em 2006.
Antes de encarar os últimos 90 minutos de duelo contra o Libertad, o Inter também havia enfrentado, há quatro anos, no Beira-Rio, seu maior rival. Igualmente válido pelo Nacional, o clássico, marcado por vexatório tumulto da torcida visitante, fora encerrado sem gols. Em 2010, o roteiro, dentro de campo, foi idêntico.
Encerrando os encontros de passado com presente, o povo colorado recebeu maravilhosa notícia no segundo dia do mês de agosto. Após uma verdadeira corrida contra o tempo, simbolizada em dias de intenso trabalho, o ídolo Tinga, completamente recuperado de edema na coxa direita, voltou aos treinamentos. À disposição, o meio-campista poderia reencontrar a vítima de seu único gol na Libertadores de 2006, tento que valeu o título para o Inter. Repatriado ainda no mês de maio, o agora camisa 16 havia esperado quase dois meses para ter sua situação regularizada e, assim, reestrear com o manto vermelho. Fulminante, logo construiu atuações de alto nível, suficientes para rapidamente torná-lo titular. Na última partida antes do confronto de ida da semifinal, contudo, sofreu a lesão. Sedento, ao retornar credenciava-se ao posto de arma secreta de Celso Roth.
“Sempre vão ter as comparações com 2006, mas a gente que está envolvido sabe que são situações diferentes. Agora é semifinal. Mudam os jogadores, e, também, as situações.”
Injusta etapa inicial
O Clube do Povo não alimentou mistério algum para o duelo frente aos paulistas. A escalação para o Morumbi, era certo, praticamente replicaria o escrete que atuou no Beira-Rio. A única mudança, é claro, ficava por conta de Tinga, titular na vaga de Andrezinho. O camisa 16 ocuparia a faixa central da trinca de meio-campistas que formavam o 4-2-3-1 colorado. Pela direita, teria a companhia de D’Ale. Na esquerda, Taison. O comando de ataque, uma vez mais, ficaria a cargo de Alecsandro, enquanto Sandro e Guiñazú garantiriam segurança na volância. Na retaguarda, o goleiro Renan contaria com a proteção dos laterais Nei e Kleber e dos zagueiros Índio e Bolívar.
A ausência de incertezas quanto à formação vermelha, todavia, passava longe de significar desmobilização para o duelo decisivo. Horas antes do confronto, que tinha início previsto para as 21h50, a logística colorada já marcava presença no vestiário paulista. Desta forma, quando os jogadores desembarcassem, encontrariam toda a parte de rouparia, massagem e relaxamento muscular a postos. Entre os responsáveis por preparar a estrutura estava o histórico roupeiro Gentil Passos, aniversariante do dia, que sonhava com uma vitória de presente.
“Nem vou ver o jogo, nunca saio do vestiário. Vou tentar sintonizar no radinho. Em 2006, olhei pela janelinha e só consegui ver a rede balançando no gol do Sobis!”
As mudanças verdadeiramente intensas aconteceram no time de Ricardo Gomes. Em um Morumbi lotado, o São Paulo foi a campo com Rogério Ceni; Jean, Alex Silva, Miranda e Júnior César; Rodrigo Souto, Cléber Santana, Hernanes e Fernandão; Dagoberto e Ricardo Oliveira. No lugar do 3-5-2 da partida de ida, esquema que facilmente se convertia em um compacto 5-4-1, o tricolor paulista apostava num losango de meio-campistas. Fernandão, ídolo colorado, ocupava o vértice superior, encostando na forte dupla de ataque.
O confronto, vale destacar, carregava um incremento especial. Além de garantir vaga na decisão da Libertadores, quem avançasse entre Inter e São Paulo estaria, também, assegurado no Mundial de Clubes da FIFA. Isto porque o Chivas, já finalista, não poderia, enquanto time mexicano, representar a CONMEBOL no torneio. A vitória, portanto, tornava-se ainda mais cobiçada pelo time da casa, que tentou pressionar desde o primeiro apito. A principal aposta dos paulistas, como não poderia deixar de ser, residia nos lançamentos para Ricardo Oliveira e Fernandão, acreditando no pivô destes para a velocidade de Dagoberto, geralmente presente no corredor esquerdo.
Pressionar o Inter não era tarefa simples. Bem postado na defesa, o Colorado contava com um trio de grande estatura para lutar nas bolas alçadas. Índio, Bolívar e Sandro dominaram o jogo, garantindo segurança para a retaguarda vermelha. Com a bola no pé, D’Alessandro iniciou a partida extremamente tranquilo, e muito se aproximou de Tinga para garantir o maior tempo possível de posse de bola. A maturidade visitante irritou o São Paulo, que cometeu faltas em excesso ao longo dos minutos de abertura do confronto. A mais perigosa delas, aos oito, foi cobrada com veneno pelo camisa 10 alvirrubro, exigindo, de Ceni, a primeira defesa da noite.
Camisa 9 autor de gols fundamentais para o Inter ao longo da campanha, Alecsandro deu as caras pouco depois. Aos 14 minutos, o centroavante, posicionado na intermediária, ficou com a segunda bola de disputa entre Tinga e Miranda. Habilidoso, dominou com a parte externa do pé direito, de chaleira, ajeitou na coxa e, quando sentiu a aproximação de Cléber Santana, aplicou um chapéu. Livre, dominou adiantando a esférica e, apesar da distância, arriscou. Chute forte, no ângulo, foi defendido, em dois tempos, por Rogério.
O São Paulo chegou pela primeira vez aos 15, com Hernanes. Aberto na direita, o camisa 10 recebeu bom passe de Cléber Santana e, aproveitando o ângulo favorável ao chute de direita, testou. Sem direção, a bola saiu em tiro de meta para Renan. A resposta do Inter veio seis minutos depois, com Taison. O camisa 7 foi servido por linda escorada de Tinga, que tabelara com D’Alessandro, e, em velocidade, cortou da esquerda para o centro antes de finalizar forte, rasteiro. Ceni, mais uma vez, salvou, agora espalmando para o lado.
Com o passar do tempo, no duelo da imposição física paulista com o equilíbrio técnico e emocional colorado, o lado gaúcho começava a se sobressair. Aos 24, o nervosismo mandante afetou o próprio goleiro da casa, até então principal nome do duelo, que errou na saída de bola e ofereceu boa oportunidade para Tinga. A recuperação do arqueiro veio com novo milagre providencial. Recém-recuperado de lesão, o camisa 16 alvirrubro atuava, sem a bola, como um segundo atacante, enquanto D’Ale, em melhores condições físicas, era o responsável por fechar o corredor direito e estruturar duas linhas de quatro. Lotado, o Morumbi, quatro anos depois, voltava a silenciar diante da festa do povo vermelho.
De fato, o futebol é uma caixinha de surpresas. Ineficaz em suas repetitivas bolas alçadas para a área, o São Paulo parecia entregue na partida. Apenas um lance isolado poderia alterar o panorama do confronto. E ele aconteceu aos 30. De muito longe, Hernanes cobrou falta com força, nas mãos de Renan.
O goleiro colorado, que vinha construindo atuação segura no confronto, não conseguiu encaixar. A bola, então, espirrou para trás e sobrou, açucarada, com o zagueiro Alex Silva, que somente cabeceou em direção às desprotegidas redes do Inter. Por ora, o duelo seguiria aos pênaltis.
Reinício quase perfeito
Fora de campo, o gol tricolor alterou o som ambiente do Morumbi, que voltou a conviver com a cantoria paulista. Dentro das quatro linhas, porém, a fatalidade não abalou a excelente exibição do Clube do Povo, que quase empatou aos 40, em falta muito bem cobrada por D’Alessandro. O lance foi o último de perigo ocorrido na etapa inicial, encerrada com o 1 a 0 no placar. Breve foi o intervalo, sucedido por fulminante segundo tempo.
Taison surgiu para o futebol carregando o DNA do Celeiro de Ases nas velozes pernas. Talhado para encarar momentos de pura tensão com a típica leveza dos craques, irritava marcadores inocentes que incompreendiam a hierarquia exercida pelo jovem camisa 7 dentro de campo. Como você dominaria, por exemplo, sob intensa vaia de 60 mil gargantas paulistas, lançamento espirrado pela defesa adversária? O pelotense colorado apostou na mesma inteligência que demonstrava nos gramados de sua cidade natal. Marcado pelo selecionável Miranda, chamou o beque para dançar. Primeiro, escapou conduzindo da perna direita para a esquerda. Ainda perseguido, girou para fora. Estonteado, o zagueiro atropelou o inquieto malabarista da bola. Falta boa, ainda melhor para um time que conta com Andrés Nicolás D’Alessandro.
“Na primeira falta que cobrei na partida, vi que o Rogério Ceni se movimentou para o lado antes de eu bater. Na segunda vez, resolvi chutar onde ele estava, para ver se o enganava. Mas é claro que o toque do Alecsandro foi fundamental“
Existiam bons metros de distância entre D’Ale e o gol. A barreira, para se ter ideia, estava posicionada na altura da meia-lua, levemente deslocada para a esquerda. Dentro da área, quatro jogadores colorados e cinco paulistas atrapalhavam a visão de Ceni. Inteligente, o camisa 10 cobrou, com força, exatamente na direção deste bolo de atletas.
Intocável em sua trajetória até a marca do pênalti, a bola encontrou o artilheiro calcanhar do iluminado camisa 9 colorado. Em um ato de puro reflexo, mas também genialidade, Alecsandro desviou a trajetória da esférica, que fugiu do desesperado braço de Rogério Ceni. Desonesta, ela voou até a bochecha direita da meta tricolor. Tudo igual no Morumbi. Para perder a vaga, o Inter precisaria sofrer mais dois gols. Tranquilidade? Não na campanha da Libertadores de 2010.
O empate do Clube do Povo saiu aos 6. Dois minutos depois, Ricardo Oliveira marcou o segundo dos paulistas. A vaga ainda era do Inter. O difícil? Aguentar mais 40 minutos abraçado a ela. Era hora de fazer história, e o Clube do Povo partiu rumo à eternidade com os pontas invertidos. Na esquerda, passou a atuar D’Ale. Em velocidade, quem atacava a direita era Taison. Pelo meio, Sandro, Guiña e Tinga não deixavam o São Paulo criar expectativas. Os minutos que sucederam o tento dos donos da casa, inclusive, comprovam.
Teste para cardíaco
Aos 18, D’Alessandro lançou magistralmente Sandro. Dentro da área, o camisa 8 rolou para trás e encontrou Tinga, de frente para o gol aberto. Entre ele e as redes, apenas Jean. Com a canhota, o camisa 16 carimbou a mão do rival. Que chance desperdiçada; que pênalti ignorado! No minuto seguinte, Hernanes foi acionado por Dagoberto, cortou para a esquerda, dela para a direita e soltou o canudo. Por cima, por pouco. A cada volta do cronômetro, a tensão aumentava. Os erros, também. Quando o relógio marcava 32 minutos, Fernandão recebeu cruzamento milimétrico, mas falhou na hora de executar o testaço. De leve, triscou na bola e viu ela atravessar toda a extensão da meta alvirrubra sem encontrar desvio em mais ninguém. Logo depois, Tinga derrubou Júnior César e recebeu o amarelo, seu segundo no jogo. Era expulso, como em 2006. Incrédulo, apenas pediu desculpas para a torcida, que apoiou o ídolo, mais uma vez injustiçado diante de paulistas.
Apesar da expulsão, Roth não mudou o time. O comandante, que acabara de alçar Giuliano no lugar de D’Ale, conseguiu organizar a equipe sem promover nova alteração. A segunda linha de quatro, formada pelos meio-campistas, agora contava com o talismã camisa 11 pela esquerda e o incansável Taison na direita. Internamente, Sandro seguia equiparando o vigor físico de Fernandão e Ricardo Oliveira, enquanto Guiñazú converteu-se em um leão. O gringo, habituado a correr por dois, aumentou ainda mais de intensidade. Rei nos desarmes, não hesitou em compensar a ausência de Tinga ocupando espaço no campo ofensivo. Com a bola, construiu importantes tabelas junto de Alecsandro, que cavava faltas preciosas para o Inter e irritantes ao São Paulo.
A segunda troca no Inter ocorreu apenas aos 44 minutos. Segundos antes, Fernandinho havia cruzado perigosa bola rasteira que Ricardo Oliveira desviou, na pequena área, de letra. O lance, bloqueado por Índio, cobrou reação do técnico vermelho, que colocou Wilson Mathias na vaga de Taison. Àquela altura, o São Paulo já contava com Marlos, Marcelinho Paraíba e Fernandinho, novidades que substituíram, respectivamente, Cléber Santana, Rodrigo Souto e Dagoberto.
Experiente, o camisa 7 colorado deixou o campo abraçado em Carlos Amarilla, árbitro que até tentou apressar o jovem atacante, mas acabou cedendo à simpatia do craque. A última chance paulista aconteceu já nos acréscimos, quase aos 47. Neste instante, Hernanes cruzou para corte difícil de Renan, que mandou pela linha de fundo. Na cobrança do escanteio, Rogério Ceni cometeu falta no arqueiro vermelho. Finalmente, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande respirava. Cobrada a irregularidade, o jogo estava encerrado.
“É muito empolgante! Todos aqui merecem, essa equipe batalhou muito durante o primeiro semestre. Perdemos o estadual, mas sabíamos que esse título é o importante. Rumo ao México, rumo ao título. Este é o nosso grande objetivo.
Encerrada a partida, a festa, iniciada no campo e na arquibancada, prosseguiu nos vestiários do Morumbi. Classificado para o Mundial, o Inter estava a duas partidas de reconquistar a América. Em 14 dias poderíamos colorir, uma vez mais, o continente com a cor que melhor lhe veste. Faltava pouco para um elenco calejado em superação e sofrimento ser campeão. Eram vários os heróis que mereciam a taça. Naquele dia 5 de agosto, contudo, o principal nome da noite não havia entrado em campo.
O grupo colorado dedicou a vitória, de maneira unânime, para um ídolo dos bastidores alvirrubros. Completando 54 anos de vida na data, dos quais 36 haviam sido dedicados ao Clube do Povo, Gentil Passos foi o homenageado pelos atletas. Arremessado para o alto, teve seu nome ovacionado por toda a delegação vermelha e, assim, pôde comemorar os últimos segundos de seu dia como o herói que é para todos que vivem o Inter. Há 10 anos, o aniversariante digeria, como toda a torcida, a mais doce de nossas derrotas. Há 10 anos, seguíamos caminhando rumo ao título.
Semifinal de Libertadores. O adversário? Forte equipe paraguaia, alvinegra e atual campeã nacional. Último obstáculo na luta por vaga na decisão continental, teria de ser superado no Beira-Rio, sede da batalha final de guerra iniciada no mítico Defensores del Chacho. O roteiro, sabíamos, era conhecido. Tornava-se necessário, portanto, revolucionar seu último capítulo. Há 14 anos, exorcizávamos o último fantasma na caminhada rumo ao topo da América.
Em breve retornaríamos, depois de 26 anos, à final da América/Foto: Jefferson Bernardes
Time embalado
A Libertadores de 2006 foi a primeira disputada pelo Inter em 13 anos. Afastado do torneio desde 1993, o Clube do Povo, gaúcho que desbravou o certame na década de 70, retornou à elite continental após anos de rápida e concreta reestruturação interna. Inicialmente, na abertura do século XXI, o Colorado lutou contra grandes equipes latinas na Sul-Americana, assim ganhando cancha em competições do exterior.
Colorado ascendeu rapidamente no cenário sul-americano/Foto: Marcelo Campos
Logo depois, o Inter fez por merecer o título do Brasileirão de 2005, conquista que consagraria forte elenco abrilhantado por nomes como Clemer, Ceará, Índio, Bolívar, Edinho, Tinga, Jorge Wagner, Alex, Rafael Sobis, Fernandão e muitos outros. Os escândalos extracampo, contudo, embora tenham retirado o troféu nacional das mãos alvirrubas, também serviram de motivação para o time, que ficou ainda mais sedento por taças, como provou na invicta campanha da fase de grupos da Libertadores.
Praticando um futebol extremamente ofensivo, o time de Abel Braga somou 14 pontos e avançou para as oitavas de final na liderança de seu grupo. Ao mesmo tempo, duro revés na finalíssima estadual suscitou mudanças na equipe, que passou a atuar de maneira mais equilibrada, mas igualmente propositiva. Foi assim que eliminamos o Nacional, antigo carrasco, nas oitavas, e também a LDU, em dramático duelo por classificação às semis. Para chegar a decisão, seria necessário superar mais um fantasma – este paraguaio.
Rival também fora de campo
A década de 80 não foi fácil para a torcida colorada. Habituado a dominar Rio Grande e Brasil, o povo vermelho precisou se acostumar ao insosso gosto da prata. Batemos, inúmeras vezes, na trave, alimentando grande sentimento de frustração nos arredores do Gigante. Dentre as derrotas mais doloridas, o revés diante do Olímpia, na semifinal da Libertadores de 1989, atinge notório destaque.
Treinado por Abel Braga, o Inter havia construído maiúscula caminhada continental. Nas oitavas, despachou o todo poderoso Peñarol através de incrível agregado de 8 a 3. Logo depois, o Bahia, atual campeão brasileiro em cima do próprio Colorado, sucumbiu à força do Gigante. Embalado, o Clube do Povo abriu fora de casa, contra a alvinegra equipe do Olímpia, a disputa por vaga na decisão.
O jovem Abel Braga, comandante do Inter no final da década de 80
No Defensores del Chaco, Luis Fernando Rosa Flores anotou, de bicicleta, um dos gols mais bonitos da história da Libertadores. Com ele, o Inter garantiu a vantagem mínima para o jogo da volta, duelo acompanhado, no Beira-Rio, por mais de 70 mil colorados e coloradas que encerrariam o dia atônitos. Ninguém imaginava, mas o Clube do Povo viveria uma das noites mais trágicas de sua história, sacramentada com eliminação após duas derrotas. A primeira, por 3 a 2, aconteceu no tempo normal. A segunda, na marca do cal. Desde então, jamais havíamos chegado tão longe na Libertadores. Até 2006. Até o retorno de Abel. Até novo confronto contra paraguaio, agora o Libertad.
Comandado por Gerardo ‘Tata’ Martino, técnico que chegaria, no futuro, ao comando da Seleção Argentina e também do Barcelona, o atual campeão do Paraguai contava com forte elenco. Entre as principais estrelas de geração que conquistaria o tricampeonato nacional estavam Édgar Balbuena, Víctor Cáceres, Martín Hidalgo, Cristian Riveros, Rodrigo López e, é claro, Pablo Horácio Guiñazú. Para avançar à final, o Inter teria, então, de superar grande adversário dentro de campo, e temido fantasma fora dele.
O jogo de ida
A classificação para a final não seria conquistada graças a alguma receita mágica, invenção de última hora ou coelho tirado da cartola. Se o Inter estava entre os quatro melhores do continente, era por merecimento e justiça. Abrir mão do fizera para chegar tão longe no torneio seria inconsequente. A despeito de qualquer má recordação, a partida contra o Libertad precisava ser encarada como todas as outras. Nosso capitão, como sempre genial, sabia disso.
“Se chegamos até esta fase da competição foi porque adquirimos uma maneira de jogar. Por isso, não podemos mudar nossa postura contra o Libertad. Vamos em busca da vitória, tendo consciência dos perigos que o adversário oferece”
Fernandão, projetando o duelo
Os maus agouros, inclusive, também encarariam adversário de peso nas arquibancadas do Defensores del Chaco. Contra o espírito das frustrações passadas, o Inter contaria com a vibração do mais inabalável povo, capaz de erguer um gigante sobre as águas de um rio. Torcida que sofrera no passado recente, e ansiava para retornar ao seu lugar de direito: o topo do pódio. Para tanto, os milhares que viajaram ao Paraguai apostavam em um comandante identificado com nossas cores.
“É muito bom saber que teremos este apoio maciço no Paraguai. O Inter é uma equipe de alma, de cor vermelha, de sangue. Contra o Libertad não vai ser diferente”
Abel Braga, antes do jogo
Desfalcado por Tinga, o Clube do Povo foi a campo com Clemer no gol, Índio, Bolívar e Eller na zaga; Ceará e Jorge Wagner nas respectivas alas direita e esquerda; Edinho, Fabinho e Alex no meio; Fernandão e Sobis no ataque. Vivendo noite inspirada, o jovem camisa 11 alvirrubro causou grandes problemas à zaga paraguaia, criando as principais oportunidades do começo de partida. De sua parte, o Libertad insistia em bolas alçadas na área, sempre contando com a vibração de Guiñazú para garantir o rebote. Os três zagueiros colorados, todavia, frustravam os planos mandantes.
Na etapa inicial, as melhores oportunidades de cada equipe foram criadas após os 30 minutos. Primeiro, Fernandão, como se fora um poço de tranquilidade em meio ao nervosismo clássico de um confronto eliminatório, recebeu passe forte de Ceará, na altura da intermediária, e, inteligente, deu um chapéu no marcador. Afobado, o adversário passou batido, enquanto o Eterno Capitão colorado dominava no peito, adiantando a posse. Com força, o camisa 9 mandou de direita, e a bola tirou tinta do travessão.
Pouco depois, Cholo Guiñazú conseguiu seu primeiro bom rebote no jogo e, de canhota, em cima da linha da grande área, finalizou no canto. A redonda explodiu no poste, cruzou em frente à meta vermelha, encontrou Riveros e, na segunda tentativa deste, foi cruzada para a confusão, onde López arrematou para defesa segura de Clemer. Por fim, aos 42, Ceará levantou bola fechada que foi direto na trave superior de Gonzalez. Dono da sobra, Sobis ajeitou para Jorge Wagner encher o pé. O arqueiro paraguaio promoveu um belíssimo milagre.
O panorama de igualdade foi mantido para a etapa final. Mortais como de costume, os entrosados Sobis e Fernandão cansaram a defesa paraguaia. À dupla, somavam-se os constantes avanços de Jorge Wagner, pela esquerda, e Ceará, na direita, além de Iarley, que substituiu Alex. O lance mais marcante do segundo tempo, contudo, foi da equipe da casa – mas, de certa forma, também do Inter. Após cruzamento de Romero, Eller afastou para a intermediária. Bem posicionado, Riveros pegou a sobra e, ignorando a longa distância, mandou de primeira.
Rasante, ela voou até o travessão de Clemer, bateu nas costas do goleiro e, mansa, teimosa, picando, saiu ao lado do poste direito. Há dois anos, na Bombonera, também em uma semifinal continental, o goleiro sofrera gol em lance muito parecido. Agora, a bola saía. Na luta entre a camisa colorada e o fantasma paraguaio, parecíamos levar a melhor. Nossa torcida, presente aos milhares no Defensores, certamente fazia por merecer desfecho mais alegre. Pouco depois do lance, o jogo foi encerrado, com o placar zerado. O duelo seguia em aberto.
Partida contou com muita movimentação no ataque e grande aplicação na defesa
Tensão gigante
Entre os confrontos de ida e volta das semifinais continentais, o Inter disputou, pelo Brasileirão, o Gre-Nal de número 366 na história. Com os reservas, o time de Abel Braga até criou as melhores chances, mas não conseguiu alterar o placar do duelo, que ficou marcado, muito mais do que por qualquer lance dentro de campo, pelo vexame histórico da torcida gremista, que provocou grande tumulto nas arquibancadas do Gigante, inclusive incendiando banheiros químicos. Dois dias depois, foi o povo vermelho quem deu exemplo – mas positivo. Na abertura do mês de agosto, o Inter atingiu a inédita marca de 40 mil sócios e sócias, feito que teve como consequência um Beira-Rio completamente lotado para o duelo diante do Libertad.
O Clube do Povo foi a campo, no dia 3 de agosto de 2006, escalado, a exemplo do que ocorrera na partida de ida, com três zagueiros. Bolívar era o responsável pelo lado direto da trinca, enquanto Eller ocupava a esquerda. Entre eles, estava Índio. À frente, cinco meio-campistas tratavam de gerar superioridade numérica na região mais crítica do campo. Donos de grande poder de contenção, mas também responsáveis por oferecer boa saída de bola, Fabinho e Edinho garantiam a liberdade necessária para Alex, extremamente entrosado com o ala-esquerda Jorge Wagner. Ceará, na direita, tinha como parceiro preferido o inquieto atacante Rafael Sobis, eterno par perfeito de Fernandão. No gol, é claro, o titular foi Clemer.
Os heróis responsáveis por devolver o Inter à decisão continental
Os primeiros movimentos da partida deram a entender que o fantasma paraguaio, incapaz de triunfar diante de cinco mil colorados em Assunção, não teria a menor chance contra as mais de 50 mil pessoas que fizeram trepidar o Beira-Rio. Logo aos 3, Edinho escapou em velocidade pelo meio e abriu com Fernandão. Invertendo posição com Sobis, o camisa 9, posicionado como um ponta-direita, cruzou rasteiro para o 11, que se atirou em preciso carrinho. Com os pés, Gonzalez salvou.
De garçom, Fernandão passou a artilheiro, e tentou, aos 14, completar cruzamento aberto de Jorge Wagner. Alta demais, a bola saiu em tiro de meta. Já aos 31, no último lance de perigo da etapa inicial, o Eterno Capitão alvirrubro recebeu grande passe em profundidade de Alex, assistência que não dominou por questão de centímetros, suficientes para o goleiro adversário fazer a defesa.
Embora de ampla supremacia colorada, a etapa inicial conviveu, também, com crescente ansiedade do povo vermelho. Contra o Olímpia, o Inter fora eliminado exatamente no segundo tempo, quando, inclusive, desperdiçou uma penalidade. A lição do passado, logo, era bastante clara: quem não faz, sofre. E o sofrimento deu as caras depois do intervalo. Cedo, o Libertad desperdiçou a primeira oportunidade, respondida rapidamente por Sobis, que teve boa chance. A partir dos 10 minutos, todavia, um verdadeiro filme de terror teve início.
O Inter viveu seis minutos de pura tensão, capaz de paralisar os atletas dentro de campo. Aos 11, Cáceres subiu livre após cobrança de escanteio e, respeitando o figurino, cabeceou para baixo. Clemer defendeu. Cerca de 40 segundos depois, López foi lançado na área e só não balançou as redes graças a desarme providencial de Bolívar. Na cobrança do córner, o mesmo atacante cabeceou bola que levou muito perigo ao gol alvirrubro. A torcida finalmente conseguia puxar o primeiro ar quando Riveros finalizou cruzado e Villareal, por detalhe, não completou de carrinho. Ato contínuo, quem arrematou para longe foi Gamarra. Abel, então, percebeu que a situação só tendia a piorar. Como respondeu? Mandando Rentería a campo, na vaga de Fabinho.
A troca foi ousada. A partir dela, Alex seria recuado à volância, e Fernandão, como um ponta-de-lança, estaria responsável por municiar Rentería e Sobis, a nova dupla de ataque. Necessária para um time que se via obrigado a marcar gols, a substituição também poderia oferecer ainda mais espaços para o Libertad, dentro de campo, e ao azar, fora dele. Felizmente, nenhum destes teve tempo para agir.
Aos 17, pouco mais de um minuto após a entrada de Rentería, Alex recebeu passe de Ceará. Recuado, o camisa 24 pôde visualizar o campo de frente e perceber que, ao mesmo tempo que seus companheiros mais adiantados estavam excessivamente marcados, existia espaço de sobra para progredir até as cercanias da grande área paraguaia. Assim fez e, após simples dois toques na bola, soltou um de seus marcantes canhotaços. Veloz, a esférica voou até as cercanias da pequena área, picou pela primeira vez, ganhou velocidade ainda maior e, sem oferecer chance alguma de defesa, bateu no poste para depois morrer nas redes. Inter na frente!
Ele sempre foi de bomba/Imagens: SporTV
A vantagem colorada nocauteou o Libertad. Antes confiantes em um gol que parecia iminente, os paraguaios ficaram visivelmente desorientados com o caldeirão da beira do Guaíba. Completamente zonzos devido à festa da torcida, chegaram a sentir náuseas quando, ao ritmo do povo vermelho, Sobis começou a dançar na ponta direita.
Primeiro, aos 21, o camisa 11 decidiu partir para dentro da marcação e só depois soltar a bola, cruzada na cabeça de Ceará, que parou no goleiro. No minuto seguinte, mudou de ideia e, ainda na intermediária, acionou Fernandão.
Vindo de trás como um meia, o capitão pôde dominar, fazer o giro, ajeitar e, a exemplo do que fizera Alex, soltar a canhota. Cruzado, o arremate dispensou o beijo no poste, mas também morreu no canto das redes alvinegras. Após abrir o placar graças a meio-campista recuado para a volância, o Inter chegava ao segundo através de um camisa 9 que ocupava a ponta-de-lança. Brilhante, Abel!
O 2 a 0 permitia ao Inter sofrer um gol e, mesmo assim, garantir vaga na decisão. A postura ofensiva, portanto, podia ser arrefecida. Assim, Abel mudou mais uma vez, colocando Wellington Monteiro na vaga de Índio. Deste momento em diante, o Clube do Povo esteve formado por duas linhas de quatro. Na primeira, estavam Ceará, Bolívar, Eller e Jorge Wagner. Logo na frente, Edinho, Alex, Wellington Monteiro e Fernandão.
Compacto, o Colorado seguiu se fechando bem, tocando a bola com segurança e transpirando disposição e garra. Ao mesmo tempo, a torcida, enlouquecida de felicidade, vaiava cada trama adversária com furor idêntico ao usado para incentivar o Alvirrubro. Nos acréscimos, Rentería ainda desperdiçaria boa chance, defendida pelo goleiro paraguaio.
Enfim, aos 48 minutos do segundo tempo, ecoou pelo Beira-Rio o último apito do árbitro Oscar Ruiz, oficializando o retorno do Inter, após 26 anos de espera, à final da Libertadores. Na força do Gigante, nos libertávamos do último fantasma continental. Livres, logo serviríamos de libertadores para os povos vizinhos. Que viesse o São Paulo!
Estávamos loucos por ti, América!/Foto: Jefferson Bernardes