O programa Velhas Súmulas, da rádio Colorada, chegou a 50 edições neste sábado (01/05). O espaço radiofônico dedicado à história do Internacional, criado em maio de 2020, acumula cinco dezenas de entrevistas e conversas sobre momentos marcantes da trajetória do Clube do Povo.
Inter contra Vasco. Academia do Povo diante do Cruz-Maltino. Maracanã e Beira-Rio. A decisão do Campeonato Brasileiro de 1979 contou com todos os atrativos necessários. Duelo que colocou frente a frente duas torcidas apaixonadas, encerrou com chave de ouro os anos 70 no futebol de nosso país. Felizes os colorados e coloradas, que, há 41 anos, deleitaram-se no doce festejo destinado aos campeões.
Ênio Andrade, de branco, e Gilberto Tim, de vermelho: comissão em 1979
O Clube do Povo chegou em vantagem para a finalíssima de 23 de dezembro de 1979. Três dias antes, os comandados de Ênio Andrade haviam superado o Maracanã, a chuva, 60 mil pessoas e os desfalques de Falcão e Valdomiro. À ausência dos craques, curiosamente, o Inter tratou de marcar um gol para cada, ambos anotados por Chico Spina, substituto na ponta-direita, um deles com assistência de Valdir Lima, alternativa no meio de campo.
Empolgada com a vantagem obtida na partida de ida e eufórica pela grande campanha que o Clube do Povo vinha construindo, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande lotou o Beira-Rio, gigante palco que naquela temporada completava 10 anos de história. Até então, nas 22 partidas que disputara pelo Nacional, o Inter somava 15 vitórias e sete empates, tendo anotado 38 gols e sofrido apenas 12. Mais do que o título, portanto, os colorados e coloradas queriam os louros da conquista invicta.
Do outro lado, um adversário extremamente ofensivo, disposto a estragar a festa, exigia respeito. Comandante vascaíno, Oto Glória declarara, na véspera da partida, que entendia a missão carioca como difícil, mas não impossível. Em busca da taça, o técnico cruz-maltino tratou de escalar equipe bastante ofensiva, centrada nas ações do atacante Roberto Dinamite. Não contavam os visitantes, porém, que a postura resultaria em espaços excessivos para um meio de campo histórico.
O Inter de 1979 ajudou a revolucionar o futebol brasileiro. Enquanto a geração bicampeã atuava num claro 4-3-3, esquema pensado para maximizar as ações de Valdomiro e Lula, respectivos pontas pela direita e esquerda, o Time que Nunca Perdeu variava com enorme facilidade das duas linhas de três para um meio de campo formado por quatro jogadores. O grande coringa da equipe era Mário Sérgio, sucessor de Lula na posição, mas responsável por desempenhar função completamente diferente.
O vesgo, como ficou conhecido por sua rara habilidade de dar passes em uma direção enquanto olhava para outra, constantemente descia do trio de ataque para a região central do campo. Aproximava-se, assim, de Falcão, formando dupla capaz de superar qualquer ferrolho defensivo. A movimentação de Mário ainda confundia zagueiros e laterais rivais que, arrastados pelo movimento do camisa 11 colorado, abandonavam a linha defensiva, oferecendo espaços para elementos surpresa do lado alvirrubro. O maior deles, sem dúvidas, era Jair.
Mário Sérgio e Falcão estonteavam marcadores
Os termômetros marcavam 28º quando o time colorado deixou os vestiários e subiu ao campo do Beira-Rio. Com todos atletas à disposição, Ênio escalou seus 11 ideais. No gol, esteve Benítez. João Carlos, Mauro Galvão, Mauro Pastor e Cláudio Mineiro ocuparam a defesa, enquanto Falcão, Batista e Jair foram os escolhidos para a meia. O ataque, por fim, contava com Valdomiro, Bira e Mário Sérgio. De sua parte, o Vasco atuou com Leão; Orlando, Gaúcho, Ivan e Paulo César; Zé Mário, Paulo Roberto e Paulinho; Catinha, Roberto e Wilsinho.
João Carlos, Benítez, Mauro Pastor, Falcão, Mauro Galvão, Cláudio Mineiro; Valdomiro, Jair, Bira, Batista e Mário Sérgio
Apoiado por um Beira-Rio explosivo, o Inter empilhou chances na etapa inicial. Cedo na partida, Jair serviu lançamento primoroso para Bira, que ganhou da zaga na velocidade e, da altura da meia-lua, percebeu Leão adiantado. O centroavante tentou de cobertura, mas o goleiro exibiu excelente poder de recuperação para espalmar em escanteio. Quase o primeiro!
Definitivamente, sobravam craques na meia-cancha colorada. Também esplendoroso, Batista exibiu grande forma na finalíssima – a exemplo do que fizera no Campeonato inteiro. Ainda na primeira metade da etapa inicial, o camisa 10 emendou um balaço da intermediária ofensiva após corte parcial da defesa vascaína. Leão, de novo, brilhou.
Batista (E), Falcão e Jair: trio mágico
O arqueiro vascaíno não tinha seu nível acompanhado pelos companheiros de ataque, que apenas assustaram Benítez quando Wilsinho, lançado por Roberto, tentou tirar proveito do montinho artilheiro para surpreender. Seguro, o paraguaio paredão colorado espalmou sem maiores problemas.
Inevitável, o primeiro gol do Inter saiu aos 41, e ele teve a cara do time de Ênio. Com a bola em suas mãos, Benítez percebeu que Mário Sérgio recuara até a intermediária defensiva e acionou o companheiro. Postado com linhas baixas, marcando praticamente da linha central para trás, o time visitante não apertou a marcação. Genial, o camisa 11 então percebeu que, enquanto Bira prendia a dupla de zaga, Jair atacava o vazio que o próprio vesgo deixara no corredor esquerdo do ataque, e lançou o camisa 9.
Que centroavante era Bira! Referendado à época de sua contratação pelo também matador Dadá Maravilha, o centroavante do Time que Nunca Perdeu tinha consciência de todos os movimentos que o cercavam. Assim, apenas escorou, de casquinha, para trás. Livre, quem recebeu a assistência foi Jair, que, em disparada, precisou de somente dois toques para marcar. No primeiro, fintou Leão. Depois, dentro da grande área, finalizou rasteiro em direção às desprotegidas redes. Catarse coletiva no Gigante.
O gol destruiu de vez o psicológico da equipe vascaína. Antes do intervalo, Bira e Falcão construíram excelente tabela, que o Rei finalizou, da pequena área, de letra. Por sorte, Leão salvou com o tornozelo. Já no início do intervalo, quem brilhou foi a trave esquerda da goleira do Gigantinho. Não fosse por ela, Valdomiro decidiria, mais uma vez, um título através de suas cobranças de falta. O destino, porém, já havia escolhido seu herói, e ele atendia pelo nome de Paulo Roberto.
Mauro Galvão (E) e Falcão (D) minutos antes da decisão
Mário Sérgio, de novo ele, retornou até o campo de defesa na casa dos 13 minutos. Desta vez, quem atacou o espaço deixado pelo vesgo foi Cláudio Mineiro, devidamente lançado pelo companheiro de corredor. Preciso, o passe sequer cobrou domínio do lateral-esquerdo colorado, que da quina da grande área cruzou rasteiro para a entrada do retângulo pequeno, onde Bira chegava em desabalada carreira.
Antes do centroavante, Leão apareceu para espirrar a bola até a marca do pênalti. Para azar do goleiro, apenas mais três vascaínos ocupavam da grande área visitante. Do lado do Inter, eram quatro. A bola, simpática aos craques, escolheu o cinco, que emendou chute forte, rasteiro, rasante. No canto direito, a encouraçada explodiu nas redes e, tamanha sua violência, reboteou de volta para o campo. Quando retornou, todavia, sequer foi percebida. Mais de 70 mil comemoravam o segundo gol do Clube do Povo.
Histórico, o carnaval formado nas arquibancadas do Beira-Rio sequer lamentou a oportunidade desperdiçada por Chico Spina, após assistência de Mário Sérgio, ou vociferou contra o gol de Wilsinho, que para os visitantes descontou aos 39. O povo já havia coroado o Inter campeão, e o apito de José Favile Neto não passou de mera formalidade. Pela terceira vez na história, o Brasil era alvirrubro. Desta vez, depois de campanha inédita, única e inigualável. Campanha invicta. Campanha, legitimamente, colorada.
O futebol brasileiro nunca viveu algo parecido. Em 1979, o povo colorado conheceu um time único. Nenhuma derrota na campanha, nenhum precedente na história, milhares de testemunhas no Beira-Rio. Há 41 anos, em um veranil 23 de dezembro, o Brasil era conquistado pelo inigualável Time que Nunca Perdeu. Emissora oficial do Inter, ao longo de 2020 a Rádio Colorada conversou com heróis da geração invicta. Confira as entrevistas abaixo!
Benítez
O goleiro não derrotado. Benítez brilhou no Brasileirão de 1979, temporada em que assumiu, de uma vez por todas, o rótulo de sucessor de Manga. Com seus arrojados milagres, o arqueiro conquistou o coração dos colorados e coloradas, que suspiravam tranquilos quando um atacante chegava às cercanias da área alvirrubra, confiantes de que o paredão vermelho conseguiria se sobressair diante de quaisquer atacantes.
Dias após completar 68 anos, o paraguaio conversou, em maio, com o Programa do Inter. Especial, o papo contou com declarações de amor à Maior e Melhor Torcida do Rio Grade, além de participação de sua papagaia, Princesa. Confira:
Pai dos gêmeos Diego e Diogo, revelações que marcaram época no Clube do Povo do início do século XXI, João Carlos era o lateral-direito do Inter em 1979. Jogador de grande regularidade, homem de confiança do técnico Ênio Andrade, o atleta foi um dos destaques, por exemplo, na história vitória de 3 a 2 sobre o Cruzeiro, em Belo Horizonte, obtida no quadrangular anterior às semifinais.
Recente, a entrevista de João Carlos, concedida para o Velhas Súmulas, foi ao ar no último dia 13. Relembre-a agora:
Poucas emissoras gozaram de segurança comparável à da Rádio Colorada neste ano de 2020. Dando continuidade às entrevistas com defensores da inigualável Academia do Povo invicta, o Programa do Inter recebeu, no mês de junho, Mauro Galvão. Zagueiro de grande requinte técnico, o defensor somava apenas 17 anos quando assumiu a titularidade na retaguarda do Internacional. Cria do Celeiro de Ases, não demorou para encantar o Brasil.
No papo, onde definiu sua estreia como a camisa colorada como “um sonho que virava realidade”, Mauro Galvão contou muitos bastidores da formação da equipe que dominaria o país em 1979. Ouça:
Pela esquerda, Mário Sérgio lançou Cláudio Mineiro. O Inter já derrotava o Vasco por 1 a 0, chegava a três no agregado, e a torcida festejava a iminente taça. Com espaço para progredir, o lateral avançou até as cercanias da área antes de cruzar bola açucarada para Bira, que dividiu com Leão. No rebote, Falcão marcou. O Brasil ficava ainda mais vermelho.
Protagonista na jogada do gol do título, o ex-lateral-esquerdo Cláudio Mineiro foi entrevistado pelo Programa do Inter no mês de julho. Confira a conversa e os declames de amor do ídolo à torcida colorada:
Nono maior artilheiro da história colorada, Jair Gonçalves Prates é uma santidade na rica biografia do Internacional. Ídolo que tem no Beira-Rio uma segunda casa, o ex-meia sofreu, no mês de maio, com o falecimento de sua mãe. Poucos dias após a perda, ele participou do Programa do Inter para receber os devidos sentimentos do Clube do Povo.
Ao longo do papo, o Príncipe do povo colorado também relembrou os iluminados tempos que viveu com a camisa alvirrubra e, com a simpatia que lhe é costumeira, encantou os ouvintes da Mais Vermelha. Prestigie essa grande entrevista:
Ninguém vestiu mais vezes do que ele o manto do Clube do Povo. Recordista Valdomiro, o eterno camisa sete do Beira-Rio foi atração do Velhas Súmulas no mês de junho. Jogador que personifica a essência colorada, tricampeão brasileiro e presente em todos os títulos que formam o Octa, ao longo da entrevista o ídolo recordou diversos momentos especiais que viveu com a camisa vermelha.
Valdomiro serviu de sinônimo para Inter ao longo da década de 70. Poucos, portanto, sabem tanto do Clube do Povo quanto ele. Até por isto, ouvir o ex-ponta é sempre um prazer, que você pode ter agora:
Todo time campeão precisa contar com um grande goleador. Uma conquista invicta, então, exige verdadeiro perito no comando de ataque. Camisa 9 do Time que Nunca Perdeu, Bira faleceu no último mês de setembro, levando lágrimas aos rostos de milhões de colorados e coloradas, que orgulhosos relembraram dos 32 gols marcados pelo atacante nas 50 partidas que disputou pelo Clube do Povo.
Meses antes do falecimento do ídolo, o Programa do Inter teve o privilégio de entrevistá-lo, no mês de maio, para conversa sobre os tempos de artilharia que Bira viveu no número 891 da Padre Cacique. Ouça:
Melhor ataque, autor de 51 gols, e também defesa, vazada em míseras 12 ocasiões. Maiúscula campanha, com aproveitamento superior aos 70%, e artilheiro do campeonato, dono de nossa camisa 9. Há 45 anos, em 14 de dezembro de 1975, o Clube do Povo conquistou o Brasil pela primeira vez. A vitória por 1 a 0, na final diante do Cruzeiro, consagrou caminhada incontestável de um time forjado para ser campeão. Relembre, em detalhes, a trajetória do Inter até o topo do país!
> Confira especial da Rádio Colorada sobre o Brasileirão de 1975:
A caminhada colorada rumo ao primeiro título nacional conquistado pelo Sul do Brasil foi iniciada nos anos 1960. Década sucessora dos mágicos períodos de Rolo Compressor e Rolinho, transcorreu marcada por doloridos insucessos estaduais, aos quais o Clube do Povo respondeu apostando no sempre fértil Celeiro de Ases. À época não se podia imaginar, mas a política de fortalecimento das categorias de base pavimentaria o processo de construção do maior time já visto em terras canarinhas.
Formações de Rolo Compressor, em 1945, e Rolinho, em 1952
No final da década, em 1967 e 1968, o Inter atingiu dois vice-campeonatos nacionais que serviram para consolidar nosso nome nas terras de cima do Mampituba, processo intensificado a partir da inauguração do Beira-Rio. Nostálgica, mas passada, a era dos Eucaliptos chegava ao fim com o Clube consolidado entre os grandes. O objetivo, a partir de então, era chegar ao posto de gigante.
“Tivemos a oportunidade de disputar o Robertão, o Brasileiro da época, e fomos vice-campeões com uma garotada cheia de energia, de vontade de crescer no futebol. Nos tornamos conhecidos no centro do país, o que era muito difícil. Rio e São Paulo ficavam longe, na mídia, em relação ao Rio Grande do Sul. A partir daí veio a inauguração do Beira-Rio, que nos deu um patamar maior. O Estádio trouxe ao futebol gaúcho uma situação que não tínhamos anteriormente.”
Dorinho, primeiro camisa 10 do Beira-Rio
O Colorado alcançou grandes resultados nos primeiros Brasileirões que disputou no Gigante, encerrando na quinta colocação os torneios de 1969 e 1970, decididos em quadrangulares. Em 1971, o Clube do Povo registrou a mesma posição, desta vez insuficiente para atingir o último triangular. Gradativamente, nomes como Valdomiro, Claudiomiro, Carpegiani, Hermínio, Pontes, Cláudio Duarte, Tovar e Carbone assumiam o protagonismo do time alvirrubro.
Elenco campeão gaúcho em 1969
Ao mesmo tempo em que ampliava sua fama nacional e acumulava casca nos quatro cantos do Brasil, o Inter também tratava de reassumir o controle do futebol gaúcho. A partir do ano de inauguração do Beira-Rio, o Colorado encarrilhou sequência de títulos que culminaria, em 1976, no histórico, inédito e jamais igualado Octa estadual. À frente da casamata vermelha estava, na virada da década, Daltro Menezes.
“Eu sempre gosto de lembrar o nome, a figura, do senhor Daltro Menezes. Todo mundo brincava por causa da altura dele, mas o que entendia de futebol não era pouco. Tanto é que hoje, um dos maiores ídolos do Internacional, o Valdomiro, foi ele quem insistiu.”
Bibiano Pontes
Com sua abotoada camisa branca, Daltro conduz seus comandados a campo
Mudanças ocorreram em 1972. Marcado pelo tetracampeonato estadual, o ano também valeu medalha de bronze no Brasileirão, alcançada em histórica campanha que levou o Clube do Povo até as semifinais, quando empate em 1 a 1 com o Palmeiras, no Pacaembu, classificou o rival, dono de mais pontos no torneio. Na fase anterior ao duelo eliminatório, o Colorado disputara inesquecível duelo contra o Cruzeiro.
Escurinho comemora o gol de empate diante do Cruzeiro
Partida de abertura do quadrangular predecessor aos mata-matas, o duelo entre Saci e Raposa teve como palco o Beira-Rio, e foi encerrado com vitória alvirrubra por 3 a 2. Conquistado de virada, já nos acréscimos, o triunfo, de tão emocionante, infelizmente vitimou dois torcedores, que faleceram por infarto. Já comandado por Dino Sani, na temporada o Inter havia recebido o reforço do gigante Figueroa, e passara a atestar, de maneira mais recorrente, a vocação de Escurinho para talismã.
“Quando eu vim para cá, foi porque o presidente (Eraldo Herrmann) foi para o Uruguai. Eu estava por ir para o Real Madrid, que me queria, como o Barcelona, equipes italianas… me queriam todos. Mas vim para o Inter, falei com o Peñarol para baixar meu preço, e aí, quando cheguei aqui, fizemos o contrato rápido, sem problemas. Foi uma coisa muito boa, muito sincera.”
Figueroa
Novo ano, nova estrela. Maior meio-campista da história do futebol brasileiro, Paulo Roberto Falcão estreou entre os profissionais do Clube do Povo no ano de 1973. Mais precisamente, no dia 15 de abril, data de confronto do Inter contra o Esportivo, no Beira-Rio.
Primeira derrota para equipes do interior gaúcho dentro do Gigante, única na campanha do penta estadual, o duelo fez parte de temporada que também contou com quarta posição no Campeonato Nacional, feitos, uma vez mais, alcançados sob o comando de Sani.
Na foto da Revista Placar, Dino Sani, de preto, observa o jovem Falcão
“Dino Sani conhecia futebol. No meu ponto de vista, foi quem ensinou pro Falcão o voleio cruzado. Cabeceio, pra nós zagueiros, foi ele quem ensinou também.”
Bibiano pontes
Consolidado no principal campeonato de clubes do país, o Clube do Povo chegou ao fim da primeira metade da década de 70 decidido a não mais ocupar apenas papel de destaque no torneio, mas sim levantar o tão sonhado troféu. Para tanto, nada melhor do que buscar um técnico com experiência em taças nacionais. Na abertura de 1974, o Inter contava com um novo comandante: Rubens Minelli.
“Quando eu fui conversar com o presidente (Eraldo) Herrmann, eu falei ‘olha, eu vou ser sincero, nós precisamos de reforços. Agora, entenda bem: eu não quero novidades, eu quero reforços. Você tira um titular de outro time, na posição que eu quero, e me traga. O reserva dele não serve pra mim. Eu quero um titular.’ Aí foi quando nós trouxemos o Lula, e depois o Flávio.”
Rubens Minelli
Falcão, Valdomiro e Coréia comemoram gol que garantiu ao Inter o hexa do Rio Grande
A partir da contratação de Lula para a ponta-esquerda, ocorrida de maneira quase simultânea ao desembarque de Minelli, o Inter passou a exibir maior equilíbrio nos lados do campo. Já nas graças do povo vermelho, Valdomiro era patrão do corredor direito, mas carecia de companheiro dono de futebol à altura do seu, que inclusive valeria-lhe convocação para a Copa do Mundo da Alemanha, disputada exatamente em 1974.
Ofensivo pelas pontas, o Clube do Povo conquistou o Gauchão daquele ano com incríveis 100% de aproveitamento, garantidos também devido à segurança de uma defesa que passou a contar com o paredão Manga como arqueiro. Na zaga, Figueroa e Pontes eram acompanhados por Cláudio Duarte, cria do Celeiro, e Vacaria, lateral-esquerdo de currículo mais extenso.
“Houve uma mudança tática a partir do Gauchão de 1974: entramos marcando individualmente, e aprimoramos isso em 1975.”
PAULO ROBERTO FALCÃO
No meio de campo, Falcão já estava consolidado como titular. O grande destaque da região central, todavia, era Carpegiani. Um dos principais nomes do Brasil que encerrou a Copa de 1974 na quarta colocação, o camisa 10 era idolatrado pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, multidão privilegiada que desde o início da década podia atestar a genialidade de Paulo César. À dupla de Paulos, somava-se Escurinho, assim completando o trio de meias de Minelli.
No primeiro plano, Carpegiani e Escurinho
Campeões da Copa São Paulo no início da temporada, Jair e Caçapava também foram integrados ao elenco principal, dando ainda mais corpo ao forte grupo vermelho. No Brasileirão, dois empates e uma derrota no quadrangular final tiveram como consequência nova quarta colocação. Desta vez, porém, o time chegava ao fim da temporada com autoridade maior do que a vista no passado. Unido, o grupo estava pronto para conquistar o Brasil.
“Nós viemos da base, do juvenil, que era uma preparação para vir para o time de cima. Mas ninguém sabia se ia ficar dentro do grupo, então você fazia de tudo embaixo para que pudesse chegar no time de cima para lutar. Você já vinha com aquela determinação, com aquele amor pelo Internacional, para que tivesse uma oportunidade.”
Caçapava
Surge o maior time já visto no Brasil
Flávio Minuano (E), o Bicudo, ídolo colorado
A abertura da temporada de 1975 foi diferente para o Inter. Comprovando sua crescente fama, o Clube do Povo foi convidado para realizar uma excursão pela Europa. No Velho Continente, Rubens Minelli passou cinco semanas consecutivas com seus jogadores, tempo fundamental para conquistar admiração ainda maior dos atletas e, consequentemente, implementar de vez suas concepções de futebol dentro do grupo.
“Os jogadores obedeceram, taticamente, religiosamente aquilo que eu pretendia. Eles passaram a acreditar em mim e então nós modificamos tudo. Começamos a marcar a saída de bola dos adversários, a treinar jogadas ensaiadas…”
Rubens Minelli
Os resultados obtidos referendaram as inovações promovidas na sistemática colorada. Em 14 partidas, o Inter conquistou 13 vitórias e um empate, marcando 50 gols e sofrendo apenas um. Excelentes, os números representaram com justiça o alto nível das exibições alvirrubras, que motivaram comparações, de parte da imprensa europeia, entre o Clube do Povo e o Ajax de Cruijff, Neeskens e companhia, que recentemente conquistara três Ligas dos Campeões consecutivas.
Inter encantou o público europeu
“A excursão deu o conjunto necessário. Jogamos contra todas equipes imagináveis. Enfrentamos o time do Didi (Fenerbahçe, atual campeão turco), que, na época, falou que a gente tinha que ter cuidado, pois seríamos goleados. No intervalo, ele foi no nosso vestiário e pediu calma, estava 4 a 0. Esta experiência deu muita base, especialmente para os jovens. Com ela, o grupo se uniu mais ainda.”
Jair
De volta ao Rio Grande do Sul, o Inter se deparou com o primeiro grande objetivo do ano. Atual hexacampeão gaúcho, o Clube do Povo ansiava por chegar ao sétimo título consecutivo, assim igualando a maior sequência até então registrada no estado, feito ostentado pelo maior rival.
Lula balança as redes tricolores
Logo na estreia do torneio, sonora goleada de 6 a 0 sobre o Ypiranga de Erechim empolgou a torcida colorada. Mais 14 triunfos em outras 17 partidas nutriram a obsessão vermelha e serviram de prólogo perfeito ao primeiro Gre-Nal válido pelo certame, disputado em 13 de julho de 1975.
“O Flávio,
ele tinha uma coisa:
de frente, não perdia gol”
Caçapava sobre Flávio Minuano
Clássico de número 217 na história, o embate marcou a reestreia de Flávio Minuano, o Bicudo, com a camisa colorada. Revelado pelo Clube do Povo em 1961, o atleta retornava ao Inter após vitoriosa carreira nos gramados de São Paulo, onde defendeu o Corinthians, Rio de Janeiro, estado no qual atuou com as cores do Fluminense, e Portugal, país em que viveu como atleta do Porto. Artilheiro nato, o camisa 9 ignorou o grande público que tomou o Estádio Olímpico e inaugurou o marcador após assistência de Valdomiro.
Minutos depois, Carpegiani, Lula, Vacaria e Falcão colocaram a defesa do Grêmio na roda pelo lado esquerdo. Lançado pelo lateral, o camisa 10 Paulo César entortou a marcação e, da entrada da pequena área, fuzilou Picasso para marcar o segundo tento, definitivo para a vitória, apesar do desconto mandante que viria na sequência.
O Colorado seguiu construindo bonita campanha no Estadual até o dia 10 de agosto, quando um Beira-Rio abarrotado sediou a decisão do torneio. Depois de empate sem gols no tempo normal, a finalíssima seguiu para a prorrogação, onde Flávio, uma vez mais, brilhou.
Povo colorado, em 1975, chegou ao hepta gaúcho
Após grande jogada de Valdomiro pela direita, Ancheta quase fez contra, mas foi salvo por Picasso. O rebote, porém, ficou com o camisa 9 do Clube do Povo, que desferiu canhotaço indefensável. O hepta era nosso. O histórico patrão do Rio Grande reafirmava, uma vez mais, sua soberania em terras gaúchas.
O Brasil começava a ficar vermelho
Quarta-feira, 20 de agosto de 1975. No Beira-Rio, dezenas de milhares de colorados e coloradas tomaram as arquibancadas para torcer pelo Clube do Povo na rodada de abertura do Brasileirão. Embalado pela conquista estadual, o Inter deu continuidade ao bom momento e derrotou, por 3 a 1, o Figueirense, atual vice-campeão de Santa Catarina.
Manga, Cláudio, Figueroa, Hermínio, Vacaria e Falcão; Valdomiro, Escurinho, Flávio, Carpegiani e Lula
Pitoresco, o regulamento do Nacional de 1975 priorizava o futebol ofensivo. Assim, equipes que triunfassem por diferença superior a um gol somavam três pontos, enquanto vitórias magras rendiam apenas dois. Decidido a construir a melhor campanha possível, o Clube do Povo voltou a vencer na segunda rodada, desta vez de goleada. Na Fonte Nova, Lula, duas vezes, Carpegiani, Flávio e Altivo, contra, marcaram no 5 a 0 alvirrubro sobre o Vitória, comprovando a força do unido grupo colorado.
“Nós concentrávamos no Estádio, cada um tinha seu companheiro de quarto. Isto rendia muita piada, diversão. Éramos uma família. Nunca teve briga ou problema, e quando entrávamos em campo, tínhamos que ganhar. Era uma equipe muito forte. Figueroa, Vacaria, Carpegiani, Falcão, Caçapava, Lula, Valdomiro, Jair… algo maravilhoso.”
Manga
Repleto de craques, o elenco vermelho convivia com constante desconfiança de parte da crônica esportiva, que não entendia como Minelli era capaz de gerir o grupo de modo a evitar quaisquer rugas entre os atletas, todos sedentos por minutos. Enquanto muitos procuravam por crise, o Clube do Povo seguia acumulando vítimas, e assim encerrou a fase inicial do Brasileirão na liderança de sua chave, somando outras seis vitórias – três por vantagem considerável -, dois empates e uma única derrota.
Schneider, Jair, Luís Fernando Gaúcho, Pontes e Escurinho – que elenco!
“De uma maneira geral, eu trabalho em grupo. Acho que o futebol é um esporte coletivo em que você não pode deixar nenhum detalhe de lado. Então, é evidente que existem aqueles com quem você tem mais afinidade, mas, de uma maneira geral, quando se fazia cobrança ou elogio, era com todo mundo junto e pra todo mundo. Eu sempre trabalhei dessa maneira, não gostava de destacar um ou outro pra não cometer injustiça com os demais.”
Rubens Minelli
Igualmente vitorioso foi o início da segunda fase para o Colorado. Integrante do Grupo 2, o Clube do Povo derrotou por 2 a 0 Atlético-MG e Tiradentes, nas rodadas um e três, e aplicou 4 a 0 no Remo, na segunda partida que disputou na chave. Na sequência, os comandados de Minelli empataram em 1 a 1 com o Cruzeiro e seguiram para encarar o Fluminense, atual campeão carioca, que vivia a mágica era da ‘Máquina Tricolor’.
Com desfalques dos dois lados – Rivellino do deles, Falcão de nossa parte -, o excelente duelo valeu ao Inter três pontos, conquistados graças a triunfo de 3 a 1. Ainda no primeiro tempo, Cláudio Duarte abriu o placar para o Inter. Gil, cedo na etapa final, empatou para os visitantes, mas Figueroa, em rebote de chute de Flávio, e o próprio Minuano, servido por Escurinho, garantiram a alegria do povo colorado e a liderança do Grupo.
“Dentro do campo,
nós tínhamos uma amizade muito grande.
Todos queriam a mesma coisa.”
Valdomiro
O Inter viveu seu momento de maior oscilação dentro do Brasileiro a partir da sexta rodada da segunda fase, finalizada com empate de 1 a 1 diante do Corinthians. Após, o Clube do Povo, ainda sem Falcão, e também desfalcado de Valdomiro e Lula, foi surpreendido pelo excelente América-RJ de Bráulio, vitorioso por 1 a 0 no Maracanã.
Caçapava em ação contra o Coritiba
Um empate sem gols com o Coritiba, fora de casa, serviu de último capítulo para a hesitação rubra, que chegou ao fim através de triunfo por 2 a 0 sobre o Guarani, no Beira-Rio. Líder de seu grupo, o Colorado, que ainda registraria igualdade sem gols com o Palmeiras, avançou para o octogonal que antecedia os duelos eliminatórios.
“Esse time tinha
vergonha de perder.”
Falcão
De um lado, Inter, Santa Cruz, Flamengo, São Paulo, Portuguesa, Sport, Grêmio e Náutico. Do outro, Fluminense, Cruzeiro, América-RJ, Palmeiras, Corinthians, Guarani, Botafogo e Nacional do Amazonas. De cada grupo, apenas dois avançariam rumo às semifinais. Evitar erros era imperativo para dar continuidade ao sonho de colorir o Brasil em vermelho, e o Colorado gastou sua cota de vacilações logo na abertura da fase, quando sucumbiu, em Recife, ao Tricolor do Arruda.
“Quando nós perdíamos uma partida, e nós perdemos três partidas, no outro dia tu não via ninguém na rua. Todo mundo ficava escondido dentro de casa, envergonhado, esperando o quê? Que passasse rápido até o outro jogo. Porque a gente sabia que ia ganhar.”
Valdomiro
A reabilitação colorada foi imediata, símbolo da indignação do elenco. No Beira-Rio, Dadá Maravilha não foi capaz de causar problemas à defesa do Clube do Povo, diferente de Peri, seu companheiro de Sport. O tento rubro-negro, porém, saiu apenas aos 39 da segunda etapa, quando o Inter já vencia por 3 a 0, um gol de Valdomiro.e dois de Flávio, que chegou aos 16 no torneio, número que valeria ao craque a artilharia do certame.
Matador, Flávio foi o goleador do Brasileirão de 1975
Na rodada seguinte, o São Paulo, embora mandante, atuou completamente retrancado no Morumbi, e assim assegurou 0 a 0 que o manteve vivo na briga pelas semifinais. Ao time de Minelli, o ponto conquistado permitiu igualar a contagem do Santa Cruz, líder da chave.
“Éramos um time muito unido. Não só dentro de campo, mas também fora dele. Se alguém estava com problema, a gente tratava de ajudar.”
Figueroa
Na quarta rodada, Inter e Grêmio disputaram o 222º Gre-Nal da história. Escalado com Manga; Cláudio, Figueroa, Tião e Vacaria; Falcão, Caçapava e Carpegiani; Valdomiro, Flávio e Lula; o Clube do Povo assumiu as rédeas da partida desde os primeiros movimentos e, de tanto martelar, abriu o placar em gol contra de Beto Fuscão.
O tento, único da partida, saiu aos 26 minutos, e aproximou o time de Minelli dos matas, realidade que ficou ainda mais tangível após vitória por 1 a 0 sobre o Náutico, em Recife, conquistada com a solitária artilharia de Lula. Restavam duas rodadas.
Lula foi decisivo no Brasileirão de 1975
O Clube do Povo chegou para a última rodada do octogonal na terceira colocação. Dono de 9 pontos, o Colorado somava dois a menos do que o Santa Cruz, vice-líder da chave. Com 12, o Flamengo liderava. Dramático, o cenário poderia ser diferente não fosse por empate de 1 a 1 com os cariocas, no Beira-Rio, em 30 de novembro.
“O povo colorado
merecia ser campeão.”
Figueroa
Partida que registrou a maior renda da história do Brasileirão em Porto Alegre até aquele momento, um total de 604.575,00 cruzados, o duelo entre Inter e Flamengo contou com gol de Escurinho para o time da casa. Acima de qualquer avante colorado, no entanto, foi o goleiro rubro-negro Cantarele quem brilhou na jornada, impedindo novo tento vermelho e legando pesadelos à Maior e Melhor Torcida do Rio Grande.
“A gente dava liberdade pros guris das categorias de base. Eram iguais a nós. Se nós errávamos, eles davam bronca.”
Valdomiro
Não restava alternativa. Diante da Portuguesa, no dia 4 de dezembro, o Inter precisava vencer ou vencer. Sem Flávio, Minelli escalou o Clube do Povo com Luís Fernando Gaúcho no comando do ataque. Na meia, Escurinho voltava a formar, após período no banco de Caçapava, trio ofensivo com Falcão e Carpegiani, alternativa recorrente nas partidas em que o triunfo se fazia mais provável (ou necessário). Toda a ousadia de Rubens foi recompensada logo aos 18 da primeira etapa, quando Carpegiani abriu o placar.
Ficha de Luís Fernando Gaúcho: atacante contribuiu na campanha da primeira taça nacional
O outro Paulo, Falcão, ampliou aos 21, enquanto aos 24, mas do tempo segundo, Luís Fernando, oriundo dos juvenis, anotou o terceiro. Com o resultado, o Clube do Povo garantiu três pontos que, somados à vitória de 3 a 1 do Santa Cruz sobre o Flamengo, em pleno Maracanã, classificaram o Inter para as semifinais do Brasil.
“Teve alguma coisa mágica
nessa história.”
Falcão
Conquistada graças à força do Celeiro, a segunda colocação no octogonal obrigava o Colorado a viajar. Na luta pela decisão, o adversário seria a Máquina Tricolor do Fluminense. Quem avançasse, teria de encarar Cruzeiro ou Santa Cruz, que decidiriam vaga no Arruda. Era hora de ser protagonista.
Máquina? Não se compara à Academia!
O Fluminense não era tratado como Máquina por acaso. Geração histórica no Tricolor carioca, a nominata, que contava com nomes a exemplo de Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio e Paulo Cezar Caju, tricampeões do mundo com o Brasil em 1970, atingiu seu ápice em 75, com a contratação de Rivellino, outro dos craques da Seleção que venceu a Copa do México.
Na foto publicada pelo Twitter do Fluminense, Caju e Beckenbauer
Além de título estadual, a temporada de estreia de Riva também ficou marcada por amistoso do time das Laranjeiras com o Bayern de Munique de Gerd Müller, Beckenbauer, Sepp Maier e Rummenigge. No Maracanã, os donos da casa levaram a melhor: 1 a 0. Comandante do Fluminense, apenas Didi não tinha o direito de se empolgar com a aparente iminência da taça nacional. Afinal, ele já somava uma derrota acachapante para o Inter em 1975, ocorrida ainda no início do ano, quando treinava o Fenerbahçe.
“Aquele time do Inter de 1975
seria, hoje, melhor
do que o Barcelona.”
Figueroa, em 2014
Didi, porém, se empolgou, e, na véspera da partida, que seria disputada no dia 7 de dezembro, subestimou a força colorada. O Inter estava em declínio, afirmou, e por isso o time que mais temia era o Cruzeiro. Enquanto o rival gracejava, Minelli armava a arapuca perfeita para anular os cariocas.
Manchete do Jornal dos Sports (RJ) um dia antes da semifinal
“Se tu marcares o Rivellino,
nós ganhamos o jogo.“
Minelli para Caçapava, na preleção
A imprensa do Rio sabia da qualidade do Inter, equipe que tratou ao longo do Brasileirão como “timaço”. Até por isso, os periódicos locais convocaram as torcidas rivais a se somarem aos tricolores nas arquibancadas do Maracanã, palco que recebeu público na casa das 100 mil pessoas. A festa parecia pronta, mas um péssimo convidado estava decidido a atrapalhar as celebrações. Escolhido por Minelli, Caçapava tinha a missão de anular o craque Rivellino.
“Tá morto,
professor!”
A resposta de Caçapava
Nascido em Caçapava do Sul, Luís Carlos Melo Lopes fez história apelidado em referência a sua terra natal. Arma de Minelli para jogos mais delicados, não titubeou ao descobrir que seria responsável por marcar o craque tricolor. Confiante, o volante ainda recebeu conselhos de Falcão antes do jogo ser iniciado e, assim, não deu respiro ao camisa 10 adversário, à época famoso pelo drible do elástico.
“Tudo que eu enxergava na minha frente era Rivellino. Era o jogo da minha vida. Quando começou, meteram uma bola pro Riva. Ele puxou a bola, levou, e eu não deixei ele voltar. Dei no meio dele, com bola e tudo. E aí o juiz disse pra ele levantar, que se não eu ia matar ele (risos).”
Caçapava
A solidez defensiva do Inter irritou o Fluminense, que esperava resolver a partida sem maiores problemas. Dono da bola, o Tricolor, reduzido a insossos e pouco objetivos passes laterais, não conseguia fugir da briosa marcação colorada. Desferidos a esmo, tampouco os arremates de longa distância assustaram Manga.
O golaço de Lula pelas câmeras do Jornal dos Sports, periódico carioca
Quem metia medo era o Clube do Povo, especialmente com os arranques de Lula. Da inquietude carioca, o ponta-esquerda colorado tirou proveito aos 33 minutos de jogo. Dono da camisa 11 do Inter, ele tabelou com Falcão e, servido por mágico passe de trivela, surgiu livre nas cercanias da pequena área rival. Fulminante, seu arremate de canhota não pôde ser defendido por Félix. Gaúchos na frente, sob a batuta do maestro Minelli.
“O Fluminense tinha uma jogada forte, que era o Riva metendo a bola no Gil, o ponta-direita. Então, a gente trancou um zagueiro atrás pra evitar essa bola. Foi o único jogo em que não fizemos marcação individual. Liberamos a dupla de zaga deles e bloqueamos o meio de campo.”
Falcão
A volta das equipes dos vestiários não alterou o cenário da partida. Impecável, a defesa colorada, liderada pelo intransponível xerife Elias Figueroa, legítimo proprietário de qualquer grande área que protegesse, não oferecia centímetro de grama ou segundo de respiro aos donos da casa. A intensidade da retaguarda era compartilhada pelo ataque alvirrubro, que teve seu ânimo renovado a partir da entrada de Jair.
“Eu era o coringa do Minelli. Ele me botava na ponta, de meia ou centroavante e eu tinha facilidade em qualquer posição.”
Jair
Substituto de Valdomiro, o futuro Príncipe prendeu, na casa dos 30 minutos da etapa final, dois marcadores pela direita. Com a canhota, chamou Falcão para tabelar, ao que o maior camisa cinco da história respondeu dominando no peito e escapando de zagueiro. De volta a Jair, a bola logo foi passada, pelo camisa 13, a Carpegiani. Desesperado, Silveira, defensor carioca, tentou levantar bola, grama e Paulo Cezar. Terminou somente com a relva.
“Quando acordaram,
já não dava mais.
Quase levaram o terceiro.”
Lula
No domínio, Carpegiani aplicou desconcertante drible da vaca no defensor. A bola correu precisa, como se estivesse presa aos pés do camisa 10 por um elástico, até a altura da marca do pênalti. Félix já deixava o gol atabalhoado quando a chuteira de Paulo voltou a encontrar a bola, desta vez para um sublime e elegante arremate de cobertura, que intrépido voou aos barbantes cariocas. O Inter estava na final. Que viesse o Cruzeiro!
Iluminado dono do Brasil
Além da classificação à final, a vitória no Maracanã também garantiu ao Clube do Povo valioso período de preparação para o confronto contra o Cruzeiro. Disputando duas partidas por semana desde o início de outubro, o Colorado contaria com hiato de sete dias entre o duelo com o Fluminense e a decisão nacional. Inicialmente comemorado, entretanto, o intervalo livre de compromissos logo virou uma dor de cabeça para Rubens Minelli. O primeiro problema foi Manga.
“A semana antes da final foi muito complicada. Começamos a treinar na segunda-feira, quando eu machuquei dois dedos no treinamento. Fui ao Hospital e colocaram uma tala de gesso. No domingo, estive no vestiário às duas da tarde e falei para o doutor que ía jogar. Ele não acreditava, mas eu pedi que ele tirasse o gesso.”
Manga
Atletas colorados fizeram festa no Maracanã lotado
Além das incertezas na meta, o técnico do Clube do Povo também conviveu com crescente indecisão quanto às condições de jogo do craque Lula. Grande nome da semifinal, o camisa 11 alvirrubro passou a semana anterior à decisão com o joelho inchado, fruto de pancada sofrida no Maracanã. Diante do provável desfalque, Minelli cogitava escalar Jair ou Escurinho, duas improvisações. Como nunca até então, o jovem Beira-Rio precisaria fazer a diferença. Disso, Valdomiro sabia.
“O Cruzeiro tinha um baita de um time, mas nós tínhamos confiança, ainda mais decidindo o título aqui no Beira-Rio, com o apoio da nossa torcida. Nós tínhamos um jogador a mais em campo: a torcida do Internacional.”
Valdomiro
E a mobilização foi impressionante. Embora a final estivesse marcada para o domingo 14 de dezembro, desde sexta-feira faltavam quartos nos hotéis de Porto Alegre. Ainda antes, na quinta, os ingressos para a torcida colorada haviam sido esgotados. Gigante, o Beira-Rio parecia pequeno comparado à paixão da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, que chegava dos quatro cantos para a capital gaúcha. Todos queriam jogar a decisão – o povo, a partir das arquibancadas, e os atletas, na relva abençoada.
“Não vou ficar fora
desta decisão
de jeito nenhum.”
Lula
O incomparável povo colorado fez a diferença
Inabalável, a confiança colorada jamais flertou com a soberba. Do outro lado, enquanto isso, o Cruzeiro se deixava iludir com o carinho da imprensa mineira. Inocente, o meio-campista Eduardo chegou a declarar que Caçapava e Carpegiani não podiam atuar juntos, insinuando que as características dos atletas alvirrubros seriam excessivamente distintas. A melhor resposta para as críticas, o Clube do Povo sabia, viria dentro de campo. A final estava chegando.
“Agora,
é tudo conosco!
Não dá pra perder!”
Figueroa, no túnel de acesso ao campo
Rica, a língua portuguesa carece de adjetivos que definam com justiça a magnificência de Figueroa. Zagueiro que ocupa a mais alta prateleira dos craques defensores, o chileno era também um líder nato. Capitão, usou de poucas e precisas palavras para conduzir seus companheiros ao campo de jogo. Diante de mais de 80 mil pessoas, o Inter estava escalado: Manga; Valdir, Hermínio, Don Elias e Chico Fraga; Caçapava, Carpegiani e Falcão; Valdomiro, Flávio e Lula.
O Inter conhecia a qualidade do Cruzeiro, tradicional equipe já campeã do Brasil, em 1966, e que contava com craques à exaustão em seu escrete. Titular na Copa do México, Piazza capitaneava outras estrelas como Raul, Nelinho, Zé Carlos, Joãozinho e Palhinha, todos selecionáveis. Também por este motivo, o Clube do Povo aceitou que a etapa inicial fosse disputada em ritmo reduzido, marcado pelo constante estudo das duas partes.
“Não vamos
menosprezar o adversário
e cometer o mesmo erro
do Fluminense.”
Carpegiani, antes da partida
Do lado visitante, Nelinho saía muito pouco ao ataque, passando a maior parte do tempo preso à lateral, atento aos movimentos de Lula. Pelo Inter, Valdir, que assumira a titularidade da direita após lesão de Cláudio Duarte, adotava o mesmo comportamento com Joãozinho. Conscientes de que qualquer centímetro poderia ser fatal se oferecido aos craques do rival, tanto Minelli quanto Zezé Moreira visivelmente mantiveram suas equipes presas a algumas amarras durante os 45 minutos que inauguraram a partida.
“Quando eu me apresentei no profissional, nunca esqueço, ele (Minelli) falou pra nós, que estávamos subindo, que não conhecia ninguém. Então, quem queria, precisava mostrar serviço naquele momento. Quem mostrasse valor, ficava.“
Chico Fraga
Marcada por defesas trancadas e ataques anulados, a abertura da partida contou com grande quantidade de arremates de longa distância, em geral desferidos por elementos surpresa. Dono da lateral-esquerda colorada desde as semifinais, quando Vacaria deixara o time por lesão, Chico Fraga iniciou o confronto disposto a provar seu valor e, logo aos 9, soltou direitaço que Raul milagrosamente espalmou em escanteio.
Caçapava (8) brilhou na reta final do Brasileirão
Primeira chance do jogo, o chute de Chico não demorou a receber companhia na relação de melhores momentos da partida. Após tabelar com Carpegiani, Falcão costurou da direita para o centro e, aos 12 minutos, finalizou rasteiro. Venenosa, a bola picou na frente de Raul, que defendeu em dois tempos, por pouco não soltando o rebote nos pés de Flávio.
A resposta do Cruzeiro chegou aos 25. Bem servido por Zé Carlos, Eduardo lançou Palhinha. O centroavante até finalizou forte, mas esbarrou na primeira boa aparição de Manga, goleiro que seria um dos destaques da final. Pouco depois, Valdomiro, de canhota, exigiu, no último lance de perigo da etapa inicial, nova intervenção de Raul. Assim que o relógio indicou 45 minutos, o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia apitou para iniciar o intervalo.
“Valdô era um jogadoraço. Sempre treinávamos bola parada, e ele colocava onde queria. Se eu passava a mão no cabelo, ele sabia que a bola era curta. Se fazia algo no rosto, era mais comprida.”
Figueroa sobre Valdomiro
Carpegiani, Valdomiro, Figueroa, Flávio e Lula. Durante os 15 minutos que antecederam o segundo tempo, a torcida colorada repetiu os nomes do quinteto como se fossem um mantra. Mantida a igualdade ao fim da partida, o regulamento previa meia-hora de prorrogação e, em último caso, pênaltis para decidir o campeão do Brasil. A nominata continha os prováveis batedores do Inter. Cada vez mais, a bola parada despontava como principal esperança em um jogo tão truncado.
Carpegiani abriria as penalidades para o Inter
Roberto Batata, verdade seja dita, teve a oportunidade de modificar os rumos da partida quando, aos seis, recebeu excelente passe de Palhinha. A centímetros da pequena área, o ponta-direita celeste não conseguiu o domínio e deixou ela escapar, tendo que retornar até a marca do pênalti para então arrematar. O atraso permitiu que Figueroa bloqueasse a finalização. Brilhava o zagueiro!
O Gol Iluminado estava chegando
Lançado pela direita na casa dos 10 minutos, Valdomiro também queria reluzir. Infernal, o 7 colorado deu uma meia-lua em Isidoro, seu marcador, e partiu em direção à linha de fundo. Desesperado para impedir que o craque alvirrubro cruzasse, Piazza exagerou na força e, no lugar de recuperar a posse, ofereceu falta perigosíssima ao Inter. Pintava uma chance, saudada pelo povo aos gritos de “É Colorado! É colorado!”.
“Hermínio!
Eu vou fazer o gol.”
Figueroa, enquanto partia para a área rival
Simulacro de escanteio, a falta que Valdomiro sofrera cobrava cruzamento açucarado para a grande área cruzeirense. Especialista em bolas paradas, o ponta-direita ajeitou a esférica com o devido carinho. Neste instante, abarrotados atrás da antiga goleira do placar, milhares de alvirrubros perceberam, atônitos, o surgimento de um feixe de luz entre as nuvens que poluíam o céu da quase veranil tarde em Porto Alegre.
“Sabes que,
quando eu cabeceei,
eu já gritei gol?”
Figueroa
Travestido de torcedor, o sol indicou onde a bola deveria ser alçada, sugestão percebida pelo cobrador, que levantou com precisão, e igualmente constatada por Figueroa, que subiu para cabecear. Com a testa, consciente, o capitão colorado resvalou. Intocável, a bola partiu em direção ao canto direito de Raul, beijou o solo a centímetros da linha fatal e, apesar do golpe de vista do goleiro, somente flertou com o pé da trave antes de morrer nas redes. Saía o Gol Ilumilado!
“Só depois eu vi, na televisão e nas fotos, que tinha um raio de luz ao redor da minha cabeça.”
Figueroa
A desvantagem no placar obrigou o Cruzeiro a se soltar. Atentos aos sinais que o jogo oferecia, os visitantes também decidiram apostar no seu especialista em bolas paradas, que apareceu pela primeira vez aos 13. À direita da meia-lua da grande área colorada, Nelinho cobrou falta com muita força. Colocando seu tradicional efeito na batida, o lateral-direito quase enganou Manga, mas o goleiro alvirrubro exibiu sensacional poder de recuperação para mandar em escanteio.
“Joguei com fita nos meus dois dedos.
Graças a Deus, eu fui bem e dei
o Campeonato ao Internacional.”
Manga
Já no século XVII, Isaac Newton alertava que toda ação tem uma reação. Terceira de suas leis da física, a máxima foi atestada por Lula no gramado do Beira-Rio. Afinal, se Nelinho assustava no ataque, o lateral oferecia espaços na defesa. O primeiro vazio percebido pelo ponta-esquerda colorado valeu ao camisa 11 campo aberto até a pequena área, de onde completou cruzamento rasteiro de Valdomiro. Forte demais, o chute superou o travessão.
Espaços apareceram em abundância na etapa final
Aos 16, Nelinho cobrou escanteio fechado e com força. A bola passou por cima de Manga, mas o goleiro conseguiu encaixar a esférica, já na queda, com apenas uma mão. Dois minutos depois, Lula respondeu e, lançado por Valdomiro, invadiu a área e chutou rasteiro. A finalização explodiu no pé do poste que outrora participara do tento de Figueroa, mas o gol não saiu.
“Ganhamos do Cruzeiro um jogo que poderíamos ter perdido também. Foi um confronto muito equilibrado. O Manga fez defesas muito boas, o Raul também do outro lado.”
Rubens Minelli
Depois de tanto tentar por cima, Nelinho apostou na meia-altura. Aos 22, o lateral cobrou falta pela esquerda da intermediária de ataque. Nos primeiros segundos que passou no ar, a bola passou à direita da barreira. Já na altura da grande área, porém, o efeito carregou o arremate até o canto oposto da meta colorada. Curva indefensável? Não para Manga, que encaixou sem oferecer rebote.
MANGA!
Convencido de que não brilharia como artilheiro, o craque mineiro decidiu ser garçom e, transcorridos 25 minutos, bateu escanteio na primeira trave. De carrinho, Moraes finalizou. Como um gato, Manguita pegou. Inspirado pelo companheiro de posição, Raul, aos 39, também brilhou: o arqueiro saiu nos pés de Lula e impediu que o ponta completasse para as redes após maravilhosa assistência de Flávio.
“A gente sabia
que precisava ganhar.”
Figueroa
Apesar das mudanças do técnico Zezé Moreira, que sacara Eduardo e Batata para as entradas de Sousa e Eli, o Cruzeiro careceu de forças para incomodar o Inter nos instantes de encerramento da partida. Encaixado defensivamente e contando com o fôlego renovado de Jair, substituto de Valdomiro, o Clube do Povo também não fez questão de dar continuidade à perigosa correria que tanto fazia Manga trabalhar. O título, pouco a pouco, tomava contornos de realidade. Até que, aos 48 minutos e 50, ele foi oficializado.
O estádio lotado e o campo invadido nas lentes do Canal 100
“Eu fui um jogador que era torcedor.
Pra mim, não tem outro clube.
O meu se chama
Sport Club Internacional.”
Valdomiro
Após falta cavada por Hermínio, Dulcídio soprou pela última vez o apito. Para delírio das mais de 80 mil pessoas, o Inter era campeão brasileiro. No cimento e na grama, os torcedores faziam a festa, que depois viraria carnaval nas ruas de Porto Alegre, tomadas por uma centena de milhares de colorados e coloradas. Pela primeira vez, o Sul do Brasil conquistava o país. Enfim, o Clube do Povo vencia o Nacional.
Não pense, contudo, que este parágrafo serve como fim. Pelo contrário, a história iniciada em 14 de dezembro muito em breve seria continuada. À porta do Beira-Rio, Bi e Octa batiam. Logo, eles teriam seu lugar. A narrativa do maior time da história do futebol brasileiro estava apenas começando. Sortudos nós, que o tivemos. Viva o Internacional, glória do desporto nacional!
O título desta matéria não contém exagero algum. Icônica, a frase, proferida por um gênio, retrata com grande precisão a magnificência de outro. De Veríssimo, Luís Fernando, para Falcão, Paulo Roberto. O Inter tricampeão do Brasil jamais foi repetido. Protagonismo igual ao de nosso camisa cinco? Nunca mais visto. Marcada por superações coletivas e pessoais, a história do craque do ‘Time que Nunca Perdeu’ é única, e merece, no dia do aniversário do Rei, ter seu principal capítulo rememorado. Conheça detalhes da mágica temporada vivida por Falcão em 1979!
Falcão exibe o cobiçado troféu para o povo colorado/Foto: Divulgação
Idolatria afirmada
No futebol, a história da camisa cinco tem um antes e depois. Falcão a divide. Gênio da bola, o revolucionário meio-campista revelado pelo Celeiro de Ases construiu carreira meteórica no Clube do Povo. Lançado aos profissionais em 1973, por Dino Sani, no ano seguinte já seria pilar da máquina de Minelli.
Bicampeão nacional sob o comando Rubens, ainda atingiria, treinado por Cláudio Duarte, o seu quinto título estadual. Idolatrado e figurando no principal degrau do panteão colorado o craque chegou ao fim da década de 70. Ninguém poderia imaginar, portanto, que Paulo conseguiria abrir os anos 80 ainda mais amado.
Ficha de inscrição de 1968 do atleta Paulo Roberto Falcão/Foto: Arquivo histórico do S.C. Internacional
Falcão precisou de pouco mais de dois anos como profissional para ser escolhido o melhor meia do Brasil. Brilhante na conquista do Brasileirão de 1975, o jovem integrou a seleção do campeonato. Aos 22 anos (recém-completados), foi fundamental, por exemplo, diante do Fluminense, na semifinal do torneio, quando em um Maracanã lotado serviu linda assistência para a pintura de Lula, primeira da jornada em solo carioca.
No ano seguinte, o Inter bicampeão do Brasil voltou a contar com a magia de seu camisa cinco, uma vez mais decisivo para a classificação alvirrubra à decisão nacional. Contra o Atlético-MG, desta vez no Beira-Rio, o craque marcou, no último minuto do tempo regulamentar, um dos gols mais bonitos da história do futebol, segundo da virada alvirrubra por 2 a 1. Construído em belíssima tabelinha de cabeça com Escurinho, o tento classificou o Clube do Povo para o duelo diante do Corinthians, encerrado com vitória vermelha, no Gigante, por 2 a 0.
Após insucessos estaduais e nacionais em 1977, o Inter voltou a ser protagonista na temporada de 1978. Terceiro do Brasil, o Clube do Povo conquistou o título gaúcho no Olímpico, antiga casa gremista, após vitória por 2 a 1. Falcão, ao lado de Jair e Valdomiro, foi um dos destaques do feito, inclusive marcando gol em Gre-Nal do primeiro turno.
No Brasileirão, o Colorado sucumbiu, nas semifinais, para o forte time do Palmeiras. A ausência na decisão, todavia, não impediu a escolha do catarinense de Abelardo Luz para o prêmio de melhor do Campeonato. Bola de ouro, o camisa cinco chegava a 1979 sonhando com repetir o brilho individual e elevar o desempenho coletivo.
Os campeões do Rio Grande em 1978. Falcão, em pé, ao centro/Foto: Divulgação
Novos problemas, novas companhias
Primeiro campeonato do ano, o Gauchão de 1979 acendeu importante alerta no Beira-Rio. Os primeiros sinais de oscilação chegaram ainda nos turnos de abertura do torneio, encerrados com tropeços diante de adversários inferiores ao Colorado. Na sequência, Cláudio Duarte, comandante alvirrubro desde 1978, precisou deixar a casamata – embora tenha continuado a ocupar cargo na comissão técnica.
Com a missão de reverter o quadro negativo e construir campanha campeã no octogonal final, desembarcou, então, Zé Duarte, treinador de boas passagens pelo interior paulista, em especial a campineira dupla Guarani e Ponte Preta. Zé, contudo, não apenas falhou em injetar novo ânimo no Inter, como também viu intensificar o clima conturbado nos arredores da Padre Cacique.
“A maior motivação
foram as críticas e a
humilhação que sofremos
durante o Estadual”
Mário Sérgio
Para além de resultados inesperados, caso dos reveses consecutivos para São Paulo de Rio Grande e Novo Hamburgo, o condicionamento dos atletas também se tornou um problema. Pilares da equipe, os ídolos Falcão e Valdomiro sofreram lesões graves, assim como o excelente zagueiro Larry. Reforços, ficava evidente, eram necessários, e eles foram encontrados tanto no mercado, à época inflacionado, quanto no Clube, tradicional formador de estrelas.
Mauro Galvão e Falcão no Beira-Rio em 1979/Foto: Divulgação
A demora para encontrar uma nova formação, porém, custou o Estadual, encerrado no simplório terceiro lugar, posição que cobrou nova mudança na comissão técnica. No lugar de Duarte, chegou Ênio Andrade, então comandante do Coritiba. Com ele, veio também Gilberto Tim, mestre da preparação física e bicampeão nacional pelo Inter ao lado de Rubens. O Brasileirão batia à porta, e o Colorado seguia desencontrado.
Dentro de campo, o Inter acumulou, ao longo dos meses de disputa do Gauchão, novidades em todos os setores. Contratado em 1977, o goleiro Benítez, emprestado para o Palmeiras em 1978, retornou ao Beira-Rio e logo conquistou a titularidade. Na defesa, Mauro Pastor se consolidava como zagueiro, enquanto o lado esquerdo começava a ser desbravado por Cláudio Mineiro. Completando o miolo estava o jovem Mauro Galvão, que, aos 17 anos, já encantava o Brasil.
João Carlos, cria da casa, fazia o corredor direito, faixa de campo ocupada, no meio de campo, por Jair. O Príncipe tinha as magníficas companhias de Batista, mais recuado, e Falcão, trio responsável por ditar o ritmo do Alvirrubro. Mais tarde, para o ataque, chegou Bira, contratado junto ao Remo e com o aval de Dario Maravilha, camisa 9 do título de 1976. Os dois centroavantes travavam, em Belém do Pará, intenso duelo pela artilharia paraense, com Dadá vestindo a camisa do Paysandu.
Montagem do ‘Time que Nunca Perdeu’ não foi simples
Falcão e Jair, estrelas benquistas pela torcida, também desejavam um ponta-esquerda, e tinham em mente o nome ideal: Mário Sérgio Pontes de Paiva. Pesava contra o ‘Vesgo’ seu temperamento intempestivo, que gerava desconfiança na diretoria colorada. As estrelas do meio de campo alvirrubro, entretanto, bateram pé, e prometeram se responsabilizar pelo futuro companheiro. Com ele, argumentaram, conquistariam taças. Mário, então, foi contratado – e logo caiu como uma luva no corredor canhoto.
Disciplinado taticamente, o camisa 11 atuava como um legítimo construtor, armando constantes aproximações ao trio de meias, assim criando quadrado mágico no time de Ênio Andrade. Menos agudo do que Lula, seu predecessor na ponta, o carioca permitia a Falcão presença ainda maior no terço final do campo. Uma geração inesquecível, enfim, tomava forma. Restava azeitar as engrenagens.
Segurança nas fases iniciais
Integrante do Grupo G, o Inter abriu o Brasileirão como visitante. No Couto Pereira, o Clube do Povo enfrentou o Athletico Paranaense, partida disputada em 23 de setembro e encerrada com o placar inalterado. Coube a Bira, três dias depois, marcar o primeiro gol colorado no Brasileirão. Acompanhado por Adilson na súmula de artilheiros alvirrubros, o centroavante foi fundamental na vitória por 2 a 1 sobre o Santa Cruz, em Recife.
“O Inter torna-se grande
quando ninguém acredita nele.
É um time que cresce quando
tudo fica difícil!”
Paulo Roberto Falcão
Na mesma partida, entretanto, o camisa 9 fraturou o braço e, ao lado de Batista, com uma distensão, tornou-se desfalque para as rodadas seguintes. Desconfianças retornavam, embora Jair as tenha parcialmente dissipado na terceira rodada, quando marcou, no Beira-Rio, o tento da vitória sobre o Figueirense.
A quarta rodada reservou ao Inter o primeiro clássico daquela edição do Brasileiro. Em um Beira-Rio lotado, Jair e Falcão apostaram na bola parada e, através de jogada ensaiada que contou com toque do futuro Rei e arremate do Príncipe, venceram o ex-companheiro Manga, então goleiro gremista. Colorado 1 a 0, e a campanha nacional tomava corpo, bem como o psicológico alvirrubro, renovado após o primeiro triunfo em Gre-Nais no ano. Nas jornadas seguintes, dois por 3 a 0, sobre Sport e Coritiba, encaminharam a classificação.
Na reta final da primeira fase, o Inter ainda empatou com América-RJ, por 1 a 1, antes de superar, na oitava rodada, o Rio Branco-ES, por 5 a 1. Diante dos capixabas, Falcão anotou uma pintura para abrir o placar. O camisa cinco emendou de primeira, da entrada da área, cobrança aberta de escanteio feita por Mário Sérgio, pela esquerda. O gol, marcado na goleira do Gigantinho, foi o primeiro do craque no Campeonato, sucedido, na mesma partida, pelo de número dois, quinto da jornada, que saiu em lindo testaço. Depois da goleada, o Clube do Povo encerraria o grupo empatando, no Gigante, com o Operário-MS, placar de 2 a 2.
Se na fase inicial oito equipes avançaram de um grupo com 10, o segundo momento do Brasileirão de 1979 começou a afunilar os participantes do torneio. Disputado por 94 times, o Campeonato daquele ano contou, na fase de número dois, com sete chaves formadas por oito instituições. Destas, apenas duas avançariam. Líder no formato anterior, o Inter sabia que os tropeços precisariam se tornar cada vez mais escassos.
Assim, o Colorado venceu, na primeira rodada, o Goytacaz, do Rio de Janeiro, por 1 a 0, gol de Mauro Pastor. Na semana seguinte, o Gigante sediou novo duelo da Academia do Povo, este perante os gaúchos do São Paulo de Rio Grande. Jair, cobrando pênalti sofrido por Falcão, abriu o escore. Bira, precisamente servido pelo Rei, aumentou, e Mário Sérgio, já na etapa final, fez o terceiro do triunfo por 3 a 1.
Três empates consecutivos, contra Caldense-MG, Anapolina-GO e Atlético-PR, representaram o momento mais delicado do Inter no torneio. Seguro defensivamente, o Colorado custava para deslanchar na linha de frente, muito pela ausência de Valdomiro, com volta aos gramados prevista apenas para o ano seguinte. Até mesmo Falcão chegou a atuar como centroavante em uma das tentativas de Ênio para bagunçar zagas rivais. Foi então que Valdo, como sempre sedento por quebrar paradigmas e recordes, retornou ainda no final do mês de novembro. Mais precisamente, no dia 25.
A reestreia do ídolo ocorreu diante da Desportiva, do Espírito Santo, e foi coroada, logo cedo, com assistência para Bira. Depois, no segundo tempo, o Rei também quis ser garçom, e ofereceu passe maravilhoso para Batista marcar o segundo. O centroavante alvirrubro, que de burro não tinha nada, faria mais dois, o último após lançamento genial de um Falcão cada vez mais à vontade dentro de campo, visivelmente decidido a conquistar o país como protagonista. O duelo, encerrado com o triunfo por 4 a 0, até hoje é lembrado pela infeliz lesão de Zé Rios, lateral do time visitante.
Valdomiro fechou com gol a segunda fase do Brasileirão. O tento, inclusive, foi o único na vitória por 1 a 0 sobre a Inter de Limeira, em São Paulo. Líder de seu grupo, o Colorado gaúcho avançava para o quadrangular antecessor dos mata-matas. Enfrentaria, na Chave C, Atlético-MG, Goiás e Cruzeiro. Do quarteto, apenas um avançaria às semis.
Reforçada na linha de frente, a Academia do Povo finalmente encontrava o equilíbrio que lhe serviria de principal característica. Entre a intransponível retaguarda e o avassalador setor ofensivo, um meio de campo minuciosamente afinado orquestrava o time. Harmônico, o setor contava com os graves de Jair e o apoio de Batista, maximizadores da sinfonia de Falcão, craque já reluzente nas semanas anteriores, mas prestes a se tornar herói nos dias que estavam por vir.
Falcão, o Bola de Ouro do Brasileirão 79/Foto: Revista Placar, Divulgação
Mococa ou Falcão?
Três jogos para chegar às semis. O primeiro, contra o Goiás, ocorreria no Beira. Vencer era imperativo. Dezenas de milhares nas arquibancadas, unidas no mesmo pensamento, apoiaram o time de Ênio Andrade. O jovem Gigante, que acabara de completar 10 anos de vida, queria subordinar o país inteiro de novo. Para isso, jogou junto.
Com Bira, no encerramento da primeira etapa, o Estádio lançou. Ao lado de Cláudio Mineiro, no fundo, pela esquerda, cruzou. Dissimulado, com Falcão fintou a zaga e abriu vazio na área alviverde. Lacuna criada pelo Rei, foi aproveitada pela grande aposta do Monarca: Mário Sérgio, que para as redes arrematou. Gol, da importante vitória por 1 a 0!
Completando a rodada de abertura, o empate entre Atlético e Cruzeiro tornava decisivo o confronto de Inter e Raposa. No Mineirão, os donos da casa precisariam vencer para seguir sonhando com o Brasil. De sua parte, o Clube do Povo sabia que, em caso de triunfo, praticamente garantiria classificação às semifinais. Determinado a vencer o clássico, que envolveu duas das maiores equipes da década de 70, Ênio Andrade escalou uma equipe que estava no limite. Lesionados, Falcão e Valdomiro iniciaram o jogo, mesmo caso de Batista.
“A gente aceitou que
alguns jogassem no sacrifício
porque estamos numa guerra.
E na guerra, meu velho,
cada um usa o que tem de melhor”
Gilberto Tim
Quem estivesse inteiro precisaria, indubitavelmente, jogar por dois. Como jogaram Jair e João Carlos, donos da direita, flanco pelo qual o Príncipe progrediu antes de, aos 25 da etapa inicial, cruzar rasteiro. Na entrada da área, o rei dos voleios não perdoou. Inter, dos pés de seu camisa cinco, na frente. Pouco depois, Joãozinho até igualou, mas a majestade catarinense, que atuava gemendo de dores na clavícula, estava incontrolável. Tamanho sacrífico, bradava, não aconteceria em vão.
Lançado por Valdomiro, Falcão dominou com a canhota, investiu contra Marquinhos, superou o marcador e, da meia-lua do retângulo maior, mandou rasteiro, com a direita. Luis Antonio salvou, mas o rebote foi de Bira, que se atirou em violento carrinho na direção da bola. Chorado, brigado, o tento era colorado. Nos instantes antecessores do intervalo, o corredor direito valeu ao Inter novo gol.
Após corte parcial da zaga, Valdo pegou a sobra, ajeito para a canhota e, a centímetros da risca da grande área, mandou com a canhota, de trivela. Na bochecha da rede rival a esférica morreu. Inter 3 a 1, triunfo até diminuído, no escore, por Alexandre, mas não impedido. Vitória da Academia do Povo, resultado que, somado ao W.O. do Atlético-MG, que entrou em discordância com a CBD, valeu a classificação para as semis.
O Cruzeiro foi uma das muitas vítimas de Falcão no Inter
O adversário colorado nas semifinais seria o Palmeiras, algoz na temporada passada, quando ficou com o vice-campeonato brasileiro. Na final, os palestrinos sucumbiram para o Guarani de Zé Carlos, Careca, Zenon e Capitão. Indigesto, o gosto da prata, esperavam os alviverdes, seria superado em 1979. Terceiro no Nacional anterior, no entanto, o Inter também queria a taça, e entraria em campo sedento por vingança.
Foto: Jornal da Tarde, 13 de dezembro de 1979
Falcão, é claro!
Badalado, o duelo de 180 minutos entre o escrete de Telê e os eleitos de Ênio foi inaugurado no dia 13 de dezembro, no Morumbi. Empolgada com a boa fase alviverde, que superara com 100% de aproveitamento o quadrangular anterior, disputado perante a Flamengo, São Bento-SP e Comercial-Sp, a crônica paulista não hesitou em amplificar o choque que estava por vir.
O periódico Jornal da Tarde, porém, exagerou. Deleitado com as recentes exibições do jovem Mococa, valente marcador que anulara Zico, o noticiário criou um embate particular para o confronto eliminatório, e se permitiu questionar, em manchete garrafal, quem levaria a melhor: o valente meia bandeirante ou o deífico Falcão. Delírio!
As escalações que entraram em campo no Morumbi
A heresia da imprensa sudestina encontrou coro nos 45 minutos que serviram de abertura ao prélio. Superior nas ações do campo, o Palmeiras retornou para os vestiários em vantagem, mínima, no placar. Encurralado pelos locais na maior parte do tempo, o Clube do Povo sofreu muito com as arrancadas de Jorge Mendonça e Rosemiro, donos da direita do ataque palestrino. Apesar do triunfo parcial, todavia, a torcida da casa não encarou com grande euforia o intervalo da peleja. Também pudera, pois Falcão, a instantes do apito paralisador, quase marcou de bicicleta após estonteante tabela com Mário Sérgio. O Inter, afirmavam os alviverdes, entrara no jogo – e não havia Mococa capaz de contê-lo.
Reiniciado o confronto, o Clube do Povo precisou de apenas cinco minutos para empatar. Polivalente, Mário Sérgio foi mais ponta do que meia para arrastar a marcação até a linha lateral do campo. Espaçada, a zaga rival ofereceu espaço para Jair, que não titubeou. Livre, o camisa oito foi percebido pelo companheiro, que serviu rasteira. Fulminante como sempre, Jajá dominou engatilhando e, da intermediária, testou Gilmar, que foi reprovado pelo montinho artilheiro. O roteiro da semifinal, contudo, não seria tão simples ao Clube do Povo, que voltou a ficar no prejuízo aos 10, quando Jorge Mendonça marcou uma pintura.
Falcão e Pedrinho, antes do jogo/Foto: Divulgação
A desvantagem não abalou o Inter, que seguiu martelando. Inteligente, o time colorado percebeu que o chão não seria amigo naquela noite, e tratou de pressionar por cima. Quem mais levou o caminho a sério foi Falcão, que seguiria, até o fim do torneio, convivendo com intensas dores no ombro. Aos 19, o craque atingiu as alturas para completar, em fulminante cabeceio, cruzamento vindo da direita. Por pouco tempo, novo empate era denunciado pelo marcador. Desgostoso com a igualdade, o Rei, que já acumulava felizes súditos no sul, decidiu impor sua nobreza a azarados paulistas virentes.
“Não perdemos
para um time.
Perdemos para o
maior jogador do mundo.“
Diretor palmeirense
O relógio indicava 25 minutos quando Mário Sérgio recebeu na esquerda. Com espaço para progredir, o camisa 11 fez o facão e acionou Cláudio Mineiro, que corria rente à linha esquerda da grande área palestrina. Embora travado, o cruzamento do lateral teve direção, e encontrou a cabeça de Bira. Também espirrado, o centroavante escorou para trás, onde estava Valdomiro, mais um que lutava por espaço. Espanada, a bola esbarrou no pé de Mendonça e tomou altura. Desequilibrado, o 10 do Palmeiras tentou afastar. Antes dele, a bola foi chicoteada. Por quem? Falcão, é claro.
Foto: Jornal da Tarde, 14 de dezembro de 1979
De bate-pronto, o arremate do camisa cinco esgaçou os barbantes da cidadela bandeirante. Mágico, o tento só não foi visto pelo artilheiro da noite, que, de modo a não acertar o rival, precisou recolher a perna com violência equiparável à da finalização, assim permanecendo de costas para a meta durante valiosos segundos. Último do jogo, o golaço valeu ao Inter vantagem especial para as pretensões coloradas. Sublime, o feito carrega, até hoje, assinatura das mais fidedignas de Falcão por misturar talento à classe, genialidade e simplicidade, precisão com protagonismo. Obra rara, digna de seu autor.
Disputado diante de um Beira-Rio completamente lotado, o confronto de volta consagrou, de uma vez por todas, a zona nevrálgica do time colorado. Incansáveis, Rei e Príncipe se sacrificaram pelo time, apoiando na mesma medida que fecharam espaços na defesa. Para Jair, a recompensa de tanto empenho chegou na abertura da etapa final. Após cruzamento de Cláudio Mineiro, Bira ajeitou para Adilson, que fez pivô perfeito. Jajá, é claro, não perdoou, e tirou o zero do placar. Irônico, o destino permitiu a Mococa o tento de empate. Placar final, 1 a 1. A luta de todos, enfim, justificada: Inter na decisão. Ao ritmo, óbvio, de Falcão.
Invicto, inédito e jamais igualado
Não bastasse a reviravolta que transformou um ano iniciado de maneira claudicante em finalista do Brasil, o roteiro de 1979 reservava mais emboscadas para a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Classificado depois de eliminar o Coritiba, o Vasco seria o adversário colorado na decisão. Os primeiros 90 minutos reservavam o Maracanã, como palco, e Roberto Dinamite, como possível algoz.
Missão difícil, largar em vantagem pareceu se tornar impossível quando a escalação alvirrubra foi revelada sem Falcão e Valdomiro. Combalida, a dupla, que há muito vinha no sacrifício, precisou dar lugar a Valdir Lima, contratado junto ao São Paulo de Rio Grande, e Chico Spina, ponta muito contestado nas fases de abertura do Brasileirão. O empate, para os mais pessimistas, virava obsessão. Tolos eles.
“Poucos esperavam que o Inter derrotasse
o Vasco quando o empate bastava.
Acontece que nosso time
não sabe jogar na retranca.”
Ênio Andrade
O primeiro apito da final soou às 21h15 do chuvoso 20 de dezembro. Instável, o clima afastou parcela do público, mas não evitou que mais de 60 mil pessoas tomassem as arquibancadas do eterno Maior do Mundo. Confiante, o Colorado não se abalou no mítico estádio para fazer, do limão, uma limonada. Substituto de Valdomiro, Chico Spina marcou dois. Reserva de Falcão, Valdir deu assistência para o primeiro. Impecável como estivera desde setembro, a defesa não vazou. De 2 a 0, a vantagem permitia, de uma vez por todas, maior respiro ao povo vermelho. Restavam míseros 90 minutos.
Os campeões invictos
Benítez, a muralha. João Carlos, incansável, Mauro Pastor, xerife, Mauro Galvão, fenômeno, e Cláudio Mineiro, guerreiro. Batista, gênio, Jair, artilheiro, e Falcão, divindade. Valdomiro, ídolo, Bira, matador e Mário Sérgio, craque. Escalado, o Inter entrou, como de costume, correndo no gramado do Beira-Rio. O Gigante, que fervilhava naquela antevéspera de Natal, respondeu com estremecedor tremular de bandeiras. A confiança do povo atingia escala comparável ao palco do duelo. A exibição colorada também, apesar de Leão, que muito retardou a abertura do placar. Inevitável, porém, o gol primeiro saiu, e teve a cara do time de Ênio Andrade.
Jamais derrotado, o goleiro Benítez repôs com Mário Sérgio, que recuara até a intermediária defensiva para receber. Pela esquerda, o Vesgo percebeu que Bira tomava a frente de seu marcador. Preciso, lançou o nove, que escorou, poucos metros depois do centro do campo, de casquinha. Perspicaz, Jair apareceu nas costas da adiantada defesa rival para, no primeiro toque, fintar Leão. No segundo, finalizou na direção da desprotegida goleira. Aos 41 minutos, o Beira-Rio aumentava os já ensurdecedores decibéis de festejo.
Quatro voltas do ponteiro depois, Falcão quase ampliou. Completo, o Rei lançou Bira, que driblou o arqueiro mas perdeu ângulo. Pela direita da área, o centroavante cruzou rasteiro. Ágil, ali já estava seu garçom, que tentou de letra. Por sorte dos cariocas, o goleiro impediu gol que faria justiça à magnífica campanha construída pelo camisa cinco vermelho. Decisivo em todas as fases, o ídolo dispensou estrelismos em nome dos objetivos. Na decisão, em momento algum foi individualista. Pelo contrário, seguiu ditando o ritmo de seus 10 companheiros, ora desfilando passes açucarados para os avantes, ora retendo a posse e esfriando o time visitante.
Fiel ao estilo de jogo que lhe fizera atingir a melhor forma de sua carreira, o camisa cinco não perdoaria, por óbvio, espaços na retaguarda rival. Espaços como os oferecidos a 13 minutos da segunda etapa, quando Mário Sérgio, de novo ele, lançou da defesa, desta vez para Cláudio Mineiro, que cruzou rasteiro, na direção de Bira. O centroavante finalizou, mas abafado por Falcão, que operou milagre. Abandonado por seus companheiros, o goleiro mal levantara do chão quando surgiu Falcão.
“Nós oferecemos este título
para aqueles que não
acreditavam no time”
Rei Falcão
Um, dois, três passos. Pé de apoio, perna direita no ar, chuteira na bola. Por um instante, corpo completamente fora do chão. O herói era elevado, ficava acima de seus rivais. Superior, como seu futebol. O Rei finalizou, com a seriedade dos grandes, a caminhada da maior equipe da história do principal desporto brasileiro.
Wilsinho até descontaria, é verdade, mas o gol de honra em nada ameaçou o Tri. Título único, posse exclusiva do Time que Nunca Perdeu, escalação inesquecível capitaneada pelo melhor meio-campista que nosso país já viu. O Rei de Roma. O Deus do Beira-Rio. O aniversariante desta sexta-feira (16/10). Parabéns, Falcão!
Gaúcho da capital, Jair Gonçalves Prates completa, neste sábado (11/07), 67 anos de idade. Em comemoração, o ídolo concedeu entrevista para o programa Velhas Súmulas, da Rádio Colorada. Emocionado, lembrou dos tempos de Beira-Rio com grande orgulho, destacando o carinho que sente pelo Clube do Povo. Confira a íntegra da conversa abaixo ou nos nossos perfis em Spotify e SoundCloud!
“Quando um jogador veste essa camiseta, ele tem que colocar a alma. Você precisa se doar até a morte e ganhar a partida. O Internacional é alma, é dedicação, superação e, eu considero, é a minha casa. Eu me criei aí dentro. Cada cantinho, cada tijolo, eu vi surgindo no Beira-Rio, na época que a torcida levava um tijolo cada um. É uma honra muito grande fazer parte dessa história.”
Camisa 8 às costas, avança pela direita do gramado do Gigante em velocidade, tramando com Valdomiro. Do companheiro, recebe bom passe, que domina colocando na frente. Um, dois, três passos depois, diminui o ritmo das passadas e engatilha a perna direita. Ato contínuo, manda uma bomba – como sempre, indefensável. Gol do Inter! Gol de Jajá, o Príncipe, que comemora mais uma de suas 117 pinturas com a camisa colorada.
Nascido em 1953, o ídolo colorado carrega, desde o berço, o futebol em seu DNA. Filho de Laerte III, também jogador, ao longo da infância Jair perambulou por Brasil e América acompanhando a carreira do pai. Crescido no meio da bola, conviveu, ao longo de toda a infância, com grandes nomes do esporte, a exemplo de Garrincha, Quarentinha e Manga, goleiro de quem seria companheiro de equipe no futuro.
De volta a Porto Alegre, Jair realizou, na segunda metade da década de 60, teste para a base do Internacional. Aprovado, passou a integrar geração que contava com craques a exemplo de Falcão, Escurinho e Batista. Com o Celeiro, conquistou a Taça São Paulo de Juniores de 1974, primeiro dos cinco títulos colorados na competição. No mesmo ano, chamou a atenção de Rubens Minelli, que alçou o jovem ao grupo principal.
Time de juniores do Inter com Falcão, o último em pé da direita para a esquerda, e Jair, o segundo agachado
Dedicado e polivalente, o futuro Príncipe conquistou a estima do técnico bicampeão nacional pelo Inter. Dono de grande qualidade, o meia-direita também atuava como volante, ponta e lateral, convertendo-se, assim, em um verdadeiro coringa, que soube aproveitar o período de treinos com os craques colorados para abstrair todos os ensinamentos possíveis. Já adaptado ao ambiente profissional, começou a cavar seu espaço no time em 1975, durante excursão do Clube do Povo pela Europa, realizada entre os meses de fevereiro e março, e encerrada com 13 vitórias e uma igualdade em 14 partidas disputadas
Jair marcou o gol do Clube do Povo na vitória por 1 a 0 sobre o Cesena, da Itália. Realizada no dia 6 de março, a partida, quarta da excursão, foi a primeira disputada contra um time ‘forte’ da Europa, equipe que encerraria o Calcio daquele ano classificada para a Copa da UEFA. Saído do banco, Jajá entrou no lugar de Valdomiro para decidir o jogo e atrair todos os holofotes em sua direção. Melhor em campo, despertou o interesse de equipes do país da bota, mas todas as sondagens foram prontamente rechaçadas pelo Inter, que sabia da importância que o jovem assumiria, em breve, no elenco alvirrubro.
“A excursão ajudou o Internacional a pegar experiência, deu o conjunto necessário para o Inter! Ficamos 45 dias juntos, jogamos contra todas equipes imagináveis. Enfrentamos o time do Didi (Fenerbahçe, atual campeão turco) que, na época, falou que a gente tinha que ter cuidado, pois seríamos goleados. No intervalo, ele foi no nosso vestiário e pediu calma, estava 4 a 0. Esta experiência deu muita base, especialmente para os jovens. Com ela, o grupo se uniu mais ainda.
O mesmo fascínio provocado por Jair nos italianos foi visto no restante da imprensa europeia em relação aos comandados de Minelli, que foram apelidados como ‘o novo Ajax’, time holandês que no início da década 70 conquistara, com o brilho de Cruijff, Neeskens e companhia, três Liga dos Campeões consecutivas. Passados mais de 45 anos da excursão, como o depoimento de Jajá revela, é possível afirmar que a viagem foi fundamental para dar corpo a um elenco que, muito em breve, faria história.
O Inter retornou para Porto Alegre em ritmo alucinante, pronto para conquistar o heptacampeonato gaúcho, que veio em agosto, e o primeiro Brasileirão de sua história, levantado no dia 14 dezembro graças ao Gol Iluminado de Figueroa, contra o Cruzeiro. Na semifinal nacional, diante da ‘Máquina Tricolor’, foi Jajá quem serviu boa assistência para Carpegiani marcar, em lance de pura genialidade, o segundo tento alvirrubro na vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense, no Maracanã.
Amadurecido e com o refino técnico de sempre, em 1976 o ex-meia recebeu uma sequência maior no time. Como consequência, demonstrou ainda mais seu futebol de altíssimo nível, disputando quase todas as 23 partidas da campanha do Bicampeonato brasileiro, onde marcou oito gols. Entre suas vítimas, é claro, esteve o Grêmio, que, no único Gre-Nal válido pelo torneio, realizado no Beira-Rio, sofreu um tento do ídolo.
Igualmente suas assistências fizeram sorrir a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, e valeram-lhe apelido que até hoje acompanha o ídolo. Na decisão do Gauchão, foi de Jair a assistência para o gol do título, marcado por Dario, o “Rei Dadá”, e que garantiu ao Inter o inédito e jamais igualado Octa estadual. Na entrevista pós-jogo, o requisitado artilheiro revelou que, se ele era o monarca, Jajá merecia ser Príncipe, assim formando a realeza colorada.
Ídolo continental
Após um 1977 marcado pela ausência de títulos, Inter e Jair reencontraram o caminho das taças na temporada seguinte, com a conquista do Gauchão. Na decisão, disputada no Olímpico, o Clube do Povo superou os donos da casa por 2 a 1, gols de Valdomiro para o Colorado, o último completando, de cabeça, cruzamento açucarado do Príncipe.
Foi em 1979, porém, mais especificamente no segundo semestre, que Jair viveu seu auge com a camisa colorada. Titular absoluto, formou, com Falcão e Batista, o trio de meio-campistas do Inter no Brasileirão daquele ano, muitas vezes acompanhado, na armação, por Mário Sérgio, que atuava na esquerda do ataque. À frente dos craques, Valdomiro, pela direita, e Bira, centroavante, aterrorizavam qualquer rival, assim como a defesa, intransponível, que contava com João Carlos e Cláudio Mineiro nas laterais, e os Mauros Galvão e Pastor no miolo de zaga.
Comandado por Ênio Andrade, Jajá exalou elegância no Time que Nunca Perdeu. Ainda durante a fase de pontos corridos, por exemplo, marcou o gol da vitória no Gre-Nal 251. Disputado no dia 6 de outubro, no Beira-Rio, o clássico foi definido graças a um foguete do camisa 8, que mandou cobrança de falta direto na bochecha da rede do goleiro Manga, ex-companheiro de Inter e amigo de seu pai.
A estrela de Jair reluziu como nunca nos confrontos eliminatórios do Nacional. Na abertura das semifinais, em São Paulo, o camisa 8 marcou, após venenoso arremate de fora da área, que ainda quicou na frente de Gilmar antes de morrer nas redes alviverdes, o primeiro gol da gigante vitória por 3 a 2 sobre o Palmeiras.
No jogo de volta, disputado diante de um Beira-Rio completamente lotado, o Príncipe abriu o placar para o Clube do Povo, também na etapa final, em lindo chute da entrada do grande retângulo palestrino. O tento foi o único do Colorado no duelo, encerrado em 1 a 1, placar que classificou o Inter para a decisão.
Gols contra Grêmio(E) e Palmeiras, nas partidas de ida(C) e volta (D)/Imagens: Rede Globo
Todos os anos de empenho e dedicação de Jair com a camisa alvirrubra, bem como o Brasileirão de excelência que o meio-campista realizava pelo Clube do Povo, foram recompensados no dia 23 de dezembro de 1979. Apoiado por dezenas de milhares de colorados e coloradas que, empolgados com a vitória por 2 a 0 na ida, no Maracanã, coloriram o Beira-Rio em clima de carnaval que honrou a biografia popular do Internacional, Jajá entrou para a história do futebol brasileiro aos pontuais 41 minutos do primeiro tempo.
Acionado por Bira, exibiu excelente posicionamento para, nas costas da zaga do Vasco, disparar em velocidade e dominar livre, cara a cara com Leão. Já na matada, cortou o goleiro, abrindo para a perna direita e invadindo a área. Com o gol aberto, tocou rasteiro para as redes e partiu em direção ao abraço. O Tri ficava ainda mais próximo, e seria confirmado, no segundo tempo, após triunfo por 2 a 1, que ainda contou com gol de Falcão.
Jair seguiu brilhando pelo Inter na temporada de 1980. Vice-campeão da Libertadores e terceiro colocado no Brasileirão, acumulou cartaz continental suficiente para, no ano seguinte, após breve passagem pelo Cruzeiro, ser negociado com o Peñarol. Na equipe carbonera, vestindo a 10, ganhou Uruguai, América e mundo, assim se eternizando, também, como ídolo aurinegro. Na sequência, em 1984, Jajá retornou, por alguns meses, para o Clube do Povo.
Muito mais breve do que a anterior, a segunda passagem de Jair pelo Inter ficaria marcada pelas conquistas do Torneio Heleno Nunes, competição nacional, e da japonesa Copa Kirin. Também no ano de 1984, Jajá marcaria os últimos de seus 117 gols com a camisa colorada, números que o colocam, atualmente, na nona posição da lista de maiores artilheiros da rica história do Internacional.
“Há pouco eu fiquei sabendo que estou como o nono goleador da história do Clube, entre os 10 goleadores da história do Sport Club Internacional, o que muito me honra! Eu era um meia-direita e estou fazendo parte dos goleadores do Clube! Pra mim, foi muito importante. Massageia o ego da pessoa, lógico, mas pelo trabalho que teve, e foi um trabalho bem árduo – e bem feito.”
Definitivamente, Jajá foi um atleta paradoxal. Meio-campista clássico, da pompa de cabeça erguida e passadas largadas, oferecia às equipes que defendeu um dinamismo muito à frente de seu tempo. Diamante lapidado no Celeiro de Ases, já era vencedor antes de chegar ao profissional colorado, onde, de fato, fez história. Multicampeão, exibe na prateleira pessoal inúmeros troféus alvirrubros – e muitos outros charruas. Feitos relevantes, mas que não se comparam ao tamanho do espaço que conquistou no coração da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Com o camisa 8, o povo se identificava. Por ele, torcida. Graças a ele, vibrava. E como vibrou. Obrigado por tudo, Jair. Feliz aniversário, eterno Príncipe!
Eufórica, a Coreia ovaciona o Príncipe do povo colorado/Foto: Divulgação
Ruben Paz, o craque do torneio/Foto: Masahide Tomikoshi/@tphoto2005
Muito antes da conquista do planeta, já aprontávamos no Oriente. Mundialmente respeitado após dominar o Brasil nos anos 70, em 1984 o Clube do Povo foi convidado para a disputa da VI Copa Kirin, competição amistosa realizada no Japão e conquistada, há exatos 36 anos, pelo Colorado.
Após vitória sobre a Seleção Universitária do Japão e empate contra a Irlanda na primeira fase, o Inter avançou para as semifinais do torneio na primeira colocação do Grupo A. O adversário na luta por vaga na decisão foi o Toulouse, da França, despachado com arrasadora goleada por 4 a 1.
A final do torneio foi disputada em 5 de junho, no Estádio Nacional de Tóquio, contra a Seleção da Irlanda. Para o confronto, Otacílio Gonçalves, comandante colorado, mandou o Inter a campo com Gilmar no gol; Winck, Aloísio, Mauro Galvão e André Luís na zaga, Ademir Kaefer, Jajá, depois Dunga, e Ruben Paz no meio; Paulo Santos, Silvinho e Milton Cruz, depois Beretta, no ataque.
Iniciada a partida, todas as atenções estiveram voltadas para o show de Ruben Paz. Genial, o ídolo camisa 10 deu assistência milimétrica para Milton Cruz empatar ainda no primeiro tempo e, na etapa final, virou o jogo marcando verdadeira pintura. Inter 2 a 1, uruguaio eleito o craque do campeonato e a taça era nossa!
A partir das 18h desta sexta-feira (22/05) você acompanha, ao vivo na Rádio Colorada, o Programa do Inter, já tradicional exibição do final de tarde da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, responsável por atualizar todas as novidades do Clube do Povo e, ainda, oferecer grandes e nostálgicas entrevistas para o público ouvinte. Ao longo desta semana, por exemplo, foram muitos os entrevistados especiais que enriqueceram o Programa revelando bastidores de gerações passadas, falando de seu amor pelo Alvirrubro e comentando as saudades dos tempos de Beira-Rio, casos de Jair, o Príncipe, Bira, centroavante do Time que Nunca Perdeu, Célio Silva, ídolo autor do gol do título da Copa do Brasil de 1992, e Bibiano Pontes, segundo atleta que mais vezes vestiu o manto vermelho.
Bibiano Pontes
Príncipe Jajá
Célio Silva
Agachado ao centro, entre Batista e Jair, está Bira
Perdeu alguma destas conversas e está ansioso por conferir? Sem problemas! Confira, abaixo, a íntegra de todas as entrevistas especiais já realizadas nesta semana!
Jogador do Inter nas décadas de 70 e 80, tricampeão nacional com as cores do Clube do Povo, o ídolo Jair Gonçalves Prates concedeu, no início da noite desta terça-feira (19/05), entrevista para o Programa do Inter, da Rádio Colorada. Com a simpatia que lhe é costumeira, Jajá, como é conhecido, relembrou os tempos de atleta colorado, discorreu acerca do racismo, preconceito do qual, enquanto negro, infelizmente foi e segue sendo vítima, e também saudou, com carinho, o povo alvirrubro. Além disso, o ex-craque ainda se emocionou ao falar da mãe, falecida no último domingo (17/05). Muito obrigado por mais uma grande conversa, Príncipe! A Maior e Melhor Torcida do Rio Grande está contigo neste momento delicado, enviando muita força e prestando seus sentimentos.
Batista (E), Jair (C) e Falcão (D), em partida contra o Vasco no ano de 1980/Foto: Divugalção
De segunda a sexta, a partir das 18h, a Rádio Colorada apresenta o ‘Programa do Inter’, exibição que traz todas as atualizações sobre o dia a dia do Clube do Povo. Feito de torcedor(a) para torcedor(a), o Programa pode ser acompanhado através do APP oficial do Clube do Povo.