Por que lembramos hoje o Dia Internacional contra a Homofobia
Responsável por coordenar o combate à pandemia planetária de Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem desempenhado papel de protagonista no noticiário dos últimos meses. Subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), a agência reencontra holofotes que há muito não lhe eram destinados. Uma das últimas ocasiões em que esteve sob tamanha evidência, talvez, tenha ocorrido há exatos 30 anos – e por motivo completamente distinto do enfrentamento a uma enfermidade. Muito comemorado, o dia 17 de maio de 1990 marcou a retirada da homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças, correspondendo a um fundamental marco na luta contra a intolerância. Prova disso é o fato de, atualmente, a data ser conhecida como o Dia Internacional contra a Homofobia.
Ao todo, a homossexualidade, então chamada de homossexualismo, permaneceu mais de 40 anos sendo tratada como um transtorno mental. Absurda, a medida autorizava e estimulava que membros da comunidade LGBTI+ passassem por tratamentos com o objetivo de serem ‘curados’. As prometidas curas envolviam desde hipnose e consultas forçadas com psiquiatras até prisão, castração, choques e lobotomia, intervenção cirúrgica que altera a composição de nosso cérebro.
No Brasil, foram intensas as perseguições sofridas pela comunidade durante os 20 anos de ditadura civil-militar. Constante no período, a violência foi utilizada em larga escala contra aqueles que rompiam com a regra heteronormativa de então, tudo isso em nome de uma pretensa moral de bons costumes. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, órgão criado em 2011 pelo governo brasileiro para investigar as graves violações de direitos humanos ocorridas durante o regime, existiam rondas policiais sistemáticas organizadas com o objetivo de ameaçar, prender, extorquir, violentar e torturar homossexuais, prática que, somente em São Paulo, levou à prisão mais de 1,5 mil pessoas. Frequentes, os abusos não eram noticiados devido à censura, que também motivou a cassação, em 1969, de 44 funcionários LGBTI+ da estrutura do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores de nossa nação.
Felizmente, a homossexualidade – sem o sufixo “ISMO”, pejorativo por se referir a doenças – já é entendida, nos dias de hoje, como uma orientação sexual natural. O que não significa, entretanto, que a comunidade LGBTI+ esteja livre de sofrer com a intolerância. Se a doença deixou de existir, o preconceito segue como um triste marco das sociedades mundial e brasileira, como os números comprovam. Em 2019, por exemplo, de acordo com levantamento divulgado pelo site UOL e organizado a pedido da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, nosso país registrava, em média, uma morte por homofobia a cada 16 horas. Em resposta aos dados alarmantes, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou, em junho passado, que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser considerada um crime.
Fenômeno capaz de mobilizar centenas de milhares de brasileiros a cada quarta e domingo, o futebol também tem sua parcela de responsabilidade no combate à homofobia. Pelo menos, é assim que pensa o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que, no ano passado, orientou que sejam intensificadas a fiscalização e a punição de clubes por atitudes preconceituosas realizadas dentro de seus estádios. Fica evidente, portanto, que o esporte mais popular do mundo pode fazer a diferença nesta luta, e o Inter sabe disso.
Celebrado em 28 de junho, o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+ foi, em 2019, marcante para o Clube do Povo. Na ocasião, o Colorado não apenas iluminou o Beira-Rio em homenagem à data, atitude que correspondeu a importante posicionamento em defesa de uma sociedade livre de preconceitos, como também inaugurou sua Diretoria de Inclusão Social. Diretora da pasta, Najla Diniz sabe da importância de lutar por um Inter e um futebol que sejam cada vez mais plurais, e convida toda a torcida a se engajar neste movimento. “O futebol tem o papel social importante e fundamental de fazer a torcida refletir sobre inclusão e diversidade. Mais que se importar, o futebol comporta ações que estimulem a convivência pacífica e respeitosa entre todos e todas que o apreciam, independente de sua sexualidade. O Internacional mantém o canal ‘Estaremos Contigo’, além da Ouvidoria, sempre à disposição para denúncias e sugestões de abordagem relacionados ao tema. A arquibancada é plural e ninguém deve ser invisibilizado, há espaço para todos e todas.”
“Aqui todos serão iguais, sem diferenças ideológicas, políticas, religiosas, sociais – todos serão irmãos.” Com estas palavras, o bispo Dom Edmundo Kuntz celebrou, em 1963, a missa de inauguração da pedra fundamental do Beira-Rio. À época já consagrado, por sua popularidade, entre as classes mais humildes de nossa sociedade, o Inter começava a erguer, com a força de sua gente plural e democrática, casa das mais imponentes do futebol mundial. Passados quase 60 anos, ao mesmo tempo que foi agigantada, nossa história segue ostentando algumas constâncias. A principal delas, sem sombra de dúvidas, nossa essência igualitária. No Colorado, todos e todas têm voz. Afinal de contas, não é por acaso que somos o Clube do Povo do Rio Grande do Sul.