Museu do Inter recebe doação de raquete de Tênis pertencente à primeira sócia colorada da história

Cassiano, de vermelho, entrega a raquete para Cauê Vieira, vice-presidente de Relacionamento Social, e equipe do Museu

O Museu do Inter recebeu, na tarde da última segunda-feira (05/04), um objeto inédito para a composição de seu acervo. Trata-se de uma raquete de Tênis pertencente a Marie Von Ockel Schnapp, a primeira mulher na história a se tornar sócia de um clube de futebol no Brasil.

Saiba mais sobre a história de Marie com o Clube do Povo (abre numa nova aba)”>> Saiba mais sobre a história de Marie com o Clube do Povo

O objeto, que até o início do mês de março estava sob os cuidados de Rodolfo Augusto Nunes, neto de Marie, foi repassado ao professor Cassiano Noimann Leal. Sobrinho-neto de Rodolfo, ele formalizou a doação ao Museu, decisão tomada junto ao tio-avô.

“Meu tio-avô, Rodolfo Augusto Nunes, entrou em contato comigo para ver se eu poderia fazer a doação ao Inter dessa raquete histórica. Ele havia mudado de casa, estava reorganizando muitas coisas e considerou adequado dar o devido valor a esse objeto tão significativo, se analisarmos que Marie foi a primeira mulher que teve a associação deferida num clube no Brasil”

Cassiano Noimann

Fabricada em madeira há mais de cem anos, a raquete precisou receber um suporte para dar sustentação à estrutura, consequência do desgaste ocorrido ao longo do período em que foi usada. Coordenadora do Museu do Inter, Daniela Amaral ressaltou a importância de receber um objeto como esse, capaz de engrandecer ainda mais o acervo da instituição.

“Uma das principais atividades dos museus é a coleta de objetos para compor seus acervos. Feito isso, o objeto será preservado, pesquisado e, em algum momento, poderá ser exposto presencialmente ou virtualmente para o público”.

Daniela Amaral

Praticante de tênis desde cedo, Marie também era muito presente na vida esportiva do Clube. Em uma época em que os direitos das mulheres eram restritos, ela precisou receber um salvo-conduto de seu cunhado para se tornar sócia colorada. Assim, no dia 2 de abril de 1918, a ela entrou para história alvirrubra como a primeira sócia do Sport Club Internacional.

Detalhe da raquete doada ao Museu do Inter

Há 102 anos, Inter se tornava o primeiro clube do Brasil a ter uma sócia

Nascido com a intenção de abraçar a todos, o Sport Club Internacional deu uma valiosa demonstração de sua essência plural e popular no dia 2 de abril de 1918. Foi nesta data, ocorrida há exatos 102 anos, que Maria Von Ockel se associou ao Clube do Povo, assim se tornando a primeira sócia da história de um time brasileiro.

Apresentada ao coselho do Clube pelo ex-presidente Heitor Carneiro, a associação não foi um marco isolado na história alvirrubra de então. Um ano depois, o Inter determinou a construção de um pavilhão que atendesse às necessidades das ‘senhoras e senhoritas’ que, à época, frequentavam a Chácara dos Eucaliptos, casa colorada, para praticar tênis. Maria era uma delas e, como revelou sua filha Lu Serenita em entrevista para a Mídia do Inter em 2017, vivenciava com grande satisfação a rotina da instituição. “Ela sentia muito orgulho em poder participar deste Clube. A associação foi um evento muito bom e marcante na vida dela, tanto que sempre contava e recontava essa história para todos. E não imagino que ela pensasse, em algum momento, que essa atitude fosse repercutir, criando tantas oportunidades maravilhosas.”

Entrevista de Lu Serenita na íntegra

Em uma época na qual praticamente todos os direitos das mulheres eram cerceados, Maria teve de receber um salvo-conduto de seu cunhado para ter a associação validada. Em 1918, por exemplo, o voto feminino ainda não era garantido na constituição brasileira – apenas seria no início da década de 30. Um panorama que mostra o quanto já evoluímos na luta contra o machismo, preconceito que, infelizemnte, segue longe de estar erradicado na sociedade brasileira.

Detalhe da histórica Ata

Em média, na década passada nosso país foi palco de 4 mil assassinatos de mulheres por ano. Em 2019, de acordo com levantamento do Ministério da Sáude, a cada 4 minutos uma mulher era agredida por um homem. Consciente da responsabilidade social do futebol e da importância de carregar a alcunha de ‘Clube do Povo’, o Internacional vem lutado para consolidar o Beira-Rio em um ambiente cada vez mais democrático e diverso, confortável para toda a torcida colorada. O Estaremos Contigo, canal de denúncias de possíveis atos discriminatórios e preconceituosos vivenciados em dias de jogos no Gigante, comprova.

Assim, dentro do Colorado prometemos lutar para que cada vez mais histórias como a de Maria sejam escritas. Fora, nos comprometemos em abraçar o papel social que é cobrado de uma instituição gigante e mais do que centenária. Aqui, no Clube do Povo, todas as vozes têm importância. Queremos ouvi-las. E, podem ter certeza, a partir dessas iremos agir!