Em homenagem ao 20 de setembro, o Museu do Inter selecionou 20 curiosidades sobre o primeiro time a reinar no Rio Grande do Sul – o Rolo Compressor. Equipe pioneira sob diversos aspectos, revolucionou o futebol do sul do Brasil e deu poder de representatividade ao povo gaúcho, transformando o Inter em Clube do Povo. Confira abaixo:
1- Um dos primeiros times profissionais do país.
Muito se fala sobre o sucesso do Rolo Compressor, mas ao quê isso se deve? Infelizmente, muitos dos times da primeira metade do século passado ainda pregavam o amadorismo e tinham como resultado a segregação entre equipes. Contudo, o Inter já projetava uma equipe profissional, isso facilitou para que os melhores viessem para cá, pois, além de pagar salários aos atletas, não existiam restrições quanto à cor da pele ou classe social. Portanto, bastava ser um bom jogador para vestir vermelho e branco.
2 – O início do Rolo Compressor
O ano de 1939 foi um divisor de águas. Em 24 de outubro, ingressou em nosso ataque Osmar Fortes Barcellos, o Tesourinha. Ele, junto com Carlitos e Rui, formou um trio histórico e que esteve junto por 7 anos no Rolo Compressor.
3 – O primeiro dos seis
Em 1940, após 3 anos sem participar, o Inter voltava ao Campeonato Gaúcho – que passava a contar com times profissionais. Na final, entre o campeão da capital e o do interior, batemos o Grêmio Bagé com duas vitórias e absoluta autoridade.
4 – Sem chances para os rivais
A equipe treinada pelo antigo velocista Wolny das Missões Bocorny apresentou, em 1941, um futebol muito superior aos adversários. O técnico, entusiasta do preparo físico e estudioso das táticas do futebol, montou uma verdadeira seleção, cobrando um desempenho físico exemplar de seus comandados. O resultado dessa potência se viu na final, quando aplicamos duas goleadas contra o Rio Grande: 9 a 2 no primeiro jogo e 6 a 2 no segundo.
5 – O primeiro tri
Em 1942, o Inter se tornou o primeiro time tricampeão do estado. Foi nesse ano, também, que a clássica formação do Rolo Compressor foi vista desfilando nos campos gaúchos. Eram eles: Ivo; Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abgail; Tesourinha, Russinho, Villalba, Rui e Carlitos.
6 – O melhor ataque do país
Em 1942, além do recorde do tricampeonato, o Rolo Compressor estabeleceu o recorde de gols em uma temporada. Ao todo, foram 108 naquele ano, algo inalcançado em todo o Brasil naquela época. Além disso, o título veio de forma invicta!
7- Defesa sólida
Muito se fala do ataque avassalador do Rolo, mas como diz a famosa frase: “um grande time começa por um grande goleiro”. Ivo Winck defendeu o Inter por 9 anos (1941-50), foi 7x campeão gaúcho e tido como um dos melhores goleiros gaúchos de todos os tempos.
8- Supremacia vermelha
Os grandes feitos do Rolo Compressor em campeonatos estaduais já são conhecidos, mas não foi apenas ali que nossos astros brilharam. No dia 30/09/1945, ultrapassamos nosso rival em vitórias em clássicos Gre-Nais e, desde então, o Clube do Povo mantem essa supremacia.
9 – O hexacampeonato
Nunca antes no Rio Grande do Sul fora avistada uma superioridade como aquela. A equipe conseguiu feitos inéditos a partir do tricampeonato de 1942, mas não parou por aí. Em 1945, conquistamos o hexa e a primeira e maior sequência de títulos estaduais. Hoje, a maior sequência também pertence ao Inter e foi estabelecida entre os anos de 1969 e 1976 com o octacampeonato.
10 – Papai é o Maior
A clássica marchinha de carnaval por um período foi tida como um hino para os colorados. Ela se inspirava na já famosa música de Felisberto Martins com o mesmo título de “Papai é o Maior”. Aos poucos ela foi sendo utilizada e modificada pela torcida colorada. Uma das suas versões faz alusão ao hexacampeonato de 1940 à 1945 com a frase “Papai é o maior, seis vezes sem rival”.
11 – Osmar Fortes Barcellos
O Tesourinha é um dos grandes símbolos do Rolo Compressor, tanto que sua chegada e saída servem para demarcar o início e o fim da gloriosa equipe. Entretanto, ele conseguiu com suas técnica e habilidade ir além das barreiras do Rio Grande do Sul, quando em 1948 foi eleito o melhor jogador do Brasil no prêmio “Melhoral dos Cracks”, vinculado à Rádio Tupi, com 3.888.440 de votos.
12 – Uniforme
Muito se pergunta sobre a numeração do Rolo Compressor, mas a verdade é que números em camisas de futebol só foram ser utilizadas a partir da Copa do Mundo de 1950. Outro detalhe no uniforme do Rolo é o escudo colorado, que na época tinha suas cores invertidas: o fundo era branco e as letras entrelaçadas eram vermelhas – e foi assim até a década de 1960.
13- Doutores em Futebol
Em 1945, com o inédito hexacampeonato, os jogadores do Inter receberam um certificado que dava aos nossos atletas o título de Doutores em Futebol. O documento foi uma das contribuições de um dos mais célebres torcedores do Internacional, o Vicente Rao.
14 – Vicente Rao, o criador do Rolo Compressor
Além de todas suas contribuições, Rao ainda era um magnífico criador de símbolos. Através de seus desenhos enviados aos jornais, o time dos anos 1940 ficou conhecido como Rolo Compressor, como na charge da imagem.
15 – Carlitos
Alberto Zolim Filho, o Carlitos, era o implacável goleador, com recordes até hoje inalcançados. Foram 485 gols em 384 jogos (marca do Clube). O maior artilheiro colorado de todos os tempos e o maior goleador de clássicos Gre-Nais – 42 gols em 62 jogos.
16 – Villalba
Um dos grandes “hermanos” a vestir a camiseta colorada, fez sucesso ao lado de Carlitos e Tesourinha. Até hoje, ele é o estrangeiro com mais gols pelo Clube. Foram 153 anotados no total e o posto de segundo maior artilheiro de clássicos Gre-Nais (21).
17 – O Clube do Povo
Com a grande variação de etnia e classe social dentro do elenco do Rolo Compressor, as pessoas de diferentes comunidades se viam representadas no Inter. Com isso, nossa torcida ganhou a particularidade de não ter particularidades. Era do povo para o povo.
18 – Representações do Rolo Compressor
Com a proximidade das diversas comunidades do Rio Grande do Sul, a torcida colorada começou a sofrer dos mais diversos preconceitos dos times que ainda eram fechados a grupos específicos. Com isso, as representações em charges de jornais começaram a vincular a imagem do Inter com a figura de um menino negro de vestes humildes. Além disso, preconceituosos atrelavam as vitórias do Inter à magias e mandingas. Com o passar dos anos, ambas representações foram unidas e surgiu o menino negro e mágico como nosso representante, o Saci.
19- Campanha do Tijolo
Para construir um estádio sobre as águas foi necessário o apoio da nossa torcida. A campanha do tijolo, de 1967, contou com a ajuda e divulgações dos nossos ídolos dos anos 1940 e 1950. Os principais a promoverem a campanha foram Tesourinha e Carlitos.
20 – O último doutor
Último remanescente, João Crêscencio faleceu em 2021, aos 102 anos. Assim, todos os astros brilham eternamente na memória.
Um elenco único, que mudou a realidade do nosso futebol. Gaúchos, Compressores, Doutores e do Povo, mas, acima de tudo, COLORADOS.
Se você é hoje torcedor colorado e herdou esta paixão centenária, muito se deve a um sujeito chamado Osmar Fortes Barcelos, o lendário Tesourinha. Um legítimo craque, revelado no Celeiro de Ases, que ajudou a catapultar a fama do Rolo Compressor e o nome do Sport Club Internacional pelo Brasil afora. Mais do que isso, um atleta nascido para jogar no Clube do Povo.
No Dia do Torcedor Colorado, celebrado neste 17 de dezembro, vamos relembrar a trajetória do histórico ponta-direita que completaria um século de vida em 2021, mas que permanece eternizado na raiz de cada alvirrubro.
O primeiro capítulo da história entre Inter e Tesourinha foi escrito ainda no nascimento do ídolo, em 3 de outubro de 1921. Osmar Fortes Barcellos viveu sua infância na Ilhota, primeira grande favela de Porto Alegre, marcada pela mistura de futebol e samba, que em 1909 também serviu de berço colorado.
Seu apelido veio de um bloco carnavalesco, chamado ‘Os Tesouras’, do qual ele e familiares faziam parte. Mas poderia também ser referência à maneira como cortava os adversários, em dribles desconcertantes, muito comparado aos de Garrincha.
Bem-humorado, o ídolo divertia-se ao explicar o motivo do apelido: “Por causa de um bloco chamado Os Tesouras, que no final da década de 30 fez misérias na Cidade Baixa (bairro de Porto Alegre). Diziam que eu fazia misérias com os adversários, daí o apelido”.
Quando de fato chegou ao Inter, em 1939, ainda era franzino e muito pobre. Assim, ganhou do Clube a autorização especial para pegar diariamente dois litros de leite nos armazéns próximos ao Estádio dos Eucaliptos.
Sua chegada ao Inter culminou com a formação do famoso Rolo Compressor, com o qual foi octacampeão citadino e gaúcho, tornando-se o quinto maior artilheiro da história colorada, com 178 gols. Formou, junto de Carlitos, Adãozinho e Villalba, um dos principais ataques da história do futebol brasileiro. Ajudou o Clube do Povo a se consolidar como maior time do Rio Grande do Sul, além de garantir a vigente supremacia no clássico Gre-Nal, obtida em 1945.
Atingiu feito raro entre os gaúchos na sua época ao ser convocado para a Seleção Brasileira – o primeiro atuando no Inter. Superou a desconfiança da imprensa do eixo Rio-São Paulo e foi igualmente brilhante, sendo eleito por duas vezes o melhor jogador do continente. Entre seus títulos com a Seleção, conquistou a Copa América de 1949 e a Copa Roca, em 1945. Era nome certo para a Copa do Mundo de 1950, no Brasil, mas acabou cortado pelo técnico Flávio Costa por causa de uma grave lesão no joelho.
Na despedida do Estádio dos Eucaliptos, em 1969 – vitória por 4 a 1 sobre o Rio Grande -, foi homenageado ao ingressar em campo no segundo tempo para receber um último aplauso da nação colorada. Como merecida recordação, levou para casa as redes da goleira, tanta vezes balançadas por ele, retirada com uma tesoura – emblemática.
Este poderia ser apenas mais um sábado qualquer. Entretanto, para os colorados, tem um sabor especial. Há cem anos, nascia o nosso maior goleador de todos os tempos. Alberto Zolim Filho, popularmente conhecido como Carlitos, é definitivamente um personagem lendário na história do Clube do Povo, com lugar especial reservado na galeria de maiores ídolos. Nada mais justo para quem marcou quase 500 gols defendendo, por toda vida, uma única camisa – a colorada.
Ícone do Rolo Compressor, Carlitos aterrorizou as defesas adversárias por nada menos que 14 temporadas vestindo vermelho e branco, de 1938 a 1951. Com ele em campo, o Inter alcançou a sua primeira era dourada, dominando completamente o futebol do sul do Brasil e alcançando a supremacia, ainda vigente, no clássico Gre-Nal.
Falecido em 2001, aos 79 anos de idade, Carlitos completaria 100 anos neste sábado (27/11), mas suas histórias ficaram eternizadas nas páginas gloriosas do Clube do Povo.
Criado no bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre, desde cedo o menino ainda franzino empolgava os moradores da região com seu faro de gol e dribles desconcertantes. Com menos de 17 anos, foi levado para o Inter. Inicialmente, em função da forte linha ofensiva colorada formada por nomes como Sylvio Pirillo, Acácio e Castilhos, seria aproveitado como zagueiro. Porém, após alguns treinamentos, conquistou seu espaço na ponta-esquerda, posição de origem do futuro craque.
Com efeito imediato na equipe, não demorou para ser convocado para a Seleção Gaúcha, ainda no mesmo ano. Feito que revelaria ser uma das maiores honras da sua carreira, assim como poder atuar ao lado de ídolos como Risada, Levi, Motorzinho e Osvaldo Brandão no Clube do Povo. Pouco a pouco, o promissor goleador ia se tornando crucial no time do seu coração.
‘La Mano de Dios’ – Carlitos também marcou um icônico gol com a mão. Ao invés dos ingleses, as vítimas foram os catarinenses, quando o ídolo atuava pela Seleção Gaúcha.
Foto: Revista Colorada / Julho 1958 – Disponível para consulta na Biblioteca Zeferino Brazil /FECI
Com forte apoio popular, o Clube do Povo crescia a passos largos nesta época. Jovens como ele vinham da várzea e ligas humildes, como a da Canela Preta, para formar um time que marcaria época na década seguinte. Começava a surgir o mítico Rolo Compressor – e aquele guri da zona sul de Porto Alegre seria fundamental.
Ao lado de Tesourinha, Nena, Adãozinho e outros craques, levou o Inter à hegemonia, ainda vigente, no Gre-Nal e no Gauchão – título que conquistou nada menos que 10 vezes. Se tornou ícone de um time lendário que redefiniu o futebol do Sul do Brasil.
Goleador implacável, tornou-se o maior artilheiro do Inter, do Gre-Nal e do futebol gaúcho em todos os tempos – recordes que perduram até hoje. Entre seus 485 gols, reservou 42 deles somente para o clássico, seu jogo preferido. Frio e calculista, jamais desperdiçou um único pênalti em toda sua carreira.
Não faltavam recursos para o artilheiro. Em um clássico com o Cruzeiro-POA, em 1945, o atacante balançou as redes de forma inusitada, no famoso ‘Gol do Plano Inclinado’, desafiando a física e deixando adversários incrédulos. Na ocasião, quando avançava para finalizar, o ídolo acabou passando da bola e, na fome pelo gol, deu um salto para trás, alinhando seu corpo ao horizonte. Praticamente deitado no ar, Carlitos conseguiu o cabeceio consagrador.
Por vezes, encarnava o próprio Saci. Especialista na arte de provocar defensores e criar armadilhas para os goleiros, Carlitos aprontava as suas peripécias pelo bosque dos Eucaliptos. Em um clássico, antes de um escanteio ser batido, prendeu o calção do desavisado goleiro gremista Júlio em um prego da trave. Quando o arqueiro saltou na direção da bola, a peça do uniforme não o acompanhou, permanecendo pendurada e rasgada na goleira.
Eterno romântico, dedicou uma vida ao Colorado e jamais trocou de time. Seu amor chegou ao ponto de batizar três filhos com a letra inicial do Inter: Ivan, Iran e Irany, o trio da imagem.
Foto: Revista Colorada / Julho 1958 – Disponível para consulta na Biblioteca Zeferino Brazil /FECI
Herói e protagonista de um romance sem fim. Homem que viveu um amor autêntico e correspondido, com aroma de Eucaliptos e sabor de gols. Muitos gols. Eterno Carlitos!
“Aos novos que vestem a camiseta do nosso glorioso clube, gostaria de dizer que façam como os de antigamente: o coração rubro em primeiro lugar, amor à camiseta.”
Com profunda tristeza, lamentamos o falecimento do ex-jogador colorado João Crescêncio, também conhecido como Russo, aos 102 anos de idade. No Clube do Povo, Crescêncio fez parte do Rolo Compressor, na década de 1940, do qual era a última lenda viva.
O Clube do Povo deseja força a familiares e amigos neste momento difícil.
Foi em meados de 1937 que João Crescêncio embarcou em um trem em Santa Maria com destino a Porto Alegre. Na época, o jovem de 18 anos se mudou para a capital gaúcha para morar e trabalhar no quartel da Polícia Militar. Amante do esporte desde cedo, Crescêncio dividia o tempo de ofício com o futebol, jogando no time do quartel.
Sempre muito disciplinado, certa vez chamou a atenção dos dirigentes colorados, sendo convidado a fazer um teste no Clube do Povo. Tão logo aprovado, passou a integrar a equipe principal como atacante. João Crescêncio ainda não sabia, mas estava ajudando a escrever um capítulo sublime na história alvirrubra: a formação de uma máquina de vitórias chamada Rolo Compressor.
De 1937 a 1942, Crescêncio dividiu os gramados do Estádio dos Eucaliptos com diversos craques da época, dentre eles Tesourinha e Carlitos, esse último seu melhor amigo. Com a chegada de David Russowski ao time, conhecido como Russinho, logo os companheiros de equipe notaram certa semelhança com João Crescêncio, que passou a ser apelidado de Russo.
O amor pelo Colorado era tão grande que Crescêncio decidiu que podia fazer ainda mais por seu clube do coração. Em 1940 tornou-se sócio-atleta, modalidade de associação em que o jogador contribuía financeiramente com o clube, afim de ajudar no crescimento e desenvolvimento da instituição.
Durante o período em que defendia o Colorado, Crescêncio também se dedicou aos estudos. A vitória fora de campo também veio, quando formou-se em contabilidade.
Em meados de 1942, um novo capítulo na vida de João Crescêncio passou a ser escrito. Após receber uma proposta de trabalho de a Viação Férrea do Rio Grande do Sul, decidiu que era hora de retorna à Santa Maria. Com o futebol correndo pelas veias, Crescêncio não deixou a modalidade de lado e ajudou a fundar Guarany Atlântico Futebol Clube, que perdurou até o fim da década de 1960.
Com o passar dos anos, casou-se, teve filhos, netos e bisnetos, e sempre fez questão de manter os laços com o Clube do Povo, que durante tanto tempo foi sua casa. Presenciou momentos importantes da história colorada, como final do Brasileirão de 1975 quando, acompanhado pelo filho Valmir, assistiu bem de perto Figueroa balançar as redes com o gol que deu o título ao Inter. Já em 2009, foi convidado a fazer parte das comemorações do centenário colorado.
Quem pensa que as vitórias na vida de João Crescêncio pararam por aí, se engana. Em outubro de 2020, após 25 dias internado, aos 101 anos, venceu a Covid-19, não restando nenhuma sequela. Ao receber alta do hospital, foi recebido com aplausos por familiares amigos que aguardavam a pronta recuperação do idoso.
Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Sempre acompanhando aos jogos do colorado, João Crescêncio guarda objetos e boas recordações da época em que viveu na Capital Gaúcha, todos expostos no corredor da casa onde vive com dois de seus filhos, Valmir e Maria, no centro de Santa Maria, a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre.
Em reconhecimento a toda sua trajetória ligada ao Clube do Povo, o Relacionamento Social do Inter lhe presenteou com uma camisa personalizada com seu nome e idade:
No dia 14 de junho de 1940 era criado o Departamento de Cooperação e Propaganda (DCP), primeira organização torcedora do sul do país. Diferente das organizações contemporâneas do centro do país, foi muito mais do que a festa nas arquibancadas.
O DCP tinha como objetivos incentivar o time, disciplinar a torcida colorada através de sua estreita ligação com a direção do clube, e apoiar todas as iniciativas do Internacional. Além disso, criava um “bureau de propaganda”, ação pioneira em clubes de futebol naquele período.
Um dos objetivos da parte de propaganda era o crescimento da torcida colorada e a neutralização das torcidas adversárias, o que era feito através de panfletos e charges distribuídos nos locais de encontro dos aficionados por futebol na Porto Alegre, como a Confeitaria Rocco, por exemplo.
Sua faceta mais conhecida, contudo, era como a torcida que fazia um carnaval nas arquibancadas. Vicente Rao inseriu música, fogos e serpentina naquele ambiente para incentivar o time. Aliás, ter um torcedor-símbolo é um dos elementos que aproxima o DCP das demais torcidas da época.
É inegável a contribuição do DCP e de Vicente Rao para a popularização do Internacional, que tanto se orgulha de sua história de inclusão e diversidade.
Ídolo multicampeão, um dos maiores pontas do futebol brasileiro, quinto artilheiro da história colorada, atleta dono de DNA alvirrubro como poucos. Sobram predicados para definir a grandeza de Tesourinha na biografia do Clube do Povo, ídolo que há 81 anos disputava sua primeira partida com a camisa do Inter. Ocasião festiva, surge como motivo perfeito para relembrar a trajetória do craque vestindo vermelho.
O primeiro capítulo da história entre Inter e Tesourinha foi escrito ainda no nascimento do ídolo. Osmar Fortes Barcellos viveu sua infância na Ilhota, bairro periférico marcado pela mistura de futebol e samba, que em 1909 serviu de berço colorado. Há 81 anos, portanto, o que teve início foi o matrimônio entre Clube e craque.
Ativo no bloco de carnaval dos ‘Tesouras’, razão de seu icônico apelido, o ponta-direita estreou pelo Alvirrubro no dia 22 de outubro de 1939. A partir de então, sua biografia ficava ainda mais atrelada à do Internacional, clube de cores definidas por outro bloco, o dos Venezianos, e de essência voltada para o povo.
De acordo com registros do acervo histórico do Clube, a primeira jornada de Tesourinha vestindo vermelho ocorreu em partida disputada diante do Cruzeiro-POA, válida pelo Campeonato Citadino daquele ano. Na ocasião, Osmar substituiu simplesmente Carlitos, ponta-esquerda que viria a se tornar o maior artilheiro da história colorada. Tesourinha, inclusive, atuava no mesmo setor do goleador máximo do Internacional, mas precisou se adaptar ao flanco direito pois, como o passar dos anos mostraria, conceber o Inter sem um dos integrantes da letal dupla de ataque não seria possível.
É bem verdade que Tesourinha não balançou as redes em sua primeira partida pelo Inter. Felizmente, contudo, seus tentos não foram necessários, e o Clube do Povo deixou o campo vencedor por 2 a 1. Quem marcou os gols vermelhos foi Brandão, em partida que viu o Colorado escalado com Júlio no gol, Alfeu e Risada na defesa, Nenê, depois Celso, Magno e Levy no meio, além de Rui, Russinho, Brandão, Moacir e Carlitos, depois Osmar Barcellos, no ataque.
…dominou o Rio Grande do Sul na década de 1940
Deste triunfo em diante, vieram mais centenas na história do ídolo no Inter, que resultaram em oito conquistas estaduais, outras oito municipais, e a consagração do ponteiro como eterno na biografia alvirrubra. Integrante do Rolo Compressor, Tesourinha formou, junto de Carlitos, Adãozinho e Villalba, um dos principais ataques da história do futebol brasileiro. Também ao lado do Rolo consolidou o Clube do Povo como maior time do Rio Grande do Sul, além de garantir ao Colorado a jamais tomada supremacia no histórico do clássico Gre-Nal.
Tamanha magnificência nos gramados gaúchos garantiu a Tesourinha feito raro para os atletas gaúchos de então: ser convocado para a Seleção Brasileira. Genial como sempre, superou qualquer desconfiança que o bairrismo imperante no selecionado poderia impôr a um forasteiro do eixo Rio-São Paulo e foi notório. Pela Canarinho, conquistou a Copa Roca, em 1945, a Copa Rio Branco, em 1947 e 1950, a Taça Oswaldo Cruz, também em 1950, além, é claro, da Copa América de 1949. Individualmente, ainda foi eleito o melhor ponta-direita da América nos anos de 1945 e 1946.
Tesourinha, o sétimo da esquerda para a direita
A história entre Tesourinha e Inter durou uma década inteira, esgotando-se apenas nos últimos meses de 1949, quando o atacante foi contratado pelo Vasco, que por seus dribles carnavalescos e gols implacáveis pagou uma fortuna. Emocionante, sua despedida em nada afetou o carinho da torcida pelo eterno ídolo, provavelmente o maior ponta-direita de nosso futebol ao lado de Garrincha. Perpétuo no Panteão vermelho, Osmar faleceu em 1979, aos 57 anos, mas seu legado segue vivo até hoje, manifestado sempre que um jovem colorado domina a bola pela ponta e é visto um fintando um zagueiro.
O jornalista e escritor colorado Kenny Braga concedeu entrevista à rádio Colorada neste sábado (03/10) para recordar a década mágica dos anos 1940 para o Internacional. O “Rolo Compressor”, como ficou conhecida equipe colorada daquele período pela forma ofensiva de jogar e por ter sido extremamente vencedora, foi um dos principais assuntos da conversa (que pode ser escutada no player abaixo) ocorrida durante o programa Velhas Súmulas, que aborda trechos da história alvirrubra durante 90 minutos nas tardes sábado.
O programa Velhas Súmulas vai ao ar aos sábados na rádio Colorada das 14 horas às 15 horas e 30 minutos. Entrevistas com personagens da história do Inter, detalhamento de fatos importantes da trajetória do Clube do Povo, reportagens especiais, além de leituras de trechos de livros, crônicas e textos sobre futebol preenchem as tardes de sábado da emissora oficial do Internacional. Aos domingos também, quando o programa é reproduzido como reprise às 14 horas.
Acompanhe ainda a programação da emissora oficial do Inter durante a semana: de segunda a sexta-feira, o Programa do Inter, o noticiário colorado mais completo do rádio, vai ao ar a partir das 18 horas via internet e no FM 95.5 da rádio Sara Brasil.
Além do site do Inter, a emissora oficial do Clube do Povo pode ser escutada via aplicativo.
Há 82 anos iniciava uma das mais belas histórias de amor do futebol gaúcho. Pela primeira vez, a lenda Carlitos entrava em campo pelo Clube do Povo. Simplesmente o maior artilheiro colorado de todos os tempos e, também, do Rio Grande do Sul, fez sua estreia no dia 22 de maio de 1938, iniciando uma saga que marcaria o futebol gaúcho para sempre.
Seria apenas mais um amistoso, caso não fosse a estreia de uma das maiores lendas coloradas. Em partida disputada no Campo da Montanha, onde hoje está o Hospital Militar, no alto da Avenida Cristóvão Colombo, bairro Floresta, o Inter goleou o São José-POA por 4 a 0 – gols de Levi, Sylvio Pirillo e Miguel (2x).
O técnico Abrahão Fernandes Bouças mandou a campo uma equipe com Júlio Petersen; Pércio e Risada; Giordani, Osvaldo Brandão e Levi; Benjamin, Rui Motorzinho, Sylvio Pirillo, Miguel e Castillo. No segundo tempo, ingressaram Plass, Quaixa, Acácio e ele, Carlitos. O jovem porto-alegrense vivia o sonho de estrear pelo time do seu coração.
Com forte apoio popular, o Clube do Povo crescia a passos largos nesta época. Jovens como ele vinham da várzea e ligas humildes, como a da Canela Preta, para formar um time que faria história na década seguinte. Começava a surgir o mítico Rolo Compressor! E aquele guri da zona sul seria decisivo.
Goleador implacável, tornou-se o maior artilheiro do Inter, do Gre-Nal e do futebol gaúcho de todos os tempos – recorde que perdura até hoje. Entre seus 485 gols, reservou 42 deles só para o clássico, seu jogo preferido. Frio e calculista, marcou 101 gols a mais do que o número de jogos que disputou e jamais desperdiçou um único pênalti.
O antológico ‘Gol do Plano Inclinado’
Ao lado de Tesourinha, Nena, Adãozinho e outros craques, levou o Inter à hegemonia, ainda vigente, no Gre-Nal e no Gauchão – título que conquistou nada menos que 10 vezes. Se tornou ícone de um time lendário que redefiniu o futebol do Sul do Brasil: o famoso Rolo Compressor.
Eterno romântico, dedicou uma vida ao Colorado e jamais trocou de time, se mantendo no Clube do Povo do começo ao fim de sua carreira. Seu amor chegou ao ponto de batizar três filhos com a letra inicial do Inter: Ivan, Iran e Irany. Ao mesmo tempo, foi um especialista na arte de provocar defensores e armadilhas para os goleiros adversários.
Herói e protagonista de um romance sem fim. Homem que viveu um amor autêntico e correspondido, com aroma de Eucaliptos e sabor de gol. Muitos gols. Carlitos, o ‘Homem-Goal’, terá seu lugar eternamente marcado na história colorada.