Raio-X: Inter estreia na CONMEBOL Sul-Americana de 2024

Inter visita o Belgrano nesta terça-feira/Foto: Ricardo Duarte

É noite de estreia para o Clube do Povo! A partir das 19h desta terça-feira (02/04), o Inter enfrenta o Belgrano, em Córdoba-ARG, pela rodada de abertura da fase de grupos da CONMEBOL Sul-Americana. A seguir, confira todas as informações sobre a partida, que será disputada no Estádio Mario Alberto Kempes:

Preparação colorada;
Informações sobre ingressos;
Transmissão da partida;
Lista de relacionados;
Escala de arbitragem;
Entrevista com Fernando;
Momento do rival;

A campanha campeã de 2008;

Índice

Vamos, Colorado! 💪

Elenco concluiu os trabalhos na manhã desta segunda-feira/Foto: Ricardo Duarte

Primeiro time brasileiro campeão da CONMEBOL Sul-Americana, o Colorado figura no grupo C da competição continental, do qual também fazem parte o Delfín e o Real Tomayapo, além do Belgrano. Na luta para repetir 2008, o Clube do Povo já sabe que seu chaveamento será integralmente jogado entre os meses de abril e maio. Veja a tabela do quadrangular:

02/04 (TER) – 19h | Belgrano-ARG x Inter | Estádio Mario Alberto Kempes
10/04 (QUA) – 21h | Inter x Real Tomayapo-BOL | Beira-Rio
25/04 (QUI) – 23H | Delfín-EQU x Inter | Estádio de Jocay
07/05 (TER) – 21h | Real Tomayapo-BOL x Inter | Estádio IV Centenário
16/05 (QUI) – 19h | Inter x Delfín-EQU | Beira-Rio
28/05 (TER) – 21h30 | Inter x Belgrano-ARG | Beira-Rio
Clube do Povo está no grupo C da Sul-Americana/Foto: Ricardo Duarte

O líder de cada grupo da CONMEBOL Sul-Americana avançará automaticamente para a fase de oitavas de final, cuja disputa está prevista para agosto. Já os segundos colocados precisarão enfrentar, em jogos de ida e volta, os terceiros de cada chave da Libertadores. Esse playoff ocorrerá em julho.

Comissão abriu os preparativos na terça passada/Foto: Ricardo Duarte

O Clube do Povo iniciou na terça-feira passada (26/03) os trabalhos prévios à visita ao Belgrano. A maioria dos exercícios comandados pela comissão técnica tiveram o CT Parque Gigante como palco, à exceção do treino de sábado, realizado no Beira-Rio. Tão logo os preparativos foram concluídos, o elenco iniciou deslocamento para Córdoba, onde desembarcou no final da tarde de segunda-feira.


Córdoba te espera! 🏟️

Panorama do Estádio Mario Alberto Kempes/Foto: DVG/CONMEBOL

Os ingressos para a torcida colorada custam 20.000 pesos argentinos, cerca de 117,12 reais, e estão à venda pela internet (garanta o seu no botão abaixo). Nesta terça-feira, o ponto de encontro para torcedores e torcedoras do Clube do Povo será o lado norte do Parque del Kempes, localizado atrás do Mário Alberto Kempes. Já no estádio, a arquibancada Willington, com acesso pelo Portão 3, receberá o público visitante.


Transmissão 📻

Com imagens, o duelo entre Inter e Belgrano será transmitido pelo Paramount+. Ao vivo a partir das 18h30min, a Rádio Colorada também acompanhará a partida. Por fim, as redes oficiais do Clube do Povo (TwitterInstagram e Facebook) apresentarão relato minuto a minuto enriquecido por fotos e vídeos dos melhores momentos do confronto.


Relacionados 📋

Com os desfalques de Valencia, ainda em recuperação de lesão no pé direito, Alario, que acaba de retornar às atividades com o grupo, Hyoran, por desconforto muscular, e Aránguiz, devido à realização de um procedimento ocular, o Inter poderá promover, na Argentina, a estreia de dois jogadores com a camisa colorada. Relacionados pela primeira vez, Alexandro Bernabei e Thiago Maia são as principais novidades na nominata concentrada:


Arbitragem ⚖️

Kevin Ortega apita, auxiliado por Michael Orue e Jesus Sanchez. Quarto Árbitro: Augusto Menendez. VAR: Diego Haro. Quinteto do Peru.


Fala, Fernando! 🎙️

Fernando concedeu entrevista exclusiva para o Canal do Inter/Foto: Ricardo Duarte

Dono da camisa cinco colorada, Fernando disputará a CONMEBOL Sul-Americana pela primeira vez na carreira. Multicampeão no futebol europeu, o meio-campista analisou, em entrevista exclusiva para o Canal do Inter, a semana de trabalhos do time de Eduardo Coudet, além de projetar o embate diante do Belgrano e a participação do Clube do Povo no grupo C da competição continental. Assista!

“Primeira vez que vou disputar uma Sul-Americana. Muito contente, principalmente por ser uma competição que o Inter quer tanto. Quer ganhar essa competição, e eu também estou muito entusiasmado. Sei que é uma competição muito difícil, até porque vamos jogar em lugares muito complicados, mas estou muito confiante, e os jogadores, meus companheiros, também estão muito confiantes que a gente vai conseguir fazer uma excelente campanha e, se Deus quiser, conseguir o título.”

Fernando

Rival 🆚

Classificado para a CONMEBOL Sul-Americana de 2024 após encerrar a temporada passada do futebol argentino em 11º lugar, o Belgrano não vive um bom começo de temporada. Precocemente eliminado na Copa e capaz de vencer apenas uma das primeiras 10 rodadas da Liga, o Pirata acaba de modificar sua comissão técnica. No lugar de Guillermo Farré, que pediu demissão, assumiu Juan Cruz Real.

Pirata vive um começo de ano turbulento/Foto: DVG/Belgrano

Argentino de 47 anos, o novo comandante celeste construiu a maior parte de sua carreira no futebol colombiano, com destaque para as vitoriosas trajetórias à frente de América de Cali e Junior de Barranquilla. A estreia de Juan Cruz Real na casamata do Belgrano ocorreu na sexta-feira passada (26/03), diante do Tigre, e foi encerrada com goleada de 4 a 1 fora de casa.

O grande nome da vitória celeste foi Ulises Sánchez. Autor de dois gols na partida, porém, o atacante precisou ser substituído após sofrer uma ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho direito. Desfalcado pelo atleta, Juan Cruz Real deve escalar o Belgrano, nesta terça-feira, com Ignacio Chicco; Juan Barinaga, Matías Moreno, Mariano Troilo e Nicolás Meriano; Jeremías Lucco, Santiago Longo, Ariel Rojas e Francisco González Metilli; Reyna y Lucas Passerini.

Juan Cruz Real é o novo técnico celeste/Foto: DVG/Belgrano

Nunca me esquecerei… 🏆

Inédito para o futebol brasileiro, o título da CONMEBOL Sul-Americana de 2008 foi conquistado de maneira invicta pelo Inter. À época, o torneio era inteiramente disputado no formato de mata-mata, e a primeira fase era jogada entre equipes do mesmo país. Ao Clube do Povo, coube estrear diante do maior rival, e, como sempre em Gre-Nais eliminatórios válidos por competições nacionais ou internacionais, o Colorado levou a melhor.

Registro do elenco campeão da CONMEBOL Sul-Americana de 2008

No jogo de ida, o primeiro disputado por D’Alessandro com a camisa vermelha, ficamos no 1 a 1. Daniel Carvalho, que reestreava pelo Colorado, marcou para o time de Tite. Duas semanas mais tarde, o Olímpico sediou novo empate, desta vez por 2 a 2. Nilmar e Índio fizeram a festa para o Clube do Povo, que avançou de fase graças ao saldo qualificado por gols marcados fora de casa.

O gol fora também foi decisivo nas oitavas de final. No Chile, Adriano marcou no empate de 1 a 1 do Inter com a Universidad Católica. Em Porto Alegre, o Colorado segurou o zero a zero para garantir vaga entre as oito equipes finalistas da Sul-Americana. Pela frente, viria o Boca Juniors (algoz do Clube do Povo na semifinal de 2004 e nas quartas de 2005).

Alex brilhou contra o Boca Juniors

Gabaritado pelas recentes conquistas da CONMEBOL Libertadores de 2006 e da Recopa de 2007, o Inter foi cirúrgico para chegar às semifinais. No Beira-Rio, o craque Alex marcou dois golaços de perna canhota e garantiu a vantagem de 2 a 0. Na Bombonera, Magrão abriu o placar. Pouco depois, Riquelme empatou para o Boca Juniors, mas Alex, o herói do confronto, logo recolocou o Colorado em vantagem: 2 a 1 na Argentina, 4 a 1 no agregado!

Colorado venceu na Bombonera

Futuro rival na decisão da CONMEBOL Libertadores de 2010, o Chivas foi superado pelo Inter na semifinal da Sul-Americana de 2008. Embalado rumo ao título, o Clube do Povo contou com gols de Alex e Nilmar para vencer o jogo de ida, no México, por 2 a 0. Disputada diante de 50 mil colorados e coloradas, a partida de volta teve o placar dobrado. Nilmar, duas vezes, e D’Alessandro, também com um doblete, garantiram o 4 a 0!

Inter goleou o Chivas na semifinal

De volta a uma final continental depois de 37 anos, o tradicional Estudiantes de La Plata ofereceu um inesquecível enfrentamento para a torcida colorada. Com um a menos desde a etapa inicial, a Academia do Povo venceu na Argentina por 1 a 0, gol de Alex. Na volta, os argentinos devolveram o escore no tempo normal, mas nada puderam fazer quando Nilmar, no encerramento da prorrogação, empatou o duelo e garantiu o título para o Clube do Povo!

Nilmar comemora o gol do título colorado!

Há 13 anos do título da Sul-Americana, Lauro rememora a conquista em entrevista para a Rádio Colorada

Elenco campeão da Sul-Americana em 2008/Foto: Alexandre Lops

Há exatos 13 anos, na noite de 3 de dezembro de 2008, o Inter conquistou a taça que lhe faltava. Diante de um Beira-Rio tomado por mais de 50 mil sócios e sócias, o Clube do Povo viveu inesquecível noite continental ao longo dos 120 minutos que integraram a final da Sul-Americana. Goleiro do título, à época inédito para o futebol brasileiro, Lauro rememorou o feito em entrevista concedida para a Rádio Colorada nesta sexta-feira (03/12).

No papo com a emissora oficial do Clube do Povo, o goleiro campeão continental rememorou as dificuldades impostas pelo Estudiantes, que venceu os 90 minutos do Beira-Rio por 1 a 0 e exigiu a disputa da prorrogação, comentou a construção do time titular, por muitos tido como um dos melhores da história colorada, e ainda revelou bastidor inédito da campanha, flagrante revelador da confiança exibida pelo elenco.

“Após o jogo na Bombonera, quando a gente foi para a semifinal, existia uma reunião referente à premiação, que seria das semis e da final. E a gente bateu no peito e fez uma proposta um tanto diferente para a diretoria: se fôssemos campeões, ganharíamos premiação. Se não fôssemos, não teria premiação da semifinal. Aquela vitória contra o Boca deixou a gente bastante confiante que seria possível, independente do adversário, vencer.”

Lauro

Lauro ainda compartilhou a preocupação sentida às vésperas de encarar craques como Riquelme, adversário nas quartas de final, e Verón, lembrou dos primeiros passos do ídolo Taison como profissional, e celebrou o recente reencontro com a camisa colorada, ocorrido durante a disputa da Copa Brasil WLegends. Titular na vitória de 2 a 0 do Inter sobre o Grêmio, o goleiro divide, na competição, a responsabilidade de defender a meta vermelha com Hiran, seu ídolo de infância. Confira a íntegra da entrevista:

‘De Tabela Com Iarley’ entrevista Alex

Nesta edição, o ‘De Tabela com Iarley’ recebe um velho conhecido com quem o ex-atacante dividiu glórias e mais glórias internacionais. Ídolo, multicampeão e craque de bola, Alex contou detalhes de sua trajetória. Assista a essa resenha imperdível entre dois ídolos colorados no Facebook Watch:

D10S: Há 12 anos, D’Alessandro era oficialmente apresentado

Com festa, o recebemos. Diferenciado, provou-se capaz de transformar centímetro em hectare, segundo em eternidade. Assim, evoluiu: de gênio para amor, depois ídolo e, enfim, divindade. Há 12 anos, D’Alessandro, um dos maiores de nossa história, era oficialmente apresentado pelo Inter. Marcada, desde o desembarque, por grandes emoções, a trajetória do craque esteve repleta de estreias em sua primeira temporada. Relembre-as agora!


O primeiro contato


As primeiras linhas da história entre Andrés Nicolás D’Alessandro e Sport Club Internacional foram escritas no dia 30 de julho de 2008. Gélida quarta-feira invernal, a data conviveu, desde cedo, com grande movimentação de colorados e coloradas no Aeroporto Salgado Filho. De todos os cantos, centenas desejavam receber o mais novo reforço alvirrubro, que desembarcou às 18h35 do horário de Brasília. Poucos minutos depois, o argentino ouviu, no lugar do intenso zunido das turbinas de aeronaves, som ainda mais estrondoso. Este, proferido pela torcida colorada que, a plenos pulmões, alternava do ‘Vamo, Inter!’ ao Dale, D’Alessandro!

As expectativas, vale lembrar, eram grandes em ambos os lados. Para o Clube do Povo, D’Ale simbolizava a ambição de um time que queria mais e seguia sedento por títulos mesmo depois de conquistar América e Mundial. Carregando status de jogador diferenciado, o gringo era a grande aposta para superar quaisquer desconfianças com a reformulação do elenco, que recentemente perdera Iarley, seu camisa 10, e Fernandão, capitão, além do comandante Abel Braga. Nem o mais otimista apaixonado poderia imaginar, contudo, que o buenairense que desembarcava na capital gaúcha assumiria, com o tempo, os dois papéis: de referência técnica, vestindo o número dos gênios, e também anímica, empunhando faixa costurada nos braços de gigantes.

De sua parte, D’Alessandro sonhava em atingir, no Inter, o patamar que sempre provou ser capaz. Revelado pelo River Plate, precisou de poucos anos para virar o grande craque do time hermano. Referência técnica também da Seleção Argentina Sub-20, campeã mundial em 2001, foi negociado, dois anos depois, com o Wolfsburg, da Alemanha. No velho continente, atuaria ainda por Portsmouth, da Inglaterra, e Zaragoza-ESP. Já em 2008 regressou, por empréstimo, ao seu país natal, onde disputou, com o San Lorenzo-ARG, boa Libertadores. O Clube do Povo, portanto, representava o sonho de afirmação do atleta. Também ele não sabi, mas, em breve, começaria a trilhar, a passos largos, roteiro rumo à eternidade alvirrubra.


A estreia


D’Alessandro teve seu nome registrado no Boletim Informativo Diário (CBF) da CBF em 11 de agosto, seis dias depois de começar a trabalhar com seus companheiros. Já devidamente integrado ao grupo, o craque estava, assim, pronto para estrear com a camisa colorada. A partida mais próxima no horizonte, por ironia do destino, era um Gre-Nal. Duelo sempre único, o clássico da ocasião, que teria como palco o Beira-Rio, era ainda mais especial, uma vez que valia pela abertura da primeira fase da Sul-Americana. Após breves contatos com o povo vermelho, tanto no desembarque quanto em seu primeiro treino, acompanhado por 300 pessoas, El Cabezón conheceria, enfim, a força do Gigante lotado.

Cerca de 30 mil pessoas tomaram as arquibancadas do Beira-Rio na noite de 13 de agosto de 2008, data do Gre-Nal 371. Comandado pelo técnico Tite, o Inter, desfalcado de Alex e Nilmar, foi a campo no esquema 3-5-2. Protegido em sua meta por Clemer, o time colorado contava, na defesa, com a segurança do trio Índio, Sorondo e Bolívar. Wellington Monteiro fez a ala-direita, e Nery a esquerda. Na volância, Edinho e Guiñazú conferiam sustentação ao Clube do Povo, que apostava na dupla de ataque formada por Daniel Carvalho e Adriano. Completando a formação estava, é claro, D’Alessandro. Camisa 15 às costas, o argentino era o responsável por armar as tramas ofensivas alvirrubras.

A partida começou a se provar histórica ainda antes do apito inicial. Tradicional rito da torcida colorada na abertura de confrontos disputados no Beira-Rio, os nomes dos atletas titulares foram, um a um, enunciados pelo público. Após saudar Guiñazú, hermano que, àquela altura, já conquistara o coração do povo vermelho, o Gigante celebrou, pela primeira vez em seus 38 anos, Andrés Nicolás D’Alessandro. Perfeito, o canto dedicado ao gringo fez tremer a estrutura do templo alvirrubro, endereço que não costuma se curvar facilmente a jogadores estreantes. De certa forma, nossa casa parecia saber que o canhoto meio-campista faria história em seu gramado, e deixava esta profecia clara à multidão presente nas arquibancadas, que eufórica bradava D’Ale.

Naturalmente à procura do melhor entrosamento com seus companheiros, D’Alessandro compensou qualquer falta de ritmo com enorme movimentação. Insinuante, o gringo não economizou suor na luta por espaços, aparecendo ora pelos lados, ora centralizado. O tradicional refino na cobrança de bolas paradas também foi percebido em escanteios e faltas que aterrorizaram a defesa tricolor. Titular durante os 90 minutos, somente deixou de cobrar o pênalti colorado na partida, convertido por Daniel Carvalho. Minutos depois, Léo empataria para os visitantes, dando números finais ao confronto, primeiro dos atuais 486 que D’Ale, terceiro jogador que mais vezes vestiu o manto alvirrubro, disputou pelo Inter.


Surge o garçom


O dia 20 de agosto de 2008 pode ser entendido como um divisor de águas na história recente do Internacional. Na data, Alex, D’Alessandro e Nilmar atuaram juntos pela primeira vez. Trio de ouro, responsável por completar a nominata de geração que marcou época com a camisa colorada, estreou em jogo da segunda rodada do returno nacional, diante do Palmeiras. No Beira-Rio, debaixo de chuva fraca, mas constante, o Clube do Povo foi a campo em busca da reabilitação no Campeonato Brasileiro.

O azar, presente em recentes frustrações do Clube do Povo no certame, ameaçou a quinta-feira colorada logo cedo. Aos três minutos, Alex Mineiro cavou e cobrou pênalti para os visitantes. Pouco depois, Diego Souza ainda desperdiçaria clara oportunidade de gol. O bom momento, entretanto, subiu à cabeça dos palestrinos, que, ansiosos por marcar o segundo, esqueceram do poderio ofensivo colorado. A consequência? A virada, construída em um minuto. Primeiro, aos 18, Alex cobrou falta na cabeça de Índio, que empatou. Depois, aos 19, o canhoto camisa 10 soltou uma bomba de fora da área para colocar o Inter na frente.

A magra vantagem do Inter resultou em um começo de segundo tempo bastante agitado. Principal nome da etapa inicial, Alex, que retornava de lesão, precisou ser sacado cedo, aos 11. Sem o camisa 10, D’Alessandro ocupou protagonismo ainda maior na criação de jogadas. De modo praticamente simultâneo à saída do companheiro, que deixou o campo para a entrada de Taison, El Cabezón brigou contra dois marcadores, levou a melhor e cruzou rasteiro para Nilmar, que finalizou de primeira levando perigo à meta de Marcos. Pouco depois, aos 16, o craque argentino bateu falta pela esquerda da área paulista. Açucarada, a bola viajou até a segunda trave para, dentro do retângulo pequeno, encontrar Índio. Goleador, o zagueiro não perdoou. No placar, 3 a 1, e o camisa 15, logo em sua terceira exibição com o manto alvirrubro, já servia a primeira das 113 assistências que hoje soma pelo Clube do Povo.

Momento histórico: a primeira assistência de D’Alessandro pelo Inter

Já nos acréscimos, enquanto a torcida celebrava a vitória, D’Ale deu lindo corte na marcação e deixou com Adriano, dentro da área rival. O atacante dominou com a esquerda, limpou para a direita e soltou um foguete, espalmado por Marcos. O rebote, dentro da área, foi de Taison, que fuzilou para anotar o quarto. Goleada alvirrubra, celebrada com dança por seu autor e o garçom argentino, que aos poucos começavam a nutrir belíssima amizade.


O gol de número 1


O alto nível das primeiras atuações de D’Ale no Inter foi reconhecido, ainda no mês de agosto, com convocação do craque para a Seleção Argentina. Desfalque na 24ª rodada do Brasileirão, o gringo retornou a tempo de atuar contra o Botafogo, na jornada seguinte. Realizado no Engenhão, o confronto diante dos cariocas foi o primeiro disputado pelo inesquecível losango de Tite. Armador, El Cabezón correspondia ao vértice superior do meio de campo colorado, enquanto Edinho fazia a base. Pela direita, quem atuava era Magrão, ao lado do canhoto Guiñazú. O quarteto, ilustre, antecedia a dupla Nilmar e Alex.

O duelo contra os cariocas também contou com brilho do trio ofensivo alvirrubro. No primeiro tempo, aos 30, D’Alessandro, demonstrando grande entendimento das características de seu companheiro, lançou Nilmar em velocidade. Na corrida, o atacante venceu até mesmo o goleiro carioca para cruzar na direção do gol, onde Alex, livre, apenas completou. Inter na frente!

A grande pintura da noite ainda estava por vir. No início do segundo tempo, Guiñazú e Taison escaparam em grande tabela pela esquerda que chegou às cercanias da meta carioca, onde o argentino acionou seu compatriota D’Alessandro. El Cabezón dominou com a direita, já colocando na frente e invadindo a área. Com ângulo para arrematar de canhota, enquadrou o corpo e enganou o zagueiro Renato, que decidiu dar o bote. Genial, o camisa 15 colorado cortou para dentro, deixou o marcador no chão, reconduziu para fora e, com o pé bom, arrematou rasteiro. Golaço, o segundo do Clube do Povo no jogo, primeiro dos 94 marcados por D’Ale com o Inter.

Na comemoração, o futuro ídolo, eufórico com o marco que alcançava, e também com a jogada que produzira, convocou todos seus companheiros para o abraço. Destaque, é claro, para a celebração com Taison, reafirmando a crescente amizade da dupla.

O Botaofogo até conseguiu descontar, marcando o seu com André Luiz. A proximidade no placar, contudo, não resultou em grande pressão do time da casa. Maquiavélico, D’Ale assumiu o controle da partida e passou a ditar o ritmo de cada movimento realizado dentro de campo, escolhendo, a bel-prazer, quando o jogo deveria ser acelerado ou ter seu ritmo diminuído.

Com espaço no centro do campo, o gringo desfilou, sempre de cabeça erguida, inversões milimétricas, passes teleguiados, dribles desconcertantes e uma boa dose de experiência hermana. O show de Andrés apenas foi finalizado quando o camisa 15 deixou o campo para a entrada de Rosinei, que ajudou o Inter a garantir os três pontos.


Homem Gre-Nal


Do alto de seus 51 anos de vida, o Beira-Rio ostenta história rara entre os estádios do mundo. Ao longo das últimas cinco décadas, o Gigante já serviu de palco para diversas gerações vitoriosas e craques renomados. Foi ele, por exemplo, quem revelou Falcão, muito vibrou com Valdomiro, reverenciou Jair, aplaudiu Lula, amou Rubén Paz, eternizou Fernandão e consagrou Sobis, entre muitos outros geniais criadores. Sozinha, nossa casa sabe ocupar o papel de protagonista para superar batalhas difíceis. Humilde, também consegue servir de moldura perfeita aos espetáculos de artistas colorados. Poucas exibições foram tão belas quanto a oferecida por D’Alessandro no dia 28 de setembro de 2008.

D’Ale chegou ao Inter talhado para encarar o significado do Gre-Nal. Duas semanas depois de estrear com a camisa colorada no maior clássico do país, o argentino seria um dos destaques do jogo de volta da primeira fase da Sul-Americana, encerrado com empate de 2 a 2 e classificação do Clube do Povo em pleno Estádio Olímpico. Nada do que produzira contra o Grêmio ao longo do mês de agosto, todavia, pode ser comparado à magnificência do que ofereceu aos 42.590 colorados e coloradas que lotaram o Beira-Rio para acompanhar o confronto de número 373 na história entre Alvirrubro e Tricolor.

O Gre-Nal do segundo turno do Brasileirão de 2008 foi diferente. Antes da partida, o presidente gremista vociferara às rádios gaúchas que, no Beira-Rio, o time visitante “passaria a máquina” sobre o Inter. Ingênuo, injetou ainda mais ânimo no esquadrão colorado. Não que adrenalina fizesse falta, pois o Clube do Povo, vivendo grande fase, ansiava por coroar o bom momento superando o rival e, assim, dando fim a jejum de quase dois anos sem triunfos em clássicos. O infeliz comentário do dirigente, contudo, certamente alimentou a sede dos comandados de Tite, que entraram em campo sedentos, emulando o saudoso Rolo Compressor.

Maestro, El Cabezón transformou o Beira-Rio em teatro – nada silencioso, por óbvio. Como se conduzisse uma orquestra de tango, desfilou no tapete de nossa casa alternando entre o drama de passes estonteantes e a agressividade de arrancadas e finalizações incontroláveis. Sutil como são os gestos de um regente, aos quatro minutos progrediu até a área gremista mirando rebote que se oferecia à feição. Diante da bola, enquadrou o pé direito e chicoteou com a canhota, desabafando. Golaço do Inter, o primeiro de D’Ale no templo que, aos poucos, começava a chamar de casa.

Pouco depois, Tcheco empataria para os visitantes. O gol, verdade seja dita, não passou de ousada provocação a um time que apenas respirava, preparando-se para o segundo ato, que nada custou para chegar ao clímax. Muitos dos presentes, inclusive, sequer prestigiaram o reinício do espetáculo, culpa do maestro, que decidiu aprontar com a desatenção do público. O que você consegue fazer em oito segundo? D’Ale precisou deste punhado de centésimos para ter um lampejo e cobrar rápido falta pela direita. No pé de Alex, a bola foi fuzilada pelo camisa 10, que mandou rasteiro. Era o segundo.

A Maior e Melhor Torcida do Rio Grande jamais se comportou como plateia teatral. Se D’Ale regia uma orquestra, a reverência que recebia como resposta nada tinha de silenciosa, e sim apoteótica. Porque o Inter, naquele momento o gringo descobriu, não é o Clube do Povo por acaso. Instituição nascida em berço popular e embalada por blocos e marchas carnavalescos, carrega a efervescência como sobrenome. Todo colorado é um pouco Rao ou Charuto. Toda colorada sabe ser coreana. Em meio a esta bela mistura, perfeitamente heterogênea e bagunçada, seguiu o espetáculo. Primeiro, catapultado por Índio, que mandou, de cabeça, cruzamento de Andrés para as redes. Depois finalizado, também em um testaço, por Nilmar, completando lançamento açucarado do argentino. Massacre alvirrubro por 4 a 1, que ficou barato (assim como o ingresso, se comparado à excelência oferecida pela sinfonia dalessandrina), confirmado.

“Quando cheguei aqui, só se falava do Gre-Nal. É um clássico, e é preciso ganhar. O time necessitava da vitória. Hoje, tive sorte de ter uma atuação tão boa, meu gol foi importante para mim e para a torcida, mas amanhã pode ser com outro jogador. Para mim, o importante mesmo foi a vitória.”

D’ALESSANDRO, APÓS O CLÁSSICO

Debut continental


Lutando para atingir as primeiras posições no Campeonato Brasileiro, e ainda reticente quanto ao desenho da Sul-Americana, Tite preservou diversos atletas nos 180 minutos que compuseram a fase de oitavas de final do torneio, disputada contra a Universidad Católica. D’Alessandro, envolvido também em convocações para a Seleção Argentina, foi um deles, e sequer entrou em campo nas partidas diante dos chilenos.

O cenário de cautela para com o certame continental foi transformado a partir da classificação para as quartas de final e consequente proximidade do título. Na luta para garantir vaga entre os quatro melhores da América, o Clube do Povo enfrentou o Boca Juniors, recente algoz que eliminara o Colorado da competição nos anos de 2004 e 2005 e campeão da Libertadores na temporada anterior. Escalado com força máxima, o Clube do Povo venceu a primeira partida contra o time xeneize, antigo rival de D’Ale nos tempos de River, por 2 a 0. Disputado no Beira-Rio, o confronto, primeiro da trajetória de Andrés no Inter contra equipes do exterior, contou com dois gols de Alex, grande protagonista da noite.

Duas semanas depois, o Clube do Povo foi a campo, na Bombonera, para garantir a classificação às semis do continente. Disputado no dia 6 de novembro, o confronto foi o primeiro disputado pelo time de Tite com uma linha de quatro zagueiros na defesa. À frente de Lauro, um dos grandes destaques da partida, Bolívar, na direita, Marcão, na esquerda, e a dupla Índio e Álvaro, no miolo, formaram a defesa. A escalação era continuada, no meio, pelo já tradicional quarteto de Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro, argentino que se somava a Alex e Nilmar para formar mágico trio ofensivo.

Extremamente vaiado a cada toque na bola, D’Alessandro, carrasco do Boca no início do século, ajudou a construir uma etapa inicial cadenciada, sem grandes sustos para o Inter. Imperante antes do intervalo, a morosidade foi completamente abandonada no segundo tempo, que contou com gol colorado logo no minuto inaugural. Nilmar, lançado por Magrão, foi ao fundo pela direita e cruzou na medida para o camisa 11, que mandou no travessão. A bola até picou dentro, mas, por via das dúvidas, o meio-campista completou, de cabeça, estufando as redes. O time da casa respondeu com as entradas de Riquelme e Dátolo, duas das estrelas xeneizes, que reacenderam a Bombonera. o mítico palco hermano foi ao delírio pouco depois, aos 12, quando Juan Román empatou.

Insuficiente para classificar o time da casa, a igualdade apenas impulsionou ainda mais o Boca Juniors, que tentava, a todo custo, encurralar o escrete colorado. Atuar de maneira desesperada contra o Inter de Alex, Nilmar e D’Alessandro, contudo, jamais foi uma ideia inteligente. Entregue a fortuitos cruzamentos na área alvirrubra, os quais raramente eram finalizados na direção do inspirado goleiro Lauro, o time xeneize aprendeu a lição a duras penas.

Aos 27, D’Alessandro foi lançado pela esquerda. Pouco depois da quina da grande área, mas ainda fora do retângulo, o argentino, esbanjando visão de jogo rara para os seres humanos, mas comum na rica carreira que ostenta, serviu, de canhota, assistência precisa para Alex. Em velocidade, o camisa 10 sequer precisou dominar e, de frente para o goleiro, apenas desviou buscando o canto. Golaço, à altura da épica atuação colorada, consagrador de vitória incontestável e maiúscula de um elenco que desejava ser campeão.

Ganhar do Boca,

na Bombonera,

é especial para mim!

D’ALESSANDRO, COMEMORANDO A EPOPEIA COLORADA

Aproximadamente quatro minutos após o gol da vitória, D’Ale, sacado para a entrada de Taison, fez questão de não deixar o campo sem antes agradecer a festa dos milhares de colorados e coloradas que lotaram o setor visitante da Bombonera. O craque, que aos poucos conquistava o coração do povo vermelho, não somente ganhou preciosos segundos durante o aplauso, como também despertou a ira da torcida local, reforçando sua fama de protagonista em clássicos. Gigante, Cabezón!


A primeira taça


Depois de eliminar o poderoso Boca Juniors com o maiúsculo placar agregado de 4 a 1, o Clube do Povo encarou, nas semifinais da Sul-Americana, o forte time do Chivas de Guadalajara. Com problemas intestinais, D’Alessandro desfalcou o Inter no confronto de ida, disputado no México, mas a ausência do gringo, felizmente, não foi sentida. Atuando com Andrezinho, que, como de costume, entregou grande exibição, o Colorado contou com noite inspirada da dupla Nilmar e Alex para vencer por 2 a 0, um gol de cada, e trazer a vantagem para o Beira-Rio.

Para a partida de volta, o desfalque foi outro – assim como o protagonista. Desfalcado de Alex, convocado pela Seleção Brasileira, o Inter encontrou em D’Alessandro o substituto ideal para o camisa 10. Reposição, esta, ocorrida não na criação de jogadas, já que o gringo, desde sua estreia, evoluía continuamente enquanto meia dos sonhos do povo vermelho, mas sim para o faro artilheiro em bolas paradas.

Cada vez mais adaptado ao corredor esquerdo, Marcão construiu excelente jogada individual aos 18 da primeira etapa, invadindo a área mexicana perseguido por três marcadores. O camisa 6 apenas perdeu a posse quando tentou fintar para dentro, mas o corte da zaga, parcial, encontrou o pé canhoto de D’Alessandro. Pisando na meia-lua, o gringo fingiu chutar e, esperto, ajeitou para a direita, adiantando na área e escapando do primeiro zagueiro. Pressionado por um segundo, tentou fazer o giro, mas foi derrubado por violento carrinho. Assinalado o pênalti, o próprio Cabezón abraçou a bola e, um minuto depois, bateu com exímia perfeição. Era o primeiro.

Os três gols de vantagem no agregado deixaram o Clube do Povo ainda mais tranquilo na partida. Armado com Taison e Nilmar na linha de frente, o Colorado, decidido a explorar a velocidade da dupla, soube oferecer parte do campo para os mexicanos, que passaram a cruzar a região central com relativa facilidade para, logo depois, esbarrar na defesa vermelha. Perfeita para contra-ataques, a receita ofereceu boas escapadas ao Inter.

Em uma destas, aos 35, o jovem atacante que substituía Alex chamou D’Alessandro para tabelar, mas, derrubado por trás, não conseguiu receber a devolução do argentino. Oscar Ruiz flagrou a irregularidade e indicou a falta. Coube ao grande nome do jogo, é claro, fazer a cobrança. Inteligente, El Cabezón percebeu pulo do goleiro na direção da barreira e cobrou no canto do arqueiro, pegando-o no contrapé. Indefensável, ela morreu na rede.

Marcão, de novo ele, investiu contra dois adversários pela esquerda e, experiente, cavou escanteio aos 43 do primeiro tempo. A cobrança, desta vez, coube ao destro Taison, que bateu fechado, buscando olímpico. No reflexo, o goleiro Hernandez até espalmou, mas manteve a bola na pequena área, entregue ao cabeceio de Nilmar, que ampliou. A dupla de ataque também aprontou na segunda etapa, com nova assistência do jovem camisa 20 para o artilheiro dono da 9. Mais do que garantir a classificação para a final, a vitória de 4 a 0 também serviu como homenagem perfeita a Arthur Dallegrave, ex-dirigente que figura entre os mais importantes políticos da história colorada, falecido dois dias antes da partida.

O adversário colorado na decisão foi o Estudiantes-ARG. Tradicional equipe do futebol sul-americano, o Pincha abriu a final, em seus domínios, apostando na magia de La Brujita Verón para largar em vantagem. Disputados no dia 26 de novembro, os primeiros 90 minutos do embate de alvirrubros envolveram tudo o que um duelo de gigantes continentais cobra. Drama, raiva, euforia, injustiça, heroísmo e uma boa dose de sorte flertaram com a maiúscula e histórica exibição do Clube do Povo, que teve em D’Alessandro um de seus referenciais. Genial como de costume, o gringo soube se adaptar às circunstâncias da partida, construindo atuação multifacetada.

No primeiro tempo, D’Alessandro foi letal no ataque. Mesmo deslocado de função a partir dos 24 minutos, quando Guiñazú recebeu injusto cartão vermelho, o gringo orquestrou todos os escapes colorados. Atuando pela direita da linha de quatro meio-campistas, formou, no flanco, triângulo perfeito com Bolívar, lateral, e Magrão, volante. Combinado, o trio misturava força e leveza, imposição física e alto quilate técnico.

Empolgado com a superioridade numérica, o Estudiantes se mandou para o ataque, deixando espaços letais na defesa. Aos 32, D’Alessandro percebeu um desses e, após receber passe de Nilmar, devolveu para o camisa 9 lançando, de direita, em profundidade, nas costas de Desábato. Incomodado, o beque atropelou o jogador colorado. Pênalti, que Alex bateu duas vezes para valer uma e abrir o placar!

Aos 37, D’Ale quase ampliou. Afiado nas cobranças de falta, o gringo mandou, da intermediária, chute forte no canto de Andújar. Venenosa, a bola triscou na ponta dos dedos do arqueiro, explodiu no poste esquerdo e retornou para os braços do camisa 1 pincharrata. Por detalhe o Clube do Povo não marcava o segundo, mas D’Alessandro demonstrava ser ele, e não Verón, o grande regulador do duelo. Como joga, Andrés!

Mais do que continuar dando exemplo de aplicação defensiva para fechar os espaços na retaguarda, na segunda etapa D’Alessandro, apoiado pela vantagem colorada no placar, passou a cozinhar o confronto. Sempre chamando a bola de “tu”, tratando a redonda com carinho, o gringo irritou seus compatriotas que, incrédulos, assistiam ao matrimônio de D’Ale com a esférica sem conseguir interferir no relacionamento. O camisa 15 ainda ofereceu assistência espetacular para Magrão, acionando o volante com um ganchinho surpreendente. Forte, o arremate do número 11 foi defendido por Andújar. Desta forma, findada a partida, o Inter garantia vantagem para a volta em Porto Alegre: 1 a 0!

Em campo, Lauro; Bolívar, Danny Morais, Álvaro e Marcão; Edinho, Andrezinho, Magrão e D’Alessandro; Alex e Nilmar. No Gigante, 51.803 apaixonados, decididos a conquistar o último título de elite que faltava na galeria de troféus alvirrubra. A terceira noite do mês de dezembro reuniu todos os ingredientes para ficar na história.

O clima de mobilização visto no Beira-Rio catalisou grande atuação colorada na etapa inicial. A exibição, é claro, passou longe de um massacre, como costumeiramente são disputadas as finalíssimas, mas era evidente a superioridade do Inter na partida. Incendiado por um Gigante que praticamente pegou fogo, o time do técnico Tite criou sua primeira oportunidade aos 4, com D’Alessandro, que pegou a sobra de boa jogada de Alex e finalizou, forte, com a canhota. A bola saiu por cima, levando muito perigo. Já às vésperas do intervalo, El Cabezón deu lindo passe para Andrezinho chutar colocado e exigir milagre de Andújar.

O Estudiantes cresceu no segundo tempo, especialmente depois dos 10 minutos. Time matreiro, conhecedor dos mata-matas, aproveitou o momento positivo para balançar as redes do Inter. A vitória pelo placar mínimo igualou o placar agregado, levando a decisão para a prorrogação. Uma vez mais, o Beira-Rio precisou exercer papel de protagonista para compensar o desgaste de seus heróis e amedrontar os visitantes mal-intencionados. Incendiário, o Gigante começou a jogar, e serviu de parceiro perfeito para a canhota de Andrés.

O time que começou a disputa do tempo extra exibia diferenças em relação ao escalado para a partida. No lugar de Alex, Taison compunha veloz linha de frente com Nilmar, enquanto Gustavo Nery, que substituira Andrezinho, acrescentava maior vigor físico na esquerda do meio. No início da etapa final, Sandro ainda foi alçado a campo na vaga do extenuado Magrão. Uma escalação pautada na imposição e na força, portanto, buscava a taça continental. Controlando o ímpeto e adicionando pitadas de brilhantismo à robustez, D’Alessandro capitaneava cada avanço vermelho, sempre acompanhado por seus companheiros, que ofereciam respostas perfeitas aos movimentos do camisa 15. O gringo, consciente de sua responsabilidade, criou as melhores oportunidade do Clube do Povo na prorrogação.

Ainda nos primeiros 15 minutos, D’Alessandro progrediu, a seguidos cortes, pela esquerda da área rival. Com espaço, alçou bola milimétrica para Bolívar, que cabeceou na zaga, deu início a verdadeiro caos e, ainda, encerrou a jogada soltando um petardo milagrosamente defendido pelo goleiro. No segundo tempo, aproveitando o recente entrosamento com Bolívar e tirando vantagem do fôlego renovado de Taison, o argentino ocupou, com grande frequência, o lado direito do campo. Por ali, aos 6, driblou dois marcadores para invadir a área, aplicou o La Boba em um terceiro e cruzou de direita por cima de Andújar. Posicionado sob as traves, Nilmar teria o gol aberto para marcar, mas fora cortado, segundos antes do arremate, por Angeleri. Apesar de desperdiçada, a oportunidade deixava claro qual era o caminho do gol.

O relógio indicava oito minutos e quatro segundos da etapa final da prorrogação quando D’Ale, empurrado pela curva sul do Beira-Rio, partiu para levantar escanteio na área argentina. Cavado por Taison, o córner, pela direita, permitia ao canhoto a possibilidade de cobrança fechada. Exatamente assim o camisa 15 alçou, procurando a entrada da pequena área. Ali, quem subiu foi Danny Morais, testando para o solo.

Na subida, a bola resvalou nos dedos de Andújar e explodiu no travessão, oferecendo-se para Nery. De esquerda, o meio-campista soltou o pé, mas também foi bloqueado pelo goleiro. O rebote, contudo, sobrou para o artilheiro. Encarando um gol aberto, Nilmar não teve problemas para honrar o faro goleador de sempre e empatar para o Clube do Povo. Gol de título, de um campeão de tudo. E o Beira-Rio? Ficou catártico!

O título da Sul-Americana foi o primeiro dos 13 que D’Ale conquistou, até o presente dia, com o Colorado. Já amado pela torcida após míseros quatro meses de Beira-Rio, o argentino não titubeou ao escolher a comemoração perfeita para o triunfo. Com a taça em mãos, disparou até a saudosa goleira do placar e, de frente ao público ensandecido, subiu no antigo fosso do Gigante. Encarando cada torcedor nos olhos, provou ser um capitão nato para erguer o cobiçado troféu, levando dezenas de milhares ao delírio. Clube do Povo, campeão continental! Vamo, Inter; e Dale, D’Alessandro.

Parabéns, Nilmar! Ídolo completa 36 anos; relembre sua trajetória pelo Inter

Nilmar Honorato da Silva é um gigante na história alvirrubra. Nascido em 1984 no paranaense município de Bandeirantes, chegou ao Inter ainda garoto, acreditando, como muitos em nosso país, no sonho da profissionalização no futebol. Hoje (14/07), data em que celebra 36 anos de vida, o craque certamente pode se orgulhar da carreira que construiu por gramados Brasil afora. No Clube do Povo, foi soberbo, e marcou gerações de colorados e coloradas. Confira especial da Rádio Colorada sobre o ídolo e relembre, abaixo, sua trajetória no Beira-Rio:

Sport Club Internacional · Rádio Colorada: Especial Nilmar Honorato

Surge o craque


Honrar posto já ocupado por gigantes como Flávio Minuano, Claudiomiro e Escurinho não é tarefa simples. Nilmar fez parecer. De cria do Celeiro à figura incontestável na lista de maiores atletas da história colorada, o atacante construiu linda biografia com a camisa vermelha. Revelado em 2003 por um Inter que se transformava, tinha a responsabilidade de, junto a seus companheiros, não somente fazer a torcida esquecer do panorama negativo deixado pela temporada predecessora, como também reconduzir o Clube do Povo ao caminho das grandes conquistas.

Foto: Divulgação

Após flertar com o descenso até as últimas rodadas do Brasileirão de 2002, o Inter, sob o comando de Muricy Ramalho, abriu o novo ano apostando no sempre fértil Celeiro de Ases como espinha de uma nova geração. Os gêmeos Diego e Diogo representavam a maior esperança do Clube do Povo, mas não eram as únicas promessas alvirrubras. Na linha de frente, o jovem Nilmar, de 18 anos, também alimentava o sonho de novos dias vencedores no horizonte do colorado, bem como Daniel Carvalho, já frequente entre os titulares desde a temporada anterior.

Foto: Correio do Povo

A história de Nilmar com a camisa vermelha foi oficialmente inaugurada no dia 15 de março. Nesta data, o Inter recebeu o Juventude em partida que encerrou a primeira fase do Gauchão. Titular, o jovem atacante sofreu um pênalti e criou jogada que originou outro, assim desempenhando papel fundamental no triunfo parcial do Clube do Povo, por 3 a 0, conquistado antes mesmo do intervalo. Na segunda etapa, os visitantes até buscaram a igualdade, resultado que, embora lamentado, em nada afetou a classificação alvirrubra para a fase final, feito que garantiu três meses de descanso no Estadual.

A boa exibição diante do Papo ajudou o atleta a ganhar importantes pontos com Muricy Ramalho. Após atuar em confrontos da Copa do Brasil, o atacante fez sua estreia no Brasileirão em duelo contra o Bahia, válido pela terceira rodada do Nacional. O Inter já vencia por 1 a 0 quando, aos 31 minutos da etapa final, Diego arrancou pela ponta direita e cruzou rasteiro para Nilmar, que acabara de entrar, marcar, em sua quarta partida com a camisa colorada, o primeiro gol como profissional. A jovem promessa precisou de apenas mais três jornadas para voltar a balançar as redes, desta vez contra o Vitória, em Salvador. Alçado a campo na segunda etapa, foi o grande nome do jogo, anotando dois dos três tentos alvirrubros no triunfo por 3 a 0 sobre os baianos.

Muito graças ao Celeiro de Ases, o Clube do Povo encerrou o mês de abril vivendo o seu melhor momento nos últimos anos. Entre as promessas que brilhavam, obviamente, estava Nilmar. Habituado a ouvir seu nome gritado pela torcida em todos os jogos do Colorado no Beira-Rio, no dia 18 de maio, contra o Athletico-PR, o jovem fez sua segunda partida como titular alvirrubro. Destaque do confronto, marcou gol no injusto empate de 1 a 1, resultado que em nada transpareceu a supremacia vermelha nas ações do jogo.

Nimar galgou posições na hierarquia do grupo alvirrubro em ritmo comparável apenas ao de suas meteóricas arrancadas. Em junho, já era titular absoluto do time de Muricy, a ponto de disputar – com notoriedade – seu primeiro Gre-Nal, válido pelo Brasileirão e encerrado sem gols. Exatos três dias após o clássico, o atacante produziu, contra o São Gabriel, em duelo de volta das semifinais estaduais, verdadeira obra de arte. O placar de 2 a 0 para o Colorado não parecia satisfazer o inquieto paranaense, que, logo no reinício da partida, invadiu a área adversária pela esquerda, driblou dois marcadores e tocou por cima do goleiro, de cobertura, fazendo delirar a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Vitorioso por 4 a 1, o Clube do Povo avançou para a decisão gaúcha, realizada diante do XV de Novembro e iniciada, em Campo Bom, com novo triunfo vermelho, agora por 2 a 0, também marcado por pintura da cria do Celeiro, agora de letra.

A grande fase individual de Nilmar foi recompensada com convocação para a Seleção Brasileira Sub-23 que disputaria, entre os dias 12 e 27 de julho, a Copa Ouro, no México. Antes de se apresentar à esquadra nacional, o jovem conquistou, no terceiro dia do sétimo mês do ano, o Gauchão, segundo consecutivo do Inter, sua primeira taça como profissional e a última comemorada pela saudosa Coreia do Beira-Rio. Com a Canarinho, foi vice-campeão do torneio realizado em território norte-americano, e desfalcou o Clube do Povo ao longo de seis rodadas. No retorno, marcou, contra o São Paulo, no Morumbi, mais um golaço, o seu sétimo na temporada, logo sucedido, na jornada seguinte, por tento marcado sobre o Coritiba.

O elenco campeão gaúcho de 2003. Nilmar é o terceiro da esquerda para a direita

Cada vez mais entrosado com Daniel Carvalho e Diego, Nilmar marcaria, ainda em agosto, seu nono gol pelo Inter. A vítima? O Bahia, exatamente o time que sofrera, no primeiro turno, o tento de número um da carreira do paranaense. Em setembro, como reflexo das artilheiras atuações que vinha construindo ao lado dos companheiros de juventude, a promessa colorada ocupava a sétima colocação na corrida pela Bola de Ouro, tradicional ranking da Revista Placar. Entre os atacantes, o paranaense era o quarto melhor do Brasileirão, e Daniel, seu companheiro, o oitavo.

Imagens: Rede Globo

Não foram só notícias positivas, todavia, que formaram o nono mês do ano para Nilmar, que sofreu delicada injúria no joelho. Inicialmente, o atleta foi preservado de três partidas, voltando aos gramados no dia 4 de outubro, data de empate do Clube do Povo com o Paysandu. Cinco dias depois, contra o Criciúma, o atacante esbanjou oportunismo para, pegando rebote de cabeceio de Jéfferson Feijão na trave, emendar rápido carrinho em direção às redes. O que poderia significar um regresso avassalador, contudo, precisou ser interrompido, uma vez mais, por conta da lesão. O retorno definitivo ocorreu apenas no mês de novembro, em duelo diante do Atlético-MG, fora de casa.

Enfrentando adversário direto na luta por vaga na Libertadores, o Clube do Povo sabia da importância da vitória, e chegou a ela através de Nimar. Como se os 28 dias em que ficara afastado dos gramados fossem revertidos em fome de gols, o atacante deu show no Estádio Independência, abrindo o placar aos cinco minutos de jogo. Aos 14, o artilheiro acertou linda cabeçada para voltar a balançar as redes. Protagonista no triunfo alvirrubro por 2 a 1, foi convocado para a disputa do Mundial Sub-20, que seria realizado, entre os dias 27 de novembro e 19 de dezembro, nos Emirados Árabes. A situação muito desagradou ao Inter, que perderia o atleta, junto de Daniel Carvalho, também chamado, nas três rodadas finais do Brasileirão.

O Clube do Povo bem que tentou, recorrendo à CBF, mas não teve seus anseios atendidos. Sem Nilmar e Daniel, somou quatro pontos nos últimos nove, e terminou o Brasileiro na sexta colocação, a um ponto do Coritiba, quinto, primeiro classificado para a Libertadores. O sonho de retornar à elite continental e finalizar hiato iniciado no ano de 1993, portanto, era adiado. Ao mesmo tempo, a vaga na Sul-Americana servia de grande consolação, capaz de alimentar os sonhos colorados de brilho em terriório latino.


‘Triturante’ homem Gre-Nal


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Marcados por intensa dedicação ao Brasil, os meses último de 2003 e primeiro de 2004 não permitiram descanso para Nilmar. O atacante, primeiro, conquistou o Mundial de juniores, competição na qual anotou três gols e foi um dos destaques. Logo depois, integrou a delegação Sub-23 que disputou o Pré-Olímpico. Em compensação à exaustante maratona de jogos, o jovem recebeu, junto de Daniel Carvalho, seu companheiro nas empreitadas selecionáveis, tempo especial de folga concedido por Lori Sandri, novo comandante alvirrubro.

Já desacompanhado de Daniel, vendido para o futebol russo, Nilmar se reapresentou em 4 de fevereiro. Cinco dias depois, estreou, como titular, na temporada colorada – e o fez em grande estilo. No Beira-Rio, o atacante marcou os dois gols do Inter no empate com o Santa Cruz, chegando a 14 com a camisa do Clube do Povo. Passada menos de uma semana, voltou a campo para participar, ativamente, de empate por 1 a 1 com o Grêmio, no Gigante. O clássico serviu de estreia para Oséas, centroavante que, ao longo do primeiro semestre de 2004, consolidaria-se como dupla ofensiva da jovem promessa alvirrubra.

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Houve quem acreditasse que o Inter seria triturado no Gre-Nal 358, disputado em 7 de março de 2004. Integrante do segundo turno do Gauchão, o clássico esteve marcado, ao longo de toda a semana que lhe serviu de véspera, por relativa arrogância de parte do lado azul, que cantou vitória, por dias, aos quatro cantos. Dentro de campo, porém, o roteiro foi bastante diferente daquele esperado pelos mandantes.

Após Elder Granja abrir o placar na etapa inicial, aos oito do segundo tempo Wellington escapou em grande arrancada pelo meio e lançou Nilmar, nas costas do marcação. Endiabrado como de costume, recebendo bola na medida para aprontar das suas, o jovem velocista, de frente para o gol, dominou de esquerda e, com a direita, tocou na saída do arqueiro. O Inter marcava o segundo, garantindo vitória até diminuída no escore por Christian, mas nem por isso menos comemorada pelos cerca de oito mil colorados e coloradas presentes no campo da Azenha. Com os três pontos, o Clube do Povo praticamente garantia a liderança da Chave B.

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Nilmar também brilhou na segunda fase da Copa do Brasil, marcando os dois gols colorados na vitória por 2 a 0 sobre o Prudentópolis, triunfo suficiente para classificar o Clube do Povo sem a necessidade do jogo de volta. Protagonista, voltou a fazer o Grêmio de vítima no dia 4 de abril, data em que o Inter completou 95 anos de história.

Válido pela decisão da primeira fase do Gauchão, o Gre-Nal 359 foi disputado em Bento Gonçalves, no Estádio Montanha dos Vinhedos, e teve seu placar inaugurado aos 18 do primeiro tempo por Luciano Ratinho, atleta gremista. Persistente, o Inter não se deixou abalar, empatando, 11 minutos depois, com Edinho, em bonito cabeceio. Inalterado ao longo de toda a etapa final, o escore igualado exigiu a disputa da prorrogação.

Com Sobis na vaga de Oséas, o Inter mostrou o porquê de Paulo Paixão, seu preparador físico, ser um dos melhores que já desempenharam a função na história do futebol brasileiro. Voando em campo, ao ritmo da jovem dupla de ataque, o Clube do Povo amassou o rival, que nada pôde fazer quando, aos 22 do tempo extra, Nilmar, em cabeceio milimétrico, venceu Tavarelli. A taça era nossa, assim como a vaga na fase final do Estadual!


Nilmaravilha


Ainda sofrendo para digerir injusto revés sofrido diante do Figueirense, fora de casa, na abertura do Brasileirão, o Inter recebeu, no dia 25 de abril, o Palmeiras, em partida da segunda rodada do Nacional. Na raça, Nilmar marcou, aos 37 da etapa inicial, o único gol da ensolarada tarde gaúcha. Para tanto, o insistente atacante precisou interceptar a saída de jogo do goleiro Marcos e dividir com o arqueiro do Penta antes de mandar às redes. Os três pontos eram alvirrubros!

Imagens: Rede Globo

Nilmar seguiu voando nas rodadas seguintes, cavando pênalti na terceira, contra o Coritiba, e servindo assistência milimétrica para Granja, na quarta, diante do Paysandu. Com os arranques do atacante, o Inter chegou a sete pontos somados em 12 disputados, confirmando o bom início de Brasileirão. No confronto com os paraenses, entretanto, o avante sofreu grave lesão muscular, injúria responsável por retirar a promessa dos gramados por um mês. Em seu retorno, no dia 2 de junho, o Clube do Povo garantiu vaga na decisão estadual após superar, nos pênaltis, o Glória, em duelo realizado no Beira-Rio.

Os patrões do Rio Grande em 2004. Cabeludo, Nilmar está agachado no centro

Junho, dia 6. Sediado em Canoas, o Complexo Esportivo da Ulbra recebeu a finalíssima do Gauchão. Contra os donos da casa, o Inter sofreu para impor seu estilo de jogo, especialmente nos primeiros movimentos. Ao mesmo tempo, a equipe da região metropolitana levava bastante perigo, especialmente em bolas aéreas. Exatamente de um cruzamento, Alex Martins, aos 20, marcou o primeiro gol do jogo, suscitando dúvidas na torcida alvirrubra, mas que pouco duraram.

Recém-chegado ao Clube do Povo, Alex deu uma das primeiras mostras do poderio de sua perna canhota aos 30, quando cobrou falta na cabeça de Oséas. Soberano, o centroavante escorou para a confusão, onde Edinho, avassalador, surgiu fuzilando para as redes. O empate permaneceu até o segundo tempo, marcado por expulsão precoce de Alexandre Lopes, que deixou o Inter com um a menos. Felizmente, Nilmar, um craque já afirmando, mostrou-se capaz de jogar por dois.

Aos 15 minutos, Bolívar costurou da direita para o centro e lançou o atacante em profundidade. Genial, o camisa 11 deixou a bola passar entre suas pernas para então fazer o giro e correr em direção à redonda, que atingiu, antes de goleiro ou zagueiro, já na altura da pequena área. Preciso, com a canhota deu toque sutil para encobrir o arqueiro Rafael e virar o jogo. Inter 2 a 1. Inter, tricampeão estadual, dono do Rio Grande pela 36ª vez em sua história. Nilmar? Escolhido o melhor atacante do campeonato!

Imagens: Rede Globo

Embalado pela coroa gaúcha, Inter esteve sublime na rodada seguinte do Brasileirão. Azar do Galo, que não teve chance diante da exuberante atuação alvirrubra no Beira-Rio. Depois de descer para os vestiários com o placar igualado em 1 a 1, o Colorado desempatou, logo aos 4, com Nilmar, que ganhou na velocidade de Luiz Alberto, driblou o goleiro Eduardo e mandou rasteiro para a cidadela mineira.

Golaço, foi respondido pela torcida com os gritos de “Uh! Terror! O Nilmar é matador!”. O segundo do atacante no jogo, terceiro do Clube do Povo, veio aos 31. Também belíssimo, o tento serviu de antítese perfeita ao anterior, posto que, no lugar do jeito, a promessa usou da força para, da entrada da área, mandar arremate indefensável e garantir a vitória, que ainda foi encerrada, nos acréscimos, por Gavilán.


A breve parceria com o Capitão


Nilmar voltou a sofrer grave lesão após o show diante do Atlético-MG, desfalcando o Inter em sete rodadas do Brasileirão. Voltou à ativa somente no dia 20 de julho, em duelo contra o Corinthians, no Pacaembu. Encerrado com o placar em branco, o confronto teve como grande destaque a composição do ataque colorado, também formado por Fernandão, recém-chegado e já credenciado pelo Gol Mil, e Sobis, cada vez mais afirmado.

O técnico alvirrubro, diga-se, também era outro: no lugar de Lori, Joel Santana. Na volta de Nilmar ao Beira-Rio, a assistência do atacante para Danilo acabou ofuscada por infeliz revés diante do Juventude, vencedor por 2 a 1. O reencontro com as redes, em compensação, foi muito festejado. Aos 42 da etapa final, o atacante completou, de cabeça, cruzamento de Gavilán, virando para o Inter sobre o Paraná e encerrando um jejum de seis partidas sem vitória.

Imagens: Rede Globo

Imagens: Divulgação/CBF

O gol marcou, em definitivo, o início de nova fase iluminada na carreira do artilheiro. Primeiro, no dia 13 de agosto de 2004, Nilmar foi convocado para a Seleção Brasileira que disputaria, em Porto Príncipe, amistoso contra o Haiti, naquele que ficou conhecido como o ‘Jogo da Paz’, responsável por catapultar forte campanha desarmamentista em país que se encontrava mergulhado em grave crise política.

Já com a camisa colorada, o bom momento foi comprovado em partida contra o Figueirense, realizada no Beira-Rio. Imparável, Nilmar participou do tento de Fernandão, segundo da jornada, e ainda marcou dois na vitória por 4 a 0 sobre os catarinenses – o último de letra. Verdadeira obra de arte, a pintura correspondeu à 25ª bola na rede do artilheiro pelo Inter, e serviu de carimbo perfeito no passaporte do atacante que, do Gigante, partiu direto para a concentração da Seleção. Com o Brasil, inclusive, o craque também anotaria gol, o sexto no festivo triunfo sobre os caribenhos.

Desfalque na jornada de meio de semana válida pelo Brasileirão, Nilmar retornou para Porto Alegre em tempo de defender o Inter, contra o Coritiba, em confronto da terceira rodada do returno nacional. Na ocasião, formou dupla de ataque com Fernandão, e assistiu, de posição privilegiada, à bicicleta inesquecível do camisa 9, que abriu o placar no empate de 1 a 1. Breves 72 horas depois, o craque voltou a campo para, com o Clube do Povo, estrear na Sul-Americana.

Modorrenta, a igualdade sem gols com o Figueirense, em Florianópolis, serviu de injusto ponto final à empolgante e avassaladora primeira passagem de Nilmar pelo Inter, oficialmente terminada no dia 28 de agosto, quando o Clube do Povo oficializou a venda do atacante para o Lyon-FRA. De coração partido, a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande se despediu do craque entristecida, é claro, mas também convicta de que aquele não era um adeus, e sim até logo. Em breve, todos sabiam, o gramado do Beira-Rio reencontraria um de seus mais letais avantes. Nosso tapete, era fato, não aguentaria muito tempo longe de um dos maiores nomes nele escrito.


O retorno


Poucos atletas simbolizam o crescimento vivenciado pelo Inter na primeira década do século XXI com precisão comparável a Nilmar. Personificação ideal do gigantismo colorado, o atacante possui trajetória com a camisa alvirrubra que se confunde à história que trilhamos rumo ao topo. Curiosamente, exibe este posto mesmo sem ter participado das principais conquistas do Clube do Povo nos anos passados. Pelo menos, dentro de campo. Afinal, torcedor que é, jamais esteve completamente afastado do Beira-Rio.

“Comecei com 18 anos aqui.

Agora estou de volta, mais maduro

e consciente de que é preciso

dar ao máximo cada dia.

Me sinto em casa.”

NILMAR, NO RETORNO AO INTER

Na exata temporada em que Nilmar foi negociado, o Inter voltou a frequentar a elite do futebol latino, brilhando na Sul-Americana. Simultaneamente, o atacante dava seus primeiros passos por campos europeus, sempre na luta por vaga na Seleção Brasileira. Três anos depois, o craque retornou para sua casa, sediada no mesmo número 891 da Padre Cacique, mas completamente revolucionada em sua estrutura interna, agora campeã de América e Mundial. Boa parte das mudanças, inclusive, consequência do valor arrecadado pelo Clube com a negociação do atacante. Também ele, diga-se, era outro. Antes revelado como parte de geração promissora, agora desembarcava em Porto Alegre com o status de estrela, responsável por formar, junto de Fernandão e Iarley, uma nova linha de frente multicampeã com o Alvirrubro.

Nilmar foi oficialmente apresentado como reforço colorado no dia 17 de setembro de 2007. Encarando o estágio final de recuperação de cirurgia no joelho, o atacante sabia que, embora a velocidade fosse sua principal característica, desta vez era a cautela sua melhor aliada. Com ela, em menos de 30 dias realizou seu primeiro treino com bola e, na abertura de novembro, mês seguinte, estava relacionado para uma partida. Diante do Vasco faria, no dia 4, sua reestreia.

E que atuação! Todos acreditavam que a reestreia aconteceria apenas no segundo tempo, menos Abel. O comandante colorado, que escalou o Inter no 3-5-2, com Nilmar e Iarley formando dupla ofensiva municiada por Fernandão, teve sua ousadia recompensada cedo. Logo aos 7, o novo reforço alvirrubro superou a marcação com linda finta de corpo e, cara a cara com o goleiro, tentou por cobertura, por cima. Aos 14, o atacante desarmou o zagueiro adversário na entrada da área e driblou o arqueiro, mas, por detalhe, chegou atrasado para a finalização. Um minuto depois, decidiu ser garçom, e serviu assistência açucarada para Fernandão abrir o placar.

“O talento do Nilmar é incrível.

Ele é fora de série.

Com o que joga, merece Seleção”

FERNANDÃO, APÓS PARTIDA CONTRA O VASCO

Nilmar seguiu jogando em alto nível, apesar da forte chuva que caía em São Januário, até os 15 minutos da etapa final, quando foi sacado para a entrada de Roger. Do banco, viu seu substituto cavar pênalti convertido pelo Eterno Capitão, gol que garantiu importante triunfo. Empolgante, a atuação do craque foi escolhida pela torcida como a melhor da vitória colorada. Animadas, quase 30 mil pessoas encheram as arquibancadas do Beira-Rio para prestigiar o retorno oficial da cria ao Gigante, ocorrido em duelo contra o Cruzeiro.

“Está passando um filme na minha cabeça. Toda vez que vou treinar, olho para a concentração onde morei aqui no Beira-Rio. Aprendi a valorizar muito este clube. Vai ser um jogo especial para mim!”

Nilmar sobre a reestreia no Gigante

Dentro de campo, Nilmar atuou durante toda a primeira etapa, causando estresse à defesa mineira. Sacado no intervalo, comemorou, do banco de reservas, o gol de Alex, único da partida, marcado nos acréscimos do confronto. A aparição contra o Cruzeiro, inclusive, foi a última do atacante na temporada, uma vez que, com incômodo no ombro, o camisa 7 não participou das duas últimas partidas do Clube do Povo no ano, de modo a garantir que, no retorno aos trabalhos, previsto ainda para o mês de dezembro, consequência da disputa da Dubai Cup, estivesse em suas melhores condições.

Os atletas colorados se reapresentaram para a pré-temporada em 26 de dezembro. Uma semana depois, no dia 2 de janeiro, ocorreu o desembarque nos Emirados Árabes. A estreia na Dubai Cup, por sua vez, aconteceu no dia 5, diante dos alemães do Stuttgart. Válido pela semifinal, o confronto de alvirrubros foi encerrado com triunfo do Clube do Povo, placar de 1 a 0, gol de Alex. Titular, Nilmar formou, com Fernandão, a dupla de ataque do Inter, sustentada por um losango no meio de campo, de Maycon no vértice mais baixo, Magrão, na direita, Guiñazú, pela esquerda, e Alex, no topo.

Depois de enfrentar um irmão de cores na semifinal, o Clube do Povo lutou pela taça, no dia 7 de janeiro, contra seu xará italiano. Para o duelo, Abel Braga repetiu quase todo o time que superara o Stuttgart, à exceção de Índio. Lesionado, o xerife goleador deu lugar a Sidnei, que formou a defesa com Wellington Monteiro, na direita, Orozco, zagueiro, e Marcão, lateral-esquerdo, além do goleiro Renan.

Matador como sempre, Fernandão inaugurou o placar logo a um minuto, acertando lindo voleio de fora da área. Aos 40, os italianos da Internazionale empataram com Jimenez, após assistência de Ibrahimovic. Fazia-se necessário, portanto, vazar novamente o catenaccio milanês, lacrado por nomes como Júlio César, Maicon, Materazzi, Iván Córdoba, Burdisso e Javier Zanetti. Felizmente, o Inter também contava com grandes estrelas.

Nilmar, uma das principais, fez questão de deixar isso claro aos 19 minutos da etapa final, quando Marcão escorou de cabeça para a área, na medida para o camisa 7 emendar bicicleta cinematográfica direto para as redes rivais. Pintura, 26ª marcada pelo atacante com a camisa alvirrubra, foi a primeira depois de seu retorno e garantiu o título colorado, por isso sendo comemorada com lágrimas.

De volta ao Rio Grande do Sul, o Inter disputou a primeira rodada do Gauchão no dia 20 de janeiro. Após conquistar o Tetra entre os anos de 2002 e 2005, o Clube do Povo desejava encerrar o jejum de dois anos sem levantar a taça estadual. Para tanto, visitou o Inter-SM com o que tinha de melhor, formação que garantiu importante igualdade de dois gols para cada lado. Já o retorno para Beira-Rio, ocorreu no dia 24.

Contra o Veranópolis, vitória por 2 a 0, e Nilmar, garçom de Iarley no primeiro gol, escolhido o melhor em campo. Três dias depois, no Passo d’Areia, a goleada de 4 a 1 confirmou o grande início de temporada colorado. Infelizmente, no entanto, o confronto contra o São José-POA esteve marcado, também, por lesão muscular do jovem atacante, que se tornou desfalque para os meses de fevereiro e março.


Recuperação compressora


Nilmar voltou aos gramados em 5 de abril, dia seguinte ao aniversário de 99 anos do Clube do Povo. Contra a Ulbra, entrou no segundo tempo do confronto de volta das quartas estaduais e precisou de somente quatro minutos para, em uma de suas muitas arrancadas, ser derrubado dentro da área. Pênalti assinalado e, por detalhe, desperdiçado por Fernandão. A oportunidade não fez falta para o Colorado, que avançou com vitória por 3 a 2, agregado de 7 a 3.

Empolgante, o retorno deu para Abel a confiança necessária para escalar o atacante como titular. Assim ocorreu nos dois confrontos semifinais contra o Caxias, finalizados com classificação alvirrubra, e também nos duelos das oitavas da Copa do Brasil, diante do Paraná. Encarando o Tricolor da Vila, o camisa 7 cavou novo pênalti, este convertido por Fernandão, que garantiu o 5 a 1 para o Clube do Povo.

Na decisão gaúcha, frente ao Juventude, o atleta formou dupla de ataque com Fernandão, municiada, no confronto de volta, disputado no Beira-Rio, por Alex, que vivia grande fase. Com o trio atuando junto, o Clube do Povo superou o Papo por 8 a 1, e Nilmar, além de servir assistência para o Eterno Capitão anotar o segundo, marcou o sexto. A taça foi a terceira do camisa 7 com o Clube do Povo, que também passava a somar 27 bolas na rede com a camisa colorada.


Segundo semestre goleador


A empolgação colorada com o título estadual durou pouco. Na contramão da arrasadora goleada sobre os caxienses, as partidas seguintes foram frustrantes para a torcida alvirrubra. Na Copa do Brasil, o Inter foi eliminado para o Sport, enquanto, no Brasileirão, três rodadas sem vitória custaram a permanência de Abel Braga. Apesar do cenário conturbado, porém, Nilmar seguiu como uma das melhores notícias dos meses de maio e junho do Clube do Povo, marcando dois gols, contra Flamengo e Portuguesa, e servindo uma assistência nas cinco primeiras jornadas do Nacional.

Se a fase individual de Nilmar já era boa, a partir da chegada de Tite o coletivo também cresceu. Com problemas musculares, o atacante não foi a campo na estreia do novo comandante, ocorrida, com vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo, no dia 14 de junho de 2008, marcante data em que Fernandão se despediu do Inter. Na rodada seguinte, consciente da cobrança ainda maior por ocupar papel de protagonista no elenco colorado, o artilheiro, novo dono da camisa 9, retornou aos gramados marcando o gol alvirrubro em injusto revés para o Vitória, na Bahia. Uma semana depois, no Olímpico, teve participação direta no tento de Índio, o único do Clube do Povo no empate contra o maior rival.

Coroando o momento garçom, Nilmar também brilhou nas duas primeiras partidas do mês de julho. Contra o Coritiba, sofreu pênalti que Alex converteu – o camisa 10 fez os três gols do Clube do Povo no jogo. Já diante do Goiás, também no Gigante, o camisa 9 serviu Adriano, autor do único tento da invernal noite gaúcha. O reencontro com as redes aconteceu na 12ª rodada, quando o Inter superou o Atlético-MG, por 1 a 0, no Beira-Rio, que esteve tomado por 27 mil pessoas. O gol, de cabeça, saiu logo aos 6 da etapa inicial, após excelente cruzamento de Marcão. Na jornada seguinte, frente ao Náutico, o atacante liderou um Inter desfalcado, repleto de jovens, incluindo Walter e Taison, futuros campeões da América, e marcou o de empate no Recife.

A iluminada sequência de Nilmar atingiu ponto alto na noite do dia 23 de julho. Diante de um Beira-Rio lotado por mais de 40 mil pessoas, o centroavante balançou as redes do São Paulo em duas ocasiões na vitória colorada por 2 a 0. Com os gols, isolou-se ainda mais na artilharia alvirrubra na competição, chegando a sete no torneio. Pelo Clube do Povo, já eram 34.

O início de agosto também foi especial para o ídolo colorado. Logo no segundo dia do mês, o atacante encerrou sequência de duas derrotas consecutivas ao marcar dois contra o Fluminense, no Maracanã, e garantir a primeira vitória do Inter como visitante no Brasileirão. Duas rodadas depois, o camisa 9 reencontrou as redes para anotar o de empate contra o Figueirense, no Beira-Rio. Singular, o confronto diante dos catarinenses marcou a reestreia de Daniel Carvalho e Bolívar com o manto alvirrubro. Ex-companheiros de Nilmar, retornavam para garantir um segundo semestre de resultados ainda melhores ao Clube do Povo. A grande cereja do bolo, contudo, veio do exterior. Após desembarcar em Porto Alegre no dia 30 de julho, Andrés Nicolás D’Alessandro estrearia na rodada inaugural da Sul-Americana, marcada por clássico Gre-Nal no Gigante. Uma geração inesquecível, aos poucos, começava a ser montada.

É bem verdade que, com desconforto na panturrilha, Nilmar não foi a campo na estreia de D’Ale pelo Inter. A primeira partida dos dois juntos, inclusive, ficou marcada por dolorida derrota para o Vasco, no Rio de Janeiro. Até por isso, a expectativa da torcida era grande para o duelo entre Inter e Palmeiras, que ocorreria, no Beira-Rio, no dia 20 de agosto. Dentro de campo, o camisa 9 entraria em campo pela 100ª vez com o manto colorado. Somando 37 gols em duas passagens, o ídolo lutava, com seus 10 tentos, pela artilharia do Brasileirão, estando a quatro de Kléber Pereira, o goleador de então.

“Vem um filme na cabeça, lembrar que a carreira começou aqui, onde fiz meus primeiros jogos como profissional. Apesar de jovem, hoje já tenho um certo nome no futebol, sou reconhecido graças, ao Internacional. Devo muito a esse Clube. Não poderia ser outro melhor para ter a oportunidade de comemorar 100 jogos. Espero que eu possa jogar muitos mais pelo Inter!

Índio, Bolívar e Marcão na zaga. Magrão, Guiñazú e D’Alessandro no meio. Alex e Nilmar na frente. Debaixo de fina chuva, uma formação de altíssimo quilate foi a campo no Beira-Rio e patrolou o adversário paulista. A vitória colorada por 4 a 1 contou com participação do camisa 9, que tabelou com Alex antes deste marcar, em um foguete, o segundo vermelho, e sofreu falta que originou o terceiro alvirrubro, de autoria de Índio. O 11º gol do ídolo no Brasileirão saiu quatro dias depois, também no Gigante. Prejudicado pela arbitragem, o Clube do Povo jogou melhor, mas não saiu do 1 a 1 com o Flamengo.

De volta à Sul-Americana, no dia 28 de agosto o Olímpico virou Beira-Rio, com o Inter avançando às oitavas após empate de 2 a 2. Nilmar, depois de driblar diversos marcadores, abriu o placar no antigo estádio gremista. Em justo reconhecimento ao grande ano do atacante, 24 horas mais tarde ele seria convocado para a Seleção Brasileira do técnico Dunga.

Imagens: Rede Globo

Sem seus camisas 9 e 15, entregues às respectivas seleções de Brasil e Argentina, o Inter superou, no Beira-Rio, a Portuguesa, placar de 1 a 0. Quando Nilmar e D’Ale retornaram, o técnico Tite já havia promovido alteração importante no esquema colorado. No lugar do 3-5-2, o Clube do Povo vinha atuando com duas linhas de 4, estruturado em um losango, exata formação que enfrentou, no Rio de Janeiro, o Botafogo.

Como ocorrera ainda em janeiro sob o comando de Abel, Magrão e Guiñazú fizeram os lados direto e esquerdo do meio de campo. Na base esteve Edinho, verdadeiro cão de guarda, enquanto o armador foi D’Ale, que esbanjou grande entrosamento junto à dupla Alex e Nilmar. Dos pés do trio, inclusive, saiu o primeiro do Inter. D’Alessandro lançou o camisa 9 na linha de fundo, dentro da área carioca. Antes do goleiro, ele chegou na bola e colocou, com toque sutil, para o retângulo pequeno, na medida para o gol do 10. No segundo tempo, o argentino ainda faria o segundo do Clube do Povo, seu primeiro com o manto alvirrubro, último da vitória por 2 a 1 no Engenhão.

O Inter alcançou, na 26ª rodada, seu terceiro triunfo consecutivo no Brasileirão. Contra o Vitória, no Beira-Rio, Nilmar sofreu pênalti que Alex cobrou para marcar o único do Colorado na partida. Uma semana depois, após empatar, no dia 25, com a Universidad Católica, na abertura das oitavas da Sul-Americana, em 1 a 1, o Clube do Povo recebeu, em 28 de setembro, o Grêmio, atual líder do Brasileirão. A boa fase do rival motivou o presidente Paulo Odone a afirmar, antes do clássico 373, que os visitantes passariam a máquina sobre o Alvirrubro. Para sua infelicidade, o coitado mandatário acabou conhecendo a força do Rolo Compressor.

Uma seleção abraçada por seu povo, com Nilmar agachado, o segundo da direita para a esquerda

Logo aos 4, D’Alessandro, grande nome da partida, abriu o placar após voleio de fora da área. Aos 18, Tcheco até empatou, mas a igualdade durou míseros 10 minutos, tempo necessário para Alex, servido por El Cabezón, recolocar o Inter à frente no marcador. Nova assistência do argentino, aos 40, encontrou a cabeça de Índio, que fez o terceiro. Antes do intervalo, Nilmar, também completando cruzamento do camisa 15, marcou o seu 12º no Brasileirão e fechou o caixão gremista.

Inaugurado com classificação às quartas da Sul-Americana, outubro contou com dois gols de Nilmar para o Inter. O primeiro saiu no dia 4, quando o Clube do Povo foi derrotado, fora de casa, para o Coritiba, por 4 a 2. Já no dia 18, contra o Atlético Paranaense, o camisa 9 abriu o placar na vitória colorada por 2 a 1 no Beira-Rio. A partida mais emocionante do décimo mês do ano, todavia, foi disputada pelo torneio continental.

Mais de 36 mil colorados e coloradas lotaram o Beira-Rio na noite de 22 de outubro para empurrar o Inter em busca da vitória na partida de ida das quartas de final da Sul-Americana. Em campo, Clube do Povo, campeão da América em 2006, e Boca Juniors, vencedor da Libertadores de 2007, prometiam um duelo do mais alto nível. Recentemente, as duas equipes já haviam se enfrentado em confrontos eliminatórios válidos pelo mesmo torneio, integrantes das edições de 2004 e 2005 e encerrados, os dois, com o agregado de 4 a 2 para os hermanos. Demonstrando ter tirado importantes aprendizados dos encontros passados, o Colorado encurralou os visitantes desde o primeiro momento e, contando com show de Alex, venceu por 2 a 0, os dois gols marcados pelo camisa 10.

La Bombonera. Palco dos mais temidos do mundo, foi determinante para as classificações xeneizes sobre o Inter nos anos anteriores. Credenciado pela grande vitória do Beira-Rio, o Clube do Povo até tinha a vantagem para o jogo de volta, mas, calejado pelas frustrações passadas, sabia que regulamento algum poderia transformá-lo em favorito no palco hermano. Para sair com a vaga nas semifinais, a atuação precisaria ser irretocável, épica. E assim foi.

O Inter deu exemplo de raça, talento e organização na inesquecível noite de 6 de novembro. Inábalavel, ignorou o pulsar do caldeirão hermano, muito graças à genialidade do técnico Tite, que escalou o time com formação inédita. Na defesa, Álvaro integrou o miolo com Índio, enquanto Marcão e Bolívar fizeram as laterais. No gol, esteve Lauro. Do meio para a frente, foi repetida a poética nominata de sempre, com Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro; Alex e Nilmar. Depois de uma etapa inicial sem gols, o Clube do Povo abriu o placar ainda no primeiro minuto do tempo final. Responsável por, com sua velocidade e disposição, causar pesadelos à zaga argentina desde a semana retrasada, o camisa 9 colorado foi lançado pela direita e cruzou açucarada para Magrão. Com a canhota, o meio-campista mandou no travessão. A bola picou dentro, mas, por via das dúvidas, o próprio concluiu, de cabeça, para as redes, garantindo o tento. Riquelme ainda empatou para os locais aos 12, mas Alex, completando grande tabelinha com D’Alessandro, marcou, aos 27, o último do jogo. Que viesse o Chivas!


Campeão do continente


Uma vez garantido entre os quatro melhores da Sul-Americana, o Inter passou a encarar o torneio como obsessão. A tangibilidade do título, distante apenas quatro partidas, motivou o Clube do Povo a tratar a competição como principal objetivo para o final do ano. O ineditismo da taça, também. Nunca conquistada por uma equipe brasileira, a competição era a única, entre as de elite, que faltava no museu colorado.

Como a partir do duelo de ida das semifinais os confrontos eliminatórios seriam jogados semanalmente, sem tempo para respiro, uma equipe alternativa, repleta de grandes valores como Andrezinho, Sandro e Taison, assumiu a responsabilidade de disputar o Brasileirão. Ao mesmo tempo, a escalação estreada por Tite contra o Boca, formada por quatro zagueiros na linha defensiva, virou a titular, logo se provando capaz de brindar o povo vermelho com atuações sempre melhores a cada nova jornada.

Embora desfalcado por D’Alessandro, o Inter abriu em grande estilo o duelo por vaga na decisão continental. Em Guadalajara, o Clube do Povo anulou completamente as ações ofensivas do Chivas. Ao mesmo tempo, contando com o apuro de Andrezinho na armação, os comandados de Tite apresentaram contra-ataques tão afinados quanto o sistema defensivo, e perturbaram a defesa mexicana com as escapadas conduzidas pelo ritmo da dupla Alex e Nilmar, sempre acompanhada dos incansáveis Guiñazú e Magrão. Desta forma, aos 24 da etapa final, o camisa 9 colorado abriu o placar.

Após troca de passes rápidos na intermediária ofensiva, Andrezinho criou espaço percebido por Magrão. O camisa 11 se lançou pelo centro e, na hora certa, abriu o jogo com Nilmar, que dominou, no mano a mano, pela esquerda da área adversária. Lépido, chamou o zagueiro Reynoso para dançar, cortou para a direita e mandou rasteiro, no contrapé do goleiro. Inter na frente!

Menos de 10 minutos depois, Índio lançou o artilheiro nas costas da marcação, que só conseguiu conter o paranaense com falta. De muito longe, Alex assumiu a responsabilidade e mandou direto, surpreendendo o goleiro Hernández. No placar, 2 a 0, e a vantagem garantida para a volta.

O decênio inaugural do século XXI brindou a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande com diversos esquadrões inesquecíveis. Na memória dos adultos, estas formações, campeãs de Libertadores e Mundial, somaram-se à Academia do Povo da década de 70 para ocupar lugar privilegiado na nostalgia colorada. De sua parte, os mais antigos, frequentadores do Estádio dos Eucaliptos, também não pouparam comparações entre os escretes dos anos 2000 e Rolo Compressor ou Rolinho. Fértil, portanto, a mitologia alvirrubra não carece de gerações mágicas, o que evidencia o futebol encantador praticado pela de 2008. Afinal de contas, para muitos torcedores e torcedoras trata-se, graças ao seu toque de bola hipnótico, da melhor formação de nossa história – pelo menos recente. Certamente, as quase 40 mil pessoas que encheram o Beira-Rio no dia 19 de novembro compartilham desta certeza.

Diante do Chivas, o Inter foi a campo decidido a confirmar sua vaga na final com autoridade. Mais do que ratificar o grande momento da equipe, uma vitória correspondia à única homenagem possível para Arthur Dallegrave, histórico dirigente alvirrubro falecido dois dias antes do duelo. Contando com o retorno de D’Alessandro, o Clube do Povo teve como único desfalque Alex, convocado para a Seleção Brasileira. Na vaga do camisa 10 entrou Taison, oferecendo ao público um prelúdio do que ele e Nilmar seriam capazes de produzir no ano do Centenário vermelho. Embalado pela dupla de ataque, que atuou na mesma intensidade do Beira-Rio, frenético, o Colorado abriu o placar aos 19 minutos com D’Ale, cobrando pênalti que ele mesmo sofrera. Aos 35, o argentino voltou a balançar as redes, desta vez em batida de falta.

Ainda antes do intervalo, a dobradinha alucinante converteu seu primeiro tento na partida, terceiro do Inter. Aos 43, Taison cobrou escanteio fechado, buscando olímpico. Atento, Hernandez impediu o golaço com tapa de grande reflexo, mas, para sua infelicidade, a sobra ficou na medida para Nilmar. De cabeça, o camisa 9 se atirou em direção à bola e, com ela, estufou as redes mexicanas.

A proximidade da final, que teria sua disputa aberta em apenas sete dias, motivou o time colorado a reduzir a intensidade para o segundo tempo. No lugar dos arranques, brilharam os passes, delirantes para uma torcida que respondeu à ilusão das triangulações com uma outra tão bela quanto: a ola. Vivo, o Beira-Rio assistiu à assistência milimétrica de Taison, aos 25, acionando Nilmar. Imaginando ter encontrado o antídoto perfeito para conter o camisa 9 alvirrubro, o goleiro adversário deixou o gol em alta velocidade, como que tentando superar o pique de nosso ídolo. Ao desespero rival, o craque respondeu com sua tradicional genialidade e, por cobertura, marcou o quarto e último do Inter, seu quarto na Sul-Americana e 45º com o manto vermelho.

Os pincharratas tomaram o Estádio Ciudad de La Plata, na noite de 26 de novembro, convictos de que o Halloween argentino seria comemorado com um mês de atraso. Certos de que la brujita Verón causaria pesadelos à zaga colorada, apostavam na enfeitiçada perna canhota do craque para largar em vantagem na luta pela taça latino-americana. Não contavam nossos vizinhos, contudo, com a força do folclore brasileiro. Às maldições que tentaram pregar, o Inter respondeu honrando o Saci que tem como mascote. No lugar da perna, apenas, o que nos faltou foi um jogador, pois Guiñazú, injustamente, foi expulso aos 24 da primeira etapa. Cenário dramático? Ao Clube do Povo, nada mais do que motivação para aprontar em terras castelhanas.

Ludibriado Estudiantes, acreditou que a superioridade numérica cobraria menor dedicação defensiva, e se lançou ao ataque sem qualquer pudor. Fechado em duas linhas de quatro, a segunda formada por D’Alessandro, Magrão, Guiñazú e Alex, o Inter se retraiu sorridente, tranquilo. Por quê? Bom, acontece que, para quem tem Nilmar, qualquer centímetro de espaço vira latifúndio.

O relógio indicava 32 minutos quando D’Alessandro recuperou a posse para o Inter, ainda no campo de defesa, e tentou armar contra-ataque. O gringo, ainda vestindo a 15, entortou dois marcadores e cavou arremesso lateral, que o pressionado Bolívar cobrou em direção ao ataque. Após corte parcial da zaga, Nilmar deixou com El Cabezón. De primeira, com a canhota, o argentino devolveu para o avante, lançando em profundidade. O camisa 9 chegou nela antes de Desábato, que não aceitou comer poeira e desferiu um pontapé no jovem colorado. Pênalti, que Alex cobrou duas vezes para valer.

Gigante travessura era forçar o adversário a furar uma retaguarda de Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão. Pelo chão, o espaço inexistia. No alto, conseguir vantagem sobre os xerifes não passava de delírio. De longa distância, os arremates normalmente explodiam na muralha. Pior ainda, quando superavam o quarteto era preciso vazar um iluminado Lauro. Ao mesmo tempo, o trio de ouro formado por Alex, D’Alessandro e Nilmar produzia tudo que o rival sonhava em criar. Assim, a derrota por 1 a 0 acabou ficando barata para os mandantes, que escaparam de perder o título ainda nos 90 minutos iniciais.

Nada passou pela defesa colorada

Não existia assunto mais comentado entre os latinos ao longo do dia 3 de dezembro de 2008 que a final da Sul-Americana. No Brasil, a crônica esportiva celebrava a iminente conquista do Clube do Povo, afirmando que, ao erguer o troféu, o Inter se tornaria o único brasileiro Campeão de Tudo, dono de todas as taças possíveis para um time da elite de nosso continente. Com a mesma confiança, 51.803 colorados e coloradas lotaram o Beira-Rio e transformaram nossa casa em um verdadeiro caldeirão, decidido a cozinhar o Estudiantes.

Terceiro em pé da esquerda para a direita, Nilmar disputou sua primeira final continental pelo Inter

A euforia dos de fora, é bom registrar, somente era convertida em motivação pelos colorados, tanto torcedores quanto atletas. O clima de ‘já ganhou’ passava longe da Padre Cacique, onde a decisão foi disputada no limite até o último apito. Melhor em campo na primeira etapa, o Inter não conseguiu ampliar sua vantagem nos 45 minutos iniciais. Por outro lado, o Estudiantes aproveitou seu principal momento no jogo para, aos 20 do segundo tempo, balançar as redes alvirrubras, igualar o escore da partida de ida e obrigar a disputa da prorrogação.

Só o Inter jogou no tempo extra. Praticamente reduzido ao retângulo de sua área, o Estudiantes sofria para respirar, tamanha a pressão colorada. Orquestrado por D’Alessandro, que tinha a companhia dos recém-entrados Sandro e Gustavo Nery, o Clube do Povo encurtou o campo de jogo pela metade, com Danny Morais e Álvaro, os zagueiros titulares da decisão, atuando postados na altura do grande círculo. Bolívar e Marcão alternavam no apoio, atendendo aos movimentos de El Cabezón, enquanto Taison, que substituira Alex, e Nilmar tratavam de abrir espaços no ferrolho argentino. Mesmo assim, apesar do bombardeio alvirrubro e devido a milagre do goleiro Andújar, os primeiros 15 minutos não alteraram o placar.

Os comandados de Tite seguiram martelando na etapa final. Qualquer cruzamento ou passe vertical, contudo, parecia carregar, mais do que o cansaço de quase duas horas de partida, a pressão das penalidades. Tão grande quanto a vontade de vencer era o receio de permitir uma escapa rival. Diante de tamanha tensão, somente a leveza e a alegria típicas da juventude poderiam fazer diferença. Taison aceitou sua responsabilidade e, representando o Celeiro de Ases, partiu para cima de dois marcadores, cavando escanteio.

O relógio apontava 8 minutos e 5 segundos quando D’Alessandro fez a cobrança. Na entrada da pequena área, a bola encontrou a cabeça de Danny, que testou para baixo. Andújar, milagroso, voou para espalmar, mandando a redonda em direção ao travessão. Na frente de Gustavo Nery ela picou, ao que o atleta respondeu emendando de voleio. Uma vez mais, o goleiro salvou, mas dando rebote. Na frente do gol aberto. Na frente da abençoada goleira do placar. Na frente do pé esquerdo de Nilmar.

Imagens: Rede Globo

Pouco mais de cinco anos após ser revelado por um Inter que lutava para voltar ao topo, Nilmar tinha, diante de sua canhota, a oportunidade perfeita para colocar o Clube do Povo no mais alto posto do continente. No Estádio que lhe servira de casa, podia virar herói e fazer explodir como nunca as arquibancadas sob as quais no passado dormira. Demonstrando o faro artilheiro tão bem conhecido pela Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, não perdoou. Gol! Gol chorado, suado, brigado, lutado e, sem sombra de dúvidas, colorado. Gol de título, que valeu por todos os outras. Incontestavelmente, virávamos campeões de tudo! E o Beira-Rio? Ficou catártico!

Nilmar encerrou o ano amplamente requisitado pelo futebol estrangeiro. Artilheiro, ao lado de Alex, na conquista da Sul-Americana, o atacante ainda foi eleito o melhor em campo da finalíssima continental. Mais do que isso, diante do Estudiantes fechou a temporada da mesma maneira que abrira, ainda em janeiro: com gol de título. Ao todo, ao longo de doze meses mandou 21 bolas às redes rivais, totalizando 46 tentos com o manto colorado. O risco de perder o craque, consequentemente, era alto. Mas o ídolo decidiu ficar para o Centenário do Clube do Povo.


Ídolo renascentista


O Inter abriu 2009 com uma grande novidade para o ataque. Após se destacar como alternativa de velocidade para a linha de frente na temporada anterior, Taison iniciou com tudo o ano do Centenário colorado. Na quarta rodada do Gauchão, assumiu a titularidade da equipe, transformando o antigo trio de ouro em um poderoso quarteto ofensivo. Neste mesmo confronto, jogado contra a Sapucaiense, no Beira-Rio, Nilmar marcou seus primeiros tentos depois das férias, o segundo recebendo assistência da jovem promessa, demonstrando o entrosamento crescente da dupla, que na semana seguinte encararia seu maior teste.

A cidade de Erechim recebeu, no dia 8 de fevereiro, o Gre-Nal 374. Primeiro clássico da temporada, lotou as arquibancadas do Colosso da Lagoa, que estiveram divididas pela metade. Dentro de campo, o Inter contou com Lauro; Danilo, Índio, Álvaro e Marcão; Magrão, Guiñazú, D’Alessandro e Alex; Taison e Nilmar. Cedo na partida, El Cabezón cobrou falta da intermediária ofensiva, pela esquerda, com veneno. Viva, a bola triscou a cabeça de Wiliam Magrão e morreu nas redes tricolores. A vantagem colorada perdurou até os 16 da etapa final, quando Jonas empatou para os azuis, deixando o duelo completamente em aberto. Nos espaços criados, quem brilhou foi a dupla de ataque do Clube do Povo.

Aos 37 minutos, depois de cobrança de falta que explodiu na defesa alvirrubra, Taison ficou com a sobra e disparou em altíssima velocidade. Apenas um atleta, dentre os 22 que estavam em campo, conseguiu acompanhar seu ritmo: Nilmar. Como um raio, o camisa 9 abriu pela direita e foi percebido pelo 7, que ofereceu assistência primorosa. Sem nem dominar, o autor do gol do título da Sul-Americana soltou a bomba da entrada da área e mandou no ângulo de Victor. Vitória colorada!

Que não tratem Nilmar como grosseiro. Duas rodadas após a vitória no Gre-Nal, o camisa 9 retribuiu a generosidade de Taison servindo um par de assistências para o camisa 7, que brilhou na goleada por 5 a 1 sobre o Caxias. Escalado entre os 11 iniciais na ocasião, o lateral-esquerdo Kleber, recém-chegado, fez uma de suas primeiras partidas com a equipe titular, e soube explorar o ritmo alucinante da veloz e furiosa dupla de ataque do Clube do Povo. A sinfonia alvirrubra ficava cada vez mais afinada, e nem mesmo a saída de Alex, negociado com os russos do Spartak de Moscou, abalou a dinâmica da equipe. No lugar do canhoto, entrou Sandro, encorpando o meio de campo nas quartas e semis do turno estadual. Para chegar à decisão, inclusive, o Colorado voltou a contar com seu centroavante, que marcou bonito gol sobre o Novo Hamburgo, abrindo a vitória por 2 a 0.

A finalíssima foi de novo clássico. Homem Gre-Nal que era, Nilmar, por incrível que pareça, passou em branco, embora tenha causado problemas para a defesa gremista. Por sorte, a ausência de seus gols foi compensada pelo faro artilheiro da dupla Índio e Magrão. Com um gol cada, garantiram a vitória por 2 a 1 e a Taça Fernando Carvalho. O goleador voltou a marcar na segunda rodada do returno, contra o Brasil-Pel. No Bento Freitas, deu uma assistência e anotou um tento, seu quinto no Gauchão. Os números só não seguiram crescendo nas jornadas seguintes pois o paranaense recebeu folga, no início da segunda metade de março, para celebrar seu casamento.

Parecia impossível, mas o matrimônio conseguiu melhorar ainda mais a fase de Nilmar. Na primeira partida que disputou levando a aliança no dedo, o camisa 9 marcou três gols no passeio colorado em Bento Gonçalves, finalizado com vitória de 6 a 2 sobre o Esportivo. Taison, contando com duas assistências de sua dupla ofensiva, marcou outra trinca, comprovando que, dentro de campo, o casamento de atacantes alvirrubros também vivia grande momento.

Quatro dias depois de atropelar o Esportivo, o Inter voltou a brindar os fãs do bom futebol com novo confronto emocionante. O empate de 3 a 3 com o Juventude, em Caxias, garantiu a primeira colocação do grupo e a certeza de que o Beira-Rio sediaria todas as partidas eliminatórias da Taça Fábio Koff. Tudo isso, entretanto, ficou em segundo plano. O grande destaque no Alfredo Jaconi foi, como de costume, Nilmar, que marcou dois gols para o Colorado, o primeiro inspirado na genialidade de Pelé. Como fizera o Rei na decisão da Copa de 1958, nosso camisa 9 aplicou lindo chapéu no marcador, após receber passe de Taison, e, sem deixar a bola picar, emendou de primeira, com a direita. Uma pintura, tão bela quanto as de Michelangelo ou Da Vinci, mas longe de ser a mais bonita que o craque produziria na temporada.

Nas quartas de final do segundo turno, outro clássico Gre-Nal foi disputado no Beira-Rio. Desta vez, ainda mais especial do que o confronto era a data em que a partida ocorreria. Apenas 24h após completar 100 anos de história, o grupo alvirrubro foi a campo, no dia 5 de abril, consciente de que a vitória correspondia ao melhor parabéns possível para a biografia do Clube do Povo. Apoiado por cerca de 45 mil colorados e coloradas, o Inter não se abalou com o gol de Tcheco, abrindo o placar para os visitantes aos 18, e, ainda no primeiro tempo, viu Nilmar enozar a coluna de Thiego. Irritado, o zagueiro respondeu com um carrinho. Pênalti e gol de Andrezinho. Na etapa final, D’Alessandro deixou Índio na frente de Victor, e o defensor artilheiro não titubeou, mandando de cobertura para as redes.

Contra a Ulbra, nas semifinais, o camisa 9 voltou a marcar. De cabeça, fez o primeiro dos quatro gols colorados no Beira-Rio. Com a goleada, o Inter garantia vaga na decisão do segundo turno. Vencedor do primeiro, caso levantasse nova taça seria, também, campeão gaúcho. Rodeada de expectativas, a finalíssima foi disputada, em 19 de abril, no Gigante, que, apesar do frio e da chuva, recebeu um público de quase 40 mil pessoas. Repetindo o escore do ano anterior, o Clube do Povo teve atuação perfeita para despachar o Caxias por 8 a 1. Nilmar, que marcara nas finais de 2003, 2004 e 2008, fez dois, chegando a 13 no Gauchão, e ainda deu assistência para Guiñazú. Magrão, duas vezes, Álvaro, Taison e D’Alessandro fecharam o espetáculo.

Encerrado o Gauchão, Nilmar decidiu que era hora de balançar redes em outras competições. Na abertura das oitavas da Copa do Brasil, anotou o primeiro da vitória colorada por 3 a 0 sobre o Náutico, no Recife. Além dele, Taison e Marcelo Cordeiro garantiram importante vantagem, aumentada, na volta, após triunfo por 2 a 0 no Beira-Rio, gols de D’Alessandro e Taison. Superado o Timbú, era hora de encarar o Flamengo.

Antes do confronto de quartas de final diante dos cariocas, aconteceria a abertura do Brasileirão. Em São Paulo, Inter e Corinthians realizaram duelo de campeões estaduais, que teve o 1 a 0 para os visitantes como placar final. Não é a frieza dos números, contudo, quem melhor narra o que ocorreu naquela tarde de Pacaembu. Tudo começou com um bom lançamento de D’Alessandro para Nilmar, aos 9 minutos do primeiro tempo. O atacante recebeu pela ponta direita e, distante de seus companheiros, apostou na velocidade para encarar a defesa corintiana. Liso, passou por um, dois, três, quatro, cinco marcadores até pisar na área. Dentro do retângulo alvinegro, teve tranquilidade para brecar o embalo com que percorrera o campo e dar um corte no sexto defensor. Com ângulo para o pé direito, chutou rasteiro, colocado, direto no canto do goleiro Felipe. Uma peça de antologia, um gol de gênio, construído com toques mais belos do que qualquer afresco, quadro ou tela jamais foi capaz de conhecer.

Após boa atuação no empate que abriu a disputa por vaga nas semifinais nacionais, e participar do gol de D’Alessandro, segundo na vitória do Inter por 2 a 0 sobre o Palmeiras, em partida da segunda rodada do Brasileirão, Nilmar jogou o fino da bola no épico triunfo do Clube do Povo sobre o Flamengo, conquistado nos últimos minutos diante de um Beira-Rio lotado. Inteligentíssimo, o camisa 9 percebeu erro de passe do lateral Juan e, antecipando-se à marcação, disparou em velocidade com campo livre, pela esquerda. Já dentro da área, rolou para Taison, que marcou o primeiro de jogo que teria em Andrezinho o grande protagonista. No dia seguinte à classificação, o craque colorado foi convocado, junto do companheiro Kleber, para duas jornadas das eliminatórias da Copa do Mundo e, também, para a Copa das Confederações de 2009.

Antes de se apresentar à Seleção, Nilmar voltou a ser garçom de Taison, acionando o camisa 7 para que este marcasse o primeiro gol do Inter contra o Coritiba. Válido pelas semifinais da Copa do Brasil, o confronto foi encerrado com vitória de 3 a 1 do Colorado. Já com a Amarelinha, o camisa 9 do Clube do Povo marcou gol no duelo frente ao Paraguai, integrante das Eliminatórias. Na campanha vencedora da Copa das Confederações, foi a campo em uma ocasião, contra a Itália.

De volta ao Beira-Rio, Nilmar marcou dois gols na primeira partida que disputou pelo Brasileirão. Em Recife, foi o artilheiro solitário da vitória colorada sobre o Náutico, anotando o primeiro como centroavante, na pequena área, e o segundo em lindo chute no ângulo da meta adversária. Uma semana depois, contra o Athletico-PR, em Curitiba, o atacante descontou no revés de 3 a 2 para os locais. Também foi dele a bola na rede gremista no clássico 377, realizado no Olímpico.

Aos 25 anos, somando 64 gols em 150 partidas disputadas com a camisa colorada, Nilmar foi vendido para o Villareal no dia 24 de julho. Na primeira passagem, após surgir como promessa, foi vendido com status de craque. Assim retornou, para então ser negociado já enquanto ídolo. Nas graças da torcida, fez questão de se despedir através de comunicado endereçado ao povo vermelho. Feliz com a oportunidade de brilhar em uma das principais ligas do futebol mundial, não escondeu a dor por deixar amigos em Porto Alegre, nem a vontade de, no futuro, retornar para o Beira-Rio. Atitude gigante, como sempre foram suas atuações.

“Vou sempre estar torcendo pelo Inter, que foi muito especial na minha vida. Quero agradecer por tudo que a torcida fez por mim. Não sou gaúcho, mas vou morar em Porto Alegre no futuro. Sou colorado graças ao carinho que sempre tive aqui. Quero deixar um agradecimento, que o Inter continue crescendo cada vez mais. Nós, jogadores, estamos de passagem, mas o Clube continua com seus 100 anos de história. Espero que brilhe cada vez mais”


De volta para casa


Diferente do que os desavisados possam ter imaginado, a sexta-feira 19 de setembro de 2014 não foi um dia de jogo do Inter em Porto Alegre. Mesmo assim, o Beira-Rio recebeu grande público na data, que entoou, ao longo de toda a tarde, canto dos mais clássicos destinado a um atleta colorado. Uníssonas, mais de quatro mil pessoas bradavam que ali estavam para ver os gols de Nilmar. O motivo? A volta do craque ao seu clube de coração.

Anunciando como reforço no dia 16 de setembro, Nilmar retornou ao Inter com um currículo ainda mais encorpado. Jogador de Copa do Mundo, convocado para a edição da África do Sul, desembarcou, aos 30 anos, em um estádio de nível internacional, que recentemente sediara a disputa de cinco jogos do Mundial do Brasil. Também o Clube do Povo, então bicampeão de Libertadores e Recopa, demonstrava, ao atacante, estar em contínuo crescimento. Além disso, não era só a torcida que estava empolgada com o retorno do ídolo, como comprova o vídeo abaixo.

Vindo do banco, Nilmar reestreou pelo Inter no dia 9 de outubro, fora de casa, diante da Chapecoense. Comandando por Abel Braga, na rodada seguinte pôde, contra o Fluminense, reencontrar o gramado do Beira-Rio. Uma semana depois, foi titular contra o Corinthians, e balançou as redes ao marcar o gol colorado na derrota por 2 a 1. Entre os 11 inicias seguiu na jornada posterior, disputada contra o Flamengo, no Maracanã.

O segundo gol marcado por Nilmar em sua terceira passagem pelo Inter saiu contra o Bahia, no Beira-Rio. Aos 38 da primeira etapa, o camisa 7 tabelou com Jorge Henrique, recebeu na altura da marca do pênalti, dominou com a canhota, fez o giro e soltou a bomba de pé direito. O tento foi último da partida, vencida por 2 a 0, escore que recolocou o Clube do Povo no G-4. O atacante também foi titular em duelo frente ao Santos, na Vila, quando o Colorado encerrou jejum de 25 anos sem vitórias no Alçapão praiano, bem como no Gre-Nal 403, disputado na Arena, e no clássico nacional frente ao São Paulo, no Morumbi. Neste, sofreu lesão muscular na coxa direita, que o tornou desfalque para as últimas rodadas do Brasileirão.

Classificado para a fase de grupos da Libertadores após encerrar o Brasileirão na terceira posição, o Clube do Povo abriu o ano de 2015 realizando amistoso com o Juventude, em Caxias. Acostumado a aprontar no Jaconi, Nilmar marcou o primeira na vitória por 3 a 1 sobre o Papo. Um possível início de ano artilheiro, contudo, foi abreviado por problemas físicos, que tornaram o atacante desfalque para muitas das rodadas iniciais do Gauchão. Mesmo assim, retornou em grande estilo para os confrontos decisivos, e brilhou, como de costume, na decisão, disputada contra uma de suas principais vítimas, o Grêmio. Na finalíssima, sediada no Beira-Rio, o camisa 7 marcou o primeiro e deu assistência para Valdívia anotar no segundo e garantir a 44ª taça estadual do Clube do Povo, quinta consecutiva.

A Copa Libertadores de 2015 foi a primeira que Nilmar disputou com a camisa colorada. Campeão continental em 2008, quando marcou o gol do título da Sul-Americana, o camisa 7 jamais havia entrado em campo, vestindo o manto vermelho, para uma partida do principal campeonato das Américas. Na campanha que deu ao Inter a terceira colocação no torneio, o atacante encontrou grande destaque principalmente na fase de grupos, onde marcou três gols, dois deles na goleada por 4 a 1 sobre a Universidad de Chile, em Santiago, e outro no Gigante, diante do Emelec, após assistência mágica de D’Alessandro. Na partida de ida das semifinais, o craque ainda teve participação fundamental nos gos de El Cabezón e Valdívia.

O craque também marcou seus gols no Brasileirão. Logo na terceira rodada, fez o do Inter no empate por 1 a 1 com o Vasco, em São Januário. Na comemoração, reverenciou a estátua de Romário, localizada atrás de uma das metas do campo alvinegro. Na sexta jornada do Nacional, o Camisa 7 voltou a balançar as redes, desta vez contra o Coritiba, em partida disputada exatamente um ano após o falecimento de Fernandão, Eterno Capitão colorado e ex-companheiro de Nilmar. Seu terceiro e último tento na competição saiu no duelo posterior ao realizado contra os paranaenses. No Itaqueirão, abriu o placar, diante do Corinthians, depois de linda tabela com Rafael Moura, aos 40 da etapa inicial.

Nilmar provavelmente não sabia, mas disputou sua última partida com a camisa colorada em 26 de julho de 2015, quando Inter e Ponte Preta empataram sem gols no Moisés Lucarelli. Poucos dias depois, foi selada a venda do atleta para o Al Nasr, equipe de Dubai. Menos artilheira do que suas predecessoras, a terceira passagem do ídolo pelo Beira-Rio contou com 10 gols marcados em 35 jogos disputados, números que em nada deixaram de ser positivos, comprovando a facilidade para balançar redes que sempre acompanhou a cria do Celeiro de Ases.

Ao todo, foram 185 aparições com o manto do Clube do Povo e 64 as bolas na rede. Mais do que isso, inúmeras as lágrimas que em sua face deixou correr, e em nossos olhos fez surgir. Jogador decisivo, identificado com nossas cores e história, protagonista nos grandes momentos e companheiro de paixão e arquibancada. Referência, ocupa posto de luxo em nossa biografia, e é um dos maiores que tivemos o privilégio de assistir ao longo de ricos 111 anos de vida. Ídolo na acepção da palavra. Colorado, também. Eterno, por óbvio. Obrigado por tudo, Nilmar!

A vitoriosa trajetória de Guiñazú pelo Inter

Estádio Defensores del Chaco, 27 de julho de 2006, duelo de ida das semifinais da Libertadores. Transcorridos 34 minutos da etapa inicial, Índio corta cruzamento perigoso do adversário, mas a bola sobra, na entrada da meia-lua, com o camisa 17 do Libertad, que domina no peito e, já dentro da área, chuta com a canhota. Rasteiro, o arremate beija a trave de Clemer e cruza a extensão da meta. Os donos da casa ficam com o rebote e criam nova oportunidade, defendida pelo goleiro colorado. Perigo, definitivamente, afastado. Assim foi o primeiro capítulo da marcante história entre Inter e Guiñazú, o quase algoz vermelho.


A chegada ao Clube do Povo

Alguns meses depois, no dia 14 de junho do ano seguinte, há exatos 13 anos, Clube e atleta tornaram a se cruzar. Desta vez, em episódio feliz para ambos: a apresentação de Pablo Horacio Guiñazú como jogador do Sport Club Internacional. Aos 28 anos, o volante não escondeu a ansiedade em sua primeira fala à imprensa, destacando a vontade de retribuir, o quanto antes, toda a expectativa da torcida para com seu futebol e estrutura disponibilizada a ele pelo Colorado.

Um breve hiato, no entanto, retardou o primeiro ato oficial do novo casamento. Contratado do exterior, Guiñazú só poderia estrear com a camisa do Inter a partir de agosto, quando seria aberta a janela para transferências internacionais. Desta forma, restou ao atleta se preparar para, assim que legalizado, estrear – e como El Cholo se preparou, a ponto de logo adotar Porto Alegre não apenas como residência, mas também lar!

“Estou me sentindo em casa.

Fui muito bem recebido!

O pessoal na rua me reconhece

por causa da minha careca!”

Guiñazú, antes mesmo de estrear pelo inter

“Ele é muito dedicado. Algumas vezes temos até que pedir que pegue um pouco mais leve na intensidade, para que não acabe sofrendo uma lesão. É um atleta exemplar.” Com estas palavras, Flávio Soares, auxiliar de preparação física do Clube do Povo, definiu a intensidade dos treinos do argentino. Guiñazú, inclusive, não era o único sedento por ir a campo, e tinha sua angústia compartilhada pelos igualmente recém-contratados Magrão e Jorge Luís, lateral-esquerdo.

O esperado momento de estreia chegou no dia 5 de agosto, em duelo contra o Cruzeiro, fora de casa. De grande exibição, o argentino, vestindo a 11, sobressaiu-se na região central do campo, mas nem mesmo seu ímpeto foi capaz de conter os mandantes, que atuavam diante de um Mineirão cheio. Escore final, um injusto 3 a 2.

Guiñazú seguiu encantando a torcida ao longo de todo o semestre final de 2007, especialmente a partir da chegada de Abel Braga, no mês de agosto. Treinado pelo comandante vencedor de América e mundo na temporada anterior, El Cholo se provou extremamente polivalente, muitas vezes atuando na ala esquerda do 3-5-2, assim repetindo, com Alex, dobradinha similar à que o ídolo dos chutes precisos fizera, em 2006, com Jorge Wagner. Incansável, caiu como uma luva em engrenagem já existente, assim fascinando o povo vermelho, também por sua indescritível vibração e aguçada qualidade na afiada canhota.

Novos reforços, a exemplo de Nilmar e Sorondo, foram apresentados no Beira-Rio nas semanas seguintes à chegada de Guina, assim encorpando o elenco que se preparava para alcançar grandes feitos em 2008. O ano de estreia de Cholo chegou ao fim com o Inter classificado à Sul-Americana e Pablo Horacio conquistando, de vez, a paixão dos colorados.


A pré-temporada inaugural

Embora sonhasse em colher alegrias, dificilmente Guiñazú imaginava ser tão feliz quanto foi com a camisa do Clube do Povo. Apresentando exatos sete dias após a conquista da Tríplice Coroa, não demorou para levantar sua primeira taça com a camisa colorada. Pelo contrário, o troféu chegou ainda na primeira semana de 2008.

Estou encantado pelo Inter, de coração!

Quero retribuir todo o carinho.

Tenho certeza que ainda serei muito

feliz aqui!

GUIÑAZÚ, EM ENTREVISTA CONCEDIDA NO FINAL DE 2007

Internacionalmente reconhecido e admirado, o Colorado foi convidado para participar, no mês de janeiro, da Dubai Cup, torneio disputado por instituições de grande tradição que integrou a pré-temporada alvirrubra. O período de treinos foi iniciado ainda em 2007, no dia 26 de dezembro, uma semana antes do desembarque nos Emirados Árabes, realizado após viagem de grande estilo, como a imagem abaixo comprova.

A estreia na Copa aconteceu no dia 5 de janeiro, diante do Stuttgart-ALE, e foi encerrada com vitória por 1 a 0, gol de Alex. Apenas 48 horas depois, o Clube do Povo voltou a campo para, contra a Internazionale-ITA, disputar a finalíssima, também vencida pelo Alvirrubro, agora por 2 a 1, golaços de Fernandão e Nilmar. De sua parte, mesmo tendo deixado o campo lesionado, Guiñazú foi eleito, em enquete no site do Inter, o melhor da finalíssima, dando o tom do protagonismo que exerceria no ano que estava por vir.


O primeiro título estadual

Capaz de afastar o motorzinho colorado dos gramados, a contusão não pôde se considerar vencedora na luta contra o abissal preparo físico do argentino. Após breves semanas entregue aos cuidados do departamento médico, Guiñazú retornou à ativa antes do previsto e com sangue nos olhos. Sua primeira exbição depois da injúria, ocorrida no dia 10 de fevereiro, deixava claro o tamanho do problema que aguardava os adversários colorados. Impecável, atuou por 80 minutos na ala-esquerda e foi um dos destaques na goleada alvirrubra por 5 a 0 sobre o Brasil, em Pelotas.

Titular absoluto, Guina voltou aos gramados com a mesma competência que apresentara nos meses anteriores, oferecendo grande contribuição à notória campanha alvirrubra na primeira fase do Gauchão, encerrada com 32 pontos conquistados através de 10 vitórias, duas derrotas e mais um empate. Além do tradicional brilho nos desarmes e passes, contudo, o argentino também tratou de inaugurar, nas primeiras semanas de 2008, um raro instante artilheiro em sua carreira. Ainda em fevereiro, anotou uma pintura de perna direita na goleada de 4 a 0 do Clube do Povo sobre o Nacional-PB, na fase inicial da Copa do Brasil. Já em março, o tento, marcado em um irônico carrinho, teve como vítima o Canoas, em partida de abertura das quartas de final do Estadual.

O alto nível de exibições, é bom lembrar, não ficou restrito a Guiñazú, que teve seu brilho acompanhado por diversos companheiros, fato comprovado nas goleadas aplicadas sobre Paraná, por 5 a 1, na partida de volta das oitavas da Copa do Brasil, e Juventude, derrotado na finalíssima gaúcha por acachapante escore de 8 a 1. Para a decisão contra o Papo, inclusive, Cholo deu nova demonstração de sua obstinação ao ir e campo e atuar durante os 90 minutos somente duas semanas após ser submetido a uma artroscopia! A recompensa para tamanha garra, sempre acompanhada de grande qualidade, foi a inquestionável vaga na seleção do Campeonato. Aos poucos, o que poderia ser uma corriqueira paixão platônica tomava contornos de idolatria.


A mágica formação campeã continental

Um início de Brasileirão claudicante, seguido das saídas de líderes como Fernandão, Iarley e Abel Braga, ameaçou um ano que, desde seu alvorecer, prometia grandes feitos à torcida. Foi então que o Clube do Povo se reforçou, como que anunciando, para quem quisesse ouvir, que o recente campeão de América e mundo seguia buscando taças. Desta vez, com novos nomes. Entre eles, Guiñazú, que tinha seu desempenho reconhecido, inclusive, no principal escalão do futebol mundial.

Estou muito bem no Clube,

todos me tratam maravilhosamente.

Não troco grana nenhuma por isso,

estou muito à vontade e aqui vou ficar!

Guiñazú, ao anunciar sua permanência no inter

No início do segundo semestre, o argentino recebeu propostas do futebol árabe, sedutoras pelos altos valores envolvidos, mas prontamente rechaçadas pelo atleta, que se mostrava decidido a fazer história no Inter. Na mesma época, Guiñazú virou matéria no site da FIFA, sendo definido como ‘a alma do time colorado’. Denominação, diga-se, nada exagerada para o meio-campista, um carregador de piano, como diriam os antigos, mas que exibia qualidade rara para os que costumam ocupar a faixa de campo que lhe servia de casa.

Foi exatamente contando com este aguerrido pulmão argentino que Tite construiu, para o quarto e último trimestre de 2008, um dos maiores esquadrões do Inter neste século. Verdadeira seleção alvirrubra, era escalada com um losango no meio de campo, e encontrava no camisa 5, bem como no parceiro Magrão, alicerce perfeito para o trio ofensivo formado por Alex, D’Alessandro e Nilmar. À leveza dos avantes, o argentino respondia com a dose ideal de imposição física. Era, também, a experiência internacional necessária para um reformulado grupo, bem como o responsável por caprichosos desarmes que protegiam a forte defesa estruturada por Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão. Em outras palavras, Guiñazú correspondia a um ingrediente chave na receita da Academia do Povo campeã da Sul-Americana.

No intervalo, vimos que o Guiñazú

estava muito desanimado pela expulsão.

Então, combinamos de dar algo a mais

para vencer por ele!

NILMAR, APÓS A PARTIDA DE IDA DA DECISÃO DA SUL-AMERICANA

Eleito o melhor jogador no Gre-Nal que serviu de estreia para o Colorado no torneio, ‘El Cholo’ esteve praticamente imparável ao longo da competição. Deixou de atuar apenas na partida de ida das oitavas, preservado, e na abertura das quartas de final, lesionado para enfrentar o Boca, no Beira-Rio. Além disso, o volante, que chegou a sofrer uma luxação no cotovelo durante a Sul-Americana, também foi desfalque para a finalíssima, consequência de injusta expulsão que sofrera durante a vitória colorada por 1 a 0 sobre o Estudiantes-ARG, em La Plata. A ausência, entretanto, em nada abalou a paixão da torcida pelo craque, que teve seu nome ovacionado antes do embate que consagrou o Inter campeão.


O capitão do centenário

Mais do que campeão, Guiñazú abriu 2009 como capitão. Posto histórico, em se tratando do ano de centenário do Internacional, que foi assumido pelo infatigável volante com naturalidade, soando como simples desdobramento na caminhada que vinha trilhando desde sua chegada a Porto Alegre, marcada por liderança e exemplo. Mais do que na braçadeira, a imagem de referência exercida pelo argentino podia ser atestada na capa de chuva que usava em todos os treinos realizados no verão, vestida com o único objetivo de aumentar sua resistência física.

Se em 2007 o encaixe entre Inter e Guiñazú fora quase instantâneo, de maneira ainda mais rápida aconteceu a consagração do ídolo como capitão. Quatro meses após empunhar a faixa, levantou a taça do Gauchão, título conquistado de maneira invicta e abrilhantado por gol do argentino na final, disputada contra o Caxias. Cholo anotou o quinto dos oito marcados pelo Clube do Povo, que sofreu apenas um para reeditar o escore da decisão da temporada anterior. Excepcional ao longo do torneio como de costume, foi escolhido, ao lado de outros seis companheiros, para a seleção do Estadual.

O troféu do Rio Grande foi o primeiro dos dois que Guiñazú ergueu na temporada – o outro foi da Copa Suruga. Formando, com Sandro, nova dupla na abertura do meio de campo colorado, encontrou rápido entrosamento com a jovem promessa, e assim foi escolhido o melhor volante do Brasileirão, prova do destaque que alcançou nas campanhas vice-campeãs nacionais em 2009. No campeonato de pontos corridos, ainda marcou, contra o Goiás, seu quarto (e último) gol pelo Clube do Povo.


Campeão da América

Prestes a disputar sua primeira Libertadores com a camisa colorada, Guiñazú iniciou o ano de 2010 sonhando, é claro, mas, principalmente, suando. Na formação de Fossati, o capitão cansou de se sacrificar pela equipe, atuando em diversas funções do meio de campo em decorrência das variações do comandante, que gostava de alternar a formação entre o 4-4-2, quando local, e o 3-6-1, nas partidas disputadas longe do Gigante.

“Sonho todos os dias em

levantar a taça da Libertadores,

mas agora é hora de trabalho.”

GUIÑAZÚ, NA PRÉ-TEMPORADA DE 2010

Classificado para a fase eliminatória do torneio sul-americano na liderança de sua chave, o Inter perdeu a invencibilidade que ostentara ao longo dos grupos logo no primeiro duelo de mata-mata. Dolorido, o revés por 3 a 1 para o Banfield foi respondido, por Guiñazú, com convocação à Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, multidão tida pelo ídolo como capaz de, com sua energia, contaminar os atletas em campo. Ao todo, mais de 35 mil pessoas atenderam ao convite do argentino, lotaram o Beira-Rio e garantiram a vaga nas quartas da América!

A tranquilidade no caminhar de um capitão que objetivava apenas o triunfo

Contra o Estudiantes, Guiñazú teve exibição de luxo no gramado do Beira-Rio, sendo um dos grandes responsáveis pela vitória conquistada já nos minutos finais. Na Argentina, contagiou o elenco com seu espírito imbatível, áurea que foi fundamental para a classificação rumo às semis, conquistada nos minutos derradeiros através do esfumaçado arremate de perna direita desferido por Giuliano.

Se é verdade que o argentino chegou a ceder a faixa de capitão para Bolívar após a Copa do Mundo de 2010, também não se pode contestar o empenho do ídolo, que seguiu entregando tudo de si dentro de campo. Titular nas 14 partidas da campanha campeã, Guiñazú superou até mesmo as expectativas mais otimistas para continuar brilhando nas semis, contra São Paulo, e final, diante do Chivas. No seu melhor estilo de jogador incansável, disputou todas as 14 jornadas do Inter na competição, correndo mais de uma centena de quilômetros em campo, geralmente na luta por cada palmo do gramado, para se converter em um dos principais rostos do elenco bicampeão da América.


Novo ano, nova taça

Temporada na qual completou 200 jogos pelo Inter, 2011 também foi, para Guiñazú, um ano marcado por taças. Multicampeão, o argentino parecia não conceber a mínima possibilidade de passar 365 dias consecutivos sem levantar troféus. Logo em maio, vestiu a faixa de vencedor gaúcho, participando da última volta olímpica do Estádio Olímpico, tradicional casa de nosso rival.

O último time campeão no Estádio Olímpico

Foi em agosto, contudo, que o grande momento da temporada chegou. Lesionado, Guiñazú não disputou a primeira partida da Recopa, realizada no dia 10 de agosto, no Estádio Libertadores da América, contra o Independiente-ARG. Duas semanas depois, entretanto, o ídolo fardou sua camisa 5 e ajudou o Inter a virar o placar, aplicando 3 a 1 no ‘Rojo’ e garantindo o bicampeonato no torneio.

Elenco vencedor da Recopa Sul-Americana

No último trimestre da temporada, Cholo ainda formou, com Tinga, grande dupla de volantes, importante na boa campanha colorada no Brasileirão. Foi a partir deste momento, inclusive, que o argentino se consolidou como responsável pela abertura do meio de campo alvirrubro, exercendo a função de primeiro homem, no passado recente desempenhada por nomes como Edinho, Sandro e Wilson Mathias. Lado a lado, os motorzinhos da Libertadores de 2006 e 2010 garantiram vaga na competição continental da temporada seguinte, finalizando em grande estilo mais um capítulo vitorioso para o Clube do Povo.


O capítulo final

O último ano de ‘Cholo’ no Inter foi marcado por nova conquista, o Gauchão, seu quarto no Clube do Povo. Além disso, líder como sempre, o argentino também ajudou o Colorado a construir campanhas livres de maiores percalços ao longo de período no qual o Beira-Rio passou a acumular cada vez mais setores interditados, fruto da reforma com vistas para a Copa do Mundo do Brasil.

Igualmente em 2012, o ídolo superou a casa dos 250 jogos, aumentando e enriquecendo ainda mais sua vasta biografia com a camisa vermelha. As convocações para a Seleção, já presentes no passado recente, foram multiplicadas a ponto de, no final da temporada, Guina ser indicado, pela primeira vez em sua carreira, ao prêmio ‘Rei das América’. Craque!

Agora o Inter ganha

mais quatro torcedores:

eu, meus filhos e minha esposa!

GUIÑAZÚ, NA COLETIVA DE DESPEDIDA

A trajetória de Pablo Horacio ‘el Cholo’ Guiñazu nas cercanias da Padre Cacique foi encerrada no dia 5 de janeiro de 2013, antes mesmo do início da pré-temporada alvirrubra. Encarando problemas particulares, o ídolo teve seu pedido de desligamento do Clube prontamente atendido, em demonstração de gratidão do Colorado para com seu craque. Icônico camisa 5, o volante finalizou sua história no Inter concedendo emocionante entrevista no CT Parque Gigante.

O momento mais marcante de sua despedida, todavia, aconteceu longe dos microfones, quando foi ovacionado por centenas de colorados e coloradas que o aguardavam para um justo até logo. Somando 282 partidas disputadas, incontáveis milhões de gotas de sangue e suor despejadas, além, é claro, de uma cadeira cativa e perpétua no coração da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande conquistada, Guina, Cholo ou ídolo, chame como quiser, foi preciso ao definir a eterna relação que levará junto ao Clube do Povo por toda sua vida. Paixão, esta, recíproca, compartilhada com uma multidão que jura amor eterno ao argentino que tanto honrou o manto alvirrubro. Salve, Guiñazú!

Nós jamais deixamos de acreditar

Uma camisa pesada não mostra seu valor apenas no momento de levantar a taça. Um time, para se tornar gigante, não pode esperar sofrer apenas nos instantes que antecedem a consagração de um título; pelo contrário. É no dia a dia, a cada mês ou ano, que uma equipe campeã forma sua casca. Poucas têm a mesma que o Inter, especialmente em confrontos eliminatórios. Há exatos 11 anos, no dia 20 de maio de 2009, foi o Flamengo quem provou da força colorada. Relembre a emocionante jornada!


Uma geração inesquecível

Falar sobre a geração que encantou Brasil e América entre os semestres de encerramento de 2008 e início de 2009 exige voltar um pouco mais no tempo. Apontada por muitos colorados como dona do futebol mais vistoso visto no Beira-Rio nas últimas décadas, a equipe começou a ser montada ainda em 2007.

Iniciada de maneira claudicante, a temporada seguinte à dos títulos de Libertadores e Mundial teve seu primeiro semestre encerrado com a taça da Recopa. Uma semana após a conquista, o Inter anunciou oficialmente o meio-campista Guiñazú, reforço que sucedeu, em poucos dias, a chegada de Marcão. Já em julho, quem desembarcou na capital gaúcha foi Magrão, logo acompanhado pela dupla de zagueiros Orozco e Sorondo. Fechando a janela de transferências, o último contratado do ano foi Nilmar, à época já consagrado como ídolo do povo vermelho.

De sua parte, o ano de 2008 foi iniciado com a conquista da Copa Dubai, feito sucedido pela chegada de Andrezinho, meio-campista de notória qualidade técnica. Sob o comando de Abel Braga, o atleta conquistou, no mês de maio, o título gaúcho. Na época, o comandante do Mundial vinha alcançando grandes resultados, a exemplo da goleada por 8 a 1 sobre o Juventude, na finalíssima estadual, e da incrível virada sobre o Paraná, nas quartas de final da Copa do Brasil. Importantes para encaminhar um fim de primeiro semestre positivo, os triunfos passaram pela segurança de uma defesa formada pelos titulares absolutos Índio e Marcão, contaram com a consistência de um meio de campo aberto por Magrão e Guiñazú, e ainda atestaram a letalidade de uma linha de frente estrelada por Nilmar, Iarley, Fernandão, Alex e, por vezes, André.

O início do Brasileirão, contudo, reverteu o cenário de otimismo até então vivenciado no número 891 da Padre Cacique. Como consequência, no dia 12 de junho foi anunciado um novo comandante para o Internacional. Tite chegou e, com ele, vieram mudanças impactantes no elenco. A maior de todas, sem dúvidas, foi a saída de Fernandão, após quase quatro anos de sua estreia pelo Colorado. Na semana anterior, Iarley também deixara o Clube. Novos craques, portanto, eram necessários para atender à expectativa de uma torcida cada vez mais habituada a torcer por grandes nomes. Os primeiros a chegar, inclusive, foram velhos conhecidos. Bolívar e Daniel Carvalho desembarcaram em Porto Alegre no mês de julho, assim como Gustavo Nery, Danilo Silva, Rosinei e, alguns dias depois, D’Alessandro, argentino contratado com status de ídolo. Por fim, em agosto vieram Álvaro, para a zaga, e Lauro, goleiro.

Lauro; Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão; Edinho, Magrão, Guiñazú e D’Alessandro; Alex e Nilmar. Frequentes, ainda, Clemer, Andrezinho, Ângelo, Gustavo Nery, Adriano e Taison. Poesia? Não, apenas os nomes mais recorrentes do elenco campeão da Sul-Americana em dezembro de 2008, taça até então inédita para o futebol brasileiro, erguida após decisão contra o Estudiantes, coroando campanha invicta que passou por cima, também, de Grêmio, Universidad Católica, Boca Juniors e Chivas Guadalajara.

O troféu consagrou a excelente fase de uma equipe que parecia jogar por música, e que, para 2009, teve grande parte de sua espinha mantida. As mudanças ficaram por conta de Alex, Marcão e Edinho, que partiram. Em seus lugares, assumiram, respectivamente, Taison, Kléber e Sandro. O primeiro e o terceiro já estavam no grupo, enquanto o lateral, de Seleção Brasileira, chegou no início do novo ano. Para a composição do elenco vieram, ainda, entre outros, nomes como Glaydson, Marcelo Cordeiro, Giuliano e Alecsandro.

Dentro de campo, o nível, excelente, foi mantido – se não aprimorado. A também invicta conquista do Gauchão serve de prova irrefutável. Afinal de contas, o Estadual foi levantado com o Clube do Povo vencendo os dois turnos do Campeonato. O primeiro após superar o maior rival, e o segundo depois de acachapante goleada por 8 a 1. Sete atletas alvirrubros foram escolhidos para o time dos melhores do certame, incluindo as três novidades na escalação titular, além de Índio, Guiñazú, D’Alessandro e Nilmar. Taison, registre-se, ainda foi escolhido como craque, revelação e artilheiro da competição. Definitivamente, aquele era um time afinado, sempre embalado pelo ritmo de uma torcida eufórica, que festejava um escrete que performava à altura de um ano marcado pelo Centenário do Inter.


Campanha (quase) irretocável

A estreia do Inter na Copa do Brasil esteve marcada por resultado surpreendente. Apoiados por milhares de torcedores e torcedoras residentes no Mato Grosso, os comandados de Tite foram derrotados pelo União Rondonópolis, no dia 18 de fevereiro, por 1 a 0. Escalado com o time titular, o Clube do Povo não conseguiu repetir as boas atuações do Gauchão e voltou para Porto Alegre com a árdua missão de, na partida de volta, precisar buscar triunfo de dois gols de diferença. Para tanto, teve duas semanas de preparação, tempo suficiente para conquistar o primeiro turno do Gauchão e elevar a confiança, ainda maior a partir do impulso de 26 mil pessoas que, no Beira-Rio, seguiram incessantes na cantoria mesmo após o intervalo chegar com o placar inalterado. A recompensa veio na etapa final, com os gols de Índio e Alecsandro, ambos pegando rebote de bola na trave. Os tentos, valorizados também pelo grande ferrolho da equipe do centro-oeste, que contava com Odvan, experiente, e Rodrigo Moledo, jovem, em sua zaga, garantiram o Colorado na segunda fase do torneio.

Pouco mais de um mês após eliminar o União, o Inter viajou para Campinas, onde enfrentou, no dia 8 de abril, o Guarani, abrindo a fase de número dois da Copa do Brasil. Vivendo intensa maratona, o Clube do Povo acabara de avançar para as semifinais do segundo turno do Gauchão depois de superar o Grêmio, por 2 a 1. Além disso, o Alvirrubro ainda festejava seu Centenário, comemorado há apenas 96 horas. Contra o cansaço, Tite apostou na fase iluminada de Taison, que abriu o placar aos 27, completando grande trama de Guiñazú e Andrezinho. Na etapa final, o camisa 7 voltou a balançar as redes, desta vez aos 41, após tabela com Giuliano. Os dois gols de vantagem dispensavam a necessidade de um confronto de volta, mas a exaustão gaúcha cobrou seu preço aos 43, quando Romário descontou para os mandantes e deu números finais à jornada.

Leve. Assim o Inter chegou para a disputa dos últimos 90 minutos do duelo contra o Guarani. Não apenas pela vantagem conquistada no jogo de ida, mas também pela data do confronto, realizado em 22 de abril, apenas três dias depois da goleada por 8 a 1 sobre o Caxias, que confirmou ao Clube do Povo o título gaúcho, 39º de sua história. À vontade em campo e escalado com equipe praticamente completa – Nilmar foi o único desfalque, dando lugar a Alecsandro -, o Colorado abriu o placar logo aos 7, em jogada que contou com participação do centroavante, desviando cobrança de falta de Kleber na medida para Índio, que completou para as redes. De garçom, o camisa 9 passou para artilheiro, cabeceando, aos 16 minutos, cruzamento feito por D’Alessandro, que aplicara seu ‘La Boba’ antes de erguer na área. Ainda antes do intervalo, o gringo voltou a servir passe açucarado, este para Taison, que mandou um balaço para anotar o terceiro.

Alçado a campo na vaga de Kleber, Marcelo Cordeiro foi o garçom do quarto gol. O lateral cruzou na medida para Alecsandro, que testou no contrapé do goleiro, marcando o seu segundo na noite. O tento foi o penúltimo da partida, acompanhado, na etapa final, pelo de Bolívar, que fez o quinto após nova jogada apoteótica de D’Alessandro. Estávamos nas oitavas, e somávamos absurdos 52 gols em 16 partidas disputadas no Gigante em 2009. Que campanha!

A abafada Recife sediou o primeiro duelo entre Inter e Náutico pelas oitavas de final da Copa do Brasil. Ocorrida no dia 29, a partida foi a última das sete disputadas pelo Clube do Povo no mês de seu Centenário. A vitória por 3 a 0, construída graças a uma atuação de gala, fechou com chave de ouro um abril de 100% de aproveitamento, e foi conquistada apesar do acidentado gramado dos Aflitos e do desfalque do lesionado Sandro, que deu lugar a Glaydson. Maestrada, novamente, por D’Alessandro, a dupla Nilmar e Taison perturbou a defesa do Timbú. Exatamente de tabela dos avantes, inclusive, saiu o primeiro, verdadeira pintura, assinada pelo camisa 9. Na etapa final, o 7 ampliou, e ainda houve tempo para Marcelo Cordeiro, aos 38, fazer o terceiro, completando jogada do argentino meio-campista.

O Inter não precisou de muito tempo para, no duelo de volta, tornar ainda mais larga sua vantagem. Com a mesma formação da partida de ida, o Clube do Povo abriu o placar logo a um minuto. Taison interceptou troca de passes da defesa adversária na altura da intermediária, partiu em disparada, invadiu o grande retângulo e finalizou na saída do goleiro para inaugurar o marcador. Seis minutos depois, D’Alessandro cobrou falta com maestria, fazendo a bola voar de sua canhota direto para o ângulo esquerdo da meta recifense. Com o 2 a 0 no escore, coube ao Colorado administrar o resultado e esperar pelo apito final, que confirmou a classificação para as quartas nacionais.


A ida no Maracanã

Diante de mais de 52 mil pessoas, Flamengo e Inter disputaram, na noite de 13 de maio, a primeira partida das quartas de final da Copa do Brasil. Percebido muito antes do apito inicial, quando funcionários do Estádio proibiram os atletas colorados de subir a campo para realizar o aquecimento, o clima de decisão que pairava sobre a capital carioca se desdobrou em uma partida extremamente intensa. Logo aos 9, por exemplo, Everton carimbou a trave alvirrubra. No rebote, Nilmar escapou em velocidade, superou a marcação e foi travado apenas na área rival, já engatilhando o chute. Sete minutos mais tarde, Lauro operou um milagre em chute de Angelim, oportunidade respondida pelo Clube do Povo em cobrança de falta de D’Alessandro. Nos instantes finais da primeira etapa, Juan ainda acertou o poste vermelho, enquanto Nilmar, de novo ele, exigiu boa defesa de Bruno. Desta forma, o primeiro tempo chegou ao fim com o placar inalterado.

“Contamos com o apoio da torcida,

no Beira-Rio, para lutar

pela classificação”

Sandro, após a partida

Disposto a garantir vantagem para o jogo de volta, o Flamengo retornou para o segundo tempo com postura ainda mais ofensiva. Bem postado na defesa, contudo, o Inter, que contou com atuação gigantesca do capitão Guiñazú, não ofereceu espaço aos mandantes, que abusaram de bolas alçadas e finalizações de longa distância. O passar do tempo, acompanhado das entradas de Alecsandro e, principalmente, Andrezinho e Rosinei, conferiram ao Colorado maior fôlego para os momentos finais, marcados por domínio gaúcho. Aos 41, André cobrou falta no ângulo, exigindo milagre do arqueiro rival. Dois minutos depois, quando a torcida vermelha já dominava o som ambiente do Maraca, o meia finalizou na trave, em lance que ainda teve Rosinei pegando o rebote e exigindo nova defesa salvadora do goleiro adversário. Infelizmente, a pressão alvirrubra não foi coroada com gol, e o duelo foi encerrado com o 0 a 0 no placar. Tudo ficava em aberto para o Beira-Rio, onde Magrão e Bolívar seriam desfalques após terem recebido o terceiro cartão amarelo.


O jogo decisivo

Na véspera do duelo de volta, os ingressos para o confronto já estavam esgotados. Completamente mobilizada, a torcida ansiava por, após conquistar Mundo e América, acumular novas vitórias especiais em âmbito brasileiro. Mais do que isso, superar um tradicional adversário significava, além de que manter vivo o sonho do título nacional, seguir escrevendo feitos relevantes com uma geração rara na história do futebol brasileiro.

Minutos antes de o jogo ser iniciado, o Beira-Rio percebeu que a noite não seria decidida apenas nas quatro linhas. Ventos de áureos tempos sopraram na direção do Guaíba quando, ao mesmo tempo, Rafael Sobis e nosso Eterno Capitão pisaram no gramado do Gigante. Ídolos pelo que fizeram dentro de campo, naquele instante se preparavam para viver 90 minutos como membros da mais bela massa anônima de que se tem registro; o povo colorado. Durante a partida, nada mais seriam do que parte da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, e, com eles nas arquibancadas, uma boa dose de misticismo passou a ser esperada. Ao lado do público que lotava o templo da Padre Cacique, a dupla de heróis aplaudiu cada um dos nomes anunciados no telão da casa alvirrubra. Para campo, naquele 20 de maio, Tite mandou: Lauro; Danilo Silva, Álvaro, Índio e Kleber; Sandro, Rosinei, Guiñazú e D’Alessandro; Taison e Nilmar.

O confronto foi iniciado de maneira muito elétrica. Meticuloso, ciente de que um gol adversário poderia comprometer todo o planejamento, o Inter soube cozinhar um Flamengo que parecia pronto para aprontar. Ineficaz, a rotação carioca não custou a diminuir, logo cedendo espaço a uma das mais intensas duplas já vistas.

Primeiro, aos 37, Taison recebeu de Nilmar, arrancou e fuzilou. O goleiro defendeu, mas, além de incendiar ainda mais o Beira-Rio, o lance também despertou de vez os endiabrados pés que compunham nossa linha de ataque. Custaram 5 minutos para que o camisa 9 desarmasse a zaga rival, superasse a marcação e, com precisão, servisse seu parceiro. Como um rolo compressor, o jovem número 7 honrou a história de seu manto para, antes das chegadas de defesa ou arqueiro, concluir. Gol! Para o momento da descida aos vestiários, pelo menos, a classificação era nossa.

Reiniciado o confronto, o Flamengo começou a abrir suas asas e arriscou com Ibson, em finalização de fora da área que saiu à direita. Taison e Rosinei, na sequência, responderam reforçando o domínio colorado nas ações do jogo. Cada chance desperdiçada era lamentada por 47 mil gargantas, que também souberam reforçar a zaga, vaiando quaisquer jogadas cariocas, e compor o ataque, empurrando o Inter a plenos pulmões.

Multidão alguma, contudo, pôde conter a troca de passes entre Ibson e Kléberson, que encontrou Emerson livre para marcar. Aos trinta minutos, a igualdade era estabelecida, restando ao Inter mísero quarto de hora para alcançar a classificação. Duro baque para torcida e grupo, o cenário cobrava por imediata volta por cima, ou seria tarde demais. E a resposta, que também veio dentro de campo, foi encontrada principalmente na força de um Gigante lotado, que serviu de principal motor para a vitória.

O apoio emanado das arquibancadas era tamanho que nem mesmo os narradores, no conforto de suas cabines e ao lado de seus microfones, conseguiram se fazer ouvir diante do grito de milhares. Em uníssono, uma massa perfeitamente amorfa e desordenada convocou o Inter, sua paixão, a atacar. E o Colorado, consciente de que tinha seu povo consigo, respondeu. Ateste com seus próprios ouvidos:

Frequentando assiduamente a área adversária, o Clube do Povo não hesitou em apostar nos cruzamentos e bolas paradas para encurralar os visitantes. Dominado, o Flamengo não conseguia reagir e se entregava à ansiosa espera pelo encerramento da partida, única alternativa que restava no horizonte carioca. Houve, inclusive, instante em que as finalizações coloradas superaram o goleiro adversário. Mesmo nestes momentos, porém, surgiram, sobre a linha, indigestos pés rubro-negros para salvar os rivais. Até que Tite chamou Andrezinho.

Tenho que exaltar a torcida, o grupo

e a comissão técnica, que sempre

acreditaram em mim. É um dia especial.

Foi o gol mais importante!”

Andrezinho, no final da partida

Perito nas cobranças de falta, o camisa 17 foi agraciado com rara oportunidade aos 43 minutos da etapa final, quando Glaydson sofreu cama de gato de Ibson. De frente para a meta flamenguista Andrezinho encarou, mais do que o goleiro Bruno, um aglomerado de alvirrubros, e pareceu entender o que diziam os olhos de cada colorado que o mirava. Por breves segundos, a saudosa meta do Placar se tornou o epicentro do futebol brasileiro. No recorte de relva onde a bola repousava foi depositada a benção do Eterno Capitão, que das arquibancadas apoiava. O cobrador, por sua vez, incorporou ao seu iluminado pé direito a precisão de Valdomiro. Viveu, também, a emoção de ser Escurinho. Talismã.

Autorizado, respirou e deu início ao mais longo de seus caminhares. Um, dois, três, quatro passos. Pé de apoio posicionado. O beijo da perna destra dado. No ângulo da baliza, o destino endereçado. Treme o Beira-Rio.

Em dívida no escore, o Flamengo bem que tentou encontrar seu gol. Completamente anestesiado pelo perturbador urro que ecoava no trepidante Beira-Rio, entretanto, nada encontrou. Aos pontuais 49 minutos e 45 segundos foi ouvido o decisivo apito, e a classificação estava garantida. Em direção à torcida partiram os heróis para, definitivamente como um só, torcida e time celebrarem o inesquecível triunfo. Inter, semifinalista!

Ex-goleiro Lauro concede entrevista para a Rádio Colorada

Campeão da Copa Sul-Americana de 2008, o ex-goleiro alvirrubro Lauro concedeu entrevista para a Rádio Colorada na última quarta-feira (08/05). O arqueiro, que após conquistar a taça continental em seu primeiro ano de Clube seguiu no Inter até 2011, revelou que contraiu o Covid-19 no último mês de março, quadro do qual já se encontra recuperado. Além disso, ainda lembrou dos tempos de atleta no Beira-Rio e comentou como tem sido sua rotina morando em Porto Alegre. Confira abaixo:

De segunda a sexta, a partir das 18h, a Rádio Colorada apresenta o ‘Programa do Inter’, exibição que traz todas as atualizações sobre o dia a dia do Clube do Povo. Feito de torcedor(a) para torcedor(a), o Programa pode ser acompanhado através do APP oficial do Clube do Povo.

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Escolha o seu gol preferido da história colorada!

O Clube do Povo sempre escreveu suas glórias através de precisas finalizações de cabeça, canhota ou pé direito. Pensando nisso, lançamos a nossa torcida o desafio de escolher o melhor gol, entre os selecionados, da história colorada. Os critérios são os mais subjetivos possíveis: você pode decidir pelo mais bonito, o mais importante, o mais improvável, o mais marcante, ou o que preferir! Disponível em nossas redes sociais, a enquete, organizada em formato de chaveamentos eliminatórios (imagem abaixo), conta com tentos anotados em diferentes décadas, por vários ídolos. Confira-os a seguir:

Falcão x Atlético-MG

Válido pelas semifinais do Brasileirão de 1976, o confronto entre Inter e Atlético-MG brindou o público que lotou o Beira-Rio com duelo do mais alto nível. Após encerrar o primeiro tempo atrás no marcador, o Clube do Povo buscou a igualdade com Batista, aos 33, e passou a pressionar em busca do gol da virada, que saiu aos 46, após tabela inacreditável entre Falcão, Dario e Escurinho. Verdadeira obra de arte, à altura de seu autor e de uma equipe campeã!

Figueroa x Cruzeiro

Coube ao Inter, dono de DNA desbravador e pioneiro, estabelecer o nome do futebol gaúcho em território nacional. Em 1975, o Clube do Povo chegou à decisão do Brasileirão após campanha magnífica, com direito à vitória sobre a ‘Máquina Tricolor’, no Rio, nas semifinais. Disputada contra o Cruzeiro, a finalíssima encontrou em Figueroa, o zagueiro craque, seu único artilheiro, capaz de vencer não apenas a defesa mineira, mas também o céu nublado, para abrir o placar para o Colorado.

Valdomiro x Corinthians

O segundo título nacional do Inter veio na temporada seguinte ao primeiro. Em 1976, o Colorado enfrentou o Corinthians, no Beira-Rio, na final do Brasileirão. A taça, já habituada ao número 891 da Padre Cacique, foi conquistada graças a dois lances de bola parada. No primeiro, Valdomiro acertou a barreira, mas Dadá não perdoou no rebote. Depois, o camisa 7 e ídolo colorado executou mais uma de suas muitas cobranças magistrais. Esta explodiu no travessão antes de vencer a linha fatal e, de uma vez por todas, consagrar o Clube do Povo bicampeão!

Nilson x Grêmio

A maior edição do principal clássico do Brasil aconteceu em fevereiro de 1989. Confronto de volta da semifinal do Brasileirão de 1988, o Gre-Nal do Século foi antecedido por empate sem gols no Olímpico, e exibiu roteiro capaz de invejar qualquer cineasta premiado. Na primeira etapa, vitória parcial dos visitantes e expulsão do lado vermelho. No segundo tempo, dois gols de Nilson, o primeiro de cabeça, e Inter, com um a menos, vitorioso e classificado. Que tarde!

Iarley x Vasco

O gol de bicicleta é uma paixão planetária. O nível de dificuldade exigido para executá-lo, provavelmente, encontra equivalência apenas na plasticidade do lance. Em 2006, poucas semanas após a conquista da América, Iarley começava a dar mostras do protagonismo que exerceria na reta final da temporada anotando pintura rara, inclusive, entre as do estilo. O domínio no peito e a distância da meta vascaína não deixam dúvidas.

Fernandão x Coritiba

Eterno Capitão! As palavras que faltam para definir a importância de Fernandão no Inter também são escassas na tentativa de descrever esta pintura. Pouco mais de um mês depois de estrear pelo Colorado marcando o Gol Mil dos Gre-Nais, o centroavante, inquieto em escrever história, foi autor de mais um feito inesquecível. Sortudo o Beira-Rio por servir de tela à obra de arte do cabeludo artilheiro.

Giuliano x Estudiantes

Atual campeão da América, o Estudiantes julgou estar com a vaga garantida nas semifinais da Libertadores antes do apito final. Em 2010, o ídolo e capitão pincharatta, nos minutos de encerramento, convocou a torcida para festejar com seus sinalizadores. Na fumaça da festa precoce, Giuliano, lançado por Andrezinho, brilhou, e instalou na cancha portenha silêncio sepulcral, quebrado apenas pelo estrondoso celebrar do povo colorado.

Sobis x LDU

A espera foi angustiante. Mais de dois meses entre o revés no Equador, único na campanha, e a volta em Porto Alegre. Para piorar, a etapa inicial em nada diminuiu a tensão. Pelo contrário, truncado, o jogo foi tomando contornos desesperadores até os seis minutos do segundo tempo, quando Rafael Sobis abriu o placar em uma verdadeira pintura. Depois deste, Renteria faria o segundo, e a vaga nas semis estaria garantida.

Tinga x São Paulo

A libertação da América. Numa infindável noite de alegria, 16 de agosto de 2006, Tinga marcou gol inesquecível, o último de nossa campanha campeã continental. O título, depois de 97 aos de espera, era nosso. Vamos, Colorado!

Damião x Chivas

Final de Libertadores. Decisão do principal torneio de clubes do continente. Beira-Rio. Cenário perfeito para um jovem começar sua história de idolatria com a camisa vermelha. Matador, Damião interceptou passe na altura do meio de campo e, em velocidade, marcou o segundo do Inter, garantindo, de uma vez por todas, a reconquista da América.

Claudiomiro x Benfica

Lotado por mais de 100 mil pessoas, o Beira-Rio foi oficialmente inaugurado no dia 6 de abril de 1969, em partida amistosa que envolveu Inter e Benfica. Para estrear a história das redes da casa colorada, obviamente, seria necessária a ação de um legítimo alvirrubro. Ninguém melhor do que o jovem Claudiomiro. Com um testaço, o centroavante abriu o placar, completando grande trama do ataque vermelho.

Gabiru x Barcelona

Pregador de peças, o irônico destino armou a maior das suas no dia 17 de dezembro de 2006. Em Yokohama, o Mundial de Clubes era decidido entre Inter e Barcelona. Combalido, o aplicado capitão Fernandão, com cãibras, deixou o campo para a entrada do contestado Adriano Gabiru. Vestindo a 16, o substituto recebeu de Iarley passe açucarado e finalizou não para o barbante, e sim para a história.

Nilmar x Estudiantes

Para nos sagrarmos o primeiro time brasileiro campeão da Sul-Americana, tivemos de superar caminho turbulento – e o fizemos com excelência. Não bastasse a caminhada repleta de adversários de alto quilate, também nossa decisão foi sofrida, disputada até a prorrogação. No segundo tempo desta, Nilmar, cria do Celeiro, marcou, com um bico salvador, o gol do título.

Alex x Boca

De tão difícil, nas quartas de final a campanha do Inter na Sul-Americana encontrou o atual campeão da América. Derrotado com autoridade no Beira-Rio, também na Bombonera o Boca Juniors precisou se curvar à inesquecível escalação colorada de 2008. Servido por D’Alessandro, Alex marcou, na etapa final, o segundo do Clube do Povo, último da vitória por 2 a 1. Ao eliminar os xeneizes em sua casa, o Alvirrubro repetiu feito até então exclusivo, entre os brasileiros, ao Santos de Pelé.

D’Alessandro x Atlético-MG

Como joga, por favor! Nas oitavas da Libertadores de 2015, o gringo pegou a sobra de bola espirrada pela defesa adversária e, com sua canhota, anotou mais um belo capítulo em sua linda história no Inter. No ângulo, sem chances de defesa, preciso, perfeito. Andrés Nicolás D’Alessandro!

Renteria x Nacional

O mais colombiano dos sacis internacionalizou sua história também no Uruguai. Para exorcizar um fantasma do passado, usou do lençol, não como fantasia, mas artimanha. Com ele, e um arremate fulminante, garantiu vitória importante nas oitavas da Libertadores de 2006. É nós, Renteria. Tipo Colômbia!

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