Paulo Autuori é apresentado no Beira-Rio
“O destino quis que, exatamente no aniversário do Internacional, a torcida colorada fosse brindada com essa apresentação.” Foi assim que Emílio Papaléo Zin, vice-presidente de Futebol do Clube do Povo, comunicou, de maneira oficial, a chegada do mais novo Diretor Técnico alvirrubro. Aos 65 anos, Paulo Autuori foi anunciado na sexta-feira passada (01/04), mas concedeu sua primeira entrevista neste retorno ao Beira-Rio exatamente na data em que o Colorado completa 113 anos de história. Na Sala de Imprensa do Gigante, o profissional discorreu, ao longo de dezenas de minutos, a respeito dos pilares que nortearam e ainda norteiam sua trajetória no futebol mundial, concentrando atenções e holofotes ao longo desta manhã de segunda-feira (04/04).
“Meu trabalho é muito simples:
facilitar ao máximo a vida do treinador.
E, para isso, vou me dedicar.”
Paulo Autuori
Coube ao presidente Alessandro Barcellos a primeira fala na coletiva, e o mandatário fez questão de, antes mesmo de cumprimentar o Diretor Técnico, celebrar o aniversário colorado através de pronunciamento à Maior e Melhor Torcida do Rio Grande. Nesse, o dirigente citou a gloriosa história alvirrubra e sublinhou os esforços que o Clube tem empreendido com o objetivo de atingir crescente sucesso e acumular alegrias. Barcellos ainda lembrou das iminentes estreias em Sul-Americana e Brasileirão, respectivamente previstas, no calendário alvirrubro, para os próximos dias 6 e 10, para então saudar a chegada de Paulo Autuori ao Inter.
“É disso que se trata esse momento. De saudar a história e de nos colocar em dois grandes desafios a curto prazo. Para isso, temos feito algumas correções e avaliações, e hoje é um ponto importante. O Autuori vem cumprir uma função que é nova no futebol brasileiro. Que poucos exercem, e ainda menos com a maestria que ele desempenha. Tem um perfil que dispensa apresentações, e a capacidade dele de fazer uma leitura nas mais diversas dimensões que incluem o futebol nos dão a certeza de que essa história vai deixar um legado muito grande.”
Alessandro Barcellos
Papaléo sucedeu o presidente, e igualmente exaltou o currículo construído por Autuori no futebol. Multicampeão como treinador e também vencedor na recente trajetória que constrói fora das quatro linhas, o profissional teve elogiado seu trato com as pessoas, capaz de, nas palavras do vice-presidente de Futebol do Inter, deixar portas abertas por onde passou. As valências do Diretor Técnico, inclusive, têm sido atestadas por todos desde sábado (02/04), quando o carioca de 65 anos acompanhou, pela primeira vez, atividades no CT Parque Gigante.
“O momento não é de comemoração, porque nós, como disse o presidente, logo mais embarcamos para fora, onde começaremos um importante certame. Já no próximo final de semana começa o Campeonato Brasileiro, e nosso foco está absolutamente centrado nessas competições. Mas nem por isso deixamos de festejar, nesse dia, a chegada de Paulo Autuori, que não parou um minuto desde que chegou a Porto Alegre. Não tenho a menor dúvida de que será uma grande contribuição. Seja muito bem-vindo!”
Paulo Autuori
Devidamente recepcionado, com direto a entrega de camisa personalizada, Paulo Autuori agradeceu pelo caloroso trato com que foi recebido em seus primeiros dias de Inter, e deixou claro que a melhor maneira de responder às boas-vindas será através do trabalho. Diante dos microfones, o protagonista da manhã parabenizou a “enorme, histórica e gloriosa” instituição que é o Clube do Povo, e passou a atender aos questionamentos feitos pela imprensa. Logo de cara, em sua primeira resposta, o Diretor Técnico elaborou sobre o papel que o futebol ocupa em sua vida.
“Costumo dizer que o futebol é vida. Por vezes, queremos deixar o futebol em um mundo à parte, mas as coisas não são assim. Cada vez mais, ele é um fenômeno socioeconômico. Sociológico, antropológico, porque é tudo, contexto e homem, e mesmo filosófico, e talvez algumas escolas de treinadores sejam fortes porque contemplam isso. O treino faz o jogo, e o jogo justifica o treino.”
Paulo Autuori
Preparador físico no início de sua carreira, que logo tomou o rumo do comando de casamatas, Autuori soma mais de 25 anos de experiência no futebol do exterior. Dono de passaporte que conta com carimbos de Japão, Catar, Peru e Colômbia, ele, que milita no esporte há quase cinco décadas, começou a atuar de maneira específica em cargos de bastidores no início de 2017, e desde então acumula passagens, seja enquanto coordenador ou diretor, por equipes como Athletico-PR, Fluminense e Santos. Independente de função, porém, Paulo elencou o trabalho em equipe como característica que mais valoriza no dia a dia.
“Saber a diferença entre o ser e o estar. Aprendi isso ao longo da minha vida. Ser é uma coisa duradoura, e estar é momentâneo. Para mim, a terminologia não diz absolutamente nada. A minha essência é o trabalho em equipe. Sempre foi, na minha vida no futebol. Passei por todas as atividades ligadas ao campo, o que me dá segurança em relação àquilo que é o nosso contexto. E me gera convicções muito claras em relação a poder ter passado por três continentes e ter tentado entender o que é o futebol nesses lugares.”
Paulo Autuori
Desde que chegou a Porto Alegre, Paulo Autuori já empreendeu suas primeiras ações na rotina do CT Parque Gigante. Profundo conhecedor das particularidades do calendário brasileiro, ele reconhece que o futebol de nosso país oferece tempo extremamente escasso para trabalhar, e sabe que, diante deste cenário, a agilidade assume contornos ainda mais fundamentais, bem como a honestidade no trato com o grupo de jogadores – que precisa ser recíproca, independente da situação encarada dentro de campo.
“Não há como você falar em tempo no futebol brasileiro. Isso é óbvio. Agora, assim que você entra, existem medidas de curtíssimo prazo, outras de curto, e também de médio. Uma coisa que eu exijo sempre, dos grupos com os quais trabalho, é que nós somos o que somos, e temos que sê-lo em todas as circunstâncias e momentos. Meu contato com os jogadores é diário, permanente, assim como com a comissão técnica. O fim do processo é o jogo, mas, até chegar lá, existe um invisível, que para a maioria das pessoas não interessa. Nós julgamos resultado, mas não analisamos o trabalho.”
Paulo Autuori
A respeito dos primeiros contatos que estabeleceu com os profissionais que integram o Departamento de Futebol colorado, Paulo Autuori elogiou a comissão técnica liderada por Alexander Medina, especialmente pela capacidade de adaptação que o uruguaio tem apresentado na capital gaúcha. Fiel aos seus princípios, o ‘Cacique’ demonstra evidente disposição a se encaixar nas exigências do contexto colorado, qualidade comemorada pelo novo Diretor.
“Acho que o Inter tem uma comissão técnica de muito bom nível. Trabalhei muito tempo fora do Brasil, e posso dizer que o Medina tem uma coisa extraordinária, que é saber ler o contexto. Por vezes, alguns profissionais, quando trabalham fora de seu país, tentam apenas repetir o que faziam nos seus. Se adaptar ao contexto, sem jamais ferir sua ideia, princípios e valores; nisso, o Medina é extraordinário. Pela maneira com que se comunica em relação ao futebol.”
Paulo Autuori
Autuori ainda falou sobre o papel fundamental que o aspecto psicológico desempenha no futebol de hoje. Para além das sempre citadas valências físicas, técnicas e táticas, o carioca ressaltou que os jogadores precisam ter um lado mental forte para atingir o sucesso. Com isso, podem superar, inclusive, equipes mais bem cotadas, ao mesmo tempo em que a ausência dessa capacidade tem o potencial de comprometer todo o resto do que foi preparado.
“A forma desportiva é muito clara, e tem a ver com quatro pilares: técnica, que é do jogador, tática, da estratégia, física e mental, que nesse momento é a mais importante. Mais do que jogador de futebol, você é um competidor. Por vezes, você pode não ser superior ao seu antagonista tecnicamente, mas, se for mais forte mentalmente, vence. Por isso o futebol é imponderável. Por isso tem uma massa de adeptos. Não adianta uma tremenda forma física, a técnica estar bem, taticamente cumprir o que o treinador quer, mas, mentalmente, estar frouxo. Ser forte mentalmente, é isso que eu peço!”
Paulo Autuori
Por fim, o novo Diretor Técnico do Internacional deixou claro que balizará suas atitudes cotidianas a partir das necessidades do Clube do Povo, postura que naturalmente poderá resultar em medidas impopulares – até mesmo para o próprio. As vontades pessoais, afinal, serão relegadas ao segundo plano, em nome de um trabalho que está pronto para lidar com a pressão que decorre de vestir as cores de um gigante do futebol.
“Há situações em que você precisa fazer, em termos de gestão, e estou falando de gestão esportiva, medidas impopulares. Uma coisa é necessidade. Outra, vontade pessoal. E a prioridade sempre estará voltada às necessidades. Aqui não pode ter espaço para o que eu quero. Pressão, no futebol, para mim, passou a ser vulgar, porque quem entrar no futebol e não se der conta de que precisa viver diariamente assim, não vai ter vida longa.”
Paulo Autuori
Já com Paulo Autuori integrado à delegação, o Inter embarcou para o Equador horas depois da coletiva realizada no Beira-Rio. No país vizinho, o Colorado estreará, na próxima quarta-feira (06/04), na fase de grupos da Sul-Americana, título que já conquistou no ano de 2008. O adversário alvirrubro no Estádio de Jocay, em Manta, será o 9 de Octubre, e a partida está prevista para as 21h30.